Relatório de síntese
p. 95-97
Texte intégral
1O objetivo da primeira parte deste colóquio era de determinar o papel dos meios de comunicação na construção das imagens recíprocas da França para o Brasil e do Brasil para a França. O senhor de Marigny, na sua exposição introdutória, lembrou a importância das mídias na formação dessas imagens e situou os grandes eixos do debate. Insistiu no fato de a imagem não ser neutra, e que é através dela que se manifesta, freqüentemente, a persistência de preconceitos. A origem desses preconceitos pode ser a imprensa, que perpetua os clichês, ou o próprio público, que gostaria ver confirmados seus a priori.
2A senhora Ana Maria Montenegro e o senhor Campan aprofundaram uma reflexão sobre o jogo das imagens. Em sua comunicação, apresentaram os resultados de uma pesquisa sobre os programas difundidos na televisão entre 1975 e 1987, e sobre os artigos publicados por 5 grandes diários parisienses, entre 1983 e 1985. O estudo demonstrou as semelhanças de ritmo, de momentos importantes entre a imprensa escrita e a televisão. Revelou principalmente a polarização dos programas em torno de alguns temas fundamentais. A viagem do Papa e as dos presidentes franceses ao Brasil representaram, por si só, a maior parte das difusões no decorrer dos últimos doze anos. O carnaval, as corridas de automóvel e a música foram objeto de um número importante de retransmissões, enquanto as diversas eleições e Tancredo Neves ficavam respectivamente em 4° e 8° lugares dos ítens temáticos, entre os quais se destacavam os nazistas com o caso Mengele, as enchentes e a Amazônia. Os autores da comunicação fizeram, a partir deste estudo sobre a televisão e a imprensa escrita, uma análise dialética, mostrando como os mecanismos fundamentais do discurso das mídias levam a uma orientação muito precisa da imagem, no caso, da imagem do Brasil. O trabalho revela três procedimentos principais:
- um isolamento e uma des contextualização que leva a uma busca do sensacional e da crônica, que esvazia as questões graves do seu sentido. Enchentes, favelas, levantamentos, atraem os meios de comunicação muito mais pela intensidade emocional que provocam do que pelo problema que levantam.
- uma cacofonia, como o batizou a Senhora Ana Maria Montenegro, que seria constitutiva da comunicação de massa, sendo a atualidade um fluxo de enunciados absolutamente heterogêneos.
- uma dupla polaridade, à qual se refere E. Morin nos seus trabalhos. Polaridade negativa, isto é carregada de aventura, de crime, de agressão. Os meios de comunicação dão em profusão imagens do Brasil ligadas a «faits divers» (delinqüência, catástrofe de Cubatão) ou a perigo (Amazônia). Polaridade positiva, isto é amor, erotismo, felicidade. As imagens também são clássicas: o Carnaval, a festa, o paraíso turístico tropical.
3A Sra. Montenegro, após ter observado com humor que a imagem dos Brasileiros se assemelhava, afinal, à cigarra da fábula, concluiu destacando a lógica inerente à comunicação de massa e sublinhando que a imagem que os Brasileiros tinham deles mesmos influía indiretamente na percepção que tinham os outros. Esta importante comunicação permitiu ao senhor Camp, presidente da Association des Journalistes sur l’Amérique Latine (AJALC), iniciar um debate marcado por intensa participação. Alguns dos jornalistas presentes definiram as restrições às quais estão submetidos no exercício de seu trabalho. O senhor Bailby situou o mecanismo das decisões temáticas e redacionais tomadas em cada jornal, mostrando a importância do proprietário e da linha geral adotada pelo órgão ou pelo grupo de imprensa. A senhora Irène Jarry, acentuando o papel secundário da América Latina na atualidade francesa, lembrou que a quantidade de artigos publicados num período determinado podia resultar de aspectos puramente conjunturais, como convites recebidos pelos jornalistas para visitarem tal país. O senhor Reali indicou que cada jornalista escrevia para um público específico e redigia artigos já adaptados à expectativa deste. A primeira parte deste debate permitiu compreender melhor as interações entre Brasil, jornalista, público e meios de comunicação. A segunda parte da mesaredonda foi dedicada à própria natureza da imagem fornecida pelos meios de comunicação: quantidade suficiente ou insuficiente de informação? Imagem falsificada ou realista? Imagem imbuída de ideologia e cheia de símbolos? Imagem positiva ou negativa? As participações foram numerosas. O autor do relatório afirmou que as informações dadas na França resultam de um jogo complexo de influências, condicionadas pelas relações «reais» dos dois países (intercâmbios comerciais, diplomacia, turismo...). Definiu a imprensa como um espelho «deformante», focalizado nos elementos da mudança e da novidade. O senhor Reali acrescentou que a visão dada pelos meios de comunicação não era necessariamente a do público, questão central que foi retomada em seguida.
4O carácter eminentemente fatual da informação cultural foi destacado pelo senhor Pontual. A senhora Barthélemy, apoiando-se na análise de 16 artigos publicados na imprensa escrita parisiense no mês de novembro, achou que o olhar sobre o Brasil era bastante equilibrado, olhar de jornalistas procurando compreender a situação de um país defrontado com graves dificuldades, olhar que percebia freqüentemente o acerto de certas batalhas como as da dívida ou da informática, olhar que avaliava com serenidade a situação. A senhora Barthélemy notou, nesta área, a diferença de tom entre a imprensa francesa e a imprensa estrangeira. Alguns pesquisadores ou jornalistas destacaram então alguns limites. O senhor Bailby e o senhor Chonchol observaram que a imprensa parisiense não podia, sozinha, servir de base para definir a imagem do Brasil, por causa do peso dos órgãos na província. A senhora Annie Bourrier indicou com grande acuidade que não se podia desejar que a imagem do Brasil fosse necessariamente boa, nem mesmo batalhar neste sentido, e que a melhor ajuda que os meios de comunicação franceses podiam dar ao país era transmitir uma visão crítica.
5Outras intervenções, como as da Sra. Ruis, do Sr. Riaudel, da Sra. Rosa de Aguiar, da Sra. Marysa Lacerda Nazário permitiram situar melhor a carga simbólica ou o conteúdo ideológico das informações veiculadas pela imprensa. Atualidade, reportagens, artigos de análise foram assim comentados, sendo um artigo recente do Sr. Fontaine, intitulado «Le Brésil, un géant en panne d’ambition», alias, objeto de polêmica.
6A riqueza e a diversidade das idéias apresentadas e debatidas torna difícil concluir. Mas, indiscutivelmente, há um ponto para o qual todos convergem: os meios de comunicação participam, claro, na formação da imagem do Brasil na França, mas ao mesmo tempo a natureza desta imagem ultrapassa amplamente o seu âmbito. Os meios de comunicação são ambivalentes. Fornecem signos e símbolos que alimentam o imaginãrio coletivo, e estão penetrados pelos sistemas dominantes do pensamento. Mas fornecem também informações concretas e objetivas, e são o instrumente contemporâneo do conhecimento.
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Images réciproques du Brésil et de la France
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