32. Formas fundamentais da vindicta popular em Portugal1
p. 339-357
Texte intégral
1São muito variadas as formas que pode revestir a vindicta popular em Portugal, como manifestação de censura, protesto, crítica ou represália, sob o aspecto de troças ou sátiras colectivas, em actos ou palavras, contra atitudes que traduzem forças ou princípios de desagregação moral ou social do grupo, ou como maneiras de sublinhar determinados acontecimentos que constituem inovações mais ou menos frustradas ou excepções à rotina do seu viver típico. Elas interessam sobremaneira, já porque são uma expressão especial do sentimento de unidade e coesão desse grupo, já porque nos esclarecem de um modo particularmente vivo sobre a mecânica defensiva da integração cultural, e ao mesmo tempo sobre certas formas elementares do pensar colectivo, conceitos morais basilares, reacções convencionais e padrões de cultura, poder de observação, interesses, hábitos, gostos, e sentido parodial e satírico do povo. Em si mesmas inofensivas, livres de elementos de agressão efectiva e as mais das vezes apenas verbais, revestindo em alguns casos aspectos parodiais característicos, elas acarretam contudo frequentemente consequências graves, que podem ir até ao derramamento de sangue, devido tanto à violência incisiva do policiamento que exercem e da carga de provocação que encerram, como à da reacção que desencadeiam e importância dos sentimentos em causa, eles próprios não raro modelados por determinados outros padrões, também muito arreigados. E estes factos, que conferem a tais costumeiras um grande interesse psicológico, são por outro lado a causa imediata e mais sensível do seu desaparecimento, uma vez que as autoridades legais, alarmadas com os desacatos de vulto em que elas quase sempre degeneram, as vão por toda a parte proibindo e perseguindo formalmente.
2As categorias principais e as formas mais correntes sob que nos aparece a instituição entre nós, são as assuadas, as pulhas e os testamentos, que de velha tradição se conhecem mais ou menos por todo o País, e que, por sua vez, se apresentam sob tipos diversos. Além destas, porém, outras existem ainda, igualmente importantes e de carácter rigorosamente tradicional, mas que constituem manifestações especiais e singulares, que não cabem em qualquer daqueles grupos, e que por isso consideraremos individualmente. De todas elas procuraremos dar a definição pela enumeração e análise dos elementos fundamentais que as compõem respectivamente, a partir de alguns exemplos típicos que conhecemos.
«Assuadas»
3D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, num pequeno estudo sobre a conotação deste termo, fala no ajuntamento de gente «geralmente armada, sem consentimento das autoridades públicas, para uma correria, um motim, uma guerra, um roubo, em todo o caso para fazer algum mal, perturbando a ordem, ou até para cometer um crime», ou então, mais raramente,«com bom fim. por causa de obrigação de honra e proveito»; e adiante, a estes caracteres, acrescenta um elemento ruidoso. Nas assuadas, com efeito, verifica-se o ajustamento, em atitude ruidosa; mas nestas existe um elemento psicológico complexo, que lhes dá o seu verdadeiro sentido: uma intenção de troça agressiva, protesto ou censura burlescos, perseguição, por vezes vingança, e até, indirectamente, provocação.
4Nas assuadas, o protesto ou represália colectivos e ruidosos dirigem-se contra o autor ou autores definidos de um certo acto ou atitude, considerados ofensivos do pensar ou dos padrões ou interesses do grupo; ao contrário portanto do que sucede nas «pulhas» e nos «testamentos», nas assuadas são todos contra um. em vista de actos determinados.
5O elemento colectivo apresenta-se como um simples ajuntamento em magote, ou como um desfile, ou, em alguns casos, um cortejo parodial; a algazarra ou manifestação ruidosa – que se traduz em actos mais ou menos improvisados ou imprevistos, embora sempre dentro de formas tradicionais e comuns no País – exprime-se em ditos ou aclamações satíricas, por vezes em verso, injúrias, apupos, vozearias, não raro bradadas por canudos, funis ou embudos, para fazerem maior barulho, sons discordantes, de chifres, buzinas, chocalhos, cortiços, panelas, caldeiras, latas; e também violas, ferrinhos, etc. Adiante indicaremos, numa forma original, uma assuada coimbrã que constou apenas de um desfile silencioso; e, pelo contrário, conhecem-se outras em que se passou a vias de facto, e se verificaram desacatos e agressões efectivas.
6As assuadas mais correntes, gerais e conhecidas são as que se dirigem contra casamentos de viúvos, velhos, noivos com grande diferença de idades, mulheres desonestas, contra ligações ilegítimas, mulheres adúlteras. maridos cucos, etc. – de um modo geral, casamentos ou relações intersexuais que, pelas condições em que se apresentam, ofendem uma regra social implícita ou o conceito normal que o povo tem de tais actos2. Conhecemos inúmeros exemplos e relatos destas manifestações, que com certas diferenças típicas de cenário, e nomes diversos conforme as regiões, se fazem por todo o País. De facto, elas ora acompanham em magote os nubentes à igreja, ora, mais frequentemente, têm lugar junto à casa dos visados, à noite – na noite da boda, ou, em certos casos, durante várias noites seguidas, geralmente nove –, ora constam de um cortejo parodial ridicularizando o acontecimento e servindo de pretexto e suporte à algazarra; por outro lado, elas traduzem-se ora em meras barulheiras e estrondos, ora em troças, apupos, alusões, em actos ou palavras, ora em insultos ou aclamações satíricas e não raro obscenas, às vezes em verso, relacionadas com o casamento ou com os nubentes. No Alto Minho, em Monção, Valença, Caminha, Âncora, Carreço. Arcos de Valdevez, etc., elas chamam-se cornetadas, parecendo apontar a cometa ou como como seus instrumentos específicos3; no concelho de Viana do Castelo chamam-lhes latadas; em Fafe, troças; em Ribeira de Pena e Vila Verde, dão-lhes os nomes genéricos de caçoadas e tocatas, acidentalmente especializados neste significado; em Celorico de Basto chamam-lhes novenas de viúvos. e a troça tem de facto lugar durante as nove noites do costume; o mesmo sucede em Santiago da Cruz (Famalicão), onde lhes chamam rusgas, e no concelho de Vila do Conde, onde são conhecidas por cortiçadas, sem dúvida pelo uso que aí se faz de cortiços como instrumento ruidoso. Em Santo Tirso. no Porto, em Matosinhos, em Vila Nova de Gaia, e também em Ribeira de Pena e Vila Verde, dão-lhes o nome de assuadas; em Caíde (Penafiel), rabeladas, troças ou chocalhadas aos viúvos; chocalhadas é igualmente o nome que lhes dão no distrito de Bragança, tendo em vista o uso de chocalhos, que, como o do chifre, parece encerrar uma intenção ofensiva, e também na região de Coimbra (Tábua) – onde dizem «correr a chocalhada aos viúvos» – e no Algarve (Odesseixe); em terras de Miranda, chamam-lhes ferrunfadas ; etc.
7Numa cortiçada feita em Retorta (Vila do Conde) a um viúvo que casou segunda vez. o cortejo figurava, na primeira noite, o casamento, em que a noiva era a própria filha do visado, e. na última, um enterro, com o caixão vazio; a pessoa que conduzia a manifestação, durante as nove noites que esta durou, tocava a buzina a reunir num sítio alto, para melhor se fazer ouvir; e acorreram gentes daquela freguesia e de freguesias vizinhas, pedintes, músicos ambulantes, etc. Cortejos semelhantes se vêem por vezes em chocalhadas algarvias, atestando a difusão do costume. Nas chocalhadas de Bragança, o sino toca a finados na noite da boda, enquanto decorre a manifestação; e nas ferrunfadas à adúltera em terras mirandesas, queimam chifres e solas para incensarem o marido cuco. Numa notícia antiga de Santo Tirso, lê-se que numa assuada feita a dois velhos que casaram, os arruaceiros destelharam a casa dos nubentes, e deitaram-lhes água sobre o catre. Em alguns sítios, a manifestação é acompanhada de foguetes sem estalo, que parecem figurar a frustração do acto; e em Lousada (Penafiel), na noite destas bodas, põem mato no leito nupcial, ou cosem os lençóis a meio.
8Se os visados não tomam a mal a assuada – e de facto às vezes até se associam à manifestação –, esta geralmente termina; mas se protestam ou reagem, ela pode passar a vias de facto, e transformar-se mesmo num desacato sangrento; e é isso na verdade que explica a perseguição que as autoridades movem à costumeira, que hoje, por via de regra, termina nos postos policiais. Mas o apego do povo às suas tradições e padrões é tão fundo, que vemos numa assuada em Matosinhos, em que tomaram parte mais de duzentas pessoas, a Guarda intervir, prendendo alguns manifestantes, e, apesar disso, marcar-se nova assuada ao mesmo casal para daí a alguns dias. E em Odesseixe, a mesma autoridade, compreendendo a importância do caso, ainda hoje permite ali a chocalhada durante três noites seguidas, proibindo-as apenas passado esse prazo.
9Estes costumes são velhos e não são peculiares só a Portugal. Teófilo Braga. a propósito dos cantos nupciais medievais, diz que, quando alguns dos noivos era um velho, eles eram sempre satíricos e obscenos, indo-se fazer-lhe a chocalhada à porta. Por outro lado, conhecemos a sua existência em Espanha, em termos e sob pretextos perfeitamente idênticos aos que ocorrem entre nós, com o nome, ali. de « cencerradas » ; e também na Suíça, com os nomes de «mattinate» ou «bavarelle», e na Itália, onde há referências a «javramariti», « zenramarit i», « chevramariti », « charavarium », etc., já no século XIV. Em França, os «charivaris» contra casamentos que, de um modo geral, contrariam a norma local relativa a este acto – de velhos, viúvos e outros –, são também de uso corrente e muito antigo, tomando por vezes, como entre nós, nomes que sugerem os instrumentos barulhentos que neles se empregam. E à cerimónia afim que é o passeio a cavalo, de costas, que se impõe aos maridos em que as mulheres batem, chama-se mesmo «assuadas». Os «charivaris» nupciais constam também por vezes, como entre nós, de dramatizações com cortejos, carros, cenas animadas, numa paródia de boda, que van Gennep considera de carácter compensatório, considerando que o cenário cerimonial autêntico das segundas núpcias é muito pobre.
10Como dissemos, não é porém apenas em vista a este tipo de casamentos que têm. em Portugal, lugar as manifestações da vindicta popular do tipo das «assuadas». Em terras mirandesas faz-se «chocalhada» sob a forma de cortejo nupcial parodial com algazarra e chocalhos, ao noivo que. sendo de aldeia diferente da da noiva, não «pagou o vinho» à mocidade local; e encontramos costume paralelo em França, onde as taxas impostas aos nubentes são de uso geral e onde os «charivaris» podem ser remidos com essas taxas, devidas hoje ao grupo dos moços que no ano em curso irão fazer o serviço militar – os «conscrits» –. Por vezes, vê-se também o costume estender-se a casamentos que não ofendem propriamente qualquer conceito ou padrão colectivo local, por razões de mera vingança ou despeito por parte de pretendentes preteridos. Por outro lado, temos notícias significativas de «assuadas» feitas no século xvi contra cristãos-novos, em Vila Viçosa, em que os autores são acusados de irem de noite cantar cantigas injuriosas e pôr chifres, ossadas ou coisas sujas, às portas, tangendo buzinas e até agredindo os vizinhos. Em Guimarães, conhecemos o costume dos «ruge-ruges», com barulheira de panelas e latas, que se faziam à porta daqueles que deixavam passar a Quaresma sem se desobrigarem. Em Almodôvar, ainda hoje se celebram com «chocalhadas» certos acontecimentos que o povo considera dignos de troça; e em S. Pedro de Oliveira (Braga), vimos uma algazarra agressiva feita durante várias noites contra a casa do informador fiscal, que incorrera em especial desagrado dos vizinhos.
11Dentro desta mesma categoria de «assuadas» feitas em vista de acontecimentos avulsos, distinguiremos especialmente as troças académicas coimbrãs, que comportam por vezes elementos eruditos ou espirituosos, e uma autêntica estrutura processual, tomando o aspecto de uma execução de sentença proferida contra actos em que a academia se sentiu atingida nos seus direitos ou prerrogativas tradicionais. Na ficção, temos o exemplo da «assuada» feita ao doutor João Vazeu, um dos opositores à catedrilha de leis, cuja oposição se devia votar dentro de dias, e a quem os estudantes preferiam o doutor Fernão Pires, no relato de Arnaldo Gama em A Caldeira de Pêro Botelho, referido ao século xvi; nessa época, os estudantes que tivessem um curso de oito meses da Faculdade a que competia a oposição, tinham direito e até por vezes eram obrigados a votar nela, e por isso as «assuadas» e as desordens que acompanhavam quase sempre a eleição do professor eram muito frequentes e muito graves. Esta constava de uma algazarra «de brados, apupos, vaias e morras, em grego, em latim, e em vulgar, de mistura com os sons, ou fanhosos ou estridentes, de panelas velhas, de trompas, de tambores, rotos, de ferrinhos e de espadas a bater umas nas outras», e dela, no romance, tomava parte Luís de Camões. Eça de Queiroz menciona também nos seus Bilhetes de Paris, as «troças oficiais» ou «latadas» de Coimbra, em que os estudantes, numa «enorme multidão armada de tambores, panelas, latas, ferragens, apitos estridentes, buzinas horrendas», vão, alta noite, até cerca da casa do desgraçado que incorreu no desagrado académico, «e rompe bruscamente num charivari descomunal, que não cessa, vai mesmo crescendo demoniacamente, até que o «troçado» fuja pelos telhados, ou morra de terror, ou se humilde e implore absolvição». E recordamos o relato duma destas manifestações, feita por volta de 1900 ao comissário de polícia Ferrão que, em seguimento a vários desacatos, prendera alguns estudantes: obtido o perdão do ministro do Interior para os que haviam sido presos, a academia reúne para organizar o seu protesto, e decide desfilar a quatro de fundo, em silêncio e em peso, perante a casa do visado, à estrada da Beira; este, duma sacada, assiste impassível a todo o desfile, que dura horas; mas, alguns tempos depois, endoidecia; vemos aqui, portanto, o elemento ruidoso, essencial das «assuadas», tomar a forma inesperada e original de silêncio agressivo. Nós próprios assistimos a uma «assuada» feita em frente ao teatro onde um colégio de meninas, que. contra o costume, não distribuíra «borlas», tentava em vão fazer-se ouvir num espectáculo de coros que a barulheira da rua confundia totalmente.
12Estas costumeiras têm sido interpretadas de várias maneiras. Relativamente às «assuadas» nos casamentos de viúvos e de velhos. Beaulieu. em França, admite uma explicação mitológica ou mágico-religiosa, vendo na origem dos «charivaris» o medo aos mortos em geral, e em especial ao cônjuge defunto; para certos autores, os arruaceiros são mesmo os intérpretes deste último, dizendo-se em alguns sítios que a mulher defunta vem à cama puxar pelos pés da segunda esposa; mas nos «charivaris» que conhecemos nada há na verdade que caracterize ou sugira qualquer culto, e em especial o dos mortos, apresentando-se sempre a cerimónia como uma actividade eminentemente profana; além disso, aquela hipótese explicaria que se recorresse às bruxas para se evitar o malefício. mas não que se pudesse evitar a «assuada» pagando uma taxa à mocidade local, como sucede em França. Aquele mesmo autor julga também que as dramatizações de que muitas vezes consta a manifestação – cortejos parodiais, manequins a cavalo, etc. – representam o defunto, que se pretende apaziguar propiciatoriamente ; mas, na verdade, se assim fosse, o manequim seria tratado com respeito, e não queimado, troçado, atirado ao lixo. etc. Acresce que. com frequência, nessas dramatizações, figuram animais cornudos, que significam sem dúvida uma ameaça intencional para o futuro marido. Outros autores falam nos «charivaris» protectores, que seriam mais um exemplo de barulheiras apotropaicas, mas que se deveriam então fazer preferentemente aos casais jovens. Rodney Gallop, pelo seu turno, também dentro duma orientação mítico-religiosa. relaciona o costume das «assuadas» contra casamentos de velhos ou viúvos com a «Serração da Velha» a meio da Quaresma, que lhe parece uma sobrevivência de remotos cultos naturalísticos e ritos de fecundidade, considerando-as o castigo da esterilidade que afecta os velhos. Entre nós, de modo parecido, Cláudio Basto vê nas «assuadas» contra estes casamentos uma «censura expansivamente manifestada pela opinião popular», que considera de resto de fundamento justo: um princípio de evidente moralidade, visto que a propagação da espécie ou a constituição da família em boas condições, seria o mais importante do casamento; este deveria ser um meio de prolongar capazmente a espécie humana, o que é prejudicado pelos casamentos que merecem as «assuadas». De resto, notando que tanto as designações como o contexto destas manifestações comportam normalmente o uso do chifre e do chocalho como instrumentos característicos e injuriantes. vê uma relação entre este uso nas «assuadas» e a designação popular dos cônjuges enganados, uma vez que os velhos que voltam a casar sentenciam-se a si mesmos a tal estado; e entende que é do uso do chifre nas «assuadas» contra casamentos em que o adultério era de prever, que derivou a designação por que são conhecidos os cônjuges que o sofrem.
13Van Gennep, ao mesmo tempo que formula a crítica que expusemos à hipótese de Beaulieu. crê ver a motivação profunda das «assuadas» em razões de carácter sociológico: sem dúvida, elas chamam a atenção para um elemento que está certamente na base das troças ou represálias dirigidas contra os casamentos de velhos e viúvos – a ideia da fecundidade ameaçada –: porém, como vimos, estas manifestações não só visam muitas vezes situações não matrimoniais que merecem a censura da comunidade, mas. mesmo quando é esse o caso, dirigem-se não apenas a casamentos de velhos ou viúvos, mas também, em termos idênticos, e de um modo mais geral, a toda a espécie de outros casamentos que desrespeitam igualmente certas normas e representam atitudes de desintegração social ou cultural: maridos cucos ou em quem as esposas batem; mulheres adúlteras; raparigas desavergonhadas ou que têm amores com um homem casado, ou que deixam um noivo apreciado para casarem com um homem rico, velho ou de fora: noivas grávidas: rapazes que se vendem às viúvas ricas; homens de fora da terra que se recusam a pagar a taxa de casamento ao grupo local dos «conscrits» (como vimos entre nós em terras de Miranda); e também acontecimentos avulsos de diversa natureza, que. como os que enunciamos, também constituem ofensas às formas de pensar e aos comportamentos fundamentais do grupo. As «assuadas» apresentam-se pois como uma espécie de censura ou penalidade exercida sobre os contraventores da normalidade social e cerimonial, e de conceitos, costumes e padrões locais, e que conjugam forças obscuras de conservação e defesa de instituições basilares com o sentido parodial do povo, e ainda com um padrão de policiamento e interferência que é típico das sociedades restritas e de estrutura tradicional. Proibidos por concílios e sinódios. que os encaravam como sobrevivências pagãs, e pelos reis, governadores e parlamentos, desde o século XIII, e pelo código penal, os charivaris subsistiram como um verdadeiro direito popular4.
Pulhas » e « testamentos
14Estas outras duas formas, embora completamente diferentes e menos incisivas do que as «assuadas». são também, como elas, profundamente significativas e de velha tradição entre nós. ocasiões especialmente propícias em que se revelam a mentalidade e o sentido satírico e humorístico do povo, e se expande esse «padrão de interferência», próprio das comunidades restritas, e o sentimento de unidade do grupo.
15Entre as «assuadas» e os «testamentos» e «pulhas» podem de facto apontar-se algumas diferenças essenciais. Assim, de um modo geral, nas «assuadas» o protesto é total, e o chiste é notória embora indirectamente agressivo, enquanto que nas «pulhas» e «testamentos» falta esse elemento, e até a sua expressão ruidosa: aí, a sátira é sobretudo humorística, ou quando muito cáustica. Além disso, as «assuadas» dirigem-se sempre contra actos ou atitudes especiais e definidas, duma actualidade aguda, e têm lugar na própria ocasião em que eles ocorrem; nas «pulhas» e «testamentos», pelo contrário, a sátira tem como objecto caracteres gerais das pessoas, faltas, pecadilhos ou fraquezas manifestas ou ocultas, factos passados – geralmente registados mesmo durante o ano –, em que estas se evidenciaram particularmente. Por isso, as «assuadas» não têm data prefixada: organizam-se como resposta imediata a uma ofensa aos interesses, padrões ou pensar colectivos; ao passo que os «testamentos» e as «pulhas», nas suas formas mais típicas e usuais, se integram no cenário normal de certas celebrações cíclicas, meros pretextos que. em si mesmo, nenhuma relação têm com os factos ou as pessoas satirizadas. E finalmente, nas «assuadas» o protesto ou represália partem de todos contra o autor ou autores do acto considerado ofensivo, enquanto que nos «testamentos» e nas «pulhas», inversamente, vê-se por assim dizer – e pelo menos potencialmente –. um (ou um número restrito) – o autor do libelo – contra cada um de todos os componentes da comunidade.
16Por seu tumo, os «testamentos» e as «pulhas», embora idênticos no fundo – nuns como nas outras há uma voz impessoal, geral nas «pulhas» e encabeçada num personagem de ficção nos «testamentos», que dá a cada um o que lhe compete, factos da mesma natureza segundo conceitos afins, por processos paralelos; e nuns como nas outras, do mesmo modo, é a própria licenciosidade cerimonial das celebrações em que se integram quem justifica e autoriza a manifestação – mostram também entre si diferenças importantes, designadamente no que respeita ao cenário respectivo da sátira, àquilo a que podemos chamar a sua realização teatral.
17De um modo geral, a sátira e os factos visados nas «pulhas» têm maior alcance moral e social, um carácter mais delicado, grave e indiscreto, são mais cáusticos e contundentes; nos «testamentos», como regra, sobreleva o lado humorístico ou quando muito ridículo das situações, e os «legatários» riem sem azedume justificado. As «pulhas» revelam de preferência factos ocultos, coisas íntimas que os interessados pretendem manter secretos, e podem ser acentuadamente acusatórias. Os «testamentos», pelo contrário, são geraimente inofensivos, e limitam-se a pôr em relevo pequenas fraquezas – manias, desejos ridículos que todos conhecem, defeitos, etc. –. Por isso, os «testamentos» são directos em relação às pessoas, e indirectos em relação à sátira : a pessoa é mencionada pelo seu nome, mas é preciso saber-se qual o sentido do chiste que lhe é dirigido para se entender a intenção espirituosa; ao passo que nas «pulhas» os nomes geralmente não se proferem, e a imputação é crua e directa; apenas na forma exterior da sua expressão e no processo da alusão indirecta se pode encontrar um elemento humorístico.
18As «pulhas» são sátiras acusatórias, sob a forma de alusões indirectas e humorísticas, enumerando faltas, fraquezas, pecados ocultos ou manifestos, situações que se pretende furtar ao conhecimento público, feitas em nome individual por uma pessoa ou um grupo de pessoas, que geralmente disfarçam o seu aspecto ou a sua voz. para não serem reconhecidas, e que figuram no cenário de determinadas celebrações cíclicas, nomeadamente o Carnaval, cuja licenciosidade cerimonial característica desculpa e justifica a indiscrição do assoalhamento, por vezes muito violento e ofensivo. Nos casos mais correntes, as pulhas são gritadas através de funis por um grupo que para tal se postou em qualquer ponto estratégico da povoação – não raro o mesmo todos os anos –. ou tomam a forma de diálogo entre dois grupos afastados um do outro, sublinhando as respostas com grandes algazarras, gargalhadas e buzinadas. Sob um outro aspecto. elas podem consistir em acusações de gravidade, autênticas difamações, em que apenas o nome do visado não é proferido, embora claramente insinuado, ou materializar-se em números parodiais de cortejos públicos, imitando tipos que o humor e a sátira populares gostam de atingir, como o «doutor», o «polícia», etc.
19No Sul. de um modo geral, temos notícia, em relação a vários lugares – Sesimbra. Ourique. Odemira. etc. – das «paródias» ou «cegadas» do Carnaval. que por vezes figuram acontecimentos cómicos ocorridos a alguém durante o ano. e servem de pretexto para os participantes proclamarem a respeito de todas as pessoas aquilo «que não se quer que se diga». Em terras nortenhas, no Pocinho (Vila Nova de Foz Côa), para estas «pulhas carnavalescas», uns poucos de homens colocam-se em diversos pontos da povoação, distantes uns dos outros, e com grandes funis vão contando, como que em tonitruante segredo, as coisas grotescas ou censuráveis que se passaram com quaisquer pessoas da terra; em Freixo de Numão. semelhantemente, desde os Reis até Terça-Feira Gorda, os « pulhadores », à noite, em volta da morada da pessoa a quem se dirigem as críticas, em voz alta e disfarçada, dialogando entre si. fazem o relato dos actos censuráveis ou ridículos que essa pessoa cometeu; por vezes ela responde aos noctâmbulos, e então estes, para não serem reconhecidos, fogem, mas regressam em seguida para prosseguirem o diálogo interrompido5. Na Figueira da Foz a costumeira parece ter também sido conhecida, com o expressivo nome de badalo 6Em vários lugares do concelho de Vila do Conde, as «pulhas» tomam o nome de « críticas », e são feitas ora por pessoas mascaradas (Mindelo). ora em nome de um boneco carnavalesco que corre as ruas (Vila Chã), etc.
20Como exemplo característico de um processo típico de «pulhas» do Camaval, descreveremos o costume de Vila Boim (Elvas), que parece ali ser de muito velha tradição, e que contém, particularmente bem desenhados, os elementos fundamentais da instituição: nessa povoação, pelo Entrudo, reúnem-se. à noite, uma meia dúzia de homens, ou mais. que se vestem de lavadeiras, põem a máscara, e. com trouxas de roupa à cabeça, batem à porta das casas de vários lavradores, previamente avisados da visita: uma vez recebidos, pedem alguidares com água para lavarem a roupa: e. de joelhos em frente a esses alguidares, como autênticas lavadeiras, começam a lavar e a bater a roupa; a pouco espaço, uma das «lavadeiras», sob qualquer pretexto, descompõe de palavras a «companheira» do lado, armando-se em seguida uma grande zaragata entre todas, em que se vão assacando reciprocamente as responsabilidades de todos os pecados de amor ou outras paixões ocorridas desde o Entrudo anterior na povoação7.
21Em certas áreas, nomeadamente em diversas partes da Beira Baixa, estás críticas tomam os nomes de chorar (Aldeia de Santa Margarida – Idanha-a-Nova). arremedar (Oleiros), correr ou matar o Entrudo: «noite alta, nos três dias consagrados à folia... rapazes, aos grupos, sobem aos lugares mais elevados da povoação, às vezes mesmo ao campanário da igreja, e falando através dum funil ou de uma cabaça (para que a voz tenha mais ressonância e não possa ser identificada) fazem... a crítica a actos e factos passados durante o ano... que por vezes torna públicos acontecimentos íntimos, desconhecidos de muitos moradores. Tomando a palavra, um dos do grupo diz. por exemplo: *Ó Sr.a F. (a pessoa visada, tida e havida por pouco asseada). Esta lhe vamos anotar. Morando perto da água. É raro a cara lavar’. – ‘É certo ou não, companheiros?’ Respondem todos em coro : ‘É certo, é certo. Ah! ah! ah!’ E as gargalhadas prolongam-se». Em Oleiros, o «arremedar o Entrudo tem lugar pouco antes da data desta celebração e os «choradores» andam pelas ruas, parando nos sítios mais convenientes ; e em Aldeia de Santa Margarida faz-se a recitação à porta da casa das pessoas visadas. Estes divertimentos não só criam muitas vezes situações de melindre, publicando segredos íntimos ou assoalhando coisas que se pretendia ocultar, mas servem mesmo para porem a correr calúnias e supostos factos que prejudicam a reputação das pessoas. Por isso, em capítulos de visitas, de 1653 e 1688, eles – que tinham lugar desde o Natal até ao Entrudo – são proibidos. E nos nossos dias são causa de conflitos graves e até de pugilatos8.
22Referido aos Açores, na Bretanha (ilha de S. Miguel), encontramos o relato de um acontecimento, aliás estreitamente afim destes, segundo nos parece de carácter excepcional e até ocasional, e que apresenta caracteristicas peculiares: «Pelo tempo do Entrudo ocorreu a uma mulher, natural e moradora na Bretanha, vir correndo a freguesia a fim de arranjar algum dinheiro, e isto atrás de dois jumentos, em que tinha colocado dois bonecos (ambos de palha e vestidos segundo o uso da terra), a que chamava o Entrudo e a mulher. A exibição das duas figuras era acompanhada (de) quadras, em que ela cortava na casaca dos patrícios que não aceitavam de bom grado aquele modus vivendi... Esta mulher viveu uma vida sempre alegre e dirigindo improvisos a tudo e a todos»9.
23Em certos casos, o costume destas «pulhas» ou paródias satíricas aparece hoje em versões amáveis. Em Turquel. por exemplo, elas transformaram-se em discursos laudatórios ern verso, ditos por um grupo e apoiados por outro: em Palmeia, elas tomaram a forma de um cortejo de carros ornamentados, com pessoas fantasiadas, etc.10.
24Integradas noutras celebrações, indicaremos uma instituição afim, que se aproxima sem dúvida das «pulhas» que descrevemos, no seu processo acusatório e na natureza dos factos em causa, mas que não tem carácter satírico nem camavalesco, nem mesmo feição popular qualificada. Referimo-nos aos libelos que se incluíam nos cortejos quaresmais das vias-sacras, correntes em todo o Minho, e em especial em Guimarães e em Braga. Em Guimarães, há cerca de cem anos, tinham lugar, na noite de cada uma das sextas-feiras da Quaresma, as vias-sacras rezadas dos franciscanos, que saíam da sua Ordem, e corriam as ruas da cidade: «Abriam o cortejo duas alas sombrias de hábitos negros da Ordem, sacudindo os cordões de esparto; ao centro, a pequena distância uns dos outros, seguiam vários pregadores, revestidos de batina e murça. empunhando breviários: atrás, fechando o sombrio cortejo, os irmãos descalços tomavam aos ombros a padiola que arvorava a cruz monogramática, característica destas manifestações de culto. Durante o trajecto da via-sacra nocturna. janela alguma ou portada se conservava aberta, e era absolutamente proibido às mulheres aparecerem onde quer que fosse. Depois, de ora em vez. a procissão parava. Então, um dos missionários iniciava o seu sermão, pregando, não sobre assuntos religiosos, mas sobre factos da vida particular dos indivíduos que moravam próximos. Adultérios, roubos, ambições, dissidências políticas – os malhados e o Senhor D. Miguel I. o testamento de fulana. a burla de sicrano, a mulher de beltrano. etc. –. tudo isso vinha à praça, envolto sempre numa interpretação velhaca dos sete pecados capitais, ou de alguma patética evocação da vida ardente de além-campa... E o cortejo continuava depois, percorria toda a cidade, por dentro e por fora do delineamento das antigas muralhas»11.
25Em Braga, as «pulhas» da mesma categoria eram ditas pelos «homens dos fogaréus», que faziam parte da procissão dos Passos, em Quinta-Feira Santa, conhecida pela procissão dos fogaréus. O cortejo saía, à noite, da igreja da Misericórdia, « e percorria grande parte da cidade. À frente vinham os homens dos fogaréus empunhando uma haste ou espécie de lança de madeira, da qual pendia, desviada ao lado por um palmo de arame grosso, a pequena tigela de metal cheia de trapos embebidos em gorduras e vistosamente inflamados... É de saber que estes homenzinhos se dedicavam ao mister de divulgar os mais respeitosos segredos de família e de inventar as mais infames calúnias. A seguir aos fogaréus iam os farricocos, sacudindo o ruge-ruge, de prevenção ou castigo àqueles que até àquela altura da Quaresma ainda se não tinham confessado, e produzindo uma algazarra infernal. Depois seguia o préstito verdadeiramente religioso. no qual se incorporavam os ‘penitentes’ »…12.
26Em espanhol existe também a palavra pulla com significado afim de pulha em português, com a diferença de que no país vizinho as pullas tinham mais um carácter obsceno e sujo e eram ditas pelos caminhantes uns aos outros ou aos lavradores, especialmente em tempos de segas ou vindimas.
27O costume destas troças satíricas conhecia-se já na época romana, encontrando-se alusões a ele em diversos autores latinos, como por exemplo Horácio13.
28Os «testamentos», como o seu nome indica, são,pelo seu lado, textos feitos em nome de um personagem fictício – no caso mais típico uma personalização de certas celebrações cíclicas, designadamente o «Entrudo», a «Velha», o «Judas», os «Compadres» e as «Comadres», etc., geralmente representados por um boneco que no fim de uma cerimónia parodial é imolado, deixando a cada um dos componentes do grupo a que diz respeito um legado jocoso em que se combinam traços objectivos que o definem e quaisquer características da pessoa visada. Estes «testamentos» são de velha e larga tradição entre nós, e ainda hoje muito correntes, sobretudo nas aldeias e em meios restritos, onde os elementos da cerimónia são de todos bem conhecidos. Eles abrem geralmente com qualquer curto proémio, que pretende imitar o formulário notarial, não raro mesmo com sugestões de latinório, dando por vezes, sob forma humorística de considerações críticas ou morais, a visão das situações e males ou erros da época, que vão ser objecto da sátira. A essa primeira parte segue-se a enumeração dos legados grotescos em que o personagem, além de dispor dos seus atributos característicos – o «Judas», das trinta moedas; o «Entrudo», da expressão dos seus excessos glutões, escatológicos e obscenos, etc. –. se compõe com os traços que convêm aos legatários, para que as alusões sejam possíveis e surtam o efeito desejado, e se integrem no ambiente geral do meio e da celebração em que decorrem. Assim. por exemplo, a um conhecido comilão, o «Entrudo» deixará «a minha barriga»; a um bêbado, a «minha garganta» ou «o meu copo»; a alguém a quem aconteceu um precalço mais ou menos divertido ou desfrutável, qualquer objecto que o focalize – se perdeu o comboio, herdará «a minha burra, para chegar mais depressa», etc. Muitas vezes, contudo, os personagens autores de «testamentos» desta natureza nada têm que ver com quaisquer celebrações cíclicas, e constituem figurações de determinados tipos avulsos, acontecimentos ocasionais, ou outros factos que interessem à vida local, e que por isso a sátira popular pretende atingir com o seu sentido mais ou menos cáustico. Os «testamentos» desta segunda espécie têm naturalmente um carácter mais acentuadamente urbano do que os anteriores, mas são também de geral e velha tradição entre nós; temos deles um exemplo eminente no «Testamento» da Maria Parda vicentina, que se segue ao seu «Pranto», «por que viu as ruas de Lisboa com tão poucos ramos nas tavernas e o vinho tão caro, e ela não podia viver sem ele», e constitui uma das mais pitorescas e notáveis profissões de fé báquicas que jamais se escreveram. No século XVIII, a moda destes «testamentos» conhece uma grande voga, sobretudo em Lisboa, aparecendo inúmeros folhetos com composições deste género, geralmente em verso, referidos a tipos característicos da época e da moda, como por exemplo o «Novo Testamento de Hum Casquilho Afrancesado», que nos patenteia, em comentário satírico e jocoso, a reacção popular perante a nova pragmática pombalina que regulamentou o trajar português; nos seus próprios dizeres, trata-se do «testamento e última disposição que de seus ornatos e enfeites e adornos fez huma França por causa da nova pragmática. Querendo reformar-se, deixar o mundo e entrar em Religião. Repartindo primeiro pelos conventos pobres as suas melhores gallas, e fazendo outras obras pias. Como nelle pode ver o fleumático Leitor». O folheto é datado de 1751, e, caso curioso, impresso na «Catalunna»; ou o «testamento» da «Fofa» – essa dança desbragada e popular das ruas de Lisboa – da autoria do «memorável e celebérrimo estapafúrdio Manuel de Paços» (sic).
29Numa categoria afim destes «testamentos» pode-se incluir o costume da divisão do burro, também próprio do ciclo carnavalesco, que Jaime Lopes Dias encontrou em Oleiros e na Sertã: «Um grupo de rapazes, formando a ‘Ronda’, sobe a um cabeço ou elevação nos arredores das povoações, ou a balcão de quinta próxima, acompanhado de chocalhos, pífaros, latas velhas, tambores, harmónios, etc. Os componentes do grupo, falando através de um cabaço partido em forma de funil... distribuem as diversas partes do burro por pessoas suas conhecidas a quem desejam surriar ou irritar, em quadras improvisadas. »14
30Como formas de vindicta popular, os «testamentos», portanto, são como que um «jornal da verrina do povo», «complexos de ironia, de crítica social e impropério de sentimentos», representando a crítica da alma popular aos vícios e mataduras da sociedade sua contemporânea15. Como as «pulhas», de que já falámos – e principalmente os que se referem a personificações das celebrações ciclícas fundamentais –. eles constituem a cena final de um pequeno auto sintético. desenvolvido em monólogo, que consta porventura da sua deambulação, da exposição da sua natureza essencial, do seu julgamento, condenação e execução ; mas, como dissemos, enquanto que no processo dramático daquelas a voz é, por assim dizer, impessoal, nos «testamentos» a sátira ou censura chistosa é proferida em nome próprio de um personagem definido, e dirigida especificamente contra cada um dos componentes da comunidade. Além disso, nos «testamentos» as alusões são normalmente mais directas e inofensivas do que nas «pulhas», sobrelevando a feição jocosa, que acentua acontecimentos burlescos e pequenas fraquezas ou traços divertidos das pessoas em causa, de preferência a escândalos ou casos morais graves. Contudo, não raro os «testamentos» assumem também essa feição, podendo a «catilinária» ser, na expressão de Luís Chaves, «pessoal e tremenda». Ulteriormente, estes «testamentos» haviam deixado de se fazer, porque dependiam de autorização superior, o que obrigava a diligências embaraçosas e onerosas16.
31Dentro de um tipo especial de celebrações, em que o sentido primordial da vindicta popular se encontra ainda patente sob o formulário cerimonial dominante, distinguiremos, pela sua importância e sugestiva problemática que suscita, a «Serração da Velha». Lopes Cardoso, notando que o costume se praticava desde o Minho ao Algarve e de Aveiro à fronteira com a Espanha, indica os seguintes elementos integrativos da cerimónia, esclarecendo porém que em cada caso concreto eles não concorrem todos necessariamente: 1) Uma data fixa, que corresponde à noite da quarta-feira que marca o meio da Quaresma; II) um maior ou menor aparato, que pode ir do cortejo pomposo até à simples zaragata feita com um cortiço ou um serrote, tendendo-se nos núcleos urbanos para o primeiro, e nos rústicos para o segundo; III) um «testamento», mais ou menos extenso, no qual são contemplados os vizinhos, e a que já nos referimos; IV) a representação da velha por intermédio de uma pessoa viva, um boneco de palha ou um cortiço; V) a serração final da velha ou, em casos mais raros, a sua queima; VI) a distribuição de pauladas pela assistência em casos muito contados (Porto, Guimarães, Turquel, Lisboa, Elvas)17. Nos casos mais típicos, a cerimónia consiste numa manifestação trocista e ruidosa, com ressaibos persecutórios e provocativos, dirigida pela juventude masculina local contra as mulheres velhas – teoricamente a mais velha, na realidade qualquer mulher idosa, e sobretudo se for rabugenta –: na noite de quarta-feira a meio da Quaresma, o ajuntamento, munido de latas, um boneco figurando a «velha», ou um cortiço, corre a aldeia, e, à porta da mulher idosa mais representativa, pára, «serra a velha» ou o cortiço (que se despede em altos brados e declama o seu « testamento »), e queima-a ou destrói-a. Por vezes, a cerimónia comporta dois bonecos, a «Velha» e o «Velho», que são ambos «serrados»; tal sucede, por exemplo, na Póvoa de Varzim e em Afife e Montedor (Viana do Castelo), onde além disso a algazarra se faz com um instrumental característico de « zaclitracs », búzios ou chifres e matracas ou «rac-racs»18. Noutras localidades, como Aveiro e Lagos, por exemplo, o «Velho» é representado por um homem que acompanha a cortejo, carpindo a perda da consorte.
32Cerimónias idênticas ou afins destas encontram-se também em Itália, na Suíça, em França, na Espanha e ainda nos Eslavos do Sul. Em certos locais, a comemoração do dia consiste em se pendurarem nas costas dos passantes serras de papel que se confeccionaram ou compraram, ou em lutas entre a juventude armada de serras de madeira. E os ciganos do Sul da Europa fazem também uma «Serração da Velha», que identificam com a «Rainha das Sombras» que se some debaixo da terra com a chegada da Primavera, apresentando por vezes traços visíveis que a aproximam da «Morte», e que tem lugar no domingo de Ramos19. O nome da «Velha» aparece também, como assinala van Gennep, numa expressão meteorológica, que sob a forma de «Dia da Velha» designa um período que vai dos fins de Fevereiro aos princípios de Março (ou dos fins deste mês aos princípios de Abril), e que se encontra pela primeira vez em escritores árabes do século XIII, que lhe atribuem uma origem grega. O sentido e significado do personagem, do seu nome e da sua «serração» festiva e cerimonial naquele dia certo constituem problemas controvertidos, que se põem especialmente a partir das origens que lhes são atribuídas conjecturalmente. Na esteira das teorias gerais das sobrevivências, as orientações mitográficas e mágico-religiosas vêem na «Velha» mais uma vez reminiscências da personificação das forças destrutivas do Inverno ou da Morte, integrada no complexo ritual desses cultos naturalísticos a que já nos temos referido. A «Serração da Velha» seria assim um tipo de celebrações da «Expulsão da Morte», que marcam, no limiar da Primavera, o renascer do novo ano agrário. Saintyves entende-a como sendo a personificação do ano velho; Rodney Gallop julga o costume «difícil de se interpretar com segurança», e crê que a «Velha» combina os caracteres do Ano Velho, do Inverno e do Espírito da Vegetação, e que a algazarra é «o castigo da esterilidade que afecta os velhos». Entre nós. Teófilo Braga relaciona a «Serração da Velha» com a personificação da própria Quaresma, da qual marca o meio. Van Gennep, pelo contrário, explica a designação desde dia (e de outros também destacados, da Quaresma), e as imagens e representações simbólicas dela derivadas, como consequências rituais típicas das simples mudanças do calendário. ditadas pelos poderes eclesiásticos ou laicos, mas que apenas muito lentamente reagem sobre as populações rurais. «Mesmo em nossos dias», diz este autor, «podem-se discernir, no cenário do Carnaval-Quaresma, elementos que só se explicam pela recordação do antigo calendário.» De facto, para ele. não chega, no que se refere à «Velha», a haver problemas «quando a reforma calendária deslocou as datas oficiais, o hábito popular persistiu durante algum tempo, digamos uma geração pelo menos, a executar as cerimónias competentes na data tradicional. »20 A dimensão histórica não nos parece porém, neste caso como em tantos outros, de desprezar. É fora de dúvida que existe uma estreita relação de semelhança formal entre as cerimónias da «Serração da Velha» e das «assuadas» a que já nos referimos; em ambas, verifica-se a manifestação colectiva ruidosa contra uma pessoa determinada, com intenção persecutória e provocativa, como expressão característica da vindicta popular dirigida contra um acontecimento definido. Mas, por outro lado, elas diferem profundamente entre si pela natureza dos factos em causa numas e nas outras; enquanto que as «assuadas» representam a censura do povo perante uma situação moral ou social criada voluntariamente pelos seus autores, na «Serração da Velha» não há qualquer intenção expressa de castigo ou censura, e o simples mecanismo das «assuadas» vulgares não basta para explicar a zaragata. Poder-se-ia certamente buscar essa explicação na mera crueldade da juventude, que troça e persegue sem piedade a velhice e a decadência lamentável que ela arrasta consigo. Mas a celebração encerra, além disso, um elemento cerimonial e tradicional manifesto, que não se pode excluir. É possível, por isso, que a explicação deste costume esteja, uma vez mais, no sincretismo de motivações de duas ordens diferentes, que actuam convergentemente : por um lado, as razões psicológicas de perseguição e interferência. que estão na base das «assuadas» em geral, e que fazem dele por isso uma forma característica da vindicta popular; por outro, a passividade das práticas de fundo tradicional, onde se manifestam sobrevivências de velhos conceitos míticos e mágico-religiosos. E é mesmo de notar que, embora, como dissemos, este aspecto não explique o contexto das «assuadas» em todas as suas formas, algumas espécies encerram sem dúvida uma ideia basilar difusa de protesto contra a esterilidade, que se manifesta na censura ou crítica contra os casamentos ou uniões sexuais que contrariam os padrões habituais do grupo, em que. por princípio, a fecundidade se encontra ameaçada, derivem eles ou não de qualquer prática relacionada com remotos ritos de fertilidade.
Casos avulsos e especiais
33O complexo de sentimentos, intenções, padrões e reacções que entram na composição da vindicta popular encontra-se ainda, no seu pleno significado. noutras celebrações, actos ou factos, igualmente tradicionais e populares, mas que possuem um carácter especial e menos geral, e ocorrem em áreas muito definidas e limitadas; e também, em formas por vezes atenuadas ou indirectas, como elementos particulares compreendidos em certas cerimónias da mesma natureza, que, em si próprias, nada têm porém que ver com a instituição em causa. Dentro desta última categoria, mencionaremos em especial os «casamentos» carnavalescos. que têm lugar em inúmeras regiões do País, na noite de Terça-Feira Gorda: a brincadeira é geralmente levada a efeito pelos rapazes, que, repartidos em dois grupos, se dispõem em outros tantos pontos estratégicos, sobranceiros à povoação ; e então, de um dos grupos para o outro, os mais graciosos, por meio de um funil ou embudo, vão propondo nomes, aos quais os do outro lado, pelo mesmo sistema, atribuem o par escolhido de forma a acentuar, pela sua associação, o ridículo das pessoas visadas, e atribuindo-lhes dotes grotescos, quando não mesmo obscenos ou escatológicos.
34É sob este aspecto típico que o costume se encontra, por exemplo, na Lombada transmontana. Em Vinhais, novos e velhos reúnem-se em local conveniente e procedem à realização dos «casamèntos»; o pregoeiro avisa em altos gritos o começo do acto, e o grupo, que está armado com espingardas caçadeiras, dá uma descarga, repetindo isto de cada vez, sendo de notar que quanto mais simpatia têm os noivos, tantos mais tiros e vivas ao «Santo Entrudo» dão. Se a «noiva» não agrada ao «noivo», este dá um tiro isolado, e manda escolher outra. Nestes «casamentos», após a escolha de cada par. indica-se o respectivo dote chistoso e satírico, que os aparenta de certo modo com os «testamentos». Na região do Mogadouro, porém, ele apresenta-se sob uma forma diversa, em que parece notarem-se reflexos de outras instituições ; aí, na aldeia de Tó, os rapazes solteiros, para o efeito do «leilão» das raparigas, da Terça-Feira Gorda, dividem-se nos dois grupos dos mais velhos e dos mais novos, que levam então os nomes respectivos de «a Direcção» e «os esposados» e se reúnem em lugares diferentes da aldeia – geralmente em tomo de uma fogueira na «curralada» característica da casa dessa zona –; a «Direcção» vai então atribuindo sucessivamente as raparigas da povoação a cada um dos «esposados», por um certo preço, que é «a taxa»; um estafeta, de cada vez, vai comunicar a estes últimos a proposta dos outros, e perguntar ao indigitado se ele quer pagar a «taxa» e «ficar» com a rapariga, ou se haverá outro que queira dar mais; o mesmo estafeta volta a transmitir à «Direcção» a decisão dos mais novos, trazendo já o dinheiro da taxa – e assim até final do «leilão». Com o dinheiro das «taxas», o grupo dos rapazes compra vinho, doces, etc., para uma ceata que se come naquela noite. As raparigas – as «esposadas» – não sabem de nada, nem se foram «leiloadas», nem a quem, nem por quanto; no dia seguinte de manhã, sem os pais delas estarem presentes, geralmente na fonte, os «esposados» procuram encontrar-se com as respectivas «esposadas» ficando então «namorados» durante um ano: elas dão um abraço aos seus «esposados», e estes oferecem-lhes a roca e recebem em paga um par de meias feito por elas, cifrando-se nisto as obrigações criadas por este parentesco cerimonial peculiar.
35Parecem-nos visíveis, nestas praticas, as reminiscências de velhas organizações sociais da juventude, de tributos e ritos de iniciação ou de puberdade, noções de parentesco cerimonial temporário, com obrigações específicas dele decorrentes. etc., que teriam subsequentemente assimilado a costumeira mais geral dos casamentos carnavalescos: e esta hipótese é tanto mais plausível quanto é certo que dumas cerimónias e das outras existem sobrevivências nítidas na área transmontana.
36Como exemplo de práticas tradicionais que têm na sua base formas caracterizadas de vindicta popular, mas que são conhecidas apenas em áreas muito definidas e limitadas, indicaremos designadamente os «Pasquins » que outrora se faziam em Afife, e as celebrações peculiares do dia do Cuco (ou de S. José) em Fafe. Os «Pasquins», como o seu nome sugere, eram panfletos anónimos, quase sempre em verso, de crítica a quaisquer pessoas ou factos que se davam na freguesia; a princípio geralmente inofensivos, tomaram-se mais tarde marcadamente indiscretos e escandalosos, motivo pelo qual foram suprimidos pelas autoridades21. Estes «Pasquins», como vemos, apresentam grande semelhança com certas formas de «pulhas», mas diferem destas pelo facto de não estarem ligados a nenhuma data ou celebração especial, aparecendo com plena validade cerimonial por si mesmos, e em qualquer altura; além disso, eles eram escritos, como se tratasse de um jornal satírico local, enquanto que as «pulhas», como dissemos. se apresentavam sob a forma de pequenos dramas declamados, cuja licenciosidade se explicava pelos próprios fins ou natureza da cerimónia de que faziam parte. Por outro lado, em Fafe, encontramos no dia de S. José, ou dia do Cuco, o costume, marcadamente satírico e cáustico, de se colocar, de manhã, à porta das casas onde vivem maridos cucos notórios, uma cesta com um cuco figurado, em pano, algodão ou papel22. O fundamento basilar das assuadas típicas e o seu carácter estritamente pessoal aparecem assim, aqui, numa celebração calendária, fundido no próprio sentido da data, conferindo grande relevo a esta prática, que de resto se pode considerar excessivamente rara.
37Finalmente, numa categoria especial, mencionaremos ainda os apitos de barro que se vendiam em Lisboa por ocasião das festas de Junho e nomeadamente nos mercados, nas noitadas das vésperas de Santo António. S. João e S. Pedro. Esses assobios, a que se dava o nome de «rouxinóis» porque no seu bojo levavam água que fazia trinar o som que se insuflava pelo pipo, modulado de resto por vários orifícios, apresentavam-se sob a forma de bonecos com intenção satírica ou crítica, tendo por alvo personagens da política, da religião, da vida pública da cidade, etc., figuras que encabeçavam acontecimentos diversos que haviam incorrido no desagrado do povo, ou que. também por vezes, eram seus favoritos23.
38Vimos assim que as manifestações da vindicta popular são, entre nós. extremamente numerosas e variadas; elas não constituem, certamente, um traço típico exclusivo da nossa cultura, aparecendo, pelo contrário, sob os vários aspectos que descrevemos, no costume de muitos outros países; contudo, entre nós. elas ainda hoje se encontram em plena vigência, contrariada apenas por interferências policiais, que levam a marca dos tempos actuais mas são estranhas à sua evolução espontânea; e isso basta para atestar a sua coincidência com certas características básicas do nosso comportamento colectivo. E não devemos esquecer que já nos Cancioneiros se nota essa faceta do temperamento nacional, documentada nas cantigas d’escárneo e mal-dizer, que representam por assim dizer uma forma palaciana e culta das «pulhas» com que ainda hoje o nosso povo se diverte.
Notes de bas de page
1 «Cultura e Arte», página cultural de «O Comércio do Porto». 10-3-1959, 22-12-1959. 8-3-1960 e 26-4-1960.
2 Jacinto José do Nascimento Moura. Crioulo e Folclore de Cabo Verde (in Trabalhos do 1.° Congresso Nacional de Antropologia Colonial. Porto. 1934, II vol., pág. 287), vê nos pizzicatos das mornas cabo-verdianas « o ridículo e a ironia dos fracassos dos namorados e dos casamentos entre indivíduos de diferentes classes, idades e formosura».
3 Em Afife, e em certas outras povoações, dizem mesmo: «Tocar o corno a alguém». Cap. Cláudio Basto. Silva Etnografia. « Revista Lusitana », xxv, 149.
4 Arnold van Gennep. Manuel de Folklore Français Contemporain. Tome Premier. II. Paris. 1946. pág. 617 sg.
5 J A. Pinto Ferreira, Freixo de Numão. Porto. 1954, pág. 85.
6 Maurício Pinto e Raimundo Esteves. Aspectos da Figueira da Foz, 1945. págs. 63-65 : « 0 badalo era a folga da matulagem do burgo. E depois, ao dão-badalão do puxanço, toca a pôr ao léu a vida do morador do prédio»...
7 A. Thomaz Pires. Investigações Etnográficas, «Revista Lusitana», 12, Lisboa. 1909. pág. 171.
8 A. Alfredo Alves. Algumas tradições populares. «Revista Lusitana». III, Porto. 1895. pág. 76.
Por seu lado, em terras do Alto Paiva, este acto assumia um tom crítico menos directo e matava-se o Entrudo simplesmente a tiros de espingarda, na noite de terça-feira, seguindo-se a essa morte o seu enterro, com carpideiras (Fonseca da Gama. Terras do Alto Paiva).
9 Teophilo Braga. Cancioneiro Popular das Ilhas dos Açores. « Revista Lusitana », iv. Lisboa. 1895, págs. 314-315.
10 J. Diogo Ribeiro. Turquel folclórico. Esposende. 1927. págs. 79-80. Jaime Lopes Dias. Etnografia da Beira. I (2.a ed.) Lisboa. 1944, págs. 139-140.
11 Alfredo Guimarães. As Vias-Sacras. « Terra Portuguesa». I. Lisboa. 1916. págs. 68-69.
12 Ibid. págs. 69-70.
13 J. Leite de Vasconcelos. Tradições populares do século xviii, « Revista Lusitana », vi. Lisboa. 1900, págs. 276-278.
14 Jaime Lopes Dias. Etnografia da Beira, vi, Lisboa. 1942, pág. 66. Este mesmo autor, in Etnografia da Beira. VII. Lisboa. 1948, págs. 85-86 dá outras duas versões desta costumeira: 1) o -burro» a que se alude para ser «repartido» deve ser um animal, burro, mula ou cavalo, real, que morreu no período carnavalesco; 2) o dito « burro » é suposto, como no caso que transcrevemos no texto, mas os que o dividem estão repartidos em dois grupos (Castelo. Sertã); e a divisão tem lugar desde os Reis ao Camaval. Luís da Silva Ribeiro. Algumas palavras sobre o Vilão no teatro popular na Ilha Terceira, « Rev. Açoreana », iii, fase. 4. Angra do Heroísmo, 1945. págs. 323-324. fala também na «divisão do burro» em S. Miguel, que tinha lugar, como no primeiro caso atrás indicado, quando morria um burro.
15 Luís Chaves. Páginas Folçlcóricas. Porto. 1942, pág. 152, e Nos domínios da Etnografia Portuguesa, in « Ocidente », Vol. L. Lisboa. 1956, pág. 136.
16 Informação colhida em Seara (Ponte de Lima), em 1960, a propósito da «Queima do Judas».
17 Carlos Lopes Cardoso. O Serrar da Velha », in « Actas do xxiii Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências». Coimbra, 1956, tomo viii, págs. 47-53.
18 Nesta localidade, porém, a « Serração da Velha» e a leitura do competente « testamento » tem hoje lugar onde quer que se encontre público reunido, de preferência sob as janelas das raparigas casadoiras. a quem sāo endereçadas as alusões, que se referem sobretudo a temas amorosos.
19 J. G. Frazer. The Golden Bough (trad. franc.). l.e Dieu qui meurt. Paris. 1931. págs. 206 e seguintes.
20 Arnold van Gennep. Manuel de Folklore Frauçais Contemporuin. Tome Premier. III. pags 942-955.
21 Cfr. Avelino Ramos Meira. Afife (Síntese Monográfica). Porto. 1945. pág. 149.
22 Vejam-se tradições diversas – contos, anedotas, superstições, quadras, etc. –. relativos a maridos cucos, devoção a S. Comélio. etc., em Maridos Cucos. Subsídio para um estudo sobre o adultério nas tradições populares, de Augusto César Pires de Lima, in « Portucale ». Nova Série. n.° 1, Porto. 1946. págs. 27-34.
23 Cfr. Dr. F. Ferraz de Macedo. Cerâmica Popular Portuguesa : Assobios de agua, in «Revista Lusitana 3. ° ano. Porto. 1895. págs 82-84
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