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Interlocuções transatlânticas: Jorge Dias e as ciências sociais brasileiras

p. 27-46


Texte intégral

1O Museu Nacional de Etnologia guarda as correspondências recebidas pelo antropólogo Jorge Dias ao longo de sua trajetória profissional, bem como sua biblioteca. Nesse conjunto epistolar há um segmento classificado por “brasileiro”: entre brasileiros e Dias há troca de referências bibliográficas, de publicações, de artigos ou resenhas a serem publicados de parte a parte, de homenagens e de objetos. Desde o século XIX há um fluxo significativo de correspondências e publicações entre estudiosos portugueses e brasileiros sobre as culturas populares (Leal 2016). Podemos, portanto, entender as missivas entre Jorge Dias e intelectuais brasileiros – agora publicadas – como mais um capítulo dessa longa série de relações. Um dos interesses despertado pelas cartas é que estas possibilitam um olhar para a variedade de atores do campo das ciências sociais brasileiras. Este trecho de carta do antropólogo Manuel Diégues Júnior ilustra esse aspecto:

“A respeito do seu pedido de material sobre o Brasil, infelizmente quanto a filmes e dispositivos somos de uma grande pobreza. Acredito que haja muito pouca coisa, se há, de interesse. Contudo, adotei uma dupla providência que me pareceu a mais cabível no caso: escrevi a alguns dos nossos consócios da Associação Brasileira de Antropologia, que são professores de Antropologia ou exercem função técnica em órgãos de pesquisa, solicitando-lhes mandassem a v. o que fosse possível. Escrevi a Galvão (Pará), a Francisco Alencar (Ceará), a Rene Ribeiro (Pernambuco), a Thales de Azevedo (Bahia), a Egon Schaden, a Baldus e Rubbo Muller (S. Paulo), a Loureiro Fernandes (Paraná), a Heloísa A. Torres e Castro Faria (Rio).” (Manuel Diégues Júnior, 10.3.1960) (Itálicos nossos assinalando os correspondentes de Jorge Dias)

2Estas cartas de missivistas brasileiros para Jorge Dias, escritas entre 1949 e 1972, um ano antes do seu falecimento, coincidem com um período de campos disciplinares mais fluidos e, sobretudo nos anos 1950, com um período de transição das ciências sociais brasileiras. De fato, segundo Mariza Corrêa (2013: 73), a década de 1950, embora muitas vezes esquecida na história da antropologia brasileira, corresponde a uma fase de grandes projetos e a transições, sendo um segundo momento da história da disciplina no Brasil que se situa:

“entre um primeiro momento da história das ciências sociais, e não só da antropologia, neste século, que poderíamos chamar de o momento das ‘grandes sínteses’, as avaliações globais da sociedade brasileira feitas por seus intelectuais (tendo como exemplos Oliveira Vianna, Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre), e um terceiro momento, que seria inaugurado com a reforma do ensino universitário no final da década de 1960 – e cuja expressão são os cursos de pós-graduação.” (Corrêa 2013: 31)

3Ainda, para Corrêa, a década de 1950 é um período em que as pesquisas empíricas ganham maior relevância, no qual as grandes sínteses serão verificadas in loco. Além disso, como pontua a autora, foi nesta década que houve a criação da Associação Brasileira de Antropologia [ABA], a criação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior [CAPES] e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico [CNPQ] e os grandes projetos como o das relações raciais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura [UNESCO] (Corrêa 2013: 74). Assim é interessante observar como entre os correspondentes de Dias estavam Egon Schaden, José Loureiro Fernandes, Herbert Baldus, Manuel Diégues Júnior e Thales de Azevedo, participantes da primeira reunião da ABA, ocorrida em 1953.

4Dias correspondeu-se com intelectuais de norte a sul do país, com homens e mulheres (embora estas em menor quantidade), com brasileiros e alemães, que aqui habitaram (como no caso de Baldus e Willems), com scholars e com estudiosos distantes dos centros intelectuais, que então se estabeleciam, e que eram voltados para os estudos de folclore. Além destes existem personagens sobre quem diversos missivistas dão notícias, mas que não são correspondentes deste conjunto de cartas, como Charles Wagley,1 referido de forma carinhosa por alguns missivistas como “Chuck”. Variados eram os interesses desses intelectuais, mas passavam quase todos pelas temáticas dos estudos de comunidades, das relações raciais, da cultura popular e da combinação de um ou mais desses interesses com a temática da continuidade cultural entre Portugal e o Brasil.

*

5Foi na década de 1950 que ocorreu o contato mais intenso de Dias com o Brasil. Este participou dos Congressos de Folclore dos anos de 1951, 1953 e 1954, além do Congresso de Americanistas de 1954. Em 1954, ele ofereceu também um curso sobre Etnografia Portuguesa, de dois meses de duração, no âmbito do projeto de criação do Centro de Estudos Portugueses na Universidade Federal do Paraná [UFPR]. Em 1954 deu também palestras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras [FFCL] da Universidade de São Paulo [USP] (Lupi 1984: 384).

6Como aponta Leal (2016), a relação entre o campo da cultura popular e a institucionalização das ciências sociais em Portugal e no Brasil operou de forma diversa. Em Portugal, o campo da cultura popular teve papel relevante na institucionalização da antropologia, nos anos 1950 e 1960, e Jorge Dias foi um importante ator neste processo. No Brasil, ao contrário, o campo dos estudos de folclore foi marginalizado no processo de institucionalização da antropologia e das ciências sociais, a partir da década de 1960. Nos anos 1980, entretanto, esses campos se reaproximaram, como indica a pesquisa de Vilhena (1997), que demonstrou a relevância dos estudos de folclore para a constituição das ciências sociais no Brasil. Também a renovação da exposição de longa duração no Museu de Folclore Edison Carneiro no Instituto Nacional do Folclore (o atual Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do IPHAN), inaugurada em 1984 (ver, a esse respeito, Silva 2012), trouxe para o tratamento da coleção museológica abordagens antropológicas contemporâneas.

7Mais recentemente diversas temáticas dos estudos de folclore têm sido retomadas por uma geração mais nova que incorpora esses temas, de modo renovado, a partir de uma aproximação compreensiva e crítica.2

8A nomenclatura de folclore foi, desde finais do século XIX, abandonada em Portugal, diferentemente do que sucedeu no Brasil. De fato, em Portugal, aconteceu um processo de gradual expansão do que se entendia por cultura popular que conduziu a uma formatação antropológica desse campo de estudos, englobando não apenas a literatura e as tradições populares, mas também a arte popular, a cultura material e a organização social das comunidades camponesas (Leal 2016: 296).

9Jorge Dias – que desempenhou um papel fundamental na definição antropológica do campo de estudos da cultura popular – iniciou sua carreira de pesquisa com o estudo da cultura material e da vida comunitária de camponeses portugueses. Para ele, a distinção fundamental era entre etnografia, a descrição das culturas, e etnologia, sua interpretação. O folclore seria apenas uma parte da etnografia, ou seja, seria parte da descrição das culturas.

10No final da década de 1950, Dias volta seu interesse de pesquisa para os Maconde de Moçambique, no entanto essa mudança de objeto de estudo não representaria para ele uma grande rutura, na medida em que se trata da descrição e interpretação do “outro”, fosse próximo ou longínquo.

11O interesse de Dias pela cultura material e comunitária dos camponeses portugueses e sua afinidade com o difusionismo e culturalismo norte-americano tornam possível a compreensão da sua busca, na década de 1950, pelas continuidades culturais entre Portugal e Brasil. No final da década de 1950, no entanto, como vimos, Dias voltou seus interesses de pesquisa para as colônias portuguesas na África. As correspondências seguem na década de 1960, no entanto, com menos intensidade.

Afetos e aventura: Jorge Dias, um pesquisador admirado

12As cartas ilustram um período no qual o espaço para pesquisa e pós-graduação ainda era exíguo na área das ciências sociais. A realização de pesquisas dependia, ainda mais que nos dias atuais, muitas vezes de empreendimentos individuais. Thales de Azevedo, médico e antropólogo, comenta com Dias o seu esforço para levar adiante o Seminário de Antropologia, o que envolve inclusive a preocupação com o nível intelectual de seus alunos:

“Costumo ter na Faculdade, todos os anos, dois grupos de alunos: um de principiantes, de 1.º ano de Geografia ou de História ou de 2.º de Ciências Sociais, aos quais dou Antrop. Física durante os meses do primeiro semestre e uma introdução ao estudo da cultura no segundo; outro de alunos daqueles cursos que, no 4.º ano, escolhem Metodologia e Pesquisa em Antropologia como matéria optativa do Bacharelado. Há sempre, nos dois grupos, algumas pessoas maduras, experientes, já diplomadas em Direito ou noutro curso superior, com as quais se pode fazer algum trabalho (limitado, naturalmente, pelas obrigações profissionais dessas pessoas). Enfim, gente à qual se pode falar de temas sérios. É com estes alunos e com a cooperação de outros catedráticos e de visitantes que faço funcionar há 5 anos, sem nenhuma pretensão, o Seminário de Antropologia.” (26.10.1957)

13Ao dar aulas no Luso-Brazilian Center da Universidade de Wisconsin, nos EUA, ele reflete sobre as diferenças acadêmicas dos dois países naquele momento, e que ainda se aplicam aos nossos dias:

“O trabalho difere aqui muito do nosso no Brasil, ao menos na Bahia, onde tudo é ainda muito limitado e os esforços dos mais idealistas nem sempre encontram apoio adequado. Mas, sou dos que creem no trabalho como educação e preparação para um futuro melhor, razão pela qual não desanimo. O nosso Oswaldo Cruz dizia que é preciso “não esmorecer para não desmerecer”. (4.3.1960)

14Também o sociólogo Florestan Fernandes reclama das dificuldades institucionais para a realização de pesquisas, não sobrando tempo para trabalhar da forma como gostaria:

“A vida aqui em São Paulo não é lá muito intensa, mas ocorre que alguns pobres mortais são verdadeiros forçados, realizam menos o que desejam, que o que prefeririam que outros fizessem… Como português de segunda geração sou um pouco lamuriento, mas a verdade é essa: só me sinto infeliz quando tento levar a vida à minha maneira. Cursos que poderiam interessar se, conferências que poderiam ser escritas com maior amor se, artigos que seriam escritos com maior entusiasmo se… houvesse equilíbrio efetivo entre o que fazemos e o que permitem fazer. Agora, ando às voltas com a necessidade de pôr fim a uma tendência que se está acentuando no Departamento de Sociologia e Antropologia, de me tornar pau para toda obra. Eis aí o porque o prazer da correspondência viveu e morreu com os antigos.” (19.6.1956)

15Nas reclamações de Fernandes há outra dimensão, que também encontramos na correspondência da antropóloga Gioconda Mussolini e do estudioso de folclore Câmara Cascudo, a visão da forma de ser e de trabalhar de Dias aparece como autêntica, orgânica e vivaz. Em relação ao trabalho dedicado a Rio de Onor opinam Cascudo e Fernandes, respectivamente, sobre o envolvimento subjetivo de Dias com seu objeto de pesquisa:

“Nos seus trabalhos há sempre o interesse humano, a participação incontida do homem português pelo ambiente estudado, acompanhando, envolvendo-se, apaixonando-se pelo assunto olhado com os olhos limpos e fiéis. O processo de comunicação é, para mim, muito mais intenso, natural, poderoso porque vem trazendo as graças pessoais da simpatia do observador. Não se sente a distância de um técnico, superior, empoleirado numa torre, olhando o mecanismo da população examinada mas um depoimento palpitante de interesse e de compreensão sem que abandone os limites do lealismo científico. Enfim, mais uma vez, meus parabéns.” (4.6.1954)

“Eu trabalho o suficiente para encher a minha vidinha. Sempre igual, pobre de aventuras e de experiências novas. […] Aqui em São Paulo se diz que o uso estraga a máquina. O mesmo se passa com o organismo. O etnólogo precisa de energias e de um interesse vivo pelo que vê e pelo que estuda. Você pertence à categoria dos que não podem estudar as aves nos viveiros ou em gaiolas. Precisa tomar contato com elas no cenário imenso em que a vida é um processo biológico, não uma representação do espírito. Eis aí o porque do susto que levei. Se você ceder às pressões dos moldes estritamente acadêmicos da atividade universitária, é muito provável que não receberemos de você nova contribuição no gênero de Rio de Onor. Trabalhar muito você já trabalhava e sempre tem trabalhado: deixemos aos americanos o gosto pelo trabalho extenuante e improfícuo. Para os nossos lados, mais vale o homem, que a sua carreira. E que maior justificação moral para um etnólogo do que aquela que você alcançou nos estudos de comunidade, que nos permitam dizer que as obras revelam o homem? Seria por acaso possível dizer isto dos estudos dos Lynd, de Warner e de tantos outros, apesar de possuírem aqui ou ali certa superioridade ‘técnico-descritiva’?” (19.6.56)

16Pode-se observar que de forma diferente de suas obras, nas quais o sociólogo Florestan Fernandes trata de estruturas sociais relacionando-as com processos de mudança e modernização da sociedade brasileira, nesse comentário o autor demonstra um apreço pela ideia da experiência e do sentido subjetivo da pesquisa para o próprio pesquisador enquanto indivíduo. De nada valeria um trabalho correto, do ponto de vista “técnico-descritivo”, se nesse trabalho não estivesse imbuído um sentido para o pesquisador. Podemos, aqui, fazer um paralelo com os conceitos de Sapir de cultura autêntica e cultura espúria. Para Sapir, a cultura espúria é aquela que não tem uma integração entre todas as suas partes, o que inclui seus indivíduos que não enxergam um propósito seu pessoal na sua participação nesta cultura. Na visão deste autor, uma cultura autêntica produz um sentido também para os indivíduos que dela participam. As atividades de um indivíduo numa cultura devem satisfazer seus impulsos criativos e emocionais devendo ser mais do que apenas meios para um fim (Sapir 2012: 43). De forma semelhante, o comentário de Fernandes a respeito da forma de Dias se relacionar com seu trabalho de pesquisa enfatiza um interesse vivo pelo que estuda e uma obra que reflete o próprio pesquisador.

17O fato de Florestan Fernandes revelar na carta conferir importância a questões subjetivas do indivíduo pode se explicar pelo caráter mais íntimo da correspondência. Assim as cartas revelam, além dos laços de comuns interesses intelectuais, laços de amizade. Os momentos marcantes da vida de Dias são acompanhados pelos correspondentes, como o da obtenção do seu segundo título de doutor, desta vez em Portugal,3 e a perda de seu pai. Os missivistas muitas vezes expressam sentimentos de saudades, de afeto, de alegrias e frustrações. A possibilidade de um correspondente ir à Europa ou Dias vir ao Brasil é algo referido sempre com bastante entusiasmo. Trata-se, se comparado com os dias atuais, de uma era ainda analógica. O tempo de espera da carta é um personagem em si mesmo, um agente que influencia nas trocas e comunicações. Há de ambos os lados reclamações quanto aos correios e expressões de alegrias quando da recepção da carta e o próprio momento de sua leitura é relevante, na medida em que evoca o longínquo, o extraordinário, o extracotidiano. Trata-se em alguns casos da busca do silêncio levando à possibilidade de interiorização da carta, na qual a própria leitura da mesma pode produzir efeitos transformadores, como podemos observar neste trecho de uma carta da antropóloga Gioconda Mussolini:

“Li sua carta tantas vezes, a ponto de quase sabê-la de cor. É como se, na perspectiva desses meses de ausência e de saudade, cada pormenor dela se transformasse num “por maior” significativo a evocar um aspecto de você, uma faceta de sua personalidade rica e complexa.” (17.01.1955)

O panorama das ciências sociais no Brasil: estudos de comunidade, relações raciais, estudos de folclore

18Nos anos 1950, o campo das ciências sociais no Brasil abrangia diferentes temáticas como os estudos das relações raciais, os estudos de comunidade e o campo da cultura popular, naquele tempo objeto de interesse principalmente dos estudiosos do folclore. Participaram do projeto de relações raciais da UNESCO os antropólogos correspondentes Thales de Azevedo, Manuel Diégues Júnior, José Loureiro Fernandes e René Ribeiro. Tal projeto, patrocinado pela UNESCO após a segunda guerra mundial, buscava compreender como poderia haver uma convivência aparentemente harmônica, no Brasil, entre povos de origem tão diversa. Como informa Marcos Maio:

“Nos anos de 1951 e 1952, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) patrocinou uma série de pesquisas sobre as relações raciais no Brasil. As investigações foram desenvolvidas em regiões economicamente tradicionais, como o Nordeste, e em áreas modernas localizadas no Sudeste, tendo em vista apresentar ao mundo os detalhes duma experiência no campo das interações raciais julgada, na época, singular e bem-sucedida, tanto interna quanto externamente” (Maio 1999: 141).

“Tanto os estudos de comunidade quanto os estudos raciais são atravessados nas correspondências pelas interpretações a respeito da colonização portuguesa e das continuidades culturais entre Brasil e Portugal. René Ribeiro, ao falar das conclusões de sua pesquisa sobre as relações raciais no Nordeste, afirma: ‘Terminei agora o relatório da UNESCO sobre relações raciais no Nordeste do Brasil e a conclusão naturalmente é definitivamente favorável ao papel aí desempenhado pelo cristianismo luso-brasileiro.’” (22.09.1952)

19Thales de Azevedo, em carta de 1957, aventa a possibilidade de Dias conhecer uma comunidade rural isolada na Bahia, de origem portuguesa, possivelmente para a realização de uma pesquisa:

“Uma das possibilidades nossas é a de excursões, uma das quais desejaria fazer também o prof. Armando Lacerda, que, me consta, tornará à Bahia, a uma zona do alto sertão onde existem velhas povoações de origem portuguesa ainda muito isoladas e pouco modificadas pelo tempo.” (26.10.1957)

20O sociólogo alemão Emilio Willems enxerga na comparação entre os resultados de pesquisas de comunidades a possibilidade de detectar continuidades culturais entre Brasil e Portugal. Referindo-se ao trabalho de Dias Vilarinho da Furna. Uma Aldeia Comunitária (1948) e ao seu trabalho Cunha: Tradição e Transição em uma Cultura Rural do Brasil (1947) escreve:

“Um começo de cooperação poderíamos estabelecer se o Sr. fizesse uma espécie de inventário de todos os elementos culturais, registrados em Cunha, que ainda existem em comunidades rurais de Portugal (ou que existiram no passado). Farei o mesmo com a sua monografia. Que tal a ideia?” (2.08.1949)

21Com influência da sociologia norte-americana, os estudos de comunidades tiveram presença importante nas ciências sociais brasileiras durante as décadas de 1940 a 1960, exercendo um papel importante na institucionalização daquelas no Brasil. Tais estudos investigavam o processo de mudança social em pequenas comunidades e sofreram críticas por não levarem em conta estruturas sociais englobantes que atingiam essas comunidades (Oliveira e Maio 2011).

22Emilio Willems, professor de uma geração de sociólogos formados pela Escola Livre de Sociologia e Política [ELSP], realiza, em 1947, o estudo de comunidade em Cunha (São Paulo). Estes estudos dominaram o cenário brasileiro por mais de uma década (Corrêa 2013: 89) e são mais um ponto de contato com Dias na medida em que este realizou dois estudos de comunidade em localidades rurais portuguesas que deram origem aos trabalhos Vilarinho da Furna. Uma Aldeia Comunitária (1948) e Rio de Onor. comunitarismo agro-pastoril (1953). Estes trabalhos circularam amplamente entre os correspondentes de Dias, que os mencionam em suas correspondências. Em 1956, na Revista de Antropologia da Universidade de São Paulo, Gioconda Mussolini resenhou Rio de Onor. Comunitarismo agro-pastoril. A influência de Dias nestes estudos de comunidade no Brasil é expressa por Diégues Júnior:

“Recebi os trabalhos que v. me mandou. E muita coisa já li com o interesse maior possível. Vilarinho da Furna, por exemplo; já lhe venci as páginas, com uma grande alegria. Um modelo de monografia regional, excelente para ser tomado como padrão para estudos iguais aqui no Brasil.” (27.04.1952)

23Jorge Dias também esteve próximo a intelectuais mais ligados aos estudos de folclore, tendo coordenado o livro Estudos e ensaios folclóricos em homenagem a Renato Almeida (1960), se correspondido amplamente com Câmara Cascudo4 e recebido Hildegardes Vianna, outra estudiosa de folclore, para um intercâmbio no Centro de Estudos de Antropologia Cultural. Nesse período, década de 1950, não havia ainda uma divisão tão clara entre os campos da antropologia e do folclore no Brasil e o antropólogo Thales de Azevedo, por exemplo, recomenda pessoas ligadas aos estudos de folclore a Dias:

“Lamento estar tão longe dos meus livros e do meu fichário de endereços, onde poderia encontrar as direções de pessoas qualificadas para lhe darem as informações e cooperação de que necessita. Lembro-me de duas pessoas de São Paulo, as mais qualificadas para isto, Rossini Tavares de Lima e Oneida Alvarenga, que tem escrito sobre nosso folclore musical e respetivos instrumentos, além de Renato Almeida no Rio (Ministério do Exterior, Palácio do Itamaraty), Oswaldo Cabral em Florianópolis.” (4.3.1960) (itálicos nossos).

24No entanto, a partir dos anos 1960, as ciências sociais passam por um processo de institucionalização e as fronteiras antes fluidas entre ciências sociais e estudos de folclore ficam menos tênues. Para a rede de estudiosos de folclore, inicialmente participantes das comissões nacional e estaduais de folclore e depois da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro [CDFB], organismo do governo federal criado em 1958, há uma certa marginalização em relação à desejada inserção no ambiente universitário. Florestan Fernandes é um pivô desta demarcação de fronteiras ao considerar que os estudos de folclore não são científicos. Se tal não significa que, para este intelectual, esses estudos não tivessem valor, eles fariam, entretanto, parte do campo das humanidades, constituindo-se num campo mais estético do que científico (Cavalcanti e Vilhena 2012).

25Em Portugal, por sua vez, como já mencionado, o campo da cultura popular viveu uma relação diversa com o processo de institucionalização das ciências sociais, tendo sido parte constituinte deste processo (Leal 2016). Assim, além do fato de o período mais intenso de correspondências, os anos 1950, ter sido um período de fronteiras mais fluidas entre ciências sociais, estudos de folclore e o campo da cultura popular, o próprio lugar da cultura popular em Portugal, central até os anos 1960, também ajuda a compreender a amplitude de atores com quem Dias se correspondeu no Brasil.

Museus

26Correspondentes de diferentes formações e inserções institucionais estavam interessados nas continuidades culturais entre Brasil e Portugal, embora de formas diferentes, havendo maior interesse em estruturas sociais por parte daqueles inseridos no campo da sociologia, e na cultura material e popular por parte daqueles mais ligados à antropologia e aos estudos de folclore.

27O interesse pelas continuidades culturais entre Brasil e Portugal no caso de Willems é sobretudo um interesse por continuidades nas estruturas sociais:

“A tua monografia interessa-me extraordinariamente, pois meu atual plano de pesquisa visa o estudo de elementos culturais portugueses que se conservaram, puros ou modificados, na ‘folk cultura’ do Brasil.” (28.7.1949) “A pergunta principal que gostaria de fazer-lhe é naturalmente esta: a que ponto os fatos observados no Brasil se aplicam à família portuguesa? Seria mesmo interessante confrontar os fatos em todos os pormenores.” (24.06.1953)

28Já no caso do médico e antropólogo Loureiro Fernandes, que foi um dos diretores do Centro de Estudos Portugueses na Universidade do Paraná, é o interesse pela cultura material e a influência portuguesa na cultura material do Brasil que alimenta o intercâmbio com Jorge Dias. Loureiro Fernandes está interessado, entre outros objetos de uso de comunidades rurais, nas semelhanças entre prensas de azeite portuguesas e prensas de mandioca brasileiras:

“O interesse pela dimensão material da cultura passou por diversas fases na antropologia. Num primeiro momento da disciplina os objetos materiais tiveram um lugar central nas análises e teorias. Posteriormente, a análise da cultura material foi considerada pouco importante, tendo continuado a ser relevante apenas para disciplinas consideradas menores, como os estudos de folclore. Atualmente na antropologia, mas também em disciplinas correlatas, a análise da dimensão material da cultura volta a ganhar relevância.” (Gonçalves 2007: 20)

29O interesse de Dias pela cultura material tanto de comunidades rurais portuguesas como de populações indígenas da África e do Brasil consolida-se na criação do Museu de Etnologia do Ultramar, nos anos 1960 (hoje Museu Nacional de Etnologia). Para Dias, o museu não era algo distante de sua concepção de etnologia ou de seus interesses de pesquisa, que mudaram dos camponeses em Portugal para povos africanos. Como aponta Leal, o Museu de Etnologia do Ultramar na década de 1960 “deveria ser um museu universalista onde estivessem primitivos – designadamente «primitivos ultramarinos» –, mas também camponeses. […] O museu deveria ser, em suma, um reflexo da própria concepção de etnologia e antropologia de Jorge Dias”. (Leal 2016: 305)

30As correspondências demonstram os esforços de Dias na coleta de objetos indígenas ou relacionados com a cultura popular brasileira:

“A propósito do envio, para seu museu, de peças de cultura popular do Brasil atual, vou conversar com o nosso comum Amigo Arthur Cezar Ferreira Reis, presidente do Conselho de Cultura, a fim de ver como poderia o Conselho celebrar esse projeto.” (Manuel Diégues Júnior, 15.12.1969)

31Por sua vez, Loureiro Fernandes está organizando o Museu de Arqueologia e Artes Populares, em Paranaguá, que será inaugurado em 1962, do qual foi diretor desde esse ano até 1976. Dessa forma, Fernandes também solicita o envio de objetos e informações sobre objetos da cultura material portuguesa rural para Dias. Assim, mais uma das faces revelada por estas correspondências relaciona-se com a consolidação de instituições museológicas de ambos os lados do Atlântico, subsidiadas por um interesse presente naquele período, por objetos da cultura rural e popular e a busca por um continuum cultural Portugal-Brasil.

Mulheres

32O período mais intenso das correspondências, na década de 1950, corresponde a um período no qual as mulheres começaram a ingressar no mercado de trabalho. Em 1940 apenas 19 por cento da força laboral do Brasil era composta por mulheres (Marques e Melo 2007). As correspondentes de Dias eram, com exceção de Mariza Lira, professoras e de alguma forma ligadas aos estudos de folclore.

33Mariza Lira foi presidente da Sociedade de Etnologia, um grupo de estudiosos de folclore com sede no Rio de Janeiro, cujo interesse era a continuidade das tradições folclóricas portuguesas no Brasil. Hildegardes Viana era professora de Música e Artes Cênicas da Bahia e conhecida por suas pesquisas na área dos estudos de folclore. Henriqueta Rosa era professora do Conservatório de Música, Maria de Lourdes Borges Ribeiro foi professora em escolas, ministrou a disciplina de Folclore em faculdades do interior de São Paulo, e trabalhou também na CDFB.

34Gioconda Mussolini, de todas, seria a que mais se aproximava de uma carreira universitária no sentido institucional dos dias atuais. Como muitos antropólogos e estudiosos de folclore, o seu interesse pela pesquisa de campo era grande e nesse sentido foi aluna do curso da Sociedade de Etnologia e Folclore ministrado por Dinah Lévi-Strauss.5 Mussolini dava aulas, realizava pesquisas sobre comunidades pesqueiras do litoral de São Paulo, publicava artigos e resenhas e participava de congressos, no Brasil e fora (Ciacchi 2015). Essa antropóloga integrou a primeira turma de mestres formada por instituições brasileiras na Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP), em 1945, e antes, a partir de 1944 já dava aulas na cadeira de antropologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Foi orientada em seu doutorado inconcluso por seu colega Egon Schaden. Para Ciacchi (2015), Mussolini teria divergências teóricas e metodológicas com seu orientador, o que teria causado a impossibilidade de terminar o doutorado, e por não ter doutorado não pôde ocupar a cátedra de antropologia quando Schaden se aposentou. Mussolini faleceu em 1969, em plena sala de aula. Essa intelectual, uma das mulheres pioneiras no Brasil a seguir a carreira de antropologia, foi solteira por toda a vida, fato comum a muitas das primeiras antropólogas (Corrêa 2003: 192).

35Entre as correspondentes de Jorge Dias, Mussolini é a que mais parece expressar a sua condição de gênero como uma limitação. Em suas cartas ela reflete sobre o fato de as conquistas no mundo acadêmico e mesmo do mundo social serem mais fáceis para Dias do que para ela. Refere-se a ele como um “insubmisso”, alguém que tem possibilidades de uma vida repleta de aventuras que Gioconda não pôde viver diretamente:

“Dê-me notícias, que sempre vibro com elas e, de certa forma, me realizo vicariamente através de sua atividade científica e de seu senso de vida: espalhar-se pelo mundo criando lastro afetivo, amando povos muito diferentes, vivendo-lhes as sutilezas e os problemas, enfim vivendo ‘você mesmo’.” (2.6.1957)

36E ainda, ao lamentar não poder comparecer ao III Colloquium Luso-Brasileiro, a convite de Jorge Dias, pelo excesso de aulas, pondera o que Dias teria realizado em seu lugar:

“Por que não tenho eu a sua força, a sua fé, a sua vontade? A esta hora teria dado um jeito, teria descoberto uma forma certa (e não menos digna que a de ficar), a forma certa de viver as coisas no justo momento sem deixar um ‘haver’ para lamentações e frustrações. E quando eu teria que aprender ou melhor, adquirir. Viria, estou certa, com a alma mais leve, com mais vontade de fazer as coisas… Mas…” (2.6.1957)

37Dessa forma, há a expressão por parte de Mussolini de que embora esteja exercendo o cargo de professora universitária, minoritária entre colegas homens, sua posição é mais frágil exigindo maiores sacrifícios tanto no campo pessoal quanto profissional, não podendo vivenciar a sua vida profissional com a liberdade que ela enxerga na forma de Dias vivenciar a sua.

Conclusão

38As correspondências com Dias mostram um período de mudanças e transições nas ciências sociais brasileiras, com a institucionalização das ciências sociais, o maior afastamento destas em relação aos estudos de folclore e a constituição de museus e cursos universitários. Neste trecho da carta de Loureiro Fernandes há a expressão de uma perplexidade com as mudanças já ocorridas nas ciências sociais brasileiras:

“Acredito que os ‘estudos portugueses’ vão se firmar em nosso meio, não obstantes as preferências hoje predominantes, entre os nossos acadêmicos universitários, sejam por outros estudos mais objetivos nos domínios brasileiros da Sociologia e da Tecnologia.” (9.4.1970)6

39A carta é de 1970, período no qual temas do folclore, da cultura material e, dentro destas, as continuidades culturais entre Portugal e Brasil já não predominam como outrora. Portanto, as cartas constituem uma fotografia de um determinado momento das ciências sociais, seja no Brasil, seja em Portugal. Além disso, tais correspondências são mais um episódio de entre as inúmeras interlocuções transatlânticas, nos últimos dois séculos, revelando o patrimônio intelectual comum brasiluso, que prossegue até aos dias de hoje.

Bibliographie

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Notes de bas de page

1 Wagley, professor da Universidade de Columbia, efetuou diversas pesquisas entre comunidades amazônicas a convite da diretora do Museu Nacional, Heloísa Torres, em 1939, e foi também um pioneiro dos estudos de comunidades, trabalhou com Thales de Azevedo num projeto de estudos de comunidades e orientou diversos brasileiros na Universidade de Columbia (Pace 2014).

2 Ver Cavalcanti (2012); Gama Silva (2012); Cavalcanti e Corrêa (2018).

3 Dias doutorou-se em Etnologia na Universidade de Munique em 1944, com a tese Vilarinho da Furna, um povo autárquico da Serra Amarela; não havia doutorado em Etnologia em Portugal naquele período. Mais tarde, em 1965, pôde doutorar-se em Portugal na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa com a tese Os Macondes de Moçambique.

4 Câmara Cascudo, estudioso de folclore de Natal, Rio Grande do Norte, manteve vínculos de cooperação intelectual com Portugal que envolviam outros atores além de Jorge Dias. Foi colaborador regular da Revista de Etnografia (1963-1972) editada no Porto pelo etnógrafo Fernando de Castro Pires de Lima.

5 O curso Técnicas de Coleta Etnográfica e Folclórica (1936-1939) para pesquisadores foi ministrado por Dina Lévi-Strauss, ex-assistente do Museu do Homem de Paris na Sociedade de Etnografia e Folclore, sendo um projeto do Departamento de Cultura do Estado de São Paulo, dirigido por Mário de Andrade.

6 Trecho de carta pertencente ao acervo do Centro de Estudos Portugueses da UFPR, não pertencente a ao conjunto que perfaz este volume, reproduzida em Anderson (2015).

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