Apêndice III
p. 195-208
Texte intégral
Portos de apanha de Sargaço
1Baldaque da Silva op. cit., Cap. III, pp. 73/108, no verdadeiro cadastro que faz dos portos da costa de Portugal onde têm lugar quaisquer fainas marítimas, enumera e descreve todos os locais onde se apanha sargaço, a que dá o nome de «portos de sargaço» – “os lugares da costa onde convergem as pessoas que exploram as águas do mar e das linhas pedregosas do litoral, com o fim de apanharem as algas marinhas e depósitos embrionários, que depois têm a aplicação para adubar as terras», e onde «costumam os indivíduos empregados nesta colheita construir cabanas para abrigo e arrecadação dos utensílios e barcos ou jangadas de que se servem...» – por vezes simples recantos desertos da praia, indicando as suas características, localização, número de pessoas e embarcações – barcos, masseiras e jangadas – que nessa actividade se ocupam, quantitativos – em carradas e em valor – das algas colhidas anualmente (referidos ao ano de 1887), etc.
2Transcrevemos a seguir esses elementos, que nos dão a imagem de um mundo que, em muitos casos, chegou até aos nossos dias quase no mesmo estado em que o Autor o conheceu, e que, em qualquer caso, constitue um padrão de referência que nos ajuda à visão da verdadeira perspectiva deste assunto.
3«Já indicamos, ao tratar dos portos de pesca do continente, quais os pontos do litoral onde se exerce em maior escala a colheita de vegetação marinha1, podendo agora em traços gerais dizer que ela tem lugar :
desde o rio Minho até à Póvoa de Varzim – em toda a costa.
na Ria de Aveiro.
na Lagoa de Óbidos
na costa desde Peniche até à Ericeira, desaparecendo para o sul até ao Cabo de S. Vicente e em toda a costa meridional do Algarve.
4«Especializando quais os principais portos de apanha de sargaço, teremos:
5«Rio Minho – Seixas, Cais de Caminha e Ribeira de Caminha.
6Entre o Minho e Póvoa de Varzim – Cabedelo do Minho, Ínsua de Caminha, Moledo, Cahide, Porto Novo, Portinho de Gontinhães, Penedim, Caneiro, Afife, Carreço, Fornelos, Fonte do Mar, Rego de Fontes, Viana do Castelo, Anha, Moinho do Bispo, Neiva, S. Bartolomeu, Marinhas, Esposende, Lanchas, Fonte Boa, Sedovem, Apúlia, Aguçadoura e Abremar.
7« Ria de Aveiro.
8«Lagoa de Óbidos.
9«Entre Peniche e Ericeira – Baleai, Peniche de Cima, Portinho da Areia, Peniche de Baixo, Consolação, Seixal, Atalaia, Ribamar, Porto Novo, Santa Cruz e Assenta.
10«Com muita aproximação, podemos apresentar para um ano de colheita regular de sargaço, em todo o litoral marítimo, fluvial e lacustre, do continente do reino, os dados seguintes, que referimos ao ano de 1886 :
Número de pessoas empregadas na apanha do sargaço | 4 479 |
Número de carradas de sargaço tirado das águas | 46 150 |
Valor do sargaço ou limos | 184.598$500 réis |
*
* *
11«Na extensa bacia do litoral do rio Minho, desde a foz até próximo de Seixas, empregam-se diariamente algumas pessoas na apanha do sargaço, podendo calcular-se aproximadamente durante o ano o movimento e valor desta indústria pelos dados seguintes:
Número de pessoas empregadas na apanha do sargaço | 60 |
Número de carradas de sargaço | 240 |
Valor do sargaço | 960$000 réis |
12«Nas insuas Canosa e Terroeiro, próximas da margem espanhola, também os portugueses todos os dias fazem grande colheita de erva, a qual ali cresce rapidamente, por assim dizer de um dia para outro, em virtude do excelente e fértil nateiro que constitue aquelas Ínsuas.
13«A exploração dos animais e vegetais do rio Minho, feita por portugueses, incluindo o valor do peixe colhido de Monsão para cima e o que logra passar ao manifesto, pode computar-se, nos anos de 1885 e 1886, em 25.000$000 e 30.000$000 réis, em cada ano.
14«Entre os rios Minho e Lima:
15«Ponta do Cabedelo (p. 81) – No extremo do areal que forma a margem do sul da embocadura do rio Minho, existem algumas barracas para abrigo das pessoas que ali se reunem para a apanha dos vegetais na praia adjacente. Neste local há um posto aduaneiro. Constitue esta praia um porto de sargaço, onde convergem em época própria uns quinze homens da freguesia de Venade, próximo de Caminha, os quais sem auxílio de embarcações ou de jangadas, mas apenas com os utensílios especiais para esta colheita, apanham nas águas quatro a cinco carradas cada um, podendo pois calcular-se anualmente para este porto o movimento seguinte:
Número de homens empregados na apanha do sargaço | 15 |
Número de carradas | 70 |
Valor do sargaço | 280$000 réis |
16« Ínsua de Caminha (p. 81) – É a Ínsua um excelente porto de sargaço, que, pela última arrematação, rendia ao ministério da guerra 103$300 réis anualmente, pelo privilégio que este concedia de ali apanharem as algas do mar. O sargaço é tirado das águas e de cima dos rochedos apenas com os utensílios próprios, havendo unicamente um barco para dar passagem aos homens e ao produto da exploração, entre a Ínsua e a terra.
Número de embarcações | 1 |
Número de homens empregados na apanha do sargaço | 22 |
Número de carradas | 176 |
Valor do sargaço | 704$000 réis |
17«Moledo (p. 82) – A excelente praia de banhos de Moledo, situada para o sul da foz do rio Minho, a menos de 1 légua de distância, presta-se extraordináriamente à colheita do sargaço, vendo-se, na época da apanha, centenas de montículos deste adubo espalhados por todo o areal até à penedia que o limita ao sul, no sítio denominado Pia dos Burros. Há aqui grande número de casas e telheiros especialmente destinados para guardar o sargaço e as maceiras que empregam na sua apanha, ainda que vulgarmente o recolham apenas com os instrumentos respectivos. São os próprios lavradores que vêm à costa para explorar esta indústria, havendo também pessoas exclusivamente empregadas nela para negócio. Este adubo vai daqui para grande parte do extremo norte da província do Minho, transportado pelos barcos do rio, que o conduzem para Campos, S. Pedro, Cerveira, etc. Sem grande erro, podem-se aceitar para este porto de sargaço os seguintes dados :»
Número de maceiras empregados nesta exploração | 10 |
Número de pessoas | 300 |
Número de carradas de sargaço | 900 |
Valor anual do sargaço | 3.600$000 réis |
18Actualmente não se usam aqui masseiras, e afirmam-nos que sempre assim sucedeu. Aliás, o mar não consente facilmente embarcações naquele troço da costa.
19«Cahíde (p. 82/83) – Para o sul de Moledo, antes de chegar a Gontinhães, na altura da capela de Santo Isidoro, há um pequeno porto de apanha de sargaço, formado por uma enseada de rocha solta, limitada ao norte pela Ponta do Salto. Esta enseada é dividida em duas por uma ponta de pedra, dando-se o nome de Cahíde à do norte, e de Melfurado à do sul. Contornando a margem da primeira, contam-se onze casas e barracas para abrigo dos sargaceiros, podendo calcular-se os seguintes dados para este porto :»
Número de pessoas | 66 |
Número de carradas de sargaço | 264 |
Valor anual do sargaço | 1.056$000 réis |
20«Para esta colheita não empregam aqui maceiras, mas unicamente os utensílios próprios. A meio da enseada de Cahíde costumam os sargaceiros enterrar um tronco de árvore, bem seguro no fundo com pedras em volta, saindo duas pernadas para fora da água, para a elas se agarrarem nas ocasiões do mar estar batido, enquanto apanham a vegetação marinha.»
21Este costume é hoje completamente desconhecido, e dele não resta a mais leve memória.
22«Porto Novo (p. 83) – Pelo norte do porto de Âncora existe uma espécie de varadouro, cortado na penedia, começo de uma obra de refúgio das embarcações de pesca, que não se chegou a concluir, conhecido pelo nome de Porto Novo, que é actualmente aproveitável como porto de sargaço, fazendo-se a exploração deste adubo não só ali, como também em toda a penedia que se estende para um e outro lado, por pessoas da freguesia de Gontinhães, em número variável e segundo a necessidade que têm dele para amanho das terras, podendo-se ainda assim aceitar para este porto os seguintes elementos estatísticos:
Número de pessoas | 40 |
Número de carradas de sargaço | 80 |
Valor anual do sargaço | 320$000 réis |
23Não empregam aqui para esta apanha senão os utensílios próprios.
24«Portinho de Gontinhães (p. 83/84) – Situado entre a embocadura do rio Âncora e o forte do mesmo nome, fica um porto oceânico formado por dois paredões ou quebra-mares convergentes, que o abrigam um pouco das vagas, a que chamam o Portinho de Gontinhães ou da Lagarteira. Para o interior da praia deste porto estão as casas dos pescadores, habitando também alguns na povoação de Gontinhães e nas freguesias circunvizinhas desta.
25«Também neste pequeno porto se recolhe o sargaço na seguinte escala:
Número de pessoas | 30 |
Número de carradas de sargaço | 70 |
Valor anual do sargaço | 280$000 reis |
26«Penedim (p. 85) – Este porto de sargaço fica pelo norte do Forte do Cão, no extremo sul da enseada de Âncora, convergindo a ele as pessoas das freguesias de Âncora e Soutelo, que colhem este adubo na seguinte proporção :»
Número de pessoas | 60 |
Número de carradas de sargaço | 120 |
Valor anual do sargaço | 480$000 reis |
27«Caneiro (p. 85/86) – Situado pelo sul do Forte do Cão há uma espécie de carreiro aberto na penedia que neste ponto guarnece a costa, a que dão o nome de Caneiro, constituindo um centro de colheita de sargaço, onde afluem as pessoas da freguesia de Âncora que se entregam a esta indústria. Para auxiliar a apanha há aqui duas embarcações – uma maceira e uma barqueta – as quais também os donos empregam na pesca para seu consumo, vendendo às vezes o peixe que lhes sobra, podendo calcular-se para este porto os dados seguintes :»
28Número de embarcações empregadas na pesca e apanha
do sargaço | 2 |
Número de tripulantes | 3 |
Número de pessoas empregadas na apanha do sargaço | 40 |
Número de carradas de sargaço | 160 |
Valor anual do sargaço | 640$000 reis |
29«Secam as algas marinhas nas dunas de areia e em cima dos grandes penedos que aqui existem. Os sargaceiros possuem duas casas para abrigo, onde também guardam os instrumentos da sua profissão.»
30«Afife (p. 86) – Estende-se este porto de sargaço desde as cambóas do sul do Forte do Cão até à foz da ribeira de Afife, no ponto onde ela desagua no mar pelos regueiros que faz na areia da praia. Por fora, ao longo da praia, corre uma restinga de pedras, interrompida em alguns pontos, a que na localidade dão o nome de Bico de Afife, chamando também Ínsua a uma parte desta restinga destacada em forma de ilha. O sargaço é aqui apanhado em grande escala, não só em toda a praia, com o auxílio unicamente dos aparelhos adequados, como também nas restingas de pedras e na Ínsua fronteira, para que há um certo número de maceiras, sendo esta apanha feita pelas pessoas da freguesia de Afife, na proporção indicada na nota seguinte :»
Número de pessoas empregadas na colheita do sargaço | 100 |
Número de maceiras para auxiliar esta colheita | 8 |
Número de carradas de sargaço | 400 |
Valor anual do sargaço | 1.600$000 reis |
31« Carreço – Este pequeno porto de pesca e de sargaço, que também denominam de Paçó, fica situado em uma enseada que a costa forma pelo norte da Ponta de Montedor, tendo ao centro o Forte de Paçó. Pelo norte deste forte há seis armazéns para arrecadação de embarcações de pesca, construídos dois a dois, tendo uma parede comum. Próximo do forte, onde guardam as maceiras, há uma fonte de água doce, que os pescadores utilizam para lavrar as suas redes.»
32«Em 1887 havia aqui as embarcações e tripulantes seguintes:
Número de barcos de pesca | 6 |
Número de maceiras | 12 |
Número de tripulantes | 48 |
33«A colheita do sargaço era representada pelos seguintes números:
Número de pessoas | 30 |
Número de carradas de sargaço | 120 |
Valor anual do sargaço | 480$000 reis |
34«Fornelos (p. 87) – Pelo sul de Montedor forma a costa um fundo barranco, limitado do lado do mar por uma pequena praia de areia, que constitue o porto de sargaço de Fornelos. Em frente da praia e distante dela uns 250 metros, corre uma restinga de pedras, orientada N-S, a que chamam a Ínsua de Fornelos. Do lado do sul do barranco há duas casas para abrigo dos sargaceiros e das maceiras que os coadjuvam na apanha do sargaço, que aqui é feita na seguinte escala :»
Número de pessoas empregadas no sargaço | 18 |
Número de maceiras | 2 |
Número de carradas de sargaço | 72 |
Valor anual do sargaço | 288$000 reis |
35«Fonte do Mar (p. 87-88)–Ainda mais para o sul de Montedor existe um pequeno porto de pesca que toma este nome, por abrirem na areia, entre os rochedos do meio da praia, três fontes ou nascentes de água doce. O porto é formado por uma pequena bacia litoral, defendida do lado do mar por restingas de rocha paralelas à terra.»
36«Para o sul deste portinho, desenvolvem-se dunas de areia de pequena elevação, a que chamam a ribeira, e onde os pescadores estendem as redes a enxugar. Há no cimo da praia quatro casas para arrecadação dos barcos e aparelhos de pesca. Os pescadores deste porto dedicam-se principalmente à pesca de sardinha e pescada, embora também façam alguma pesca costeira.»
Número de barcos de pesca | 5 |
Número de maceiras | 6 |
Número de tripulantes | 40 |
37A apanha do sargaço tem aqui o seguinte desenvolvimento:
Número de pessoas empregadas na colheita do sargaço | 25 |
Número de carradas de sargaço | 100 |
Valor anual do sargaço | 400$000 reis |
38«Rego de Fontes (p. 88-89) – Pelo sul de um antigo forte situado na embocadura do rio Lima, fica um regueiro de água que desagua no oceano por entre os seixos de uma pequena praia, onde geralmente se reunem para a apanha da vegetação marinha as pessoas da freguesia de Areosa, para dali irradiarem em diferentes sentidos por toda a penedia que orla a costa até à foz do Lima. Referindo-nos unicamente à quantidade de sargaço que é recolhido nesta região do litoral sem auxílio de embarcações, e não entrando em linha de conta com o que é apanhado pelas jangadas de Anha que saem o rio Lima para virem explorar este adubo nesta faixa da costa, podemos apresentar para o porto de sargaço de Rego de Fontes os seguintes dados :»
Número de pessoas | 150 |
Número de carradas de sargaço | 450 |
Valor anual do sargaço | 1.800$000 reis |
39«Recapitulando em um único mapa os dados relativos à colheita do sargaço em toda a costa compreendida entre os rios Minho e Lima, teremos:
Número de portos de sargaço | Número de embarcações empregadas | Número de pessoas | Número médio de carradas | Valor anual do sargaco |
13 | 33 | 896 | 2 982 | 11.928$000 |
40«Viana do Castelo (p. 91) – Também neste porto se explora a indústria do sargaço, não só na penedia do norte da barra e na da bacia do Castelo, mas também na ponta do Cabedelo e na praia de banhos, empregando jangadas e utensílios especiais para esta apanha, que pode ser representada pelos seguintes dados :»
Número de pessoas empregadas nesta indústria | 60 |
Número de jangadas de Anha | 7 |
Número de carradas de sargaço | 300 |
Valor anual do sargaço | 1.200$000 reis |
41«Entre rios Lima e Cávado (p. 92) – Em toda a costa marítima compreendida entre o rio Lima e o rio Cávado se exploram as águas em grande escala, embora não haja um porto de pesca propriamente dito dentro destes limites. Os lavradores do litoral que afluem à praia para a colheita do sargaço, empregam jangadas e barcos nesta exploração e ao mesmo tempo servem-se das embarcações para o lançamento de aparelhos de pesca, com o fim de alcançarem peixe para o seu consumo, e não poucas vezes também para negócio.»
42«Moinho do Bispo – Entre os rios Lima e Neiva, mas mais próximo deste último, existem no litoral, na primeira elevação das dunas adjacentes à praia, algumas barracas ou cabanas e um posto fiscal aduaneiro, no sítio denominado Moinho do Bispo, constituindo um centro de colheita de sargaço, que não só é apanhado na praia, como também nos rochedos fronteiros, com o auxílio de embarcações e jangadas.»
Número de pessoas ao sargaço | 50 |
Número de embarcações : 7 | |
Número de jangadas | 15 |
Número de carradas | 250 |
Valor anual do sargaço | 1.000$000 reis |
43«Neiva (p. 94) – Os habitantes da costa do Neiva também colhem o sargaço na praia e nos rochedos fronteiros, usando de jangadas para este fim.»
Número de pessoas empregadas na apanha do sargaço | 40 |
Número de jangadas | 7 |
Número de carradas de sargaço | 160 |
Valor anual do sargaço | 640$000 reis |
44«S. Bartolomeu do Mar (p. 94) – Na costa de S. Bartolomeu, que se desenvolve para o sul da foz do rio Neiva, também se apanha o sargaço em grande escala, não só com os aparelhos respectivos, mas empregando as jangadas em grande número. Apesar de não usarem embarcações nesta região da costa, ainda assim pesca-se em toda ela de cima dos rochedos e das jangadas. Costumam aqui, nas grandes baixa-mares de marés vivas, colher os depósitos calcáreos que se formam sobre a penedia, e que consistem em aglomerados dos nateiros depostos pelas águas e dos embriões e pequenos seres – crustáceos, moluscos e radiários – que em grande abundância aqui se propagam, para os aplicar como adubo das terras, e dando-lhes o nome de barranha.»
45Podemos dar ideia desta colheita nos dados seguintes:
Número de pessoas empregadas nesta exploração | 70 |
Número de jangadas | 15 |
Número de carradas de sargaço e barranha | 280 |
Valor anual do sargaço e barranha | 1.120$000 reis |
46Esta colheita de concreções e matérias orgânicas deixou há bastantes anos de se fazer. Quem a ela se dedicava eram os lavradores dos altos do Faro, que não eram sargaceiros, mas que apreciavam essa «barranha» como bom adubo para as suas terras.
47«Marinhas (p. 94-95) – Fica situada a costa das Marinhas entre a de S. Bartolomeu e a foz do rio Cávado. Também nesta parte do litoral se explora o sargaço do mar e se exerce a pesca, principalmente a do polvo, nos rochedos da Redonda, Salto, Cardas, Robaleiras e muitas outras pedras que orlam a praia. Há aqui quatro barcos para a pesca costeira, que também se empregam na pesca fluvial do Cávado, quando o mar não permite a pesca fora, e doze jangadas de madeira e cortiça para irem ao polvo.»
48A pesca nesta costa tem o movimento seguinte:
Número de barcos de pesca | 4 |
Número de jangadas | 12 |
Número de tripulantes | 30 |
Valor anual do pescado | 450$000 reis |
49A colheita do sargaço é assim representada:
Número de pessoas | 40 |
Número de cardadas | 160 |
Valor anual do sargaço | 640$000 reis |
50«Reunindo em um único mapa os dados relativos à pesca feita entre os rios Lima e Cávado, teremos:
51«A colheita do sargaço e barranha, feita em toda esta costa, desde o Lima até ao Cávado, é representada pelos números seguintes :»
Número de pessoas | 200 |
Número de jangadas | 37 |
Número de carradas | 850 |
Valor anual do sargaço e barranha | 3.400$000 reis |
52«Estes dados referentes à pesca e à colheita do sargaço, ainda os julgamos inferiores ao seu valor real; mas uma avaliação exacta no estado actual da fiscalização destas duas indústrias é completamente impossível, não sendo contudo muito longe da verdade os que apontamos.»
53«Esposende e Fão (p. 97) – Começa deste porto para o S. a apanha do caranguejo, que denominam pilado, para ser empregado no adubo das terras.
54«A colheita do sargaço, feita pelas pessoas desta localidade, no interior do porto, embocadura do rio e costa adjacente, tem a seguinte importância :»
Número de pessoas | 50 |
Número de carradas | 200 |
Valor anual do sargaço | 800$000 reis |
55«Costa de Fão (p, 98) – No areal que se estende para o S. da foz do rio Cávado, formado por uma praia de fraco declive com dunas para o interior, há umas dezasseis barracas, quase E-W com a vila de Fão, onde os lavradores que vêm à apanha do sargaço e os pescadores guardam os utensílios, barcos e jangadas. Um pouco ao N. desta costa em frente dos Cavalos de Fão, há um ponto da praia, denominado Lanchas, onde os pescadores podem varar as embarcações...»
56«Na Costa de Fão há para a pesca e para a colheita do sargaço as seguintes embarcações e jangadas:
57«A importância desta costa é dada pelos seguintes números:
Número de carradas de sargaço | 272 |
Valor anual do sargaço apanhado | 1.088$000 reis |
Valor anual do pescado | 280$000 reis» |
58Na Costa de Fão, actualmente, os barcos existentes, que se agrupam no Facho, são pertença exclusiva dos lavradores de Gandra e de Fonte Boa.
59«Gramadoira (p. 99) – Pelo S. da Costa de Fão há um outro arraial com umas trinta e cinco barracas, pertencentes à freguesia de Fonte Boa, onde se reunem as pessoas desta freguesia que exploram as águas da costa fronteira, constituindo este sítio o denominado porto de sargaço e de pesca do Frade ou Gramadoira.
60« É importante a colheita de algas marinhas que se faz nesta parte da costa, e a pesca da lagosta, na época própria, para vender aos navios franceses que frequentam esta paragem.
61«Há neste ponto grande número de embarcações, como se vê no mapa seguinte:
62«A colheita do sargaço e a pesca têm aqui o valor indicado nos números que seguem :
Número de carradas de sargaço | 600 |
Valor anual do sargaço | 2.400$000 réis |
Valor anual do pescado | 2.160$000 réis» |
63«Sedovem (p. 100) – Ainda mais para o S., existe um outro porto de sargaço e pesca, mais importante que o anterior, possuindo cinquenta e seis barracas, denominado de Sedovem.
64«A principal pesca consiste em lagosta e polvo, começando neste ponto da costa a apanha em grande escala do caranguejo empregado para adubo das terras, exploração esta que, em todo o litoral a partir daqui até à foz do rio Mondego, toma grande incremento, substituindo em grande parte a colheita do sargaço, usado para o mesmo fim.
65«No porto de Sedovem, há o movimento seguinte:
Número de carradas de sargaço | 609 |
Valor anual do sargaço | 2.436$000 réis |
Valor anual do pescado | 2.240$000 réis» |
66«Apúlia (p. 100-101) –Esta tão conhecida e agradável praia de banhos também é um porto de sargaço e de pesca, não possuindo muitas embarcações, mas tendo em compensação grande número de jangadas de uma construção especial, a que chamam barças, e sobre as quais vão explorar os rochedos das extensas restingas que orlam a costa para o lado do norte.
67«A principal pesca consiste aqui em polvo, pilado e variedades de peixe miúdo que se aproximam muito da costa.
68«Os dados que abaixo apontamos elucidam sobre o movimento deste porto. que merece alguma importância como porto do sargaço:
Número de carradas de sargaço | 600 |
Valor anual do sargaço | 2.400$000 réis |
Valor anual do pescado | 600$000 réis» |
69«Aguçadoura (p. 101) – Neste porto também se colhe o sargaço, mas em muito menor escala do que nos portos que lhe ficam para o norte.»
70Da Aguçadoura para o Sul, até ao rio Douro e daí para baixo até à Lagoa de Óbidos e Peniche, o Autor deixa de aludir ao sargaço; e, considerando a minúcia com que, no seu trabalho, é feito o registo dos «portos de sargaço», essa omissão parece significar que, segundo ele, de Averomar até ao rio Douro, não tinha lugar a apanha de algas. É certo que, adiante, falando das jangadas, diz que «para o sul da Aguçadoura, em toda a costa ocidental e meridional do continente, não se usam as jangadas, mas sim as embarcações na apanha dos vegetais que se faz em alguns portos e praias marítimas»2. Como se vê, a indicação é imprecisa e confusa, não se podendo adivinhar que sectores da costa portuguesa o autor tem em vista, nem qual a natureza e importância dessa recolha, parecendo mesmo, pela comparação com as informações anteriores, que tinha em mente a ideia de uma actividade esporádica e pouco importante, a qual se fazia só de bordo de barcos.
71Rocha Peixoto3 alude mesmo às actividades sargaceiras desde o rio Minho até ao Gramadouro (Pedrinhas), ao sul do Fão ; mas não se refere ao assunto daí para o sul, falando apenas na existência de grupos simultaneamente rurais e piscatórios nos aglomerados de barracos da Apúlia, Aguçadoura e Averomar, e mencionando uma apanha insignificante de algas em Vila Chã, a propósito dos barracos que aí nota, «palheiros de tabuado», residência permanente de pescadores que ali exerceriam esporadicamente aquela actividade, e na sua opinião semelhantes aos que se vêm em Sedovem e por toda a costa até ao Algarve.
72Nos trabalhos de investigação encontramos, tal como estes Autores, ainda hoje a apanha do sargaço desde o rio Minho até às Pedrinhas (Gramadouro) ; mas, ao contrário do que parecem supor, encontramo-la também com toda a regularidade, frequência e amplitude, para o sul daquela localidade, em Averomar (onde se exerce mesmo em grande escala), na Póvoa de Varzim, Vila do Conde, e em todos os portos de pesca e locais convenientes do litoral compreendido entre os rios Ave e Douro.
73No Mindelo, em Vila Chã, e em Angeiras (Lavra), todas as pessoas idosas a quem nos dirigimos foram unânimes em afirmar que, se só desde os princípios do século é que os pescadores começaram a dedicar-se à apanha de algas para venda, antes disso, como dissemos, já os lavradores iam ao mar buscar sargaço (e pilado) para adubo das suas terras, usando as gravetas, o que é próprio da apanha a pé; e, de nossa lembrança pessoal, podemos assegurar que por essa mesma época – até cerca de 1920 – ainda se apanhava sargaço, igualmente a pé, na Foz do Douro, na penedia de vários recantos da praia ao sul do Castelo do Queijo, entre este e o molhe de Carreiros. E, como vimos, tal actividade, por todo este sector – e mais precisamente mesmo nas zonas omitidas por Baldaque da Silva e Rocha Peixoto – atesta-se decumentalmente desde épocas muito antigas, e não só feita de bordo de barcos, mas, além disso, por todos os demais processos, a pé, da praia, e até, em alguns locais – como por exemplo Averomar –, de bordo de jangadas.
74Ao sul do rio Douro:
75Foz do Arelho (e Lagoa de Óbidos) (p. 127) – «A colheita dos limos de que a lagoa é fértil, pode ser representada em média anual por uns 150.000 Kilogramas, com o valor aproximado de 300$000 réis4.»
76«Peniche (p. 128) – Também nas praias e rochedos da península de Peniche se exploram as algas marinhas que depois se aplicam como adubos agrícolas.»
Notes de bas de page
1 Baldaque da Silva, não considera a apanha de algas para fins industriais, desconhecida e inexistente no seu tempo.
2 Baldaque da Silva, op. cit. p. 368.
3 Rocha Peixoto, op. loc. cit., pp. 85-86.
4 «... a Lagoa de Óbidos, onde os pescadores das pequenas povoações marginais pescam tainhas, linguados, enguias, solhas, etc., e fazem grandes colheitas de amêijoas, capturando também algumas espécies que entram do mar pela aberta que a comunica com ele. Esta indústria limita-se às águas da Lagoa, não saindo nunca os pescadores para o mar. ... Na época dos banhos das Caldas da Rainha, afloram à Lagoa grande número de barcos ilhavos, explorando as águas e vendendo o produto por bom preço naquele mercado.» (p. 127).
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Proprietários, lavradores e jornaleiras
Desigualdade social numa aldeia transmontana, 1870-1978
Brian Juan O'Neill Luís Neto (trad.)
2022
O trágico e o contraste
O Fado no bairro de Alfama
António Firmino da Costa et Maria das Dores Guerreiro
1984
O sangue e a rua
Elementos para uma antropologia da violência em Portugal (1926-1946)
João Fatela
1989
Lugares de aqui
Actas do seminário «Terrenos portugueses»
Joaquim Pais de Brito et Brian Juan O'Neill (dir.)
1991
Homens que partem, mulheres que esperam
Consequências da emigração numa freguesia minhota
Caroline B. Brettell Ana Mafalda Tello (trad.)
1991
O Estado Novo e os seus vadios
Contribuições para o estudo das identidades marginais e a sua repressão
Susana Pereira Bastos
1997
Famílias no campo
Passado e presente em duas freguesias do Baixo Minho
Karin Wall Magda Bigotte de Figueiredo (trad.)
1998
Conflitos e água de rega
Ensaio sobre a organização social no Vale de Melgaço
Fabienne Wateau Ana Maria Novais (trad.)
2000