Apêndice II
p. 191-194
Texte intégral
1Vejamos o que diz Baldaque da Silva acerca das jangadas neste sector do litoral português em 1892, e comparemo-lo com as nossas próprias observações, que dão o estado presente da questão :
2Desenho 33 a–«Jangada de Anha : Compõe-se esta jangada, a primeira que se encontra ao N. do País em Viana do Castelo, de oito troncos de madeira muito leve, ligados, formando estrado, por duas ou mais cavilhas, e tendo lateralmente duas tábuas dispostas como borda falsa. Os troncos das bordas são mais compridos, e levantam em forma de rabo de arado. Estas jangadas vêem-se no porto de Viana em número de doze a quinze, explorando os regiões marítimas pedregosas e a costa adjacente que orla o litoral desde Montedor até à costa ao sul do rio Lima, no local denominado Anha» (p. 367).
3Anha corresponde à actual praia de Viana do Castelo, logo ao sul da foz do Lima, em frente da cidade, no local onde os lavradores de Anha, do interior, tinham os seus barracos, que ainda se vêem. Essa gente, hoje, não usa jangadas. Da comparação deste desenho e descrição com as nossas observações nota-se que há uma certa semelhança entre as jangadas actuais de Castelo de Neiva e esta, que Baldaque chama «de Anha» ; mas as actuais não têm rabiças, e apenas um pequeno rebordo, feito com um tronco; pelo contrário, têm rodas, e Baldaque não fala disso; é porém de presumir que as antigas, a serem como o Autor as descreve, também as tivessem, dado que deviam ser bastante pesadas.
4Desenho 33 b – «Jangada de Neiva e S. Bartolomeu – Forma-se de seis troncos de madeira ligados, sendo maiores os dos lados, e assenta em um eixo com rodas para com facilidade varar e ser lançada ao mar. Este sistema, mais simples que o anterior, não tem tão grande desenvolvimento como os empregados em outros portos de sargaço» (p. 367).
5Estas jangadas parecem assemelhar-se às que actualmente se usam na Amorosa e em Castelo de Neiva, que têm um rodado móvel de rodas maiores que as que Baldaque indica no desenho que as mostra.
6Em Neiva (Foz) e S. Bartolomeu, não há presentemente jangadas, nem memória do que elas foram, a terem existido.
7Desenho 33 c – «Jangada das Marinhas – É feita de madeira e cortiça, tendo a forma indicada na figura. É com o auxílio desta jangada que os pescadores da costa das Marinhas vão pescar ao polvo nos rochedos adjacentes à praia, e situados a maior ou menor distância da terra» (p. 367).
8Correspondem muito sensivelmente às que ainda hoje ali se vêem.
9Desenho 34 a – «Jangada da Costa de Fão – É como a do Neiva, um pouco mais pequena, e não tem rodas, razão pela qual é mais portátil e encalha com maior facilidade, requerendo um menor número de indivíduos para a tripularem [sic. ; certamente quis-se dizer : «transportarem»]. Estas jangadas são as mais vulgares» (p. 367).
10A última jangada desta área, que subsiste, varada até há pouco ainda, no areal de Fão ao sul da Sr.a da Bonança, tem uma certa semelhança com as que Baldaque descreve; a única diferença que se nota é que o seu estrado é feito de tábuas, e não de troncos, como no desenho de Baldaque ; mas é natural que correspondam à mesma coisa, e que os troncos tenham sido substituídos por tábuas.
11Desenho 34 b – «Jangada de Fonte Boa – Parece um carro de madeira com quatro rodas, tendo interiormente o fundo de cortiça, e nas bordas duas toleteiras para os remos» (p. 368).
12Não encontramos ninguém em quem a imagem desta jangada despertasse a menor reminiscência, nem que dela se recordasse de ouvir falar. A existência de um barco de fundo chato e ré cortada, para o qual o dono arranjou um chassis de quatro rodas, de modo a podê-lo mover sózinho sobre o areal (a que nos referimos no texto, falando dos barcos de fundo chato, neste lugar) teria induzido alguém num erro que o Autor reproduz?
13Desenho 34 c-d – «Jangadas da Apúlia– Há nesta praia dois tipos diferentes de jangadas: um, em forma de carrinho com duas rodas, e construído de madeira e cortiça; o outro é feito só de cortiça e ligado com correntes de ferro, tendo o nome de barças na localidade. As rodas das jangadas são apenas para o transporte na praia, porque dentro da água não são munidas delas. A figura 7 representa a barca empregada pelos sargaceiros e pescadores da Apúlia, havendo neste porto grande número de jangadas deste tipo, que servem de auxiliar tanto na colheita do sargaço como na pesca, que os habitantes desta localidade vão fazer por entre os rochedos que orlam a costa» (p. 368).
14Na Apúlia em sentido preciso, hoje, não existem jangadas. Mas a que descrevemos em Sedovém, – que faz parte da Apúlia – com rodado solto, corresponde estreitamente à primeira que Baldaque menciona. O outro modelo, que de facto se usou na Apúlia até uns 40 anos, para o sargaço e polvo, era semelhante ao usado hoje em Averomar, que descrevemos, diferindo apenas no processo de prisão dos rolos de cortiça; à que Baldaque descreve, também faltam os testeiros que servem de bordas rudimentares.
15«Para o sul da Aguçadoura, em toda a costa ocidental e meridional do continente, não se usam as jangadas, mas sim as embarcações na apanha dos vegetais, que se faz em alguns portos e praias marítimas» (p. 368).
16Esta afirmação parece não corresponder aos factos, pois o emprego de jangadas em Averomar – onde hoje elas são muito abundantes – é certamente antigo. Como vimos, em posturas municipais de meados do século passado já se regulamanta o seu uso nas freguesias de Amorim e Beiriz, que então englobavam o actual termo de Averomar.
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