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Nota prévia

p. 23-24


Texte intégral

1Com uma ou outra alteração de pormenor, o presente livro é uma reedição do anteriormente publicado, em 2004, pela Celta Editora. O estudo etnográfico que o enquadra tem por referência a minha tese de doutoramento em Antropologia, defendida em 2002. Desde então, a Mouraria tem vindo a experienciar uma intensa transformação, sobretudo acentuada a partir de 2010, tendo as dinâmicas de intervenção urbana que se sucederam contribuído com particular incidência. A partir de um olhar distanciado, pontualmente refleti sobre essas mudanças num ou noutro artigo. Rever este livro considerando o que desde 2002 se tem vindo a alterar no bairro e áreas adjacentes significaria praticamente a realização de um outro estudo, provavelmente com uma perspectiva de abordagem diferente, o que julgo que implicaria uma expressiva alteração no que constitui um estudo datado. Naquela época, os estudos antropológicos e sociológicos sobre a Mouraria eram relativamente residuais. Todavia, desde então e sobretudo a partir de 2010, como que em paralelo com as transmutações que se sucederiam na área, os estudos e as reflexões sobre o bairro multiplicaram-se, respectivamente ao interesse que aquela zona da cidade passou a despertar para um amplo leque de áreas disciplinares, daí decorrendo uma profícua produção académica sobre a Mouraria e a envolvência. As abruptas mudanças observadas no bairro espelham, de algum modo, um conjunto de transformações que se têm sucedido em Lisboa. A Mouraria já não é aquela que estudei. Lisboa já não é o que era.

2Tenho acompanhado, de certo modo, a Mouraria até aos dias de hoje a partir de uma perspectiva mais distanciada. Procuro, neste sentido, estar a par do que se vai fazendo e academicamente produzindo sobre o bairro, continuo a lá ir e, como referi, casualmente realizar uma ou outra reflexão. No entretanto, dois aspectos têm vindo ultimamente a chamar a minha atenção, aqui comentados muito ligeiramente. Portanto, um deles é a apreciável atenção dirigida ao bairro na sequência das suas mudanças, sobretudo as decorridas ao longo destes últimos 15 anos, designadamente tendo em consideração a prolongada presença do bairro na cidade e, até então, a relativa escassez de trabalhos sobre esta área da cidade. Uma atenção em muito vocacionada para abordar a “transformação” naquele território, o que faz pensar sobre o papel que a expressiva visibilidade – em diferentes meios e contextos – tem tido na atualidade do fazer ciência social naquela área da cidade, quando as tantas metamorfoses urbanas se têm verificado em muitas outras zonas de Lisboa, entretanto, carentes de estudos antropológicos, em particular, etnográficos. O que me leva a um segundo ponto: ao ter presente que a Mouraria como Lisboa, cada qual a seu modo, persistem, qual o protagonismo daquilo que “continua”? Este segundo aspecto, quem sabe um dia, contribuirá para que volte a refletir sobre o bairro da Mouraria a partir de uma nova perspectiva de abordagem. Por -agora, ouso apenas e singelamente falando, convidar à leitura de um estudo datado que, todavia, traz alguns elementos de “continuidade” com o tempo presente.1

Notes de bas de page

1 A autora escreve segundo o antigo acordo ortográfico.

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