Notas finais
p. 475-495
Texte intégral
1No sentido de conhecer e refletir sobre a articulação entre o campo de significações do bairro da Mouraria, os espaços e as experiências de distintos indivíduos, no princípio deste trabalho coloquei duas questões a analisar: a reprodução de certos símbolos urbanos identitários, valores e representações, e a promoção de projetos de renovação através do fomento da ideia de cidade plural; as complementaridades e contrariedades que atravessam tais processos de construção e invenção da imagem do bairro a partir de lógicas ambíguas e ambivalentes. Considerei, assim, que tais questões se tocam mutuamente e insinuei que para proceder à interpretação da realidade social, urbana e simbólica do bairro seria necessário focalizar as interconexões existentes entre os processos de emblematização, segregação e estigmatização. Notando que existe um conjunto de dualidades e oposições que atravessam as várias dimensões sociais, simbólicas e espaciais que, ao mesmo tempo que separam indivíduos, grupos, espaços e tempos, também permitem a articulação e a coexistência – paralela e/ou conflituosamente. Desse modo, argumentei que os diferentes elementos, metáforas e dinâmicas que contribuem para a construção de imagens identitárias do bairro tanto podem inventá-lo como um lugar representativo de uma Lisboa típica e popular, patrimonial e histórica, ao mesmo tempo que denotam variantes que permitem relacioná-lo com a ideia de multiculturalidade, bem como marginalidade e conflitualidade. Insinuei ainda que tais imagens se encontram intimamente associadas à visibilidade das práticas de uso e apropriação do espaço e à respectiva interpretação que os indivíduos fazem de tais práticas ao longo do tempo. De modo que, ao articular sincronia e diacronia, desenvolvi uma descrição densa das microgeografias quotidianas de uso e apropriação dos espaços públicos do bairro.
2Assim, no capítulo 1 procedi a uma contextualização histórica e do desenvolvimento social e urbano da Mouraria, procurando destacar as lógicas duais subjacentes à invenção do bairro. Desse modo, o bairro foi analisado como um contexto cuja leitura e interpretação podem ser efetuadas a partir de planos distintos, mas relacionados entre si. Pelo que a invenção da Mouraria como um gueto para os vencidos pode ser interpretada como formal e oficialmente localizada no tempo e no espaço. Relembrando que é nesse mesmo tempo e espaço que se situa a aventura do lendário Martim Moniz, um mártir que demarca a reconquista da cidade aos mouros. Mas a Mouraria também foi inventada como um bairro tradicional e típico, sendo que essa sua invenção se reflete numa complexa teia de condicionantes históricas, sociais, económicas e urbanas cujos precedentes fundadores são orientados por princípios simbólicos que fazem menção ao mito da Severa, uma bela e desenvolta mulher que – segundo consta, era prostituta – no século XIX encantou a sociedade da época com a sua maneira de cantar o fado.
3O bairro da Mouraria surge, dessa forma, como um contexto que alude à ideia de um espaço intersticial que se situa entre o facto histórico e o espaço mitológico, miséria, vício e pitoresco, peculiaridade sociocultural e falta de civilização, património histórico e espaço degradado, um dos lugares emblemáticos da cidade e espaço liminar e estigmatizado, etc. Um bairro onde as dualidades que atravessam as suas dimensões sociais, simbólicas e espaciais também se espelham nas distintas políticas de intervenção urbana que, entre a preservação da memória e a invenção de projetos de renovação da sua imagem, o deixaram à margem dos melhoramentos urbanos, como entenderam materializar o projeto de renovação através da sua reinvenção física, social e urbana, como ainda procuram viabilizar a manutenção do seu património através de propostas de reabilitação, requalificação e revitalização urbana, social e económica.
4As dualidades aqui referidas refletem-se ainda na continuidade de determinadas dinâmicas sociais e espaciais – como a vida de rua, a marcha, a procissão, etc. –, aliadas à deterioração de determinadas condicionantes socio-habitacionais, ao envelhecimento da população e à pobreza urbana; e na reconfiguração da realidade social, urbana e simbólica de tais dinâmicas que, por seu lado, estão intimamente ligadas aos processos de mudança e transformação que naquele contexto também introduziram outras e diferentes dinâmicas. São exemplos dessas dinâmicas: a instauração de um comércio de revenda controlado pelo que se convencionou chamar minorias étnicas, a frequência local de diversos indivíduos, muitos dos quais africanos, indianos, chineses, brasileiros, ciganos e, mais recentemente, indivíduos oriundos dos países do Leste europeu, como ainda dos sem-abrigo, vendedores e consumidores de droga, clientes do comércio, turistas, etc. Daí que, na continuidade do trabalho, foi fundamental ampliar o enfoque analítico para assim captar a multidimensionalidade das dinâmicas locais.
5Pelo que nos capítulos 2 e 3 foi desenvolvida uma descrição densa de determinadas percepções do território, práticas e dinâmicas, tendo sido dada particular atenção à ideia de que a multidimensionalidade do contexto e das representações do bairro, ao encontrar-se ligada a uma lógica mais abrangente e global, não retirava a sua condição como um lugar na cidade.
6Ao tomar como referência a ideia de que o lugar é tridimensionalmente constituído por três elementos essenciais – local, localização e senso / sentimento do lugar (Agnew 1997) –, no capítulo 2 foram inicialmente discutidos alguns aspectos da inscrição territorial do bairro no espaço urbano e, seguidamente, o modo como os limites e as fronteiras do bairro eram percebidos por distintos indivíduos e a forma como determinadas referências sociais e espaciais serviam como meios de orientação no espaço. As noções de multilocalidade e multivocalidade foram particularmente recorrentes para compreender alguns dos processos, referenciais e aspectos através dos quais o lugar é percebido. Tais noções permitiram englobar outros lugares, não-lugares, outras práticas, tempos e eventos, como admitir que todas essas outras situações podiam ocorrer num mesmo espaço e tempo, e serem expressas por várias e múltiplas vozes (Rodman 1992). Mas não só, essas noções permitiram ainda compreender os processos de configuração dos limites e fronteiras como algo dinâmico, maleável e múltiplo, servindo como uma espécie de diluente das perspectivas que tomam os limites e fronteiras como meras barreiras físicas e sociais, ou seja, como simulacros para explicar a separação. Neste sentido, foi promissor admitir, como referiu Low (2000), que os limites e fronteiras são, na realidade, marcas de transição entre uma determinada esfera de controlo social e outra servindo, sobretudo, para demarcar diferenças e contrastes. De modo que a análise efetuada permitiu inferir que o bairro da Mouraria não possui fronteiras nítidas, sobretudo porque essas são mais dependentes das relações sociais do que de fatores de ordem geográfica e urbanística. O que, em concordância com Gupta e Fergunson (2000: 45), significou considerar que:
“As fronteiras são justamente esses lugares de contradições incomensuráveis. O termo não indica um local topográfico fixo entre dois locais fixos (nações, sociedades, culturas), mas uma zona intersticial de deslocamento e desterritorialização, que conforma a identidade do sujeito hibridizado. Em vez de descartá-la como insignificante, zona marginal, estreita faixa de terra entre lugares estáveis, queremos sustentar que a noção de fronteira é uma conceituação mais adequada do local normal do sujeito pós-moderno.”
7No entanto, tais considerações não retiram à Mouraria a sua expressividade como um lugar socialmente construído.1 E aqui novamente concordo com os autores quando referiram que:
“Uma antropologia cujos objectos não são mais concebidos como automática e naturalmente ancorados no espaço precisará dar atenção especial ao modo como espaços e lugares são construídos, imaginados, contestados e impostos. Nesse sentido, não é um paradoxo dizer que as questões do espaço e do lugar estão, nessa época desterritorializada, mais do que nunca no centro da representação antropológica.” (Gupta e Fergunson 2000: 44)
8Pelo que, ao admitir que determinadas noções – como desterritorialização das relações sociais, não-lugares, descontextualização e deslocalização das redes de interconhecimento – são importantes no entendimento de certos fenómenos e dinâmicas da sociedade contemporânea, acredito que os processos de restruturação complexificam os contextos locais ao invés de existirem numa hiper-realidade sem nenhuma espécie de suporte interacional – quer ao nível do coletivo social, quer a nível espacial. Neste sentido, uma vez mais cito Gupta e Fergunson (2000) por considerar importante que:
“Em vez de nos determos na noção de desterritorialização, na pulverização do espaço da alta modernidade, precisamos teorizar de que modo o espaço está sendo re-territorializado no mundo contemporâneo. […] A localização física e o território físico, durante tanto tempo a única grade sobre a qual a diferença cultural podia ser desenhada, precisa ser substituída por grades múltiplas que nos permitam ver que conexão e contiguidade – de modo mais geral, a representação do território – variam consideravelmente graças a factores como classe, género, raça e sexualidade, e estão disponíveis de forma diferenciada aos que se encontram em locais diferentes do campo do poder.” (Gupta e Fergunson 2000: 47)
9Mediante o facto de os indivíduos estarem em permanente contacto com outros grupos de indivíduos em situações muito diversificadas é possível, então, demarcar dois aspectos. Um deles é de que as percepções do lugar Mouraria desenvolvem-se numa espécie de terreno movediço, atribuindo-lhes uma pluralidade de sentidos e significados, apenas compreensíveis a partir de um processo continuado de recomposições e reconfigurações, onde os limites desempenham um importante papel na demarcação dos territórios intersticiais. Observando, entretanto, que para compreender a pluralidade e a multidimensionalidade dos limites e fronteiras, bem como dos seus continuados processos de reconfiguração, é importante contextualizá-los. Isto é, aqui as noções de limite, fronteira e interstício, apesar da fluidez e plasticidade que lhes são intrínsecos, somente fazem sentido porque constituídos e constituintes de realidades sociais específicas, embora interligadas com um espaço social mais vasto. Pelo que também é pertinente considerar que tais constituições e interligações se localizam no âmago dos processos históricos. O que, por outro lado, permite relativizar a ideia de que a realidade urbana somente seja perceptível pelas ideias de que tudo é demasiado efémero, desconectado ou disjuntivo. Acredito, assim, que certos aspectos e atributos socio-espaciais possam ser considerados como tal, mas nem todos. Contrariamente às conclusões demasiado apressadas, parece-me importante considerar que o bairro da Mouraria se constitui como um lugar multifacetado, como se nele coexistissem – de forma paralela e/ou conflituosa – diferentes Mourarias, e é aqui que as noções de limite, fronteira e interstício ganham vida, adquirindo significados e sentidos.
10Um outro aspecto que julguei ser importante, é o facto de o processo de percepção e invenção do espaço nem sempre se colocar como uma forma pacífica e harmoniosa de evasão das coações ditadas pelo planeamento, organização e controlo do espaço urbano, precisamente porque o meio social pode constranger determinadas visões do mundo. Nesta ótica, argumentei que os limites e as fronteiras são constituídos com base nas regras sociais de diferença e diferenciação, contribuindo desse modo para a invenção de determinados significados urbanos que, por sua vez, permitem situar o bairro da Mouraria no mapa social da cidade. Um aspecto ainda mais evidenciado através do enquadramento das microgeografias quotidianas de uso e apropriação dos espaços públicos do bairro – conforme o capítulo 3 –, onde foi possível constatar que, a par de sugerirem heterogeneidade e multidimensionalidade também insinuam a importância que determinadas demarcações socio-espaciais têm no processo de construção da paisagem urbana.
11Pelo que, no que respeita à compreensão das práticas e dinâmicas de uso e apropriação dos espaços públicos do bairro da Mouraria, primeiramente foi importante admitir que esse espaço se caracteriza por determinados atributos que, a meu ver, igualmente se manifestam em outros espaços públicos da cidade. Designadamente, os atributos em causa são:2
a sua acessibilidade é condicionada por limites que tanto podem ser sociais como físicos (acessível a certas categorias de indivíduos, sob certas condições ou horários, barreiras visuais ou portas, regras estabelecidas no seu interior, etc.);
proporciona a comunicação e o contacto social, viabilizando o reconhecimento coletivo através do encontro face a face com outros indivíduos;3
é um espaço que serve para ver e ser visto;
a visibilidade pública das práticas sociais e dos ritmos que constituem e são constituídos no espaço público está intimamente associada aos significados e às imagens que são atribuídos a esse espaço;
a sua qualidade física e arquitetónica proporciona a apropriação pública, sendo essa qualidade um atributo fundamental para a legibilidade urbana da sua potencialidade como espaço de âmbito público;
a sua apropriação está intimamente relacionada com as interpretações que os seus potenciais utentes fazem do ambiente social, de modo que a sua condição física não é determinante, embora influencie;
a sua apropriação é definida pela construção quotidiana de limites e interstícios sociais, espaciais e temporais (grupos / práticas / horas específicas de utilização);
é um espaço de regulação e mediação simbólica;
os seus significados e valores simbólicos são definidos consoante os distintos períodos históricos, como consoante ao tempo quotidiano e fora do quotidiano, como mediante as distintas visões do mundo;
proporciona a frequência de diferentes indivíduos, viabilizando a manifestação de uma diferenciada gama de comportamentos;
pode ser um espaço polivalente ou multifuncional (bancos, lojas, equipamento infantil, bares e cafés, etc.);
permite a conexão com outros espaços urbanos através das ruas, sendo um espaço urbano contínuo, contentor / condensador social, catalisador de recursos, símbolo da unidade através das diferenças;
pode ser símbolo da identidade da cidade, sendo um contexto para a manifestação do poder e das regras políticas, de conflito, protesto, respeito ou de solidariedade entre os cidadãos.
12Ao ter em conta os atributos acima referidos foi, então, importante detectar algumas das especificidades de uso e apropriação do espaço. Assim, no âmbito da descrição e análise das microgeografias quotidianas de uso e apropriação dos espaços públicos do bairro esforcei-me por captar os seus ritmos através da ideia de formas ritualizadas (Noschis 1984), assim como através das noções de pedaço, trajeto, circuito e mancha (Magnani 1998, 2000a, 2000b) admitindo, em concordância com Magnani (2000ba), que tais noções servem como instrumentos de leitura, compreensão e orientação no espaço urbano, na medida em que:
“Ao circunscrever pontos socialmente reconhecidos como relevantes na dinâmica urbana, servem de referência para as actividades que compõem o quotidiano – seja de trabalho, do lazer, da devoção, da militância, da prática cultural. Fazem parte do património da cidade, configuram aquele repertório de significantes que possibilitam guardar histórias e personagens que estariam esquecidas não fosse pela permanência, na paisagem urbana, de tais suportes.” (Magnani 2000b: 45)
13Na continuidade do raciocínio, isto significou considerar que, inscrevendo-se as microgeografias quotidianas de uso e apropriação dos espaços públicos no mapa social da cidade, facultando a construção de paisagens, é consequente o facto de que tais práticas têm repercussão nas imagens que são construídas do bairro que, desse modo, fazem parte do conhecimento que se tem da Mouraria como da cidade. Isto porque tais espaços servem como intermediadores para a criação e contestação das identidades sociais e das imagens socio-espaciais. E, em certo sentido, o drama de uma imagem que transita entre a ideia de que o bairro é típico ou de que já não tem características, ou de que é um histórico, multiétnico, multicultural ou de que é um contexto liminar, parece estar ligado à visibilidade das práticas de uso e apropriação dos espaços públicos e à interpretação que os indivíduos fazem de tais dinâmicas ao longo do tempo – quotidiano e fora do quotidiano –, assim como ao longo do tempo histórico.
14No entanto, numa perspectiva mais ampla, essas observações tornaram possível a relativização de alguns pontos de vista que têm refletido sobre o espaço público urbano contemporâneo. Em síntese, os pontos de vista aqui considerados são aqueles que salientam a tendência para a homogeneização desse espaço em decorrência do controlo estatal e das regulações económicas, levando a que alguns autores se refiram à sua morte e retraimento a partir do reforço da vida privada, enquanto outros autores ainda ressalvam que tais processos se encontram associados à proliferação de dinâmicas sociais de hibridização e desterritorialização. Portanto, ao considerar que tais dinâmicas e processos são recorrentes e fundamentais ao nível da análise e compreensão das transformações do espaço urbano. Defendo, entretanto, a importância de considerar que os processos de homogeneização, privatização, hibridização, desterritorialização (etc.) dos espaços públicos se dão a par de um conjunto de outras situações e aspectos que evocam heterogeneidade, e indiciam que tais espaços se reproduzem como espaços de fruição social nos seus mais amplos sentidos e significados. Isto é, se o espaço público urbano pode ser considerado como um espaço privilegiado para a constituição e expressão do poder, os movimentos sociais e de resistência recuperam a sua qualidade como espaço de manifestação e protesto (Low 2000a). Dir-se-ia, assim, que os significados atribuídos ao espaço público urbano como as imagens que sobre ele são produzidas não se fazem somente pelo controlo estatal ou pela influência do poder económico. Com precisão, dir-se-ia ainda que isto sucede porque na construção do campo de significações imaginárias do espaço entram em conflito distintos valores culturais, formas de uso e apropriação do espaço, visões de ordem social e do que é um comportamento apropriado, como o próprio desenho do espaço e os diferentes significados simbólicos e afectivos que se encontram em jogo. Na verdade, é pertinente aqui considerar que entre as imagens daqueles que produzem o espaço público e as imagens dos utentes desse espaço existem muitas diferenças e contrastes (idem).
15Conforme fez notar Magnani (2001) na sua crítica ao livro de Arantes (2000), o recurso a noções como hibridização, porosidades, territorialidades flexíveis, não-lugares, configurações espaciotemporais, paisagens disjuntivas, entre outras, coloca a necessidade de atentarmos para:
“o perigo que uma profusão terminológica e a multiplicidade de categorias podem acarretar: quando ainda presas no plano da metáfora, é possível que terminem apenas duplicando, com o efeito caleidoscópio, a heterogeneidade de seu objecto. Um desafio para todos os que têm a cidade contemporânea como tema de estudo é, pois, o de construir modelos analíticos mais económicos que evitem o risco de se reproduzir, no plano de um discurso interpretativo, a fragmentação pela qual as grandes metrópoles são muitas vezes representadas nos média, nas artes plásticas, na fotografia e em intervenções artísticas no espaço público.”
16Neste âmbito, é importante admitir que não só as permanências criam especificidades como o próprio movimento – ainda que veloz e efémero – se inscreve na paisagem urbana definindo particularidades que bem podem ser heterogéneas e multidimensionais. Daí me ter ancorado aqui em determinados textos – como os de Richardson (1980), Low (1995, 2000a, 2000b), Cooper (1998), Carr et. al. (1995) e a coletânea organizada por Fyfe (1998a). Isto porque tais textos refletem sobre os efeitos do poder económico e político na regulamentação e homogeneização dos espaços públicos, mas relativizam essas influências ao contextualizar a importância dos mesmos como espaços de mediação e confronto com o outro, de conflito e de protesto e, assim, recuperam a importância das rotinas quotidianas na análise desse espaço social, como a importância em compreender esse tipo de espaço urbano através das noções de heterogeneidade e multidimensionalidade.
17Na verdade, foi o trabalho de aproximadamente três anos no bairro da Mouraria que me mostrou que não é somente a vida de bairro – e a respectiva transfiguração da rua em sala dos seus moradores – que permite detectar singularidades ou, num sentido mais vasto, detectar uma intensa utilização dos espaços públicos. Também algumas dinâmicas que decorrem no metropolitano, ruas comerciais, praça e centros comerciais locais permitem inferir que existem rotinas e particularidades, apropriações, inclusões e exclusões, paralelamente à multidimensionalidade das dinâmicas e à influência do poder político e económico.
18Acredito, assim, que a frequência quotidiana com que determinadas práticas e ritmos urbanos se manifestam na Mouraria estimula a criação de metáforas que tanto se refletem como imagens do bairro como são representativas de um processo de reterritorialização dos espaços públicos. E embora seja levada a considerar que o processo de reterritorialização identifique algumas dinâmicas de privatização do espaço público, é necessário complexificar a compreensão de tal processo em lugar de nos reduzirmos à ideia de que a privatização induz a negação do espaço público, homogeneização e apropriação do espaço pelos segmentos excluídos da sociedade. Ainda que admitindo, no caso da Mouraria, que muitas das dinâmicas de uso e apropriação do espaço possam estar ligadas àqueles que muito usualmente são considerados como os excluídos da sociedade, penso que a própria condição de exclusão deve ser captada como heterogénea e dinâmica, a par da sua multidimensionalidade. Nesta ótica, acredito que também se deva complexificar aquilo que, a priori, parece ser uma oposição rígida traduzida nos pares: excluídos / incluídos, público / privado, homogéneo / heterogéneo, hegemónico / contra-hegemónico. Considero, assim, que a ordem dominante coexiste e/ou sofre interferências de uma variedade de outras lógicas que, por sua vez, se combinam e articulam de maneiras diferenciadas nas distintas regiões do espaço urbano, complexificando e inventando rotinas que contribuem para a construção de especificidades, ainda que estas sejam multidimensionais e fragmentadas.
19Num outro âmbito, procurei ainda captar as visões e as imagens que os diferentes indivíduos têm do bairro da Mouraria – conforme os capítulos 4 e 5 –, tomando por referência as representações dos de dentro – aqui tomados por aqueles que se autoconsideram como filhos do bairro – e os de fora – nesse sentido, utilizando uma categoria endógena (utilizada pelos de dentro) que serve para classificar aqueles que não são considerados como filhos do bairro. A análise desenvolvida permitiu, assim, considerar que a par das mudanças e transformações nas dinâmicas do bairro e dos processos de reconfiguração da sua imagem identitária, não está em causa a continuidade da imagem da Mouraria como contexto típico da cidade, mas justamente a possibilidade da coexistência dessa imagem – paralela ou conflituosamente – com outras.
20Sobre este dilema incidem dois aspectos que, aqui, tomo como centrais para o processo de construção de imagens da Mouraria. Isto é, por um lado, a imagem da tradicional tipicidade do bairro também está ligada à sua má fama, sendo ela decorrente de um ambiente fadista, de marginalidade e malandragem. Mas, como foi possível observar, os de dentro manipulam estrategicamente essa dualidade invertendo os seus resultados negativos e reforçando ainda mais o processo de emblematização das tradições locais. Notando ainda que tal é subsidiário de uma lógica que articula as imagens endógenas e exógenas. Por outro lado, a imagem do bairro como um contexto multiétnico e multicultural não é imune à má fama e à liminaridade ou, por outras palavras, não inviabiliza a existência de um processo de segregação socio-espacial que parece ser particularmente apelativo para o caso em análise.
21É, assim, sugestivo pensar que sobre o bairro possa, inclusivamente, recair uma espécie de dose dupla de má fama e que, na ótica dos de dentro, parece aumentar ainda mais a insatisfação que sentem relativamente ao agora, sobretudo porque não anteveem uma inversão de tal situação. Embora se verifique que pontualmente acabem por inventar algumas estratégias que simbolicamente permitem estabelecer alguma mediação, de certo modo essas estratégias pareceram-me pouco incipientes para contornar um quotidiano que transformou a Mouraria num verdadeiro mosaico cultural, mas também numa miscelânea de liminaridades. Já que, apesar de uma certa positivação exógena em torno da ideia de multietnicidade ou de multiculturalidade, é de ter em conta os efeitos menos positivos dessa imagem na realidade social e urbana do bairro.
22Repare-se, entretanto, que ao tomar como referência o mito da Severa para tentar explicar o dilema por que passam os de dentro na identificação da Mouraria como um bairro típico e característico, é apelativo o facto de que a atemporalidade do mito contribui para a sua emblematização, permitindo perpetuar e reinventar uma tradição e, nesse sentido, participar do processo de construção de uma determinada imagem do bairro que, por sua vez, também se reflete na construção de uma imagem específica da cidade. Mas embora a força desse mito advenha da sua capacidade de naturalizar aquilo que foi historicamente produzido e daí a importância da sua atemporalidade que, ao funcionar como artifício para a reinterpretação da história, permite recordar o passado e transformar o presente numa espécie de passado continuado; ele parece preencher somente a função sociológica de interpretar uma determinada faceta da realidade do bairro. Isto é, o mito da Severa não fornece antecedentes que permitam explicar as outras facetas da ordem social e cultural do bairro na atualidade, dificultando a justificação das tantas outras dinâmicas que ali se desenvolvem, como é o caso da miscelânea étnica, cultural, as liminaridades e os tipos de rua do tempo de agora.
23No entanto, em certo sentido, a lacuna criada pelo mito da Severa parece estar ocupada pela recuperação exógena da lenda de Martim Moniz que, inscrita na Praça e na estação de Metro de igual nome através de um conjunto de artifícios simbólicos e significantes, procura assinalar a antiguidade do contexto como a própria ideia de que o local sempre se caracterizou como um contexto multiétnico e multicultural. Contudo, os de fora não só contribuem para a construção dessa imagem do bairro como continuam a reportar-se às ideias de típico e contraditório quando se referem à Mouraria.
24Face à complexidade que tem lugar na Mouraria pareceu-me, então, importante captar as visões e imagens que os de fora têm da Mouraria através da realização de uma leitura tripartida da sua realidade social, cultural, simbólica e urbana. Isto porque essa leitura tríplice do espaço social permitiu valorizar a ambiguidade como valor estrutural do processo de consolidação, reconfiguração e demarcação social e espacial (DaMatta: 1994). Desse modo, vindo a permitir relacionar as diferentes categorias socio-espaciais a partir de lógicas de oposição, dualidade, ambivalência e complementaridade, como colocar em evidência a ambiguidade e a simultaneidade de algumas relações socio-espaciais que, a priori, poderiam pressupor contradições. Pelo que, ao admitir a existência de repercussões múltiplas entre as imagens endógenas e exógenas, foi realizada uma leitura das visões e imagens que os de fora têm do bairro a partir de determinadas situações temáticas, simbólicas, sociais e espaciais que tanto servem para invenção da tradição popular e da tradição multiétnica como de estigmas territoriais.
25Dir-se-ia, assim, que sendo a ambiguidade um valor estrutural para o processo de construção da ideia de bairro, como referiu DaMatta (1994), o sistema pode ser aberto a leituras distintas, compensatórias, mas não-hegemónicas. Neste sentido, acredito que só assim é possível compreender um pouco mais a complexidade inerente aos processos de reconfiguração da imagem simbólica do bairro e os modos como tais processos se encontram aliados à produção do espaço urbano e à construção de imagens da cidade.
26As metáforas e as imagens que elas refletem do bairro indiciam diversidade, heterogeneidade e complexidade, o que, como referiu Fantin (2000: 29), “associadas à linguagem da arte, evocam sentidos, cidade polifônica”, mas também evocam práticas.4 Pelo que aqui é importante reter um ponto essencial: a repercussão social, cultural, simbólica e urbana das práticas que se desenvolvem no espaço público – regra geral: ruas, becos, largos, escadarias, praça e centros comerciais – na criação de atmosferas que impulsionam a invenção de determinadas imagens da Mouraria e de certas metáforas urbanas que, numa perspectiva mais vasta, também fazem parte do conhecimento que se tem da cidade (Crouch 1998). Nesta perspectiva, é importante notar que as intersecções entre o campo das significações imaginárias do bairro e a interligação com a sua história, morfologia física e as práticas socioculturais e espaciais dos distintos indivíduos que vivem e frequentam o bairro ressaltam a íntima articulação entre a experiência dos diferentes atores sociais, os símbolos, os valores sociais e as imagens (Richardson 1980). No entanto, à partida essa articulação nem está definida nem tão-pouco é rígida, justamente porque é flexível e flutuante em função dos diferentes processos de ajustamento cultural e percepção socio-espacial (Bonetti 1994). Assim, aqui importa retomar algumas considerações de de Certeau (1990) e de Edensor (1998), isto é, enquanto por um lado o processo de percepção e invenção do espaço é espontâneo e liberto das imposições ditadas pela organização e planeamento do espaço, desse modo gerando heteroglossias; por outro lado, o processo de percepção, invenção e configuração espacial sofre interferência das experiências dos distintos atores sociais e das suas visões do mundo.
27Dir-se-ia, assim, que as imagens produzidas sobre o bairro não são consensuais e, às vezes, até parecem antagónicas, podendo dar a ideia de rutura. Sendo que, a meu ver, um dos aspectos mais problemáticos repercute-se na invenção da tradição multicultural e multiétnica, como se através dessa imagem fossem resolvidas as contradições de um bairro duplamente atravessado por processos de emblematização e estigmatização. Não que haja problema com a invenção de tradições, até porque a realidade social e urbana do bairro é constituída por diferentes e múltiplas etnias. Como referiu Fantin (2000: 144), creio que “quando se pensa criar tradições, não basta ter e executar uma ideia. É preciso mais que isso”. Já que uma tradição inventada, “precisa não só ter uma certa cara mas ser capaz de produzir motivações e emoções sintonizadas com os desejos de um certo colectivo. Isso significa dizer que há algo além […]” da multietnicidade.5
28O problema a que me refiro coloca-se a três níveis. Primeiramente, embora seja possível falar numa tentativa de positivação da imagem da multietnicidade / multiculturalidade do bairro, tenho dúvidas de que tal possa ser tomado como sinónimo de convívio interétnico ou de integração social e urbana. Neste sentido, é de notar que nos chamados “espaços cosmopolitas” do bairro – Praça do Martim Moniz e Centro Comercial do Martim Moniz – a sensação de passagem por uma fronteira, muitas vezes transforma os “brancos” nos outros. Saliente-se ainda que, em tais espaços, os “brancos” têm uma presença diminuída comparativamente aos “não-brancos”, sendo que tais espaços (ainda) são parcialmente apropriados pelos moradores do bairro e muitos desses, como distintos trabalhadores em instituições locais, inclusivamente, referiram ter medo de estar nesses locais, utilizando-os apenas como espaços de passagem, de atravessamento para algum outro local. Na verdade, penso que se deve atentar para o facto de que a ideia de multiculturalidade, indiretamente, poder vir a reforçar um processo de justaposição de diferenças, ao invés da inter-relação das diferenças.
29Um segundo problema advém da imposição de uma imagem de multiculturalidade poder tornar-se problemática quando não valoriza alguns dos meios, espaços e instrumentos de mediação cultural, social e simbólica que, a priori, já existem no local. Isto porque os espaços onde pareceu haver (ou, pelo menos, onde parece germinar a possibilidade de) convívio entre nós e os outros são o próprio núcleo do bairro e a Rua da Mouraria, tendo aqui um importante papel as festividades populares.6 Importando, aqui, conceber os espaços públicos e semipúblicos como espaços de mediação, isto é, como espaços essenciais para a reformulação do nós como para o estabelecimento de uma relação de respeito com o outro. Em terceiro e último lugar, é importante considerar que, a par da positivação em torno da imagem do outro e do próprio processo que reproduz a imagem da tipicidade popular, não se deve esquecer que uma como a outra imagem são atravessadas por lógicas de exclusão, segregação e estigmatização.
30Um dos aspectos que mais chama a atenção nas tantas e múltiplas imagens que são evocadas para retratar a Mouraria advém sobretudo da amplificação de um efeito de localização de determinadas dinâmicas, equipamentos, serviços, etc. Afinal, se a cidade é plural e colorida, multicultural e solidária, porquê a instalação do “palácio dos sem-abrigo no bairro”7? Porque é que é ali o espaço ideal para se localizar o mercado / comércio de índole étnica quando, cada vez mais, em outros espaços da cidade se observa a instalação de estabelecimentos comerciais e pontos de venda ambulante controlados por minorias étnicas? Porquê a ênfase dada à multiculturalidade e ao sentido plural da cidade relativamente ao contexto do bairro?
31É claro que a tendência para a localização de determinados fenómenos sociais na Mouraria, como por exemplo o mercado de índole étnica ou a presença dos sem-abrigo, se reporta à continuidade de tais práticas ao longo do tempo, assim consolidando certas imagens, signos e referências sociais, sobretudo ao ter em consideração a visibilidade de tais fenómenos, muito embora eles também se manifestem em outras áreas da cidade.8 Mas mesmo considerando que em contextos distintos da Mouraria tais práticas são mais recentes ou menos constantes, julgo que ainda assim existe a tendência para uma certa enfatização da localização de determinadas práticas e dinâmicas relativamente ao contexto do bairro, desse modo reforçando um processo de segregação e estigmatização.
32A espacialização do poder não significa propriamente a exclusão dos indivíduos dos espaços públicos, podendo antes desenvolver-se através do zonamento de certas áreas urbanas (Cooper 1998). Isto é, indivíduos e práticas passam a estar associados a um determinado espaço, transformando a identidade cultural numa identidade territorial que, entretanto, pode vir a ser marginalizada. Nesta perspectiva, os símbolos políticos tomam a forma de sinais ao servirem como elementos de referenciação para a identificação de áreas urbanas, como por exemplo assinalar que um determinado segmento do espaço urbano é multicultural ou plural. A autora ainda salientou que uma das estratégias de espacialização do poder inclui a mudança ou a introdução de novos ícones para a celebração de sinais pluralistas ou progressistas. Repare-se que essa observação é particularmente recorrente para o caso da remodelação da estação do Metro e na mudança do seu nome, como na própria opção estética e decorativa da Praça do Martim Moniz. Como também considerou Cooper (1998), a instituição de tais estratégias viabiliza a transformação da identidade cultural do espaço, não somente porque passa a incluir grupos e indivíduos socialmente marginalizados, mas também porque reflete as aspirações de uma sociedade mais ampla.
33Embora se possa considerar que as intervenções urbanas procurem atuar sobre o lado obscuro subjacente à ambiguidade dos espaços intersticiais, é aqui pertinente notar que, sendo a ambiguidade e a intersticialidade condições intrínsecas à nossa contemporaneidade, talvez fosse importante levar também em conta as potencialidades inerentes a tais condições. Isto é, julgo que uma possível inversão da situação do bairro como espaço segregado e estigmatizado passa por admitir que a Mouraria é um dos espelhos do espaço urbano contemporâneo, uma mancha onde coexistem distintos pedaços ou uma multiplicidade de Mourarias.
Notes de bas de page
1 Como referiu Hannerz (1997: 29) sobre a utilização de certas palavras-chave pela antropologia transnacional – tais como fluxo, fronteira e híbrido, limite, interstício, difusão, homem marginal, etc. –, é recorrente o facto de que tal vocabulário permite colocar “a globalização com os pés no chão e ajuda a revelar a sua face humana”, pois “leva a pensar que o mundo não está se tornando necessariamente igual. Há luta, mas também há jogo. Os tricksters prosperam nas zonas fronteiriças”. Saliente-se ainda que o autor observou que a preocupação com as interconexões culturais não é uma novidade na antropologia, pois embora apareça sob distintos modelos conceptuais, ela é recorrentemente encontrada nos teóricos do difusionismo, da aculturação e, mais recentemente, nas correntes multiculturalistas. Considera ainda que tais palavras-chaves da antropologia transnacional (ver também entrevista com o autor em Rabossi [1999]). Mas Zukin (2000a: 82-83), ao comentar que o espaço da cidade pós-moderna estimula e imita a ambiguidade, transformando sítios específicos da cidade em espaço liminares, observou que “a liminaridade dificulta o esforço de uma identidade espacial”. No entanto, o espaço liminar situa as mudanças nas nossas experiências e modela o quotidiano, de modo que “uma paisagem pós-moderna não apenas mapeia cultura e poder: mapeia também a oposição entre mercado – as forças económicas que desvinculam as pessoas de instituições sociais estabelecidas – e lugar – as formas espaciais que as ancoram no mundo social, proporcionando a base para uma identidade estável”.
2 Algumas das características aqui referidas são discutidas por diferenciados autores que têm procurado refletir sobre o espaço público urbano, como por exemplo: Blauwn (1993); Ostrowetsky (1986); Bordreuil (1986); Conan (1992); Werner (1992); Carr et al. (1995); Richardson (1980); Low (2000a, 2000b).
3 É de considerar que com o desenvolvimento tecnológico e das redes de comunicação virtual, bem como com o favorecimento dos meios de transportes e da mobilidade espacial, o contacto e a comunicação social não são necessariamente dependentes do encontro face a face ou de um determinado território, como ainda se poderia dizer que os espaços de comunicação virtual se constituem como os novos espaços públicos da sociedade. Mas aqui estou mais preocupada em analisar espaços reais (por oposição aos espaços abstratos das redes de comunicação virtual), ou seja, os espaços onde os cinco sentidos – olhar, ver, tatear, cheirar e ouvir – ainda permitem apreciar e situar o ambiente que nos envolve, como apercebermo-nos dos outros.
4 Sobre a ideia de cidade polifónica e a sua análise através de uma antropologia da comunicação urbana, consultar o trabalho de Canevacci (1993).
5 Fantin (2000) refere-se à invenção de festas tradicionais.
6 Observa-se ainda que os estabelecimentos escolares que atendem aquela área desempenham um importante papel de mediação cultural e social entre o nós e os outros.
7 Refiro-me aqui a sugestão feita pelo arquiteto José Manuel Fernandes num artigo da revista do semanário Expresso de 07.02.1998.
8 O Rossio e envolvência da estação de mesmo nome, o Largo de São Domingos e a Praça da Figueira, para além de se constituírem como espaços de encontro de diferentes grupos étnicos, também têm servido como suporte para a manifestação da venda ambulante por parte de indivíduos pertencentes a esses grupos ou de parte de indivíduos representativos dos segmentos mais desfavorecidos da população, alguns dos quais habitantes da Mouraria. Por outro lado, na colina de Sant’Ana, do lado ocidental da Praça do Martim Moniz, existem restaurantes de comida chinesa e indiana e nepalesa, e ainda havia uma loja de artesanato de brasileiros. Ao longo da Avenida Almirante Reis até quase ao Areeiro, bem como em algumas das transversais desse eixo, instalou-se um comércio de móveis essencialmente controlado por indianos. Entre a Avenida da Igreja e a Rua Luís Augusto Palmeirim, no bairro de Alvalade, é proeminente a presença de um comércio de artigos eletrónicos e quinquilharias controlado por indianos, sendo que que nos últimos anos tem aumentado o número de lojas controladas por chineses. Também se encontram vendedores ambulantes, normalmente chineses e indianos, a vender nas estações do metropolitano, sobretudo nas estações do Marquês de Pombal e do Rato, onde costumam estar ao fim da manhã e ao fim da tarde.
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