Capítulo 6. Era não era
Personagem de um anfiguri popular
p. 109-123
Texte intégral
1O anfiguri tem a seguinte definição no Dicionário de Literatura (1973): “Composição em prosa ou em verso, de sentido sibilino ou sem nenhum sentido, e de forma rebuscada ou extravagante (…).” E, sobre a sua longa história: “O anfiguri é uma invenção grega. Após a decadência das formas clássicas no século XIX, os poetas de língua portuguesa não se lembraram mais deste género que, nas literaturas românicas, fora sempre excepcional.”
2Ora, entre os etnotextos do arquivo sonoro do Atlas Linguístico de Portugal e da Galiza1 encontra-se um anfiguri cujo interesse para a nossa literatura popular procuro aqui demonstrar.2 Foi contado em Marmelete, em 1976, por um homem de oitenta oito anos, analfabeto, pastor e curandeiro. Vivia isolado na serra de Monchique, e do seu imenso saber guardou-se apenas, infelizmente, o que coube numa tarde de recitação de benzeduras, adivinhas, lengalengas e histórias. Ouçamos, da sua boca, as aventuras do Era e não Era:
Era uma vez o Era e Não Era,
Que andava lavrando uma serra
Com um boi carrapato e outro calhandro.
Deu notícia que o pai era morto e a mãe por nascer,
E pôs os pés à cabeça,
Largou os bois numa moita
E o arado a comer
E abalou-se a correr.
Foi lá mais adiante
Ao pular dum valado,
Se não fosse um cão
Mordia-lhe um cajado.
Foi lá mais adiante,
Estava uma malhada de colmeias.
Contou, contou as colmeias,
Não as deu contado.
Contou, contou as abelhas,
Faltava uma.
Estavam sete lobos a comer na abelha.
Ele arrulhou, arrulhou, os lobos não fugiram.
Levantou a perna, largou um pum,3
Os lobos fugiram mas ainda ficou um.
Arrulhou, arrulhou, aquele não fugia.
Até que largou outro, aquele também fugiu.
Mas assim que o último lobo fugiu, estava um quarto da abelha ainda.
Ele torceu, torceu, não deitava nada.
Destorceu, destorceu — deitava mel e azeite.
— Então agora, onde é que hei-de eu levar isto?
Mete as mãos ao seio,
Tirou um piolho e um piolhão,
Fez um odre e um borrachão.
Encheu aquilo tudo.
— Então agora, como levo isto para casa?
Passou um mosquito pelo ar
Dá-lhe uma vergastada
O mosquito ficou feito numa burra parda.
— Então agora, como é que eu levo isto?
Lá tirou sedas do rabo da burra pra servir de baraço, levou uma carga, chegou a casa — a burra toda enxetada, da carga, por ser grande.
Foi levar a burra ao alveitar e ele disse:
— Vai daqui, torre as favas, e moa, e polvilhe as mataduras com o pó das favas. Ele assim fez.
— E vá pô-la lá pra uma serra.
Ao fim de muito tempo, lembrou-se da burra, foi lá, estava um lindo faval, capazes de ceifar.
— Então agora, como é que arranjo isto?
Vem a casa buscar uma foice para ceifar as favas, chegou lá, andava um javardo a ceifar nelas.
Com os dentes aceifava
Com as patas debulhava
Com as ventas alimpava.
E daí, carregou aquilo tudo, tava lá a burra, trouxe logo aquilo tudo para casa, vem a casa… a burra outra vez ferida!
Foi dar contas ao alveitar outra vez.
— Vá daqui, torre pinhões, e pise, ou moa, e polvilhe as mataduras da burra com os pinhões.
Ele assim fez.
— E vá pô-la lá pra uma serra.
Lá se passou muito tempo. Passou-se,
ele um dia lembrou-se:
— Ai a minha burra! A esta hora já os lobos a comeram!
Foi lá — estava um pinheiro muito alto, muito alto, em cima da burra.
Foi-se pelo pinheiro acima, foi indo, foi indo, foi ter com a lua. Foi dar à lua. E daí, estava ele de paleio com a lua, a burra arredou-se daquele sítio.
— Mas agora como vou eu pra baixo? Já aqui não tenho o pinheiro, a burra já se foi embora daqui …
Mas a lua empresta-lhe um fio de retrós, e ele veio agarrado no fio, e a lua ia estendendo, estendendo o fio até ele chegar ao chão.
Mas lá numa certa altura o fio partiu-se, e ele caiu no chão, ficando com a cabeça enterrada.
Caiu de cabeça adiante, ficou enterrada.
Abala, vai de caminho de casa buscar uma enxada para ir desenterrar a
cabeça, quando lá foi, já a cabeça lá não estava.4
3As questões que se me levantam em relação a este anfiguri são as seguintes:
que personagem é esta? Ou, de outro modo, donde lhe vem o nome contraditório?
que mundo dá origem a esta narração?
que funções tinha este tipo de literatura oral?
4Vou tentar responder-lhes. A primeira pergunta parece não ser muito difícil: basta ver que numerosas cantilenas começam com a pseudodeterminação temporal própria do maravilhoso infantil. Encontramo-la como início de jogos — por exemplo, no jogo do silêncio:
Era não Era
No tempo da era
Três piolhos
Dentro duma panela
Três para ti, três para ela
Três para o primeiro que falar
Menos eu que sou rei de Portugal.5
5Também para impor silêncio, na ilha Terceira:
Era não era
No tempo da era
Três ratos podres
Numa panela
Para aquele que falar primeiro
Fora eu que sou juiz.6
6ou, em Turquel:
Era não era
No tempo da era
Seis caracóis
Numa panela
Eu a mexer
E tu a lamber
O caldo que ficar
É pra o primeiro que falar
Fora eu, que sou rei de Portugal.7
7A mesma fórmula aparece noutros jogos que não o do silêncio. Exemplo disso é o que Teófilo Braga apresenta no seu Cancioneiro Infantil:
Era não era
No tempo da era
Meu pai era vivo
Minha mãe por nascer;
Que lhe havia de fazer?
Deitei as pernas às costas
E pus-me a correr.
Subi por a escada abaixo
Desci por ela acima;
Encontrei um pessegueiro
Carregado de maçãs,
Fui-me a ele
E comi avelãs.
Veio o seu dono
E deu-me com um pau
Bateu-me num olho
Magoou-me um joelho (geolho, ant.).
[Porto]8
8Também nesta versão, era não era faz parte da fórmula introdutória de uma história contada na primeira pessoa: Meu pai era vivo, minha mãe por nascer, etc. Esta fórmula, na sua aparente simplicidade, contém, na primeira parte, uma contradição verbal — era e não era — e, na segunda, uma determinação temporal (no tempo da era) que retoma a palavra era, com os sentidos que tem enquanto substantivo: era, neste contexto, significa, numa primeira leitura, “tempo”, “época” — e por conseguinte tempo da era equivaleria a “tempo dos tempos”, isto é, o tempo intemporal que abre as portas do imaginário e separa locutor e ouvintes do mundo real. Equivale, por isso, às expressões “em tempos que já lá vão”, “era uma vez”, “no tempo em que os animais falavam”…
9“Era não era, no tempo da era” é uma fórmula que encontramos exclusivamente na ficção. Debalde a procuraríamos em documentos antigos que pretendessem relatar factos reais. No entanto, houve uma altura em que, nos documentos oficiais, podia aparecer a expressão: “no ano da era” de tal (1300, por exemplo). Isso acontecia depois de 1422 (ano em que foi substituída a era hispânica, ou de César, pelo ano do nascimento de Cristo), quando era necessário referir acontecimentos anteriores a essa data. Esta mudança no calendário introduzia uma diferença de trinta e oito anos na contagem do tempo. É provável que numa segunda leitura da nossa fórmula, “o tempo da era” se refira precisamente ao tempo anterior à substituição mencionada. Se assim for, a expressão “no tempo da era” não poderia ter surgido senão numa altura em que ainda houvesse memória dessa mudança, mas em que ela já remetesse para tempos remotos, o que equivaleria, pelo menos, a umas três gerações. Daqui resulta que a expressão não será anterior a fins do século XV ou século XVI.9 Quanto à primeira parte da fórmula, era e não era, é de notar que também em Espanha existem narrativas com um início parecido, ou seja, “era, si era”.10 Se a fórmula espanhola introduz a dúvida do locutor perante os factos narrados, a portuguesa conjuga a existênca deles (na imaginação) e a sua não existência (no mundo real). E apenas em Portugal (ao que sei neste momento) se dá a passagem da fórmula para nome próprio.
10Como ocorreu, pois, a transformação da fórmula fixa “era não era, no tempo da era” em antropónimo? A passagem torna-se clara na versão que José Leite de Vasconcelos publica no primeiro número da Revista Lusitana (1887-1889, 347-348) sob o nome de “Amphiguri”:
Era, não era,
Andava lavrando
Com um boi carrapato
Outro calhandro
Vieram notícias
Que meu pai que era morto
Minha mãe por nascer.
Prendi os bois à moita, / Deitei o arado a comer. / Fui por esses vaes abaixo/
Encontrei um ninho de cartaxo/ Com sete ovos d’abatarda, / Deitei-os à minha galga, / Tirou-mos a minha burra parda; / Tirou-me sete galguinhos. /
Fui-me com eles à caça/ Encontrei uma aveleira/ Carregada de maçãs/ Veio de lá o guarda: / — Quem é que lhe deu ordem/ De colher uvas em faval alheio? / Abaixei-me a um tarrão, / Aventei-lhe c’um melão/ Acertei-lhe num artelho/ Chegou-lhe o sangue até ó joelho. / Fui-me pró colmear/ A contar as colmeias; / Pra mais depressa despachar/ Contei as abelhas, / Faltava-me uma. / Fui-me à cata dela/ Estava lá detrás duma carrasqueira, / Sete lobos a comerem nela; / Já tinha só uma perna/ Agarrei nela às costas/ Levei-a para casa/ Espremi-a e deitou/ duzentos e tantos almudes de mel.
[Elvas]
11Aconteceu aqui simplesmente o apagamento da segunda parte da fórmula (“no tempo da era”) seguido do imperfeito verbal andava. Andava tanto remete para a primeira pessoa como para a terceira. O seguimento da narrativa mostra que ainda se está na primeira pessoa — mas o salto para a terceira está agora apenas suspenso da substituição dos pronomes meu e minha por seu e sua.
12Uma quadra que recolhi em Laranjeiras, Alcoutim, em 1978, mostra uma fórmula inicial que se refere a um ser inexistente, mas que é indubitavelmente o sujeito humano, a pessoa que anda lavrando:
Era uma vez o que não era
Andava lavrando uma serra
Encontrou o mês de Abril
À busca da Primavera.11
13Do que foi dito até agora, parece, portanto, estar já respondida a primeira questão que pusemos: o nome próprio Era não Era tem origem na fórmula atemporal que dá início às narrativas ficcionais.
14Nessa fórmula, que constituiria, numa certa época (entre o século XVI e o século XIX) um modo de introduzir a ficção, a segunda parte acabou por ser totalmente abandonada. E então ficou apenas a expressão era, não era, que, seguida de andava lavrando, foi vista como o próprio sujeito da acção e se autonomizou como personagem.12 Esta maneira de começar a história é a mais espalhada no país e deu origem a numerosas variantes, cada vez mais afastadas dos modelos originais.13
15É evidente que este percurso da fórmula até ao nome do personagem não era inevitável. De facto, outras soluções foram tentadas, pois o nosso herói recebe outras denominações: por exemplo, numa versão de Pedro de Azevedo, que começa por uma fórmula muito mais banal que a anterior:14
Era uma vez um menino
Que tinha seu pai morto
E a sua mãe por nascer
Deitou as pernas às costas… / E foi a correr por uma terra acima/ Perdeu a capinha que não tinha/ Encontrou um pessegueiro/ Carregado d’avelãs/ Encheu a barriga de maçãs/ Veio de lá o dono dos marmelos: / — Olá, meu menino, a comer/ Pepino em faval alheio.15
16Mas a própria fórmula inicial pode faltar e o menino de aventuras surgir com um nome próprio, como o registou Adolfo Coelho:
Andando
Fernando
Lavrando
Vieram-lhe dizer/ Que seu pai era morto/ Sua mãe por nascer. / Que havia o moço de fazer? / Deitou o boi às costas/ Pôs o arado a correr/ Quis saltar um valado/ Saltou um arado/ Se não era um cão/ Mordia-lhe um cajado. / Entrou numa horta/ Viu um pessegueiro/ Carregado de maçãs/ Saltou-lhe em cima/ Tirou-lhe avelãs. / Veio o dono lá de dentro: / — Óladrão dos meus marmelos!/ Deitou-lhe as calças abaixo/ Encheu-lhas todas de farelos.16
17Este Fernando surge, noutras versões, como irmão ou filho do Era e não Era que lhe envia as notícias que o fazem largar tudo — à boa maneira dos heróis dos contos de fadas.
18Assim, a passagem da fórmula inicialera e não era para o antropónimo Era não Era será contemporânea de outras soluções registadas ao longo do século XIX. Esta conclusão diz respeito apenas ao nome do personagem e não à história em si, que é muito mais antiga.17
19A pergunta seguinte, isto é, que mundo origina e onde circula, em constante reprodução, este tipo de narrativa, é mais difícil que a anterior. A versão de Marmelete (na serra de Monchique) apresenta um pinheiro manso de pinhões milagrosos. Se não soubéssemos a sua localização exacta, este elemento bastaria para se indicar como sua zona de proveniência o litoral sul. A existência de referências a realidades típicas (fauna, flora, alfaias, vocabulário local), em versões localizadas com exactidão, funciona de modo idêntico às marcas de oleiro numa cerâmica antiga: elas permitem, nos casos de procedência desconhecida, identificar a pertença da peça a uma dada zona e ambiente de produção. Assim sendo, podemos examinar sob este prisma os restantes elementos das histórias do Era não Era: o arado, os bois, o pomar de variada fruta, a horta, o faval, as colmeias desenham um espaço agrário de autonomia alimentar, enquanto a referência aos lobos e aos odres feitos de pele marca a vizinhança de zonas de pastoreio serrano. Um elemento recorrente em várias versões: o javardo que debulha com as patas o faval, remete sem qualquer dúvida para uma área em que existisse a “debulha a sangue”, também chamada “a pata de besta”, ou “à cobra” — isto é, o Sul do país.
20A população que as fez circular devia ser constituída por pequenos agricultores e criadores de gado para quem a actividade de lavrar com bois e arado, semear, espremer os favos e fazer odres de pele de cabra eram extremamente familiares, pois só assim a comicidade das trocas operadas surtiria efeito. O sobredimensionamento da capacidade de crescimento (o piolho donde se faz um recipiente, o pinheiro que cresce até à lua, a farinha de fava e de pinhão a darem origem a favais e pinhais, um rio de mel a correr num barranco) é, por seu lado, característico de uma população para quem o crescimento e a multiplicação dos produtos alimentares são as condições fundamentais de existência e que, por isso, faz das imagens da abundância o próprio cerne do maravilhoso.18 Num mesmo espírito de desejos profundos contados como se fossem milagres, vemos como um simples insecto pode saciar a fome de sete lobos, terror do rebanho.
21Os mecanismos utilizados pelos autores anónimos desta narrativa para induzirem ao riso consistem essencialmente num espaço perturbado pela troca dos lugares das coisas e das suas funções: o arado a comer, os bois encostados à moita; frutos errados nas árvores do quintal, a abelha espremida em vez do favo. Encontramos processos praticamente idênticos desde a oitava écloga de Virgílio19 — em que o poeta, perante uma desilusão de amor, aceita a subversão da própria natureza: o lobo a fugir diante do cordeiro e os castanheiros a produzirem maçãs de ouro. Este “mundo às avessas” pertence à cultura popular de todas as épocas e países — atravessa a Antiguidade Clássica, chega à nossa Idade Média das cantigas de escárnio e maldizer.20 Não admira que desde o século XIX, como afirma o Dicionário de Literatura, os poetas cultos abandonem estilos que só se enquadram nos valores de uma população de tradições agro-pastoris e artesanais. Para as pequenas comunidades rurais de aldeias ou arrabaldes urbanos, a demarcação do espaço físico, do lugar certo onde as coisas necessárias à vida se encontram, a função adequada de cada alfaia, o modo de utilizar os recursos naturais, constituem os fundamentos de toda a aprendizagem. Poder brincar com eles significa dominá-los com à vontade. Significa Saber.
22Tão-pouco a matéria dos sonhos é indiferente à pertença a um grupo social: a enorme aspiração de um camponês — um trabalho sem sofrimen-to — está toda concentrada na figura do javali que ao mesmo tempo ceifa, debulha e limpa o produto da terra. Mas também o que os sonhos contêm de universal nos mostra, neste texto, uma Lua acessível: a mesma Lua que para as mães portuguesas do Sul do país é uma entidade sagrada familiar, perigosa mas aliada possível na criação dos filhos,21 reforça aqui a sua face amistosa, surgindo como alguém que fala com os humanos e que para eles transforma o luar em fios de seda.
23Com o auxílio da indicação da origem das versões conhecidas e da análise da incidência geográfica das acções descritas e do vocabulário nelas utilizadas, pode concluir-se que esta narrativa, nas suas múltiplas variantes, circulava sobretudo no mundo popular agro-pastoril-artesanal no Sul do país. Porém este anfiguri foi conhecido também no Norte, adoptando, em cada terra, configurações próprias. Um exemplo de adaptação aos usos locais é a versão de Bragança recolhida pelo abade de Baçal, onde encontramos as palavras arada, mui, boi de feno, boi de palha que jamais aparecem nas versões do Sul:
Era, num era/ Qu’andava n’arada/ C’um boi de feno/ E outro de palha. / Foi ò palheiro/ Cobrou-le a aguilhada. / Dissera ninguém/ Que fizera mui bem. / Chegou-le a notícia/ Qu’o pai era morto/ E a mãe por nascer/ Coitadinho do home/ Qu’havia de fazer/ Subiu por uma ‘scada abaixo/ Desceu por outra arriba/ Pôs os bois às costas/ Botou o arado a correr.22
24Passemos agora à última pergunta: que funções tinha este tipo de literatura? Se a razão principal deste tipo de narrativa está, sem dúvida, no grande divertimento e distracção que proporciona, outras razões podem ser apontadas — inclusive a necessidade de mudança e de reequilíbrio (mesmo se ilusório) que fundamenta todo o “mundo às avessas” carnavalesco. Como esta afirmação é demasiado genérica, vejamos se outras versões, mais complexas, nos sugerem outras pistas.
25Nas atestações alentejanas de fim do século XIX, as mesmas aventuras disparatadas aparecem enquadradas numa outra história, como uma mentira que tem uma função salvadora. Nos Contos Populares de Adolfo Coelho, de 1876, nos Contos de Consiglieri Pedroso e nos volumes I e III de A Tradição, publicada em Serpa em finais do século passado, lê-se a história de um homem que tem dois filhos, um parvo e outro esperto. O parvo consegue livrar o pai de uma dívida, contando uma mentira “maior que o padre-nosso”, aparecendo então no papel de narrador de uma série de acontecimentos maravilhosos a que assiste na qualidade fingida de senhor de grandes herdades.23 Essas versões incluem os motivos das colmeias incontáveis, da burra ferida, da receita de favas moídas dada por um alveitar, do faval e do porco javardo a ceifá-las.
26Ouçamos a versão de Consiglieri Pedroso:
Senhor padrinho, quer que lhe diga a mentira? Por aqui começo: como eu tenho muitas herdades, monto-me no meu cavalo, vou dar um giro (….); mas tenho uma que sobre todas é a melhor. (…) andei por aqui, por ali, sem lhe ver as extremas. Enfim fui dar onde tinham as colmeias. Pus-me a contar nelas; não as pude dar contadas, de muitas que eram. Pus-me a contar as abelhas, faltou-me uma. Pego a andar, corrego abaixo, corrego acima — nada. Já vinha descuidado em achar, oiço uma tarrincada muito forte, dentro dum barranco, assomei-me e vi um porco-espinho a tarrincar nela. Era tanto mel, senhor padrinho, que corria pelo barranco abaixo. Eu não faço mais nada: meti a mão ao seio, tirei um grande piolho, ficou-me um coiro, enchi-o logo de mel e o mel a correr pelo barranco abaixo.
Meti a mão ao seio, tirei uma pulga e fiz um borrachão (borracha grande para conter líquidos) (sic). Vim para casa com o meu borrachão e o meu coiro cheios de mel. Vim muito contente e fechei-os no meu quarto.
Todos os dias ia ver o meu mel.
Um dia, achei os coiros bulidos. Quem me havia a mim aqui vir se eu tenho a chave na algibeira? Espreitei, pus-me atrás da porta, com um machado na mão.
Quem havia de entrar? Uma folosa (pequeno pássaro) (sic).
Jogo-lhe com o machado. Deitou tanta pena que perguntei e tornei
a perguntar o machado e não o achei.
Fui buscar lume e larguei fogo às penas.
Ardeu o machado e ficou o cabo.
Peguei no cabo e pus-me a amolar, a amolar, ficou num anzol.
Ó padrinho, assim que deitei o anzol à água, saiu-me uma burra branca muito perfeita.
— Já tenho onde ir vender o meu mel.
Arranjei a minha burra, pus-lhe os coiros em cima e fui vender.
Quando tornei à noite para casa, trazia a burra uma grande matadura no lombo. (…)
Fui com ela à do alveitar, ensinou-me que pusesse pó de fava torrada ali em cima.
Vim para casa, mandei torrar um moio de fava, mandei peneirar e pus em cima da matadura e deitei-a à margem, mandei-a lá para a herdade.
Choveu, fez bom tempo, e eu, quando me pareceu, fui ver a burra.
Ó senhor padrinho, não queira saber o rico faval que esta tinha no lombo; fiquei muito contente.
De quando em quando, ia ver o faval.
Quando me pareceu que eram horas de ceifar, peguei na minha foice e fui até à herdade.
Que havia eu de lá ver? Um porco javardo dentro do faval, comendo as favas.
Jogo-lhe com a foice. Entrou-lhe o cabo no rabo.
Olhe, senhor padrinho, com a foice ceifava, com os pés debulhava, com as
ventas assoprava; colhi… dez moios de fava.
— Basta, basta — disse o padrinho (…). E acabou-se.
27Ahistória de fundo onde esta encaixa enaltece o poder da ficção: ela é dita com o objectivo único de deleitar um rico senhor, para quem o prazer de ouvir substitui o pagamento da renda da terra. ASherazade das Mil e Uma Noites tornou-se, em terra portuguesa, um rapazito imaginativo (considerado como parvo em várias versões), que salva a sua família da dívida ao senhorio. O poder da palavra.
28Demasiado importante para ser uma simples brincadeira, a sucessão de disparates encontra na explicitação da sua função salvadora uma razão de ser, e ao mesmo tempo como que uma desculpa para o seu próprio excesso. Faz-me lembrar as antigas figurinhas dos bonecreiros de Barcelos, que re-presentavam precisamente aspectos do mundo às avessas (homens a tocar guitarra montados a cavalo de frente para trás, torres de bicharada, porcos com cabeça humana, etc), mas tinham sempre, como justificação, um apito, ou buraquinhos para meter palitos, que lhes davam uma função prática, imediata, incontestável. (De notar que, nestes textos, a justificação pela mentira salvadora não é imprescindível: as versões mais espalhadas são as que entram directamente na história do Era e não Era e são rimadas.) Se esta mentira desempenha uma função salvadora bem explícita, outras nascem ainda hoje e correm livres em décimas e quadras,24 quase sempre enquadradas por um atestado de veracidade que se condensa nas afirmações “Eu vi” “eu tenho”, “eu fiz”, por exemplo:
Eu já vi um gato ler/Uma pulga andar à escola/Nas costas de uma formiga /
Formar-se um campo de bola. / (…) E vi uma mosca prenha / Tirar água duma nora. / Cem moios em cada hora/Fazer moer uma azenha. / Um pinto carregando lenha/Num carro sem rodas ter. /Vi uma lesma a correr/Com as tetas penduradas. /Um sapo fazendo quadras. /Eu já vi um gato ler. (…)25
29Ao lado da fruição das associações de imagens inopinadas, há certamente, em todo este tipo de literatura (como já apontei antes) uma função mais recôndita, não assumida mas nem por isso menos eficaz: a de testar a capacidade dos ouvintes de irem descobrindo o que deve ser a direitura do mundo rural através de actos e coisas contados ao contrário.26
30O percurso do nosso Era e não Era acaba na tentativa patética de desenterrar a cabeça depois de cair da Lua. Neste parvo-sábio e nesta imagem final viu uma pessoa minha amiga o símbolo de um certo tipo de intelectual português. Eu pergunto-me se esta criação portuguesa, este personagem-oxímoro em sintonia com o absurdo, não será antes a imagem de qualquer um de nós, com todas as nossas contradições, todas as nossas questões cristalizadas na mais clássica de todas: ser ou não ser.
Adenda (outras versões)
Era não Era andava lavrando. Deu notícia que o pai era morto e a mãe por nascer, e foi tão grande o seu prazer que pôs os bois às costas e o arado a comer. Foi por um caminho que não sabia, à busca duma capa que não tinha. Encontrou uma amoreira e pôs-se a comer avelãs. Vem de lá o dono e diz:
— Ó seu maroto, que faz você no faval alheio?
Ele desceu ao torrão, o outro atirou-lhe à cabeça um melão e saiu-lhe o sangue pelos calcanhares.27
Era nã era / Andava lavrando / Põj os bois a uma moita / E o arad’a comer. / Foi por um caminho que nã sabia / À procura da capa que nã trazia; / Ancontrô um’àmêxêra / Carregadinha de maçãs; / Foi p’ra cim’apanhô marmelos, / Vem p’ra bax’apanhô romãs. / — Quem te mand’apanhar uvas / Num faval que não é teu?28
Era-não-era andava lavrando / recebeu uma carta de seu filho Fernando / Que dizia que tinha a mãe morta e o pai por nascer / O pobre do Era o que lhe havia de acontecer! / Pegou os bois às costas, deixou a charrua a comer.29
Era-não-Era andava lavrando / Quando lhe vieram dizer / Que o pai estava morto / E a mãe por nascer / O desgraçado do moço / O que havia de fazer? / Deitou o boi às costas / E pôs o arado a comer! / Quando ia o seu caminho / Se não era um cão / Mordia-lhe um cajado. / Entrou numa horta / Viu um pessegueiro / Carregadinho de maçãs / Umas podres, outras sãs. / Saltou-lhe em cima / E comeu-lhe as avelãs. / Vem o dono do meloal e diz: / -Ah, seu tratante, / Andas aos pepinos? / Pega num calhau / Atira-lhe ao nariz / E parte-lhe o focinho!30
Bibliographie
Abade de Baçal (1979), Memórias Histórico-Arqueológicas do Distrito de Bragança (1979, reed.), Museu do Abade de Baçal, Bragança, Tomo X, 557.
Alexandrino, António (1899), “Contos populares alentejanos, IX, Era e não Era”, A Tradição, Ano I, n.° 9, 143144 (versão em prosa da “mentira maior que o Padre-Nosso”, de Brinches).
Amades, Joan (1959), “El habla sin significado y la poesia popular disparatada”, Revista de Dialectología y Tradiciones Populares, XV, 274.
Azevedo, Pedro d’(1895), “Miscellanea”, Revista Lusitana, III, 87.
Braga, Teófilo (1913), Cancioneiro Popular Português, 2.a ed. J. A. Rodrigues & C.a, Editores, Lisboa, 284.
Coelho, Adolfo (1919, reed.), Jogos e Rimas Infantis, Companhia Portuguesa Editora, Porto, 30-31.
Coelho, Adolfo (1985, reed.), “Patranha”, in Contos Populares Portugueses, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 247-248 (versão em prosa da “mentira maior que o Padre-Nosso”, de Ourilhe, em 1879).
Dicionário de Literatura (1973), dir. Jacinto Prado Coelho, Figueirinhas, Porto.
Fernández Vuelta, Maria del Mar (1993), “El mundo al revés en Martín Moya y Peire Cardenal”, O cantar dos trobadores. Actas do Congresso celebrado en Santiago de Compostela entre os días 26 e de Abril de 1993, Xunta de Galicia, Santiago de Compostela, 415-424.
Frederico, Luís (1901), “Contos alentejanos. Era — não Era”, A Tradição, Ano III, Vol. III, n.° 8, 124-125 (versão em prosa da “mentira maior que o Padre-Nosso”, de Serpa).
Gonçalves, Dionísio (1996), Desde o Pão até ao Sol, ed. Câmara Municipal de Mértola.
Lapa, M. Rodrigues (1965) (org.), Cantigas d’Escarnho e de Mal Dizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, ed. Galaxia.
Louro, Estanco (1929), O Livro de Alportel, Serviço de Publicidade Agrícola do Ministério da Agricultura, Lisboa, 275.
Pedroso, Z. Consiglieri (1985), Contos Populares Portugueses, 13.a ed. revista e aumentada, ed. Vega, Lisboa, 309-312, prefácio de Maria Leonor Machado de Sousa.
Pinheiro, J. Monarca (coord.) (1996) Antologia de Poesia Popular do Alentejo: em cada casa Uma Porta em cada Porta Um Postigo, ed. Associação Terras Dentro, s/loc.
Pires, A. Thomaz (1902), “Letras e Tretas”, A tradição, Ano IV, Vol. IV, n.° 11, 174-175 (versão em prosa da “mentira maior que o Padre-Nosso”, de Elvas).
Ribeiro, J. Diogo (1919), “Turquel folclórico”, Revista Lusitana, XXI, 137.
Ribeiro, Luís da Silva (1938), “Notas de etnologia da Terceira”, Revista Lusitana, XXXVI, 182.
Seixas, Maria José Metello (1994), “Dizer disparates”, Guia de Pais, Maio.
Tavani, Giuseppi (1984), “O cómico e o carnavalesco nas cantigas d’escarnho e maldizer”, Boletim de Filologia, XXI, 59-74.
Vasconcellos, J. Leite de (1896), Etnografia Portuguesa. Tentame de Sistematização, org. por M. Viegas Guerreiro, Alda da Silva Soromenho e Paulo Caratão Soromenho, V, 88, Imprensa Nacional, Lisboa.
Notes de bas de page
1 Doravante referido como ALEPG. Este arquivo encontra-se no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL).
2 No prefácio a Consiglieri Pedroso (1985) faz-se uma referência directa a este conto como exemplo daqueles que “têm o seu lugar, evidentemente, na literatura popular, mas não têm utilidade imediata para um trabalho que procura tirar conclusões tanto quanto possível universais”. Penso que, numa perspectiva mais modesta que não pretenda a universalidade das conclusões, mas apenas mostrar o interesse e beleza das criações populares portuguesas, o estudo deste tipo de folclore tem toda a razão de ser. Utilizo a palavra popular no sentido de “produzido, consumido e reproduzido pelo povo”.
3 No texto gravado está peido em vez de pum. Dada a situação formal em que recitei o texto, substituí a palavra por um sinónimo do registo infantil.
4 Dito por Manuel da Silva Júnior, arquivo sonoro do ALEPG, CLUL, Marmelete, fita 3.
5 Adolfo Coelho, Jogos e Rimas Infantis, p. 56. Em nota assinala que em vez de piolhos, no original há outro termo.
6 Luís da Silva Ribeiro (1938), 182.
7 J. Diogo Ribeiro (1919), 137.
8 Teófilo Braga (1913), 284.
9 Refiro-me somente à fórmula inicial e não ao corpo da narrativa. De mencionar ainda que a palavra era é usada na linguagem quotidiana dos Alentejanos com o sentido de “ano”. “data” ou “datação” em frases tais como “esta carta não traz a era”, “da história nasceu a era” (esta última frase aparece numa décima de Manuel José Santinhos, de Santo André, no livro Antologia de Poesia Popular do Alentejo: Em cada casa Uma Porta… (1996, 35).
10 Informação dada por José Manuel Pedrosa no Colóquio de Portel e que muito agradeço, tal como agradeço as preciosas informações bibliográficas que teve a gentileza de me fornecer.
11 Quadra dita por Lucinda Maria Feliciano, Laranjeiras, Alcoutim, Fevereiro de 1978. Arquivo sonoro do ALEPG, CLUL.
12 A fórmula inicial completa conservou-se mais tempo, como vimos, nos jogos infantis.
13 Alguns exemplos, um antigo: “Era não Era/ Andava lavrando/ Chegaram-lhe novas/ do filho Fernando/ O filho era morto/ E o pai por nascer/ Olh’o prove do home! / Oque lhe havia de acontecer! / Deitou os bois às costas/ Deixou o arado a comer” (Etnologia Portuguesa, V, 88. Versão de Chanca, Condeixa, 1896) e dois outros que representam o estádio final da evolução desta história: “Era não Era andava lavrando/ Com três caganitas atadas num pano/ Quem falar primeiro/ Mama-as.” Agradeço a Maria Margarida Silva, que no Colóquio de Portel me deu a notícia desta variante, dita por sua avó, em Abrantes, há cerca de vinte anos, para manter os miúdos calados. “Àquele que falasse primeiro ela dizia: foste tu!, e dava-lhe um castigo qualquer.” Interessante é também a adivinha que se dizia em Boliqueime há cerca de cinquenta anos, como me confiou D. Maria da Conceição Viegas Guerreiro, a quem agradeço: “Era e não Era/ Andava lavrando/ Nasceu sem pele/ Morreu cantando.” Arisota maliciosa dos adultos aumenta a alegria da pequenada quando encontra a resposta entre os ruídos mais familiares.
14 O mesmo se nota noutro anfiguri: “Era uma vez, não era, / Um homem alto, baixo/ Gordo, magro/ Sentado de pé/ Num banco de pedra/ Feito de pau/ Calado, assim dizia/ Que era mais certo/ No céu haver batatas/ Que as estrelas no mar nadarem” (agradeço a J. Vítor Adragão, que mo disse em Lagos, em 1978).
15 Pedro d’Azevedo (1895), 87.
16 Adolfo Coelho (1919), 30-31.
17 Espero poder demonstrar essa antiguidade noutro artigo.
18 Joan Amades (1959).
19 Como refere G. Tavani (1984).
20 Ver, por exemplo, o trovador Martim Anes Marinho nas Cantigas d’Escarnho e Maldizer editadas por Rodrigues Lapa, com suas “calças feitas de névoa d’antanho” uma armadura “tão leve que bem a trageria uma formiga” e uma arma que é um “pau de nevoeiro”. Sobre outros trovadores medievais, ver Maria del Mar Fernández Vuelta (1993, 415-424).
21 Tu és mãe /E eu sou ama /Dá-lhe tu saúde /Que eu lhe dou mama, Serpa.
22 Memórias Histórico-Arqueológicas do Distrito de Bragança, 1979, Tomo X, 557.
23 Ver, António Alexandrino (1899), 143-144, Luís Frederico (1901), 124-125.
24 A bibliografia que está sendo publicada sobre o assunto é abundantíssima. Agradeço a José Manuel Pedrosa o seu artigo “Borges y la retórica del disparate: fuentes y correspondencias medievales, renascentistas y folclóricas de El Aleph”, na revista Dicenda, que mostra não só as fundas raízes que sustêm as ficções borgianas como a extensão territorial abrangida pela literatura dita disparatada, fornecendo numerosos exemplos de Espanha, América Latina de língua espanhola, da tradição sefardita, de Portugal, da Normandia, da Itália, da Alemanha e Inglaterra. As mentiras eram por vezes ditas ao despique, como o demonstram, no mesmo artigo, os exemplos reproduzidos de Ariane de Felice (1963): “Les joutes de mensonges et les concours de vantardistes dans le théatre comique médiéval et le folklore français”, Actas do Congresso Internacional de Etnografia, Câmara Municipal de Santo Tirso, 1965, II.
25 Décima de Dionísio Gonçalves (1996).
26 Se hoje dissermos esta décima a um adolescente da cidade, ou mesmo de uma aldeia mais desenvolvida, ele já não lhe achará a mínima graça, pois não sabe o que é uma nora nem o que é um moio.
27 Maria Velleda, ver Luís Frederico (1901), 124, nota 1. Versão do Algarve.
28 Estanco Louro (1929), O Livro de Alportel, Serviço de Publicidade Agrícola do Ministério da Agricultura, Lisboa, 275.
29 Comunicação pessoal de Joaquim Pais de Brito, a quem agradeço esta versão de Nelas, Viseu.
30 Maria José Metello Seixas (1994).
Auteur
Investigadora do Centro de Linguística, Universidade de Lisboa
Le texte seul est utilisable sous licence Licence OpenEdition Books. Les autres éléments (illustrations, fichiers annexes importés) sont « Tous droits réservés », sauf mention contraire.
Castelos a Bombordo
Etnografias de patrimónios africanos e memórias portuguesas
Maria Cardeira da Silva (dir.)
2013
Etnografias Urbanas
Graça Índias Cordeiro, Luís Vicente Baptista et António Firmino da Costa (dir.)
2003
População, Família, Sociedade
Portugal, séculos XIX-XX (2a edição revista e aumentada)
Robert Rowland
1997
As Lições de Jill Dias
Antropologia, História, África e Academia
Maria Cardeira da Silva et Clara Saraiva (dir.)
2013
Vozes do Povo
A folclorização em Portugal
Salwa El-Shawan Castelo-Branco et Jorge Freitas Branco (dir.)
2003