O Brasil através da imprensa quotidiana e da televisão francesas estudo sobre o processo de criação da atualidade1
p. 51-78
Texte intégral
1O estudo dos artigos da imprensa escrita e dos programmas de televisão, quando evocam o Brasil, complementado por entrevistas com alguns jornalistas, constitui um vetor que permite realizar uma reflexão sobre as imagens do Brasil na França e sobre o que elas podem revelar ao mesmo tempo sobre o Brasil e sobre a França.
2Não se trata aqui de insistir sobre o papel das mídias para fazer circular, refletir, transformar e criar representações sociais. É mais díficil abordar estas significações quando dizem respeito a fenômenos exteriores à uma determinada sociedade, pois correspondem a realidades que não fazem parte da vivência da maioria dos que participam dos processos da criação dum outro real, socialmente construído.
3Antes de apresentar os resultados da análise dos dados, gostaria de agradecer aos jornalistas que me ajudaram a aprofundar alguns pontos.
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4A análise da informação sobre o Brasil na televisão, foi realizada a partir de um fichário fornecido pelo Instituto Nacional do Audiovisual (INA). Este compila aproximadamente 630 programas, entre os quais 90 % são relacionados diretamente com o Brasil; e os 10 % restantes correspondem a sequências extraídas de programas que evocam outros países ou outros problemas, esclarecendo-as com o «caso brasileiro» (tal como «a dívida dos países do terceiro mundo»).
5Cada um dos programas foi objeto, por parte do INA, de uma ficha descritiva clara mencionando: o tema do programa, seu gênero (noticiário televiso, série, documentário, variedades,...), a duração, a data, a hora, o canal de difusão, os nomes dos jornalistas, dos realizadores, dos produtores e, enfim o inventário das seqüências e das imagens que o compõem.
6Um exame preliminar dessas fichas1 permitiu fazer un inventário dos assuntos e das seqûëncias, elaborar uma metodologia para a classificação e determinar uma estratégia de codificação das informações a fim de tratá-las através dum programa de análise interativa dos dados. Este instrumento permitiu realizar recenseamentos, seleções, cruzamentos, pesquisas sobre certas questões, para esclarecer ou aprofundar determinados aspectos. Os resultados obtidos são numerosos mas só os fatos mais relevantes serão aqui evocados..
7O período analisado se estende de 1 ° de janeiro de 1975 a 31 de março de 19872, ou seja, 12 anos e 3 meses, aos quais correspondem 384 datas de programas.
8Poder-se-ia dizer, simplesmente para fixar as idéias e abarcar de um só olhar o espaço-tempo, que teria tido em média uma difusão cada 12 dias? Não, pois na realidade o ritmo foi irregular. O exame do quadro no 1 põe em evidência um crescimento contínuo desde 1975 e, sobretudo, ápices importantes em relação a esta tendência, ou seja: o ano 1978 com 30 programas a mais do que a média observada durante os cincos primeiros anos; o ano 1980, com 104 programas, chega em segundo lugar na classificação do número de difusões; o primeiro lugar diz respeito ao ano de 1985, durante o qual foram apresentados 20% dos programas repertoriados no fichário.
9O quadro no 1 mostra também que as notícias brasileiras na televisão francesa são cada ano interrompidas sistematicamennte durante o verão, em agosto e setembro. Ora, na mesma época, é inverno no Brasil. A baixa de frequência da atualidade seria, pois, a conseqüência de uma «trégua dos doceiros», embora esta corporação não tenha no Brasil o papel ativo que tem nas mídias ocidentais no auge do inverno.
10A análise refere-se exclusivamente à difusão realizada pelos três canais nacionais de televisão. A TF1 chega bem na frente com 54% dos programas repertoriados, seguida por A2 (36%) e por FR3 para o restante (cf. Quadro n° 2). Verificou-se que 75% dos programas foram mostrados durante os noticiários (especialmente aqueles das 20 horas para TF1 e A2) (cf. quadros no 3 e 4). Portanto, trata-se essencialmente de seqüência curtas que não ultrapassam 2 a 3 minutos. Quanto aos 25% restantes, a duração é variável, podendo atingir uma hora (por exemplo a famosa série sobre as expedições do Comandante Cousteau na Amazônia), ou mais. Foi o caso de certos programas do tipo «ao vivo», que reúnem convivados que vêm falar do Brasil antes ou depois da transmissão de uma longa-metragem, da retransmissão de espetáculos de shows brasileiros, etc.
11O tratamento das fichas permitiu classificá-las em 56 assuntos ou temas principais de programas. Trata-se tanto de seqüências relativas a fatos da atualidade que motivam a difusão, como de imagens, tipo documentário, escolhidas para ilustrar determinados programas (por exemple: uma reportagem sobre os «famosos» garimpeiros que representam para o Brasil o que é o monstro do Loch Ness para a Escócia falando-se em termos de mídias, e claro).
12Entre os 56 assuntos, dez foram abordados com tanta freqüência que representam por si só a metade dos programas repertoriados (310 em 630). Podemos supôr que, mais do que os outros, tenham um grande impacto sobre a imaginação. Basta enumerá-los:
Assuntos principais | Número | Percentagem | Cumul. |
Visita do Papa | 62 | 9,89 | 9,89 |
A França no Brasil | 56 | 8,93 | 18,82 |
Carnaval | 37 | 5,90 | 24,72 |
Eleições | 27 | 4,31 | 29,03 |
Exilados, nazistas | 26 | 4,15 | 33,17 |
Corrida de Automóveis | 25 | 3,99 | 37,16 |
Música | 22 | 3,51 | 40,67 |
Tancredo Neves | 21 | 3,35 | 44,02 |
Enchentes | 18 | 2,8 | 46,89 |
Amazônia | 16 | 2,55 | 49,44 |
13Para completar esta descrição geral da paisagem audiovisual, é necessário comentar as seqüências que compõem os programas. Recenseamos aproximadamente 2500, que classificamos numa centena de subtemas3 tais como vistas do Rio de Janeiro, favelas, cenas de praia, festas, riquezas naturais e todos os clichês que – bem ou mal – caracterizam em geral o Brasil. Queríamos verificar a sua freqüência de difusão e integrar também as conotaçôes ou noções relacionadas com as seqüências repertoriadas (miséria urbana, religiosidade, usos políticos, estruturas agrárias, etc...). Com exceção das imagens que representam diretamente o assunto principal, é o Rio de Janeiro que se destaca. Para ilustrar este fato, basta olhar os quadros no 7 e 8 que indicam as seqüências que compõem os programas dedicados à visita do Papa e à presença francesa no Brasil-que foram, como se sabe, os assuntos mais abordados.
14Quanto à imprensa escrita, escolhemos 5 títulos: La Croix, Le Figaro, L’Humanité, Libération et Le Monde. O levantamento dos artigos nestes journais abrange um periodo de três anos – 1983, 1984, 1985 – e corresponde a 600 artigos assinados por jornalistas e 800 notas, todos diretamente relativos ao Brasil. As noticias foram ventiladas de acordo com seus títulos e subtítulos em 4 seções: questões políticas e sócio-ecônomicas; o Brasil no cenário internacional; a cultura; o insólito e o estranho.4
15Eis aí uma série de histogramas. No número 9, cada jornal é representado por duas colunas, a primeira indica o número de artigos, e a outra o número de notas publicadas por cada jornal durante o periodo considerado. Este gráfico permite comparar os jornais entre si segundo o volume total de informação relativa ao Brasil; assim como avaliar em cada um a parte respectiva das notas e artigos. Estes últimos são muito mais numerosos nos jornais que mantêm um correspondante local no Brasil: Le Monde, e a partir de 1985, Libération. As notas, ao contrário, predominam nos jornais La Croix, Le Figaro e L’Humanité. Observamos também que nesses últimos, a importância relativa das noticias classificadas na seção «insólito, estranho» é relativamente maior do que no Libération et Le Monde.
16Os histogramas no 10, estabelecidos para cada jornal, mostram, mensalmente, o número de artigos assinados – e somente artigos – publicados por cada um dos jornais estudados.
17As especificidades próprias à televisão, de um lado, à imprensa quotidiana escrita, do outro, impedem que façamos uma comparação quanto ao espaço concedido ao Brasil nos dois tipos de mídias. Além disso, como foi indicado, o fichário do INA é, em princípio, exaustivo, enquanto nos jornais só foram considerados os artigos que falam diretamente do Brasil. Apesar disto, se comparmos estes gráficos com aqueles do no 1, observamos que existe um paralelismo entre jornaise televisão, no que diz respeito à freqüência e sobretudo à concentração das noticias; o fenômeno é ainda mais nítido quando se trata de jornais sem correspondante no Brasil, como é o caso de La Croix, Le Figaro et L’Humanité.
18É inútil insistir sobre as notícias da seção «cultura», cuja maioria consiste em comentários sobre os espetáculos brasileiros apresentados na França: em primeiro lugar, a música, e depois o cinema. Alguns desses artigos comportam elementos de informação que visam a situar o espetáculo em um contexto cultural mais amplo. Sua importância é relevante em Libération, que costuma dedicar muitas páginas a cultura/espetáculos. Além disso, no caso que nos interessa, a presença de Rémy Kolpa Kopul, no jornal, contribui particularmente para este fato. O histograma no 10 mostra, para os anos 1983 e 1984, a preponderância de artigos desta natureza. Em 1985, apesar do número desses artigos não diminuir, predominam artigos sobre «questões políticas e sócio-econômicas» (Libération tem a partir desta data um correspondante permanente em Brasília).
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19Os resultados obtidos mostram que a informação é principalmente fatual: eleições, remanejamentos nas esteras do poder, visitas de personalidades estrangeiras, reuniões internacionais – incluindo aquelas que se referem à dívida externa – ou ainda greves e manifestações, sem falar dos grandes acontecimentos esportivos. É somente através deste tipo de acontecimentos, que em um valor informativo muito grande, que questões importantes podem figurar nas atualidades.
20Um exemplo poderia ilustrar o que foi dito: a análise do fichário do INA revela que, somente duas vezes, a questão das estruturas agrárias foi o assunto principal de um programa: na época da viagem do Papa e por ocasião do processo dos padres franceses presos na Amazônia em 1982. Foram estes acontecimentos que levaram às mídias este problema, bastante relevante no entanto para a sociedade brasileira.
21Outros acontecimentos são tratados por meio de elementos de informação demasiado gerais para serem inteligíveis. Jornais e televisão descreveram e mostraram recentemente as manifestações contra o aumento dos preços das passagens de ônibus no Rio de Janeiro5. Ônibus derrubados e incendiados. Isto, do nosso ponto de vista, foi considerado apenas uma «notícia sensacional», um motim a mais num país pobre. Pois os comentários sobre o custo de vida não informam nem sobre os problemas específicos dos transportes, no Rio de Janeiro, nem como seu preço pesa sobre o orçamento das classes populares.
22Mas o volume de artigos e programas, num período determinado – e isto não é próprio à atualidade brasileira na França – corresponde sobretudo aos acontecimentos políticos, tais como as eleições, até mesmo às campanhas eleitoras que as precedem. No caso do Brasil, e durante o período estudado nos jornais, trata-se do voto do Congresso, recusando as eleições ao sufrágio universal, «as diretas já». Note-se que as manifestações maciças que precederam aquele voto contribuíram para que a televisão se substitua à imprensa (12 vezes em abril de 1984). Na época só a imprensa escrita divulgaria a confirmação de Tancredo Neves como candidato da oposição. Mas, já nas eleições «indiretas», a televisão fez referência, por sua vez, a este acontecimento (8 vezes em janeiro en 1985).
23Além dos acontecimentos que pertencem à esfera do poder, outros fatos, imprevisíveis mas carregados de emoção, de drama ou de violência, representam, eles também, um valor informativo seguro.
24Não será o caso, tanto no Brasil quanto na França, da doença do presidente Tancredo Neves, dos fenômenos de multidão que o acompanharam e de tudo o que cercou a chegada de José Sarney à presidência da República?
25Não será também o caso das numerosas manifestações políticas, com sua multidão variegada (para retomar a palavra de L’Humanité) e festiva?
26Não será a caso das manifestações de agosto de 1983 que projetaram, no espaço mediático francês, a seca do Nordeste que perdurava já há muito tempo? (10 vezes na televisão entre novembro de 1983 e janeiro de 1984).
27Este tipo de fenômeno eleva a nível da atualidade, de modo tão efêmero quanto sensacional, certas realidades.
28Ao lado destas contingências, um outro tipo de acontecimento – as viagens oficiais dos presidentes da República – alimenta o universo mediático. Assim a viagem de François Mitterrand em 1986 deu origem à publicação, nos jornais analisados, de quase trinta artigos (dos quais um pouco mais da metade concerne o papel da França no continente latino-americano, e os outros se referem principalmente ao Brasil). Na televisão, as imagens relativas à parte brasileira desta visita correspondem a 8 programas. Mas se acrescentarmos os programas retransmitidos quando da visita de Valéry Giscard d’Estaing, em 1978 (21 programas), ultrapassa-se a metade dos temas classificados como, no item: «A França no Brasil». Assim, pode-se afirmar que o estudo da informação relativa ao Brasil na França remete, de fato, ao modo de funcionamento das mídias.
29As entrevistas com os jornalistas e os responsáveis de diversos órgãos fornecem outros elementos empíricos sobre o espaço concedido ao Brasil, na informação escrita e televisual na França.
30Assim, a maioria desses jornalistas considera que, do ponto de vista do interesse dado às notícias provenientes do estrangeiro, a América Latina não é prioritária. O espaço mediático abre-se respectivamente aos dois grandes, EUA e URSS, à CEE, seguidos pelos outros países da Europa (ocidental, em primeiro lugar); enfim, ao Terceiro Mundo – a América Latina chegando em terceiro lugar depois da África e do Oriente Médio. Segundo o serviço América Latina da Agence France-Presse, a imprensa alemã difunde, muito mais do que a imprensa francesa, as notícias latino-americanas. Em todo o caso, na França somente três assinantes, o Quai d’Orsay, Radio-France Internationale e o jornal Le Monde recebem as notícias em espanhol. De fato, é nesta língua que às notas relativas à América Latina são redigidas pelos diversos correspondentes da AFP, inclusive aquelas vindas do Brasil. As notícias distribuídas em francês para os outros assinantes são apenas uma seleção operada diariamente sobre o conjunto das notícias disponíveis.
31Dois tipos de argumentos justificam a ordem de prioridade dada às notícias provenientes do exterior: os interesses do Estado francês – em termos de política estrangeira, de comércio exterior ou de esporte e, portanto de indústria automobilística – e o interesse do público. Fiquemos com o segundo argumento, para destacar as considerações expressas por Le Monde et Libération, isto é, os jornais que concedem uma parte importante às notícias do exterior. Le Monde salienta o seu status de «maior jornal internacional de língua francesa» e o fato de que parte importante de sua tiragem é difundida fora do território nacional. Libération considera que se trata antes de mais nada de «savoir-faire», o que leva a assumir ativamente a relação mídia/público, enquanto que nos outros órgãos dominaria uma atitude de expectativa que só determinados acontecimentos viriam pontuar. Assim, aos elementos fornecidos acima, a respeito do valor informativo de determinados tipos de acontecimentos, convém acrescentar o depoimento de uma jornalista do jornal Le Figaro: «se os países desejam que se fale deles, é necessário que nos convidem! Neste caso, podem estar certos de que publicaremos pelo menos um artigo turístico onde falaremos de coisas positivas; depois de um certo prazo, e contanto que se tenha espaço disponível, publicaremos provavelmente um outro artigo falando do que realmente acontece... (citação não literal).
32Levando-se em conta essas prioridades de ordem objetiva, sobressai unanimamente um elemento: a especificidade do caso brasileiro. Esta deve-se, em primeiro lugar, à importância de seu território e de sua economia. Considera-se que, no Brasil, os momentos de dificuldade ou de marasmo comportam, pelo menos a nível potencial, capacidades senão inesperadas, pelo menos sempre surpreendentes. A isto pode-se acrescentar um outro elemento: a simpatia, regularmente reafirmada, de que goza o Brasil na França.
33De fato, as entrevistas com os jornalistas confirmam o que se diz sempre, cada vez que se fala do Brasil por ocasião de encontros: «é bom ir ao Brasil». Porque é garantido o acolhimento das pessoas em geral, dos colegas em particular. O Peru é o país mais citado como exemplo contrario na América Latina. A introdução do Dr Henri Moniot, sobre a relação com o Outro, permite lembrar que a dominante ocidental de sua cultura faz do Brasil um lugar onde é mais fácil se movimentar do que em outros lugares... Também acrescenta-se, sempre segundo os entrevistados, a «melhor relação qualidade/preço que se pode encontrar», e as vantagens do câmbio paralelo e do clima, principalmente no Rio de Janeiro! Estes aspectos positivos parecem compensar o negativo: «a falta de seriedade no trabalho», os atrasos nos horários e a violência nas grandes cidades, que transformam as filmagens no exterior em exercícios arriscados.
34No nosso esforço comum, aqui nesta reunião, para delimitar e compreender as imagens do Brasil na França, era evidentemente indispensável proceder a um estudo dos dados concretos, inclusive «dando a palavra» aos criadores de mensagens. Acabamos de transmitir um apanhado de nossa abordagem e de nossos resultados, contamos com suas críticas e sugestões para enriquecermo-nos mutuamente.
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35À medida que este estudo ia se desenvolvendo, ficava cada vez mais claro que os resultados obtidos não podiam compreender-se sem uma abordagem que, ultrapassando o caso brasileiro, se tornasse um estudo de caso relativo ao sistema francês de mensagens, estudo de caso baseado nas noticias quotidianas difundidas sobre o Brasil na imprensa e na televisão.
36Por isso, gostaríamos de rever com vocês algumas noções relativas à produção da atualidade nas mídias e seu funcionamento.
37Lembremos, em primeiro lugar, que a atualidade, tal como é transmitida pelos diferentes meios de comunicação, resulta de dispositivos que relacionam: acontecimentos; atores – todos aqueles que trabalham na produção e na difusão das notícias; objectos – unidades codificadas que são as notícias; práticas – as dos leitores, auditores, telespectadores, constituídos em «público» pelos aparelhos mediáticos (o que os recentes debates sobre Mediamétrie nos lembraram amplamente); e enfim, uma orientação destes – já que esses dispositivos e as imagens que eles produzem estão enraizadas na formação social e constituem elementos de formas constantes e renovadas de interação6.
38Ao apropriar-se de certos acontecimentos, os aparelhos mediáticos (agências de noticias, jornais, televisão, redes por cabo) os subtraem de seu contexto, de suas referências e neutralizam sua temporalidade própria porque, ao transformá-los em enunciados homogêneos de informação, as mídias imprimem a cada acontecimento uma sincronia que não é mais a da realidade a que pertencem, que não é mais a de seu contexto; e, a partir daí, a sincronia faz-se em função de outras unidades de informação.
39São, portanto, esses acontecimentos selecionados e individualizados, transformados em acontecimentos mediáticos, em atualidade, que cada um dos órgãos para o grande público (por oposição às agências de noticias) vai, por sua vez, tratar e programar, conforme a política de sua redação e, mais geralmente conforme suas próprias condições de produção. As entrevistas com os jornalistas contêm elementos que esclarecem bastante algumas das regras desses processos de produção da atualidade. Assim, é frequente após um período em que se falou muito de um país fazer uma pausa, para não «saturar o público».
40Esta pausa não corresponde à dos acontecimentos, nem mesmo à dos acontecimentos mediatizados, que, neste ínterim, seriam transmitidos pelas grandes agências. Sucede a mesma coisa com a pausa das férias – à qual estamos acostumados e que confirma o tratamento das notícias pela televisão7. No entanto, segundo outra entrevista, as férias seriam um período muito propício para a divulgação de notícias sobre a América Latina – a concorrência é de fato menor em relação aos países considerados como prioritários a nível mediático, e até à atualidade propriamente francesa.
41É somente nesta perspectiva que se pode entender por que certas questões importantes só adquirem um valor informativo quando relacionadas comcertos tipos de acontecimentos que as projetam na atualidade. Fizemos referência à questão das estruturas agrárias no Brasil; mas aconteceu provavelmente a mesma coisa com «o vale mais poluído do mundo», Cubatão, projetado na atualidade somente quando da catástrofe que o atingiu. Se os critérios de atualidade se aplicam com tanto rigor, como o salientam os jornalistas, isto não impede que o espaço televisual se abra às vezes a temas cujo principal interesse, senão o único, é o de mostrar imagens de impacto e inhabituais no país onde são apresentadas. Alguns programas de TF1, por exemplo, mostraram as torres inclinadas de Santos (um conjunto de prédios cujas fundações eram visivelmente de má qualidade); os salvamento por helicóptero de banhistas nas praias do Rio de Janeiro; os bordéis próximos da barragem de Itaipu; e, em breve, se acreditarmos no correspondente de TF1 no Rio de Janeiro, o contrabando de couros de jacaré entre o Brasil e a Bolívia8.
42Em contrapartida, questões particularmente sensíveis e graves são, de uma certa forma, esvaziadas de significação, e servem de pano de fundo a diversos temas, até mesmo a qualquer tipo de assunto: não será o caso das favelas, em particular as do Rio de Janeiro, ou as que qualquer jornalista pode decidir filmar de sua janela ou durante um passeio?
43Seja como for, para concluir sobre a produção da atualidade, voltemos à distribuição temporal dos artigos de jornal e dos programas de televisão.
44Sob a denominação de «assuntos principais», procuramos definir e comentar tipos de acontecimentos dinâmicos, donde deriva a atualidade. Ora a atualidade é também um fluxo contínuo: considerando períodos de duração variável mas efêmera, os diversos suportes se revezam continuamente para produzir e reproduzir cada unidade. No prazo de duas semanas, a televisão difundiu 62 programas sobre a visita do Papa, total que corresponde a 10% do conjunto dos programas que, durante 11 anos, falaram do Brasil nos três canais de televisão. Mengele foi assunto principal de 24 programas, de 3 a 23 de junho de 1985.
45O que eu chamaria de «cacofonia» é, na realidade, um dado constitutivo dos meios de comunicação de massa. Sendo nós também público, todos sabemos isso muito bem. Aliás, o estudo dos dados fornece estatísticas significativas, as entrevistas com os jornalistas confirmam este fenômeno e explicam o seu funcionamento. Cada vez que entrevistei um correspondante local sobre as suas fontes, as mídias brasileiras foram as primeiras citadas, inclusive por parte da AFP. Esta, destaca a TV Globo, aliás a Rede Globo, cuja eficiência resulta, ao mesmo tempo, da rapidez e da fiabilidade da informação fornecida – um trunfo na «luta fatricídia contra os colegas das outras agências», segundo o depoimento do responsável da AFP no Brasil.
46Aqueles que, em Paris, não podem recorrer à imprensa brasileira, em razão dos prazos, da lrngua ou do custo, recorrem às agências, em particular à AFP, para «dar o alarme»; chegam em segundo lugar outros tipos de mfdias como a imprensa estrangeira de lrngua inglesa ou espanhola; enfim, os colegas brasileiros sediados em Paris.
47Este último tipo de fonte tem um valor particular: aquele que resulta dos conhecimentos que cada jornalista tem sobre seu próprio país. A partir disto, gostaria de aprofundar um aspecto da entrevista com a jornalista de La Croix, que fala de seu círculo de amigos brasileiros-amigos que a ajudam a permanecer informada e a compreender melhor certos aspectos da evolução da sociedade brasileira. Em seus artigos, esta jornalista procura, em regra geral, esboçar um quadro, em vez de alinhar fatos que, na sua opinião, «não falam por si sô», devido à distância e à falta de conhecimentos que se tem na França a respeito da América Latina. Para não trair o seu depoimento, digamos que ela sublinha que se trata, no caso, de uma escolha que se apoia também sobre a especificidade do público de seu jornal.
48Em resumo: a atualidade, se integrarmos também as trajetórias pessoais dos diferentes atores, é feita de um fluxo contínuo de objetos, de enunciados codificados que se referem sobretudo uns aos outros e acentuam, deste modo, a «des-contextualização» (!) do acontecimento ou do conjunto da acontecimentos que a originaram. Lembremos: 75% das informações sobre o Brasil na televisão, entre janeiro de 1975 e março de 1987, foram difundidas através dos noticiários cuja brevidade não favorece a compreensão dos acontecimentos nem do contexto de onde foram extraídos.
49Mas o que «passa» desta informação contribui a formar ou a reforçar as imagens do Brasil para aqueles a quem se dirige: o francês médio, unidade sincrética de homens, mulheres, adultos, crianças, classes sociais, aos quais, através de sondagens e estatísticas de audiência, se atribuem os «gostos e desgostos» – para retomar as palavras de Edgar Morin9; é a partir deste homen médio que se constroem conteúdos, é a ele que se dirigem as mensagens – a tal ponto que este francês médio, tal como seu congênere brasileiro, começa a existir – é o público.
50Para atrair, ampliar, «fidelizar» (neologismo muito significativo) os públicos, as diferentes mídias difundem mensagens diversificadas e padronizadas – a atualidade. Estas mensagens se referem a acontecimentos que se tornaram verdadeiras unidades de informação, e veiculam ideais de vida, favorecem o imaginário, apostam sobre tudo aquilo que poderia funcionar como extravasamento das pulsões e dos desejos reprimidos, proibidos ou irrealizáveis – em razão das normas, dos valores, dos costumes ou, de forma mais prosaica, dos obstáculos de ordem sócio-econômica. As «notícias sensacionais» são a forma mais elaborada desses produtos, inclusive porque salientam particularmente bem a concorrência entre os diversos valores informativos.
51Nosso estudo de caso, a informação sobre o Brasil, inclui as «notícias sensacionais». Primeiro: as enchentes, por si só, estão entre os 10 assuntos mais difundidos; a fortiori, se acrescentarmos as outras catástrofes, naturais ou não. Seguem de perto (e até mesmo os ultrapassam) os assuntos em que se trata de violência (da polícia, das milícias, dos cárceres) de acontecimentos chocantes (venda de sangue, de órgãos, crianças abandonadas, favelas) ou ainda motins.
52A respeito da cultura de massa, Edgar Morin fala duma dupla polaridade. Polaridade negativa, constituída por temas detentores de valores «masculinos» – agressão, crime, aventura. Ou seja, aqueles que acabamos de enumerar, assim como a maior parte dos assuntos relacionados com este imenso «terreno de aventuras» que representa a Amazônia – onde garimpeiros e índios lutam dum lado para sobreviver, e de outro entre eles auxiliados ou incitados por cabras, por capitalistas «selvagens», por aventureiros ou homens fardados.
53Polaridade positiva, à qual correspondem temas detentores de valores «femininos»: o erotismo, o amor, a felicidade. Razão suficiente para não nos surpreendermos com a «fidelidade» da informação para com o carnaval. Fidelidade para se indignar frente ao número de mortos e superestimá-los. O número total difundido diz respeito ao conjunto de falecimentos, inclusive aqueles decorrentes duma longa doença, como o observa o responsável pela AFP no Rio de Janeiro, que ao mesmo tempo acusa seus clientes que não respeitam tal distinção e a policia brasileira que também persiste em confundir as causas da mortalidade. Fidelidade para comentar os acontecimentos do carnaval e mostrar imagens carregadas de música, de sensualidade e de irracional – como o destaca L’Humanité num de seus artigos sobre o Brasil10.
54A busca do «maravilhoso», inclusive quando carregada de angústia e de violência, é um traço constante da informação. Por isso, esta privilegia certos aspectos: a Amazônia, principalmente; o Nordeste, logo depois – respectivamente com quaranta e vinte programas, se somarmos o total dos temas principais11 filmados nestas regiões; o Rio de Janeiro, com o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, as praias e as mulheres, as favelas e o samba, pano de fundo para qualquer assunto televisual; São Paulo, por sua vez, lugar onde a modernidade se impõe, onde os devaneios são quase nulos, e raras as efusões, é um lugar pouco enfocado: um único programa mostra este polo econômico e o maior centro urbano do país.
55«O maior país católico do mundo», cuja Igreja à frente da contestação, vive em harmonia com os orixás e outros cultos mágicos; em que, todo ano e durante cinco dias, o carnaval faz esquecer tudo, a todos ou quase... Pela sua imensidão e pelas suas desigualdades, como também por certos traços de sua cultura, o Brasil oferece à atualidade temas que permitem ao homem médio, idealizado pelas mídias, projetar fora dele, no Outro, aquilo que lhe é proibido ou, pelo contrario, se identificar com ele, quando se trata da felicidade da vida, das promessas dos trópicos ou dos milagres econômicos.
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56O espaço dedicado ao Brasil na França, tanto no que diz respeito à informação quanto à area das representações sociais e do imaginário, é grande e sempre tingido de simpatia. Isto decorre duma seleção que privilegia certos aspectos da sociedade em detrimento de uma visão mais equilibrada e mais complexa. Decorre também da transmissão de anacronismos, de estereótipos e de imagens que se constroem, viajam, adquirem vida própria, reelaboradas a cada dia pelos diversos meios de comunicação. Mas isto não impede que esses dados do pensamento social comum tragam em si a marca de questões profundas e reais. De qualquer modo, a abordagem adotada para este estudo não permitiria aprofundar essas questões.
57Por isso, antes de concluir gostaria de voltar à minha abordagem que, como o indiquei na introdução, procura fazer do tema estudado «imagens do Brasil na França» uma reflexão ao mesmo tempo sobre o Brasil e sobre à França.
58Esta mesa redonda deu-me a oportunidade de examinar um material que revela o modo de funcionamento das mídias. O estudo, como foi visto, focalizou os temas mais privilegiados pela mídias francesas sobre o Brasil. Estes temas em si e a freqüência de sua ocorrência devem ser considerados como fazendo parte dos elementos que, reelaborados socialmente – isto é por aqueles que vêem televisão, lêem os jornais e os comentam – contribuem a formar as imagens do Brasil na França.
59Se esses temas representam um aspecto dessas imagens, isto não impede que sô uma análise do que as mídias dizem desses temas (dados e raciocínios) permitiria identificar melhor um ou outro ponto de vista, uma ou outra imagem. Consistiria em outro trabalho, que espero ter a oportunidade de realizar a respeito dos programas de televisão, e que alargaria a pesquisa que fiz sobre os manuais escolares e principalmente, sobre a imprensa escrita. De fato, só analisei alguns desses textos, para estudar os temas desenvolvidos e restituir os raciocínios que os justificam e os articulam entre si; para tentar compreender as seus referênciais. Nesta perspectiva, e com vista à elaboração de hipóteses de trabalho, recorri às teorias do desenvolvimento e às abordagens marxistas, cujas noções e conceitos, amplamente difundidos, podiam me ajudar a compreender a origem de certos raciocínios e esquemas recorrentes. Eu procurava, deste modo, distinguir os elementos que participam dos processos de interação através dos quais fatos sociais e teorias relacionadas a eles se transformam e se transmitem, mo- delados ao mesmo tempo pelos sistemas de referência e pelos meios de comunicação. Isto é, como se constrói um outro «real», ou melhor, como se constroem imagens de uma realidade «outra»12.
60Mas muitos outros parãmetros deveriam ser considerados para aprofundar o estudo de caso «Brasil visto pelas mídias francesas», e a análise do que estas mídias refletem da sociedade da qual participam.
61Se me pedissem para falar de uma imagem do Brasil na França, que se baseie nos resultados desse trabalho anterior, eu faria referência ao que se costuma denominar «os Brasileiros», até mesmo «o povo brasileiro» á categoria tão idealista quanto a de «Francês médio». Eu diria, por um lado, que este Brasileiro médio é descrito como alguém que se identifica muito com a cigarra da fábula; e, por outro lado, que as características que lhe são atribuí das fazem dele, muitas vezes, um dos principais atores das dificuldades do país, potencialmente tão rico, como se sabe... ! Isto significa que se privilegiam o que seriam as explicações etno-psico-sociológicas que, além do mais se aplicam a um Brasileiro médio que não existe na realidade! Significa que se evita assim o estudo das formas através das quais se concretizam as clivagens e as injustiças sociais, apesar destas não serem desconhecidas na França.
62Mas, quaisquer que sejam as imagens do Brasil na França, para analisá-las, é necessário também estudar e levar em conta as representações dos Brasileiros sobre si mesmos, assim como os conhecimentos que eles produzem sobre a sua própria sociedade. Pois são outros tantos elementos que orientam e participam da percepção que os Outros têm deles. Este Outro é o Francês amigo, quando visita o Brasil, quando fala dele, quando começa a ámá-lo.
LES ÉMISSIONS TÉLÉVISÉES SUR LE BRÉSIL. PROGRAMAS DE TELEVISÃO SOBRE O BRASIL
6 -“PALMARES” DES SUJETS DIFFUSÉS. CLASSIFICAÇÃO DOS ASSUNTOS DIVULGADOS
SUJETS ASSUNTOS | Nombre | Pourcent. | Cumul % |
Visite de Pape | 62 | 9,89 | 9,89 |
La France au Brésil | 56 | 8,93 | 18,82 |
Carnaval images des bals de la rue, etc... | 37 | 5,90 | 24,72 |
Élections | 27 | 4,31 | 29,03 |
Exilés, truands, nazis... | 26 | 4,15 | 33,18 |
Sport automobile | 25 | 3,99 | 37,17 |
Musique | 22 | 3,51 | 40,68 |
Trancredo Neves | 21 | 3,35 | 44,03 |
Inondations | 18 | 2,87 | 46,90 |
Amazonie | 16 | 2,55 | 49,45 |
Président militaire | 15 | 2,39 | 51,84 |
Manifestations politiques et syndicats | 15 | 2,39 | 54,23 |
Nordeste | 14 | 2,23 | 56,46 |
Émeutes | 13 | 2,07 | 58,53 |
Catastrophes naturelles ou non | 13 | 2,07 | 60,60 |
L’étrange, le curieux, le choquant... | 12 | 1,91 | 62,51 |
Prêtres français au Brésil | 12 | 1,91 | 64,42 |
Dette | 11 | 1,75 | 66,17 |
Énergie, barrages | 11 | 1,75 | 67,92 |
Vues, carte postales, images diverses | 11 | 12,75 | 69,67 |
Églises contestataires et théologie de la libération | 11 | 1,75 | 71,42 |
Violence | 10 | 1,59 | 73,01 |
Autres aspecto culturels | 10 | 1,59 | 74,60 |
Football | 10 | 1,59 | 76,19 |
Plan alcool | 9 | 1,44 | 77,63 |
Situation économique, tableau | 9 | 1,44 | 79,07 |
Cinéma | 9 | 1,44 | 80,51 |
Autres visiteurs étrangers au Brésil,Reagan... | 9 | 1,44 | 81,95 |
Autres personnes | 9 | 1,44 | 83,39 |
Indiens | 8 | 1,28 | 84,67 |
Sports | 8 | 1,28 | 85,95 |
Structures agraires | 7 | 1,12 | 87,07 |
Religion afro-brésilienne | 7 | 1,12 | 88,19 |
Chercheurs d’or | 7 | 1,12 | 89,31 |
Enfants | 6 | 0,96 | 90,27 |
Répression et torture | 5 | 0,80 | 91,07 |
Le Brésil en France | 5 | 0,80 | 91,87 |
Misère urbaine | 4 | 0,64 | 92,51 |
Richesse naturelles, continentalité, pierres précieuses, eau... | 4 | 0,64 | 93,15 |
Situation politique tableau | 4 | 0,64 | 93,79 |
Production agricole | 3 | 0,48 | 94,27 |
Histoire | 3 | 0,48 | 94,75 |
Cubatão | 3 | 0,48 | 95,23 |
Transamazonienne, routes | 3 | 0,48 | 95,71 |
Sarney | 3 | 0,48 | 96,17 |
Autres personnalités politiques | 3 | 0,48 | 96,67 |
Armée | 3 | 0,48 | 97,15 |
Criminalité, prisons | 3 | 0,48 | 97,63 |
Télévision | 3 | 0,48 | 98,11 |
Rapports internationaux Nicaragua... | 3 | 0,48 | 98,59 |
Manaus | 2 | 0,32 | 98,91 |
Plages | 2 | 0,32 | 99,23 |
Personnalités politiques | 2 | 0,32 | 99,55 |
Rio de Janeiro | 1 | 0,16 | 99,71 |
Saõ Paulo | 1 | 0,16 | 99,87 |
Litterature | 1 | 0,16 | 100,60 |
627 |
7 - IMAGES OU SÉQUENCES ACCOMPAGNANT LE SUJET “VISITE DU PAPE”. IMAGENS OU SEQUÊNCIAS LIGADAS AO TEMA “VISITA DO PAPA”
Nombre | Pourcent | Cumul % | |
Scènes de rue, foule | 39 | 21,43 | 21,43 |
Stade | 17 | 9,34 | 30,77 |
Autres régions | 12 | 6,59 | 37,36 |
Enfant | 12 | 6,59 | 43,96 |
Rio de Janeiro | 11 | 6,04 | 50,00 |
Bidonville | 11 | 6,04 | 56,04 |
Émotions, folie, pleurs, angoisses, rires... | 8 | 4,40 | 60,44 |
São Paulo | 7 | 3,85 | 64,28 |
Indiens | 7 | 3,85 | 68,13 |
Brasilia | 5 | 2,75 | 70,88 |
Salvador | 5 | 2,75 | 73,63 |
Amazonie | 5 | 2,75 | 76,37 |
Belo Horizonte | 4 | 2,20 | 78,57 |
Manifestations politiques et syndicats | 4 | 2,20 | 80,77 |
Femme | 4 | 2,20 | 82,97 |
Relation inter-raciales, racisme | 4 | 2,20 | 85,16 |
Recife | 3 | 1,65 | 86,81 |
Président, militaire | 3 | 1,65 | 88,46 |
Désordre, désorganisation, inefficacité | 3 | 1,65 | 90,11 |
Rapports internationaux, Nicaragua... | 3 | 1,65 | 91,76 |
Pas de sujet secondaire | 3 | 1,65 | 93,41 |
Manaus | 2 | 1,10 | 94,51 |
Armée | 2 | 1,10 | 95,60 |
Religion catholique | 2 | 1,10 | 96,70 |
Autres aspects culturels | 2 | 1,10 | 97,88 |
Nordeste | 1 | 0,55 | 98,35 |
Vues, cartes postales, images diverses | 1 | 0,55 | 98,90 |
Violence | 1 | 0,55 | 99,45 |
Fête | 1 | 0,55 | 100,00 |
182 |
8 - IMAGES OU SÉQUENCES ACCOMPAGNANT LE SUJET “FRANCE AU BRÉSIL”.IMAGENS OU SEQUÊNCIAS LIGADAS AO ASSUNTO «A FRANÇA NO BRASIL»
Nombre | Pourcent | Cumul % | |
Rio de Janeiro | 20 | 17,09 | 17,09 |
Brasilia | 7 | 5,98 | 23,08 |
Équipements urbains | 7 | 5,98 | 29,06 |
Scènes de rue, foule | 7 | 5,98 | 35,04 |
Présidents militaires | 6 | 5,13 | 40,17 |
Sarney | 6 | 5,13 | 45,30 |
Bidonville | 5 | 4,27 | 49,57 |
São Paulo | 4 | 3,42 | 52,99 |
Plages | 4 | 3,42 | 56,41 |
Pas de sujet secondaire | 4 | 3,42 | 59,83 |
Énergie, barrages | 3 | 2,56 | 62,39 |
Manaus | 3 | 2,56 | 64,96 |
Femme | 3 | 2,56 | 67,52 |
Enfant | 3 | 2,56 | 70,09 |
Industrie | 2 | 1,71 | 71,79 |
Amazonie | 2 | 1,71 | 73,50 |
Autres personnalités politiques | 2 | 1,71 | 75,21 |
Armée | 2 | 1,71. | 76,92 |
Carnaval, images de bals, de la rue, etc. | 2 | 1,71 | 78,63 |
Protection sociale et éducative | 2 | 1,71 | 80,34 |
Rapports internationaux, Nicaragua... | 2 | 1,71 | 82,05 |
Autres personnes | 2 | 1,71 | 83,76 |
Misère urbaine | 1 | 0,85 | 84,62 |
Importations, exportations, commerce international | 1 | 0,85 | 85,47 |
Investissements étrangers | 1 | 0,85 | 86,32 |
Richesses naturelles, continentalité | 1 | 0,85 | 87,18 |
Histoire | 1 | 0,85 | 88,03 |
Villes autres que celles précisées... | 1 | 0,85 | 88,89 |
Belo Horizonte | 1 | 0,85 | 89,74 |
Recife | 1 | 0,85 | 90,60 |
Scènes de travail | 1 | 0,85 | 91,45 |
Sensualité | 1 | 0,85 | 92,31 |
Relations inter-raciales, racisme | 1 | 0,85 | 93,16 |
Indiens | 1 | 0,85 | 94,02 |
Ouvriers, usines | 1 | 0,85 | 94,87 |
Maladies | 1 | 0,85 | 95,73 |
Patronat | 1 | 0,85 | 96,58 |
Musique | 1 | 0,85 | 97,44 |
Télévision | 1 | 0,85 | 98,20 |
Autres aspectos culturels | 1 | 0,85 | 99,12 |
Football | 1 | 0,85 | 100,00 |
L’INFORMATION SUR LE BRESIL DANS 5 QUOTIDIENS NATIONAUX EN 1983,1984, et 1985
Notes de bas de page
1 Feito em colaboração com Philippe Henriot.
2 Data limite para obter o fichário do INA e apresentar os resultados da análise na mesa-redonda de dezembro de 1987.
3 A partir de 8 ítens, ou seja: dados econômicos, perguntas de política interior; aspectos sócio-culturais, comportamentos; cultura; esportes; acidentes e particularidades; o Brasil no cenário internacional; expatriados e aventureiros.
4 Depois de uma leitura rápida do conjunto do texto e segundo os elementos de informação aí contidos, alguns artigos – em particular aqueles relativos à dívida extema brasileira – foram classificados seja na seção: «Brasil no cenário internacional», seja em «questões políticas socio-ecônomicas».
5 Isso aconteceu depois de período analisado presentemente.
6 A este respeito, cf. Mouillaud, Maurice, «Note sur la production d’actualité et son rapport à l’histoire». In: Fritsch, Philippe (sous la direction de), Le sens de l’ordinaire, Ed. du CNRS, 1983, pp. 119-128.
7 Cf. acima p. 3, e quadro no 1.
8 Entrevista realizada em abril de 1987.
9 Morin, Edgar, L’Esprit du temps, vol. 1: Névrose, 1962, 280 p.; vol. 2: Nécrose, 1975, 270 p.
10 Cf. L’Humanité, 22/2/85, «Sur un air de Samba».
11 Assuntos principais segundo a nossa codificação.
12 MONTENEGRO, Ana-Maria
– «Le Brésil dans les manuels scolaires français» en collaboration et sous pseudonyme (RETEILMONT), Hérodote, no 4,1976, Paris, pp. 135-150.
Images du Brésil. Un pays du Tiers-Monde dans la presse française, Thèse de 3e cycle, Université de Paris VII, 1983, 323 p.
«Imagens do Brasil na imprensa francesa », Ciência e cultura, vol. 38, no 5, maio de 1986, São Paulo, pp. 783-788.
– «Le Brésil vu par la presse quotidienne française», in Les Mass-média en Amérique Latine», Annales des Pays d’Amérique Centrale et des Caraïbes, no 6, 1987, Université d’Aix-Marseille III, pp. 136-162.
Notes de fin
1 com a colaboração de Gérard CAMPAN, engenheiro informático, responárel pelo tratamento dos datos.
Auteur
Professora (Maître de conférences) na universidade de Paris XII.
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