Comercialização do pilado
p. 144-151
Texte intégral
1A essas praias onde se pescava pilado para venda, acorriam, como dissemos, os lavradores das cercanias ou do interior com os seus carros de bois, e outros de mais longe com camionetes, para o comprarem, directamente aos pescadores – e com frequência por encomenda prévia – ou por arrematação na lota1 ; e em muitas partes, ao norte e mormente ao sul do rio Douro, havia comerciantes que negociavam do mesmo modo com o pilado, comprando-o aos pescadores e vendendo-o aos lavradores de perto ou de longe (igualmente muitas vezes por encomenda prévia), e que em regra possuiam os seus armazéns junto à praia, onde guardavam o pilado que não era logo despachado.
2Em Âncora, o pilado era em grande medida pescado por encomenda prévia dos lavradores locais; a venda era ao cesto, em «verde»2 e ora era vendido na areia, vindo o lavrador buscá-lo à praia, ora era o pescador quem devia levá-lo até ao «campo» em frente ao forte, onde vinham então buscá-lo os pretendentes, por vezes de muito longe. Saía também muito em camionetes para Esposende, ou para o Sul pelo caminho de ferro, sendo então carregado à noite nos vagões, pelas mulheres.
3À Apúlia, acorriam lavradores do interior da região – Vila Seca, Barqueiros (Necessidades), Barcelos, etc..
4Em Angeiras, o pilado era adquirido pelos lavradores da região, ou por comerciantes que depois o negociavam para fora, por vezes para terras muito distantes.
5Na Afurada, o pilado era vendido logo na bateira; muitas vezes vinham lavradores de Avintes, Valbom, etc., rio Douro abaixo, nos seus barcos, para seguidamente o levarem, por esse meio, para as suas terras ; e grande parte dele era adquirido por uma fábrica ali existente, que o transformava em adubo.
6Na Cortegaça, os lavradores traziam até ao alto do areal, nos seus carros, apenas uma parte do pilado comprado à descarga das bateiras, despejando-a ali e voltando abaixo buscar o restante da carga, que depois completavam com o que lá tinham já deixado.
7No Furadouro, o pilado era vendido pela totalidade da carga. Compareciam lavradores e comerciantes; mas quando não havia pretendentes, ele era levado para os armazéns das companhas. O caranguejo pescado na ria era desembarcado em S. Jacinto, e aí vendido na praça.
8Em S. Jacinto – que era também o porto de recolha e descarga das embarcações da Murtosa –, o pilado era vendido sempre aos comerciantes, visto que, nas redondezas, o lavrador estruma a terra apenas com o moliço da ria, e não consumia o caranguejo. Desses comerciantes, uns tinham os seus armazéns, onde o pilado se guardava à espera de ser afinal adquirido pelos lavradores; outros vinham buscá-lo nos seus mercanteis e, levavam-no assim rio acima, até Avança, Salreu, Aveiro (onde, por seu turno, compareciam lavradores da Bairrada, Troviscal, etc., para o comprarem e levarem em carros de bois ou camionetes); e neste caso, geralmente, um homem, de bicicleta, saía antes do mercantel, prevenir as gentes das localidades que ficavam no seu caminho, para que, se estivessem interessadas, aguardassem com os seus carros de bois nas malhadas respectivas onde o mercantel podia acostar. Se não apareciam compradores, o mexoalho era empilhado e salgado nos armazéns das companhas3.
9Da Costa Nova, o pilado, que era arrematado na lota da ria, ou negociado por intermediários4, ia para a Póvoa de Vaiada, Quintãs, Oliveirinha, etc..
10Na Gala – que, como dissemos, se situa junto do rio Mondego, adiante da sua foz – e na Cova de Lavos – que ali tinha as suas embarcações do pilado –, este era na sua maior parte vendido aos comerciantes intermediários, e a uma fábrica ali existente, que o transformava em adubo ; mas por vezes as lanchas levavam-no rio acima até Pedrogão e outras localidades, perto de Montemor-o-Velho, em viagens que demoravam 4 a 5 horas, para aí o venderem aos lavradores.
11Na Nazaré, o pilado era vendido à caixa, ou «a olho». Lavradores de Famalicão (de Alcobaça), Cela, Alcobaça, etc., geralmente encomendavam-no previamente aos pescadores, e, prevenidos da pescaria, iam à praia buscá-lo, com os seus carros de bois e galeras (que levavam de 25 a 50, e 80 caixas, respectivamente), e, mais tarde, com camionetes; e grande parte dele era também vendido para uma fábrica ali existente (tal como na Afurada e na Gala), que o transformava em guano. Por vezes, mas raramente, aparecia no local onde andavam a pescar o pilado uma traineira da Figueira da Foz que o comprava ali mesmo, despejando-se então o saco imediatamente para bordo dela.
12Quando na descarga ou na lota não compareciam pretendentes ao pilado; quando, comprado pelos comerciantes, não apareciam logo lavradores que o levassem; quando ele não era imediatamente deitado à terra pelos lavradores que o pescaram ou compraram ; – quando enfim se tornava necessário conservá-lo ou se pretendia guardá-lo em barracos ou em armazéns, usavam-se vários processos elementares para que ele não apodrecesse ao ar ou com a chuva, e perdesse as suas melhores propriedades fertilizantes – nomeadamente, misturando-o simplesmente com areia e deixando-o assim na praia, em montes – por exemplo na Cova de Lavos – ou nesses armazéns – por exemplo na Praia de Vieira –, ou secando-o (que era o processo praticado ao norte do rio Douro) ou salgando-o (que era o processo praticado ao sul desse rio).
13A secagem do pilado fazia-se ao sol, espalhando-o durante 2, 3 ou 4 dias no areal (Castelo de Neiva. Apúlia, Averomar, Póvoa de Varzim, Angeiras, etc.), no fieiro (Anha) ou nas dunas atrás da praia (a ribeira– Montedor) ; na Apúlia era mesmo seco nas eiras, e esmagado depois a mangual. Depois de seco ele era geralmente recolhido em barracos na praia, ou em quaisquer telheiros na casa dos lavradores, ou nos armazéns dos comerciantes; e assim se conservava um e por vezes mesmo dois anos, embora perdendo bastante azoto.
14Em Anha, faziam, nos barracos, uma espécie de tulha com sargaço, e punham-no dentro dela. Em Castelo de Neiva, quando vinha chuva antes de ele estar seco, misturavam-no com mato, e erguiam rolheiros dessa mistura5. Na Apúlia, secavam-no e guardavam-no do mesmo modo nos barracos da praia; e às vezes iam vendê-lo, assim seco, em sacos, à feira de Barcelos, que tem lugar todas as quintas-feiras.
15A salga – que não se praticava a norte do rio Douro –, era feita sempre com o pilado em «verde». Em S. Jacinto, onde ficavam e descarregavam também as bateiras do pilado das companhas da Murtosa e as do Furadouro que pescavam o caranguejo na ria, os comerciantes – que eram os seus principais compradores e que aí tinham os seus armazéns onde o guardavam– costumavam, para o salgar, aproveitar o sal que já fora usado para a salga do bacalhau, ao qual davam o nome de ressalga ; e o caranguejo pescado na ria era salgado em dornas, para ser depois expedido para as terras do interior.
16A explicação do aparecimento de cada um destes dois sistemas, com exclusão do outro, em cada um dos sectores costeiros da área global do pilado em Portugal – a secagem, ao norte do rio Douro; a salga, ao sul desse rio–, só conjectural-mente se pode tentar. O facto da existência de sal, em boas condições de preço, das empresas de pesca de Aveiro e Figueira da Foz, não justifica de maneira concludente a preferência da salga nessas zonas, porque no Porto e em Viana do Castelo existiam empresas semelhantes onde o mesmo se poderia dar. Parece-nos mais plausível atribuí-la seja à influência da prática da secagem do sargaço nos areais, corrente no Norte, seja ao facto de grande parte da pesca do pilado, aí, ser actividade de lavradores, para quem a técnica da salga seria menos familiar do que para os negociantes do pescado, que era quem, ao sul desse rio, sobretudo a praticava.
17O montante apurado com a venda do pilado era dividido em tantos quinhões quanto o número de companheiros, acrescido do número dos que cabiam ao «barco e aparelhos» conforme os usos locais, depois de se retirar o imposto – o dízimo (que na Nazaré nos indicam ascender a 15%) – e, em certas praias, outros encargos gerais, exigidos pelas condições locais ou estabelecidos pelo costume.
18Assim, os barcos recebiam numas partes 2, noutras 3, noutras 4, quinhões, noutras ainda 1/3 do total. Os companheiros recebiam sempre por igual, um quinhão cada um. O arrais por vezes recebia o seu quinhão como companheiro, e mais 1/2 ou 1 quinhão pelas funções que exercia; por outro lado, em alguns casos, ele repartia pelos companheiros uma parcela da sua parte – por exemplo na Aguda, o chamado meio-quarto, que ele, «de livre vontade», retirava do seu quinhão –. Quando o arrais era o dono do barco e das redes (o que, como dissemos, sucedia com frequência), ele recebia, naturalmente, além da sua parte, a do «barco e aparelhos».
19Nos locais onde a alagem do barco era a gado, antes de se fazerem os quinhões, retirava-se, como encargo geral específico, além do dízimo, aquilo que se pagava aos donos desse gado6 ; e nos grupos da ria de Aveiro, do Furadouro para o sul até à Costa Nova, além disso, a marinha, que era a soma necessária à compra de 3 litros de vinho para distribuir pela companha. O peixe que vinha na rede, à mistura com o pilado, era apartado e distribuído pela companha, ora para gasto próprio, ora para venda (mormente quando era linguado, que é também colhido no arrasto), geralmente para compra do vinho, ora a título de «caldeirada».
20A distribuição mais corrente era a de 2 quinhões para o barco e aparelhos, e 1 para cada camarada. Encontrámo-la sobretudo nos grupos a norte do rio Douro, na Apúlia, Aguçadoura, Averomar, Vila Chã, e, ao sul desse rio, na Aguda (onde porém, como dissemos, existia o costume do meio-quarto que o arrais, do seu quinhão, distribuía pelos companheiros), Murtosa, Tocha, etc.
21Em Âncora, era também esta a regra; mas o barco pequeno recebia também, pelo seu lado, 1/2 quinhão. Em Montedor, cada camarada recebia 4 cestos; a parte da rede – que pertencia sempre a vários sócios – era de 2 cestos para cada um desses sócios ; a parte do barco grande –que era geralmente de vários sócios – era de 1 cesto para cada um desses sócios; a parte do barco pequeno era de 2 cestos.
22Em Anha e no Pampelido, onde com frequência os barcos e as redes pertenciam em comum a toda a companha, os lucros eram repartidos por igual entre todos ; e o mesmo sucedia relativamente às despesas, nomeadamente quando era preciso comprar novas redes.
23Na Póvoa de Varzim, o «batel e arrasto» recebiam 4 quinhões, e cada camarada 1 quinhão7. Em Angeiras e Esmoriz, o barco e apetrechos recebiam 3 quinhões, e cada camarada 1 quinhão ; em Buarcos a repartição era também esta, mas distinguiam-se 2 partes para a rede e 1 para o barco.
24Em Matosinhos e no Furadouro os lucros líquidos eram divididos em 3 partes, cabendo 1/3 para o barco e aparelhos, e 2/3 para a companha, repartidos por igual entre os companheiros; no Furadouro porém, do lucro bruto, descontavam-se, como encargos gerais, como dissemos, além do dízimo, a marinha e o dinheiro para o gado da alagem do barco.
25Na Cortegaça e S. Jacinto, a conta era, como no caso mais frequente do Norte, 2 quinhões para o barco e aparelhos, e 1 para cada camarada; mas na primeira daquelas praias o arrais recebia 2 quinhões ; e no segundo, como nos demais grupos da ria de Aveiro, do lucro bruto descontava-se, além do dízimo, a marinha.
26Na Costa Nova, o barco recebia 1 quinhão, a rede, 1 ½ quinhões, e cada camarada 1 quinhão; mas, do lucro bruto, retirava-se, além do dízimo, a marinha, segundo o costume da área, e 5% para o comerciante intermediário, que recebia as encomendas dos lavradores e as transmitia às companhas.
27Na Costa de Lavos, o barco e aparelhos recebiam 3 a 4 quinhões, o arrais 1 ½ quinhões, e cada companheiro 1 quinhão.
28Na Tocha – onde como dissemos, as companhas eram de lavradores – os barcos e aparelhos recebiam 2 partes, e cada um dos companheiros 1 parte, por igual.
29Na Nazaré, a distribuição dos lucros líquidos era mais complexa. Do lucro bruto descontava-se apenas o dízimo (que, como dissemos, ascendia a 15% do quantitativo apurado na venda do pilado) e o dinheiro para pagar o gado da alagem dos barcos, que eram 13 juntas (1 para o ala-abaixo, e 12 para o ala-arriba). A diferença assim obtida dividia-se por 16 quinhões : 10 para os homens (como dissemos, as companhas do pilado eram aqui de 5 homens em cada barco), 4 para a empresa, e 2 para a maior. Da maior tirava-se o necessário para comprar um garrafão de vinho, que se repartia entre todos, e o restante era novamente dividido pelos homens da companhas excepto o arrais, que, em compensação, recebia 1 e às vezes 2 quinhões dos 4 que cabiam ao patrão (a empresa). Deste modo: cada homem recebia 1 quinhão, mais 1/9 da maior (deduzido o preço do vinho); o arrais recebia 1 quinhão, mais 1 ou 2 quinhões da parte do patrão ; e este recebia 4 quinhões, menos 1 ou 2 que entregava ao arrais.
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30A pesca do pilado não tinha regulamento específico, e o seu exercício estava sujeito aos preceitos estabelecidos para a pesca em geral. A melhor quadra era o verão, durante os meses de Junho, Agosto e Setembro8, porque o caranguejo, no inverno, enterrava-se na areia (Matosinhos); além disso, o pilado só no verão se podia secar, e a necessidade de, no inverno, o consumir imediatamente, em «verde», tornava por vezes difícil a sua colocação, mormente numa quadra de trabalhos agrícolas mais reduzidos. Apesar disso, porém, pescava-se também nas águas mexidas (Montedor) dos meses do Outono e do inverno, sempre que as condições do tempo parecessem favoráveis. A pescaria era também mais rendosa com mar bom : com mar agitado e forte, que além do mais oferece perigos muito sensíveis, sobretudo no litoral desabrigado ao sul do rio Douro, o caranguejo enterra-se na areia, e não se deixa apanhar. Em Montedor e em Buarcos, entendiam até que ele fazia o mesmo ao pressentir as mudanças de tempo; e isso diminuía os riscos desta actividade, porque, quando o caranguejo se sumia, era sinal de que o tempo ia tornar-se mau, e as companhas não saiam.
31Durante o verão, as mais das vezes, e mormente quando realizadas nesses bancos onde o caranguejo abundava especialmente, estas pescarias tinham lugar à noite, por se considerar que com sol o pilado se mete na areia e «não dá» ou, pelo menos, que a pesca «rende menos»9. Ao norte do rio Douro, nessas expedições até aos limpos de Afife e Âncora, que levavam várias horas, as companhas saiam a meio ou ao fim da tarde, chegavam e fundeavam esperando que caísse a noite para começarem a trabalhar, e regressavam de madrugada ou de manhã, de tarde, com tempo para a descarga e o transporte ou a venda do pilado. Durante o inverno, em algumas partes – no Mindelo, Vila Chã, e em geral onde se pescava perto e em frente da praia – as pessoas preferiam pescar durante o dia. Na Aguçadoura, de dia pescavam a 15 braças de fundo, e de noite a 6 ou 7. Ao sul do rio Douro, a pesca nocturna do pilado resultava também do facto de em regra os pescadores, durante o dia, andarem à sardinha com as artes da xávega, podendo por isso dedicar-se ao pilado apenas fora desse horário; mas aqui, em muitos casos, pescava-se apenas durante o dia.
32Geralmente saia-se ao pilado apenas uma vez por dia (Furadouro) ; e pescava-se sempre no mesmo ponto, mudando-se de local apenas quando aí o caranguejo acabava totalmente, porque se constatara que quanto mais se colhia mais vinha acima da areia, de tal maneira ele abundava nesses bancos onde sabiam que ele se encontrava (Apúlia, Averomar, Torreira, etc.); na Apúlia, de uma vez, carregaram os dois barcos com 8 lanços dados sempre no mesmo ponto.
33Ao norte do rio Douro, em muitas partes, consideravam-se mais propícios os fundos de areia limpa; mas noutros, pelo contrário, afirma-se que o pilado se dava melhor em fundos de «lôdo».
34Por cada embarcação até 4 toneladas, o custo das licenças para a pesca do pilado era, ainda em 1944, de 13$50 por ano, conforme a tabela anexa ao decreto n.° 12 822, de 1 de Novembro de 1926. Essa licença beneficiava do desconto de 50% quando a embarcação e os respectivos aparelhos eram pertença dos pescadores, segundo o disposto no art.° 6.° da lei n.° 1135, de 31 de Março de 1921.
35Na Aguçadoura, barco e redes custavam, antes de 1939, cerca de 3.000$00. Depois dessa data, na Apúlia, para «arrear» um barco do pilado eram precisos 20.000$00.
36A pesca do pilado era, entre nós, extremamente vultosa, empregando um grande número de pessoas, sobretudo tendo em conta as diminutas dimensões da maioria dos aglomerados costeiros onde ela se praticava.
37Ao norte do rio Douro, Baldaque da Silva indica, na Aguçadoura, em 1885 e 1886, 43 barcos, com 120 e 140 tripulantes; e em Averomar, nos mesmos anos, 24 e 46 barcos com 138 e 162 tripulantes respectivamente ; em Sedovem, em 1887, 53 barcos e 3 bateiras, com 165 tripulantes (para pilado e outras pescarias); e na Apúlia, na mesma altura, 9 barcos e 3 bateiras, com 27 e 6 tripulantes10 ; relativamente a esta última praia, Fernando Galhano, referindo-se a cerca de 1920, fala de 20 companhas (de 6 homens cada)11 ; e ainda em 1943 havia ali à volta de 35. Godinho de Faria indica, na praia de Pampelido, em Perafita, em 1895 e 1898, 17 companhas12 ; mais tarde, chegou a haver 21 ; e nos últimos anos em que o pilado se pescou, 6, e finalmente 3 (de 6 homens cada). O citado autor, na praia da Forcada, em Lavra, nos anos de 1895 a 1898, indica 37 companhas13 ; António Ramos, na praia de Angeiras, também em Lavra, em 1939, indica 23 companhas14 : e, quando essa pesca deixou de se praticar, havia ali 47 (de 4 homens cada), e 21 no Pampelido. Cândido Landolt indica, no concelho da Póvoa de Varzim, em 1915, 198 aparelhos de pilado e 162 barcos, empregando 735 homens15 ; e nos registos da Capitania deste porto, figuram os seguintes números de companhas e barcos inscritos para a pesca do pilado: em 1942, 130, e em 1943, 55 companhas16 (de 3 homens por cada barco); em 1947, 101 barcos; em 1948, 139 barcos; e em 1949, 117 barcos; de 1950 em diante, esta pescaria entra ali em brusca e franca decadência17. Nos registos da Capitania de Vila do Conde, figuram, em 1942 e 1943, 277 e 238 companhas, respectivamente (de 4 homens por cada barco). A produção do pilado registada nesses anos naquelas duas Capitanias foi respectivamente de 2896 toneladas com o valor de 250 contos de reis, e 6645 toneladas com o valor de 547 contos de reis em 1942 ; e, em 1943, apenas em Vila do Conde, de 1900 toneladas com o valor de 155 contos de reis18. Finalmente, nos últimos tempos em que se praticou a pesca do pilado na nossa costa, há cerca de 20 a 30 anos, trabalhavam em S. Bartolomeu do Mar, 2 companhas; em Castelo de Neiva, umas 3 a 4 companhas (de 6 homens cada); no Mindelo, umas 20 companhas (de 4 homens cada); na Afurada, umas 100 bateiras, com 5 homens cada; em Espinho, umas 50 bateiras, com 6 homens; na Torreira, umas 20 bateiras, com 5 homens cada; em Buarcos, umas 50 bateiras, com 5 ou 6 homens cada; na Gala, umas 8 bateiras; na Cova de Lavos, umas 20 a 30 lanchas (que ficavam na Gala); na Costa de Lavos, umas 6 a 8 bateiras; etc.
Notes de bas de page
1 Em Averomar, davam à lota o nome de feira ; e em S. Jacinto a praça onde ele era vendido situava-se no local onde mais tarde se instalou a Aviação Naval.
2 No período final destas pescarias, o preço do cesto do pilado era ali de 3$50.
3 Affreixo, op. loc. cit., IV, p. 168.
4 Na Costa Nova vive ainda a velha Senhora Mariquinhas, que foi a principal intermediária entre os pescadores e os lavradores na comercialização do caranguejo. Ela cumulava essa actividade com a de vendeira, e disfrutava de uma posição social conceituada no meio piscatório.
5 Contam-nos, aqui, de um ano em que chegaram a ter de guardar o pilado dentro de casa, debaixo das camas. Isso originou uma epidemia que obrigou as autoridades sanitárias de Viana do Castelo a intervir.
6 Na Aguda, o gado recebia uma giga de pilado por junta. Na Nazaré, cada junta ganhava 10$00 por cada alagem ; hoje ganha 20$00 (e um tractor 44$00).
7 Segundo a regra dos grupos piscatórios, aqui quem fazia as contas eram as mulheres. Em Aguçadoura, p. 136 (e M. Areias, op. cit., p. 284) indica-se : depois de deduzido o imposto, dividia-se o produto obtido por 8 quinhões, cabendo 3 ao dono dos barcos e redes (1 pelo barco, 1 pelas redes e outro pelo seu trabalho), e os restantes 5 eram partilhados entre os demais membros da companha.
8 Em Vila Chã disseram «do S. Bento (Julho) a Setembro».
9 Affreixo, op. cit., V, p. 50, mormente a respeito propriamente de peixes.
10 Baldaque da Silva, op. cit., p. 100.
11 Galhano, «A pesca do pilado na Apúlia»
12 Godinho de Faria, op. cit., p. 183.
13 Ibid.
14 Ramos, op. cit., p. 349.
15 Landolt, op. cit., p. 35.
16 Aguçadoura, p. 135.
17 Segundo os registos da Capitania :em 1950,11 barcos; em 1951,1 barco; em 1952, 20 barcos; em 1953, 10 barcos; em 1954, 2 barcos; em 1955 e 1956 nenhum barco; em 1957, 1 barco; em 1958, nenhum barco; em 1959, 26 barcos; em 1960, 3 barcos; em 1961, 9 barcos; em 1962 e 1963, nenhum barco.
18 Aguçadoura, idem.
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