O sistema de secagem do milho em espigueiros noutras regiões do Mundo
p. 167-176
Texte intégral
1O sistema de secagem e armazenagem do milho em espiga em celeiros especializados, arejados e elevados do solo sobre pés mais ou menos altos, do tipo dos espigueiros do Noroeste da Península que descrevemos, é conhecido na Europa, além desta região (que constitui a sua área de maior densidade) numa segunda mancha, muito vasta e diversificada, correspondendo a uma faixa de terra que vai do Adriático ao Dniester, através dos Balcãs, e que compreende os países danubianos, carpáticos e balcânicos, a Áustria e a Hungria, a Jugoslávia, a Albânia, a Roménia, a Bulgária, a Grécia macedónica (e também a Ucrânia, o Cáucaso e a Pérsia), onde, em certas partes, o milho entra na proporção de 30 a 50% das plantas cultivadas. E do mesmo modo na América, onde se documenta desde os tempos da colonização, em várias tribos índias – os Iroqueses, os Seneca, na Nova Escócia, etc. –, entre os Maias e, actualmente, ainda, no México e, finalmente, em África, designadamente em Moçambique, por exemplo nos territórios de Manica e dos Macondes, nas baixas do Rovuma.
2Na área europeia oriental, segundo Adolph Mais1, existem 4 categorias de espigueiros para milho: – canastros de varedo, sem armação e com a armação de pedras ou de barrotes; espigueiros de paus ou varas; e espigueiros de ripas (des. 68). Dentre estes, parecem dominar os canastros de varedo entrançado, ou «cestos», que mostram planta ora redonda ora quadrangular, como os nossos e, dentro estes dois tipos, diversas formas. Eles são de velha tradição na região, mormente junto à faixa mediterrânea, onde eram usados desde épocas muito remotas como recipientes para cereais2. Com frequência, mormente em tipos antigos, mostram uma armação de barrotes verticais e horizontais dispostos de maneiras diversas, que apenas se encostam às paredes laterais, para apoio. Os prumos, por vezes enterrados na terra, constituem os próprios pés do canastro; outras vezes, este assenta numa grade de madeira, pousada sobre estacas ou sobre pedras ou pequenos muros. Os espigueiros propriamente ditos, de ripado, são em alguns casos perfeitamente idênticos aos pensinsulares do mesmo tipo, mas com frequência pertencem à categoria dos espigueiros largos, de corredor a meio. Uns e outros, também como os nossos, mostram sistemas diversos de protecção contra os ratos, fazendo-os assentar sobre colunas ora lisas, encimadas por tábuas ou placas de pedra salientes, como as nossas mós ou mesas, ora cercadas de espinhos que picam, etc.
3Na Áustria existem vários tipos de espigueiros que correspondem aproximadamente a outras tantas regiões, com carácter mais ou menos exclusivo. Na região de Marchfeld, por exemplo, perto de Viena, onde são muito abundantes, os espigueiros, com o nome de Reuspen, são altos, com ripas verticais dispostas entre prumos e barrotes oblíquos, portas nos topos – e, noutro tipo, com portas laterais além dessas –, telhados de tábuas recobertas com cartão alcatroado de duas águas, uma das quais de levantar para encher o espigueiro. Numa pequena zona de Wiener Neustadter Gegend, aparecem alguns com o ripado de paus ou varas delgadas dispostas horizontalmente, mas que parecem constituir uma velha forma já posta de parte. Estes espigueiros são geralmente feitos por carpinteiros; mas há alguns feitos pelos próprios lavradores, que aproveitam chapas e restos diversos3.
4Na Hungria encontram-se as duas categorias fundamentais que consideramos entre nós: os de varedo, sob vários tipos, e os de ripado. Os de varedo são os mais antigos, e generalizaram-se no país com a expansão do milho, vindo do Ocidente, da Croácia e Eslavónia, como resultado das suas relações com essas regiões mediterrâneas; a sua difusão foi favorecida pelo facto do processo ser já anteriormente conhecido na região, onde se usava em formas locais para galinheiros, recipientes para cereais, etc. Na Idade Média, não parece haver notícia desses canastros com ou sem pés, nos Cárpatos; eles apareceram pela primeira vez nos finais do século xvii, referidos à região sul do lado Balaton. Com a progressiva difusão do cereal, os canastros de varas vão-se espalhando, mormente pelo Sudeste do país, generalizando-se finalmente, no decurso do século xvii, a toda a Hungria.
5O tipo mais antigo parece ter sido um canastro de base comprida, que alarga para o alto e se equilibra graças a uma armação de barrotes; são frequentes as referências ao seu formato estreito, que permite a circulação do ar. Os pés são geralmente estacas altas, de carvalho tosco, em número variável, enterrados na terra e ligados entre si por paus mais estreitos; o teçume é de varedo de salgueiro, e a cobertura de palha.
6Actualmente, encontram-se, nas diversas regiões do país, formas muito variadas; na planície húngara, predomina o canastro quadrangular, ora apenas de varedo, ora com a armação lateral de reforço quando o canastro é de grandes dimensões, ou tem já um telhado pesado, de telha; a base é de estacas ou de blocos de pedra. Por vezes essa base tem a forma de um trenó, e em Tiszakard, por exemplo, ela é mesmo constituída por um verdadeiro trenó, que, em caso de fogo, permite que o canastro se arraste. Para se encher o canastro, encosta- –se, como entre nós nas mesmas circunstâncias, uma escada ao lado que volta para o sul, e levantam-se umas telhas ou tábuas nesse sector; uma pessoa, no alto da escada, despeja pela abertura assim obtida as espigas que lhe passa outra pessoa, que está em terra, ao lado. Nas montanhas de Bihar, estes canastros têm, também como os nossos, pequenos postigos de descarga, em baixo. Junto do Teiss, os canastros têm pés altos que, nas enchentes do rio, permitem a passagem das águas. Por vezes, as traves da base assentam sobre pedras. Em certas partes, ao lado destes, encontram-se também canastros redondos. Pormenor curioso: recomenda-se que, quando o canastro não fique completamente cheio, ou à medida que se vai esvaziando, o espaço em cima se encha com palha milha, para que a neve não se amontoe no interior.
7Os espigueiros de tabuado são mais recentes, tendo aparecido de entrada apenas nas grandes propriedades, a partir do século xviii. Eles eram então de formato largo, com dois, e às vezes três, sectores separados por um corredor, com colunas de pedra, e portas nas duas extremidades, abrigadas sob um alpendre que as protegia contra a chuva. O seu uso amplia-se às classe rurais abastadas na segunda metade do século xix; mas eles são então já preferentemente estreitos, para melhor arejamento: nos largos, torna-se necessário, durante o Inverno, virar as espigas. Na região a Leste do Danúbio este tipo é recente – fins do século xix – e apresenta-se muito estreito e alto e, de um modo geral, ele é perfeitamente semelhante aos seus congéneres ibéricos, por vezes mesmo com pés transversais de pedra, escoras, cintas, etc. Contudo, nesta mesma região, ainda hoje são muito frequentes os espigueiros largos, chamados «czardak», de corredor a meio – onde às vezes se malha o milho – que parecem pequenas casas e cuja base, entre as colunas, se utiliza como chiqueiro. Os lavradores pobres erguem espigueiros deste tipo, mas em que o tabuado entre as traves é substituído por pés de girassol ou por paus; os tectos são de junco, palha ou telha. Na região do Teiss e na Bucovina, os espigueiros de tábuas, para milho, não aparecem antes deste século, e chamam-Ihes «cestos para trigo turco». Contudo, pode dizer-se que o espigueiro de ripado, de um modo geral, suplantou os antigos de varedo. Actualmente, as organizações do Estado constroem grandes espigueiros modernos, com base de cimento, altos, com paredes de rede.
8Nas regiões montanhosas onde há pouco milho ou quando não existe espigueiro, a armazenagem faz-se também no sótão – preferindo-se o de casa ao dos estábulos, por aquele ser arejado – ou no celeiro; e este sistema é já mancionado no século xvii; na primeira fase da produção do milho. Às vezes deslocam-se as telhas desses sótãos em um ou dois sítios, matendo-as erguidas com uma espiga a fazer de espeque. Recomenda-se que, no Outono, estas sejam viradas várias vezes, retirando-se as espigas húmidas, para não bolorarem as outras. Permite-se a entrada dos gatos como defesa contra os ratos (des. 69 e 70, e figs. 177 a 180).
9Na Jugoslávia, encontram-se igualmente espigueiros para o milho, das mesmas categorias que se usam praticamente em todo o país. Os tipos tradicionais e mais antigos, parecem ser aqui também os canastros de varas entrelaçadas. Na zona noroeste da Croácia, na região do rio Drava, esses canastros são montados numa grade de grossos barrotes de madeira, onde se fixam, não nos cantos, mas um pouco antes, fortes prumos verticais, que vêm abaixo da grade, e formam uns pequenos pés que a isolam do solo. As paredes dos topos não têm qualquer reforço, e alargam a partir duma certa altura, formando bossa arredondada muito acentuada. O encanastrado lateral é amparado pelo sistema que apontamos, em que uma ou duas travessas são passadas entre os prumos, com pontas que vão além deles, ficando sem qualquer travação nessas pontas. A meio do sector superior dos prumos partem, para os frechais, pontas de travessa, dispostas obliquamente, cada qual para o seu lado. Essas pontas reforçam, em cima, o amparo das paredes, servem de apoio aos frechais e são, além disso, de um bonito efeito decorativo. A cobertura é de colmo, montado sob um vulgar ripado de duas águas. A descarga faz-se por postigos pequenos e baixos situados a meio da parede larga, entre os dois prumos (fig. 167). No Sudoeste da Bósnia, na planície de Livno, os espigueiros, embora também de varedo, são diferentes, e parecem mostrar-se sob dois tipos: uns, extremamente altos, são de forma cilíndrica irregular e estreita a alargar para cima; os prumos são grosseiros, altos e finos, e neles é tecido o varedo das paredes; a cobertura é também de colmo, em forma de boina ou cone achatado; a palha é segura por arames donde pendem pedras (fig. 168). Alguns destes canastros têm pés, outros pousam directamante na terra; os primeiros mostram incisões nas colunas, como defesa contra os ratos. Outros, de base rectangular estreitos e igualmente de varedo, são parecidos, na sua forma geral, com os nossos de ripado: a grade é composta de traves laterais que pousam a meia madeira sobre outras transversais, nos topos e às vezes a meio (que, por sua vez, pousam sobre pedras toscas encasteladas formando pés baixos) e cujas pontas sobressaem; das traves compridas, nos cantos e a meio, erguem-se os prumos do esqueleto, apoiados no alto por escoras lançadas das pontas das traves laterais; a cobertura é de colmo, de duas águas esguias, que vêm muito abaixo; a palha é sustentada por paus dispostos longitudinalmente, pousados sobre ela a partir do cume, como os nossos telhados serranos (fig. 169).
10Actualmente difunde-se largamente mais um outro tipo de espigueiro, também estreito, como os que descrevemos, mas de ripado; alguns são elevados sobre pés mais ou menos altos, por vezes feitos de tijolo; a cobertura é com frequência de telha ou de tabuado. Não raro, especialmente no nordeste da Croácia, o espigueiro fica, como em alguns casos portugueses, incluído noutros anexos, no andar superior, sob o telhado4.
11Na Albânia, os canastros de varas, a que chamam Kos, assentam geralmente sobre pedras, embora apareçam alguns, mais raros, sobre pés; eles servem para armazenagem do milho para gasto; o grão de semente guarda-se em casa.
12Na Polónia, encontramos os canastros de varas para milho na região carpática, por exemplo, em Dolina, junto do rio Szava; eles mostram tamanhos e alturas médias, com colunas enterradas no solo, cobertura de ripas e palha.
13Na Roménia, temos também, como na Hungria, notícia de canastros de varas a partir do século xvii, na Transilvânia. No século xviii eles multiplicam-se por toda a província, aparecendo especimes grandes, – por vezes com dez estacas na base – e pequenos. Hoje em dia eles são ali muito correntes, mostrando, em certos casos, uma planta elipsóide. Da região de Craiova, na Valáquia, conhecemos o exemplar proveniente da aldeia de Castranova, que se encontra no Museu da Aldeia, de Bucareste: trata-se de um canastro de base quadrada, estreito, em que o varedo é montado sobre quatro grossos prumos que fazem de pés elevados; num entalhe neles rasgado à altura conveniente, assenta a grade, que tem as pontas longitudinais salientes. Os prumos sobem até ao frechal, e amparam o varedo das paredes laterais; o entrançado é feito por sectores horizontais, tecidos em direcções opostas alternadamente; a porta – e um pequeno postigo – abrem-se numa dessas paredes. A cobertura é de palha de quatro águas. Na Bessarábia, os canastros têm uma base de forma ovalada, sem pés, e mostram às vezes um varedo tecido em grossas tranças; a cobertura é de palha (des. 71-a).
14Na Bucovina eles assentam sobre colunas; mas parece que se encontram aí também espigueiros de ripado, estreitos e altos, dos tipos congéneres húngaros e, como estes, também recentes, dos começos do século xx.
15Na Bulgária, a Leste, encontramos canastros de varedo para milho com grade assente sobre pedras baixas ou sobre blocos de calcário, ora quadrangulares e baixos, com telhado de telha, de quatro águas (des. 71-b), ora redondos, com cobertura cónica, de palha; o espaço sob a câmara é aproveitado para arrumos. Temos notícia de outro tipo, igualmente de varedo, de planta geral quadrangular, arredondada porém nos dois topos. A grade da base, de madeira, assenta também sobre pedras toscas e baixas; dela se elevam os prumos do esqueleto, nos quatro cantos e a meio das paredes laterais, que uma cinta a meio e cruzetas ajudam a firmar. A cobertura é de colmo, de quatro águas. Estes espigueiros mostram um traço original, que não encontramos em nenhum outro: uma espécie de vestíbulo, numa das faces largas, apoiado em dois prumos, à frente, e coberto pelo próprio telhado do espigueiro, que, por isso, é muito largo5.
16Na Macedónia, isto é, na Grécia balcânica, existem também espigueiros para o milho, mas de um tipo diferente e pouco característico, feitos de tábuas largas, com cobertura também dessas tábuas, de uma só água, assentes sobre pedras baixas, e com um postigo de descarga à frente.
17Na Ucrânia, os canastros de varedo, com o nome de Kosnica, situam-se na faixa confinante com a Moldávia romena, junto ao Dniester, e encontram aí o seu limite de expansão para o Norte (embora daí para cima a cultura do milho continue a ter grande importância); eles são de base quadrada.
18No Cáucaso, do outro lado do mar Negro, encontram-se novamente canastros de varas com grande abundância, para o milho. Eles são geralmente quadrangulares, umas vezes assentes sobre pés baixos e com um corpo também baixo recoberto por um telhado de quatro águas e cobertura de palha; outros, erguidos sobre pés constituídos pelos próprios prumos, e com um telhado baixo igualmente de palha; outros ainda – como é o caso com os Cherqueses da Caucásia do Norte –, de tábuas, com pés altos encimados por mós, cobertura fixa ou móvel de tábuas, de duas águas. Por seu turno, os Grusos do mar Negro usam canastros de varas para o milho, assentes sobre blocos de pedra ou sobre estacas, igualmente encimados por pedras lisas fazendo de mós. Finalmente, na Pérsia, há espigueiros altos, semelhantes aos dos Cherqueses, também para milho.
19Na América do Norte, temos notícia da existência de espigueiros pelas narrativas dos navegadores europeus que ali arribaram. Lowenthal, citando Neckel, refere-se a uma nota, de resto pouco precisa e certa, que atribui aos Normandos que no século xi arribaram às costas da Nova Escócia, a descrição de um celeiro para trigo que aí teriam encontrado, de madeira, e sobre colunas; mais tarde, viam-se ainda, entre os Iroqueses, recipientes para cereais, assentes sobre quatro pés ou colunas; os índios senecas que pertencem também ao grupo iroquês, e habitavam a faixa ocidental do actual estado de Nova Iorque, usavam, semelhantemente, para a armazenagem do milho, umas construções descritas como sendo parecidas com uma gaiola de pássaros de base quadrangular, assente sobre seis colunas, com os lados compridos de troncos ou varas, dispostas umas sobre as outras, e os topos de ripado. Mais tarde, Peter Kalms, em 1750 fala nos celeiros para espigas construídos pelos colonizadores ingleses, que se assemelham a pequenas casas, de alturas variáveis, com paredes de varas redondas, com fendas estreitas, em vista à secagem conveniente6.
20No México, entre os Aztecas, onde o cultivo do milho teve a maior importância e se relaciona com o desenvolvimento das altas culturas americanas, esse cereal em espiga guardava-se geralmente em pequenas construções, junto à casa de habitação, em forma de torre circular, cujas paredes eram feitas dos próprios caules do milho; para o milho já debulhado, usavam-se muitas vezes outras construções, em forma de grandes talhas ou urnas, recobertas de barro7, que na região de Tlaxcala levavam o nome de troges e tinham o tecto de palha e o soco de alvenaria; noutros casos, viam-se, para este mesmo fim, enormes caixas quadradas, feitas de paus horizontais passados entre postes verticais, assentes sobre pedras8. Ainda hoje, neste País, os espigueiros para o milho são de tipos muito variados, ora redondos, de barro ou de pau-a-pique, com cobertura em terraço ou cónica de palha, que parecem prolongar as formas índias, ora se assemelham aos nossos, de base quadrangular e de madeira, com ripas horizontais e cobertos de telha9. Os Maias possuíam igualmente, para guardarem o milho, construções de madeira, assentes sobre estacas, com os lados feitos de ramos e cobertura de caules de milho10.
21Em África, encontramos semelhantemente espigueiros de varedo especializados para o milho. Em Moçambique, entre os Macondes, em Angumbi, nas baixas do Rovuma, eles são de planta circular ou alongada, com os topos arredondados, cobertos com telhados cónicos ou de duas águas, de palha, conforme os casos. A câmara é pousada sobre um pequeno estrado, elevado por pés baixos de pau acima do solo e sobre o qual assentam os prumos que sustentam o entrançado (fig. 171). No segundo caso, a cobertura apoia-se em fortes paus independentes do espigueiro, que espetam directamente no solo (fig. 172).
22Entre Zembe e Mavita, nos territórios de Manica, ao sul do Zambeze, os espigueiros são também de varedo, redondos e com cobertura de palha cónica. A câmara pousa num estrado, e deste erguem-se os prumos, em grande número e muito fortes, que ficam à vista pelo lado de fora do entrançado.
23Em Angola, encontramos espigueiros ou celeiros deste tipo por exemplo entre os Cacongos do Bico da Lunda, redondos, pequenos, de paus ou de entrançado, assentes sobre pés toscos de cerca de 1m de altura, que suportam o estrado, com telhados cónicos de palha (fig. 174). Entre os Quiocos da mesma região, vêem-se celeiros quadrados, também sobre estacas, em materiais vegetais, com telhado cónico-piramidal (fig. 175). Na região dos Amboelas, no Baixo Longa, ao sul da Província, aparecem celeiros semelhantes, mas maiores, com as paredes igualmente de materiais vegetais, de um entrançado especial (fig. 176). O mesmo sucede em certas tribos sul-africanas, em que os espigueiros, também de cana, erguidos sobre postes e com um tejadilho móvel, são sempre pertença do marido11.
Notes de bas de page
1 Adolph Mais, Die Maisspeicher in : Österreich, in : « Die Wiener Schule der Völkerkund, Festschrift zum 25 jährigen Bestand 1929-1954».
2 Ivan Balassa, A Magyar Kukorica, Budapeste, 1960, págs. 257-309, fala na existência, a W dos Balcãs, de «cestos sobre colunas para cereais já na Pré-história», e sobretudo no período romano. E adiante, no «longo passado» dos «cestos entrelaçados para cereais» na região mediterrânea.
3 A. Mais, op. loc. cit.
4 Informação do Prof. Dr. Branimir Bratanic, de Zagreb.
5 Segundo o estudo de Teodor Zlatev sobre a casa búlgara, publicado em Sófia, em 1930 (pp. 99 e 129).
6 I. Balassa, op. cit., comentando esta passagem, nota que, portanto, na América do Norte existiam espigueiros de varas redondas ou paus, semelhantes aos Balcânicos, de tal modo que Biirger, ao ver estes na Hungria e Croácia, julgou que eles haviam sido ali introduzidos por alguém que os conhecera do outro lado do Atlântico; e conclui que foram os colonizadores que trouxeram a ideia para a Europa. Aventa-se assim a hipótese da origem americana dos espigueiros europeus: «O espigueiro de tábuas já era conhecido na agricultura dos índios. Veio talvez daí para a Europa».
7 J. Eric Thompson, La Civilization Aztèque, Paris (Payot), 1934, págs. 77-78.
8 Walter Krickeberg, Etnología de America, págs. 272-273. Entre os Mixes, por exemplo, e noutras partes, aparecem também troges sobre estacas (ibid.).
9 Rev. d’Ethnologie et de Geographie Humaine. Estes espigueiros não mostram certos elementos característicos fundamentais dos nossos, designadamente pegões e mós; e as características deles que os aproximam dos nossos – telhados e materiais – parecem ser de influência europeia. por comparação com os outros – esses caracteristicamente autóctones índios. Isto parece pois apoiar a hipótese que recusa origem americana dos espigueiros europeus. De resto, mesmo que eles fossem originais e antigos, e estivessem numa origem remota dos nossos, estes teriam sofrido influências, ainda importantes, de outros elementos já cá existentes.
10 May a Indians of Yucatan and British Honduras, Bureau of American Ethnology, pág. 20: «Quando o milho está maduro, é guardado, dentro ainda do folhelho, em cima de uma plataforma baixa, numa casa pequena construída para tal fim, muitas vezes situada no próprio campo, para poupar o transporte».
11 Henri Junod, The life of a South African Tribe, II (Neuchâtel), pág. 27
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