Capítulo 4. Perfis dos grupos de música tradicional em Portugal em finais do século XX
p. 73-142
Texte intégral
Introdução
1Os grupos que representam a música, a dança e os trajos da sua localidade, região ou país, aqui designados pelo termo genérico grupos de música tradicional (GMT), são um dos resultados mais tangíveis do processo de folclorização. Os primeiros grupos surgiram na segunda metade do século XIX, mas é apenas a partir da década de 30 do século XX que um modelo para tais grupos se institucionaliza através de iniciativas e organismos do Estado Novo, com destaque para o concurso A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal (1938) e a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), o SNI e as casas do povo. Ao contrário do que se previa, o modelo de representação de tradições locais formalizado e institucionalizado pelo regime salazarista teve um grande incremento após o 25 de Abril de 1974. Trata-se de um dos fenómenos marcantes do século XX em Portugal, com impacte aos níveis local, nacional e diaspórico.
2Este artigo caracteriza os GMT no final do século XX, do ponto de vista geográfico, histórico, sociográfico e institucional, com base nos resultados do inquérito realizado pelo Instituto de Etnomusicologia (INET) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL),1 com a colaboração do Observatório das Actividades Culturais (OAC).2
3Tendo os GMT por objecto, o inquérito procurou indagar: a distribuição geográfica; a cronologia; o número de elementos; a estrutura social (constituição etária, género, parentesco entre os membros); os fundadores e as motivações para a formação e manutenção dos grupos; a autoclassificação dos grupos; as áreas geográficas representadas no repertório; a configuração dos grupos e os meios utilizados nas suas representações (instrumentos musicais, vozes, dança, trajo, etc.); o repertório e as suas fontes; os eventos em que actuam e as produções do grupo (espectáculos, fonogramas, livros, etc.); o estatuto jurídico; a pertença a organismos de regulação; o património pertencente aos grupos, as suas receitas e despesas e os apoios a eles atribuídos; a existência de um grupo infantil; os problemas enfrentados pelos grupos e os seus projectos para o futuro.
Quadro 4.1 Designação genérica (n = 988) (em percentagem)
Designação genérica | % |
Rancho folclórico | 44,3 |
Grupo folclórico | 26,3 |
Grupo etnográfico | 24,7 |
Grupo de cantares | 20,2 |
Grupo coral alentejano | 7,0 |
Grupo de cavaquinhos | 3,1 |
Tuna | 2,7 |
Grupo de bombos | 1,5 |
Zés pereiras | 1,1 |
Grupo de pauliteiros | 0,6 |
Outra (s) | 8,8 |
Quadro 4.2 Actividades performativas
Actividades performativas | Número | % |
Dança, voz e instrumentos | 696 | 70,4 |
Instrumentos e voz | 195 | 19,8 |
Só voz | 73 | 7,4 |
Só instrumentos | 19 | 1,9 |
Instrumentos e dança | 5 | 0,5 |
Total | 988 | 100,0 |
4Os grupos inquiridos, nos quais avultam os ranchos folclóricos, reflectem uma realidade complexa e diversificada que importa delimitar para fins operativos. Assim, entende-se por GMT os grupos formalmente estruturados, localizados em Portugal, que visam representar a música tida por portuguesa e “tradicional”, podendo exibir igualmente dança e/ ou trajo, contando com uma constituição estável e com actuações regulares.
5O inquérito foi formalmente dividido em duas fases. Constatando a inexistência de uma base de dados fiável e actualizada, numa primeira fase foi realizado o recenseamento dos grupos; numa segunda fase, tendo em vista a caracterização mais pormenorizada do universo dele resultante, a informação foi recolhida através da aplicação de um questionário escrito (ver anexo 1). Apesar da separação formal entre estas duas fases, elas estão intimamente ligadas. Por um lado, a aplicação do questionário exige um conhecimento prévio do universo em análise, designadamente quanto aos casos existentes e sua localização; por outro lado, a informação recolhida através do questionário permite controlar e completar o recenseamento.
6A fase de recenseamento decorreu entre Janeiro de 1998 e Julho de 1999. Foram utilizadas fontes primárias e secundárias, alargando sucessivamente o seu âmbito. Inicialmente, foram particularmente úteis as listagens do Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores (INATEL), da Federação do Folclore Português (FFP) e da Associação para a Defesa do Património Cultural Tradicional Português (ADPCTP), a que se juntaram os levantamentos realizados por organismos da administração pública local, regional e central e outros de carácter associativo.3 Esta estratégia permite abranger todo o território nacional (continente e regiões autónomas) e alargar o leque de GMT recenseados, tanto em número absoluto como na diversidade de perfis. Os dados constituem uma matriz informatizada cuja unidade de registo é o grupo.4 Deste recenseamento resultou uma base de dados com 2850 GMT em actividade em 1998, ano de referência do inquérito.
Quadro 4.4 Tipologia (n = 988)
Tipologia (14 tipos) | % | Tipologia (para cruzamentos sistemáticos) | % |
Rancho/grupo folclórico | 70,7 | Rancho/grupo folclórico | 71,2 |
Grupo de danças e cantares | 0,4 | ||
Grupo de cantares | 10,3 | Grupo de cantares | 10,3 |
Grupo coral alentejano | 6,8 | Grupo coral alentejano | 6,8 |
Tuna | 2,4 | Tuna | 2,4 |
Grupo de cavaquinhos | 2,1 | Grupo de cavaquinhos | 2,1 |
Grupo de bombos/zés pereiras | 1,1 | Outros tipos de grupos | 7,2 |
Grupo de pauliteiros | 0,4 | ||
Grupo de instrumentos tradicionais | 0,8 | ||
Grupo de música popular | 1,0 | ||
Grupo urbano de recriação | 2,0 | ||
Grupo coral | 1,0 | ||
Orquestra típica | 0,3 | ||
Outros | 0,5 | ||
Total | 100,0 | 100,0 |
7O questionário foi construído por uma equipa pluridisciplinar no âmbito do INET e testado junto de 18 grupos com diferentes perfis sedeados em várias regiões. Foi depois enviado às direcções dos grupos, por via postal, entre Março e Maio de 1999. Obtiveram-se 988 respostas válidas (35% dos recenseados) que seguem, com desvios máximos de +/-1%, a distribuição dos GMT recenseados por distrito.
Tipologia
8O universo dos GMT apresenta uma assinalável diversidade interna, parcialmente reflectida nas designações dos grupos, relativamente a características como: as expressões representadas (dança, canto e música instrumental), o repertório (géneros, fontes, áreas representadas), a utilização do trajo e a instrumentação. Através de uma pergunta de resposta múltipla (Q6.2), indaga-se o modo como os grupos se auto-identificam.5 Nesta questão solicita-se que, relativamente a opções previamente definidas (ver quadro 4.1), sejam assinaladas uma ou mais designações. Esta pergunta baseia-se na hipótese de que as designações dos grupos reflectem, em grande parte, a classificação émica do universo em estudo.
9As frequências simples permitem constatar que a designação mais referida é a de rancho folclórico (44%), seguida de grupo folclórico, grupo etnográfico e grupo de cantares, todos com valores acima dos 20%. Porém, constata-se igualmente que a grande maioria dos grupos se revê não numa, mas em várias das opções de resposta indicadas no questionário. Por exemplo, diversos grupos assinalam simultaneamente as opções rancho folclórico e grupo de cavaquinhos, ou grupo folclórico e grupo de cantares, etc. Depreende-se, portanto, que os grupos de maior dimensão se desdobram noutros menores, que utilizam parte dos seus recursos humanos e materiais. Nestes casos de desdobramento, a classificação, e respectiva contagem, é feita através do critério da predominância, adoptando a designação do grupo maior. Por exemplo, no caso de resposta múltipla nas opções rancho folclórico e grupo de cavaquinhos, seguindo o critério da predominância o grupo é integrado apenas no tipo rancho/ grupo folclórico. Mas esta opção não abarca todas as respostas múltiplas, designadamente quando se trata de grupos de dimensões iguais ou próximas, como é o caso de rancho folclórico e grupo folclórico.
10Assim, para dar conta do universo em estudo, delimitando claramente as características de cada uma das suas unidades, impõe-se a utilização de uma bateria de indicadores, previstos no questionário, da qual resulta uma tipologia de GMT. Esta tipologia constitui um instrumento analítico indispensável e, ao mesmo tempo, um contributo para o conhecimento deste universo.
11Da bateria de indicadores consta uma variável de base—a já referida designação genérica (Q6.2)—e diversas variáveis de controlo: as fontes do repertório musical (Q4.1); os géneros musicais e coreográfico mais representativos do repertório (Q4.2); as áreas geográficas representadas pelo repertório musical (Q4.4); os trajos para actuações em palco (Q5.1) e a configuração instrumental (Q7.7). A escolha destas variáveis baseia-se nos resultados do inquérito, no conhecimento prévio da realidade dos GMT e nas caracterizações patentes na literatura especializada.6
12O quadro 4.3 (Indicadores utilizados na elaboração da tipologia) sintetiza a aplicação do método acima indicado. Como se pode verificar, o tipo de GMT rancho/grupo folclórico agrega duas opções de resposta: rancho folclórico e grupo folclórico.7 Apesar de se constatar alguma especificidade regional na adopção de uma ou outra designação—por exemplo, na região Norte, a designação grupo folclórico (40%) ocorre com mais frequência do que rancho folclórico (30%)—os resultados do inquérito indicam que correspondem ao mesmo perfil de grupo. O mesmo se verifica no caso dos grupos de bombos e zés pereiras.8 Os outros tipos de GMT não contemplados como opções de resposta pré-definidas na Q6.2 resultam da análise de conteúdo das respostas à opção “outras”.
13Saliente-se, porém, que para a construção da tipologia não foi tida em consideração a opção de resposta grupo etnográfico, uma vez que se constatou que os grupos que adoptam esta designação identificam-se também com outras tão distintas como grupo folclórico, grupo de cantares ou mesmo grupo coral alentejano. Ou seja, a designação grupo etnográfico refere-se não a um perfil mas sim a uma abordagem, norteada pelo ideal da autenticidade, que se pretende baseada na documentação etnográfica.
14Na construção da tipologia recorreu-se ainda a uma variável resultante do tratamento da Q3.1, relativa às actividades performativas dos elementos dos grupos: dança, canto e execução de instrumentos musicais (quadro 4.2).9 Os resultados indicam que a maioria dos GMT (70%) abarcam simultaneamente as três actividades. As restantes configurações apresentam percentagens baixas: 20% (instrumentos e voz), 7% (voz), 2% (instrumentos) e 0,5% (instrumentos e dança).
Quadro 4.5 GMT recenseados por distrito e região autónoma em números absolutos e por 10.000 habitantes
Distrito/região autónoma | Número de GMT | Número de GMT por 10.000 habitantes |
Aveiro | 247 | 3.6 |
Beja | 123 | 7.8 |
Braga | 244 | 3.1 |
Bragança | 45 | 3.0 |
Castelo Branco | 83 | 4.1 |
Coimbra | 236 | 5.6 |
Évora | 66 | 3.9 |
Faro | 72 | 2.1 |
Guarda | 56 | 3.1 |
Leiria | 157 | 3.6 |
Lisboa | 238 | 1.2 |
Portalegre | 60 | 4.8 |
Porto | 301 | 1.8 |
Santarém | 189 | 4.3 |
Setúbal | 103 | 1.4 |
Viana do Castelo | 117 | 4.7 |
Vila Real | 87 | 3.8 |
Viseu | 235 | 5.9 |
Açores | 142 | 5.8 |
Madeira | 49 | 1.9 |
Total | 2850 | 2.9 |
15O quadro 4.4 dá conta da tipologia. Entre os 14 tipos avultam rancho/grupo folclórico (70%), grupo de cantares (10%) e grupo coral alentejano (7%), os quais somam 87%. No pólo oposto está orquestra típica (0,3%).
16Dadas as baixas percentagens registadas em diversos tipos de grupos, e tendo em vista a realização de cruzamentos sistemáticos, adopta-se, para fins analíticos, uma tipologia reduzida (6 tipos).
Localização geográfica
17Antes de passar à análise dos resultados do questionário importa dar conta da distribuição geográfica dos 2850 GMT recenseados, por concelho e, posteriormente, por distrito.
18Na perspectiva do número de grupos, uma primeira conclusão a tirar é que estes grupos abrangem a generalidade do país (mapa 4.1). Apenas em oito concelhos não foram detectados grupos através das respostas obtidas: Alfândega da Fé, Torre de Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta, Fornos de Algodres, Pampilhosa da Serra, Alcoutim, Vila Real de Santo António e Ponta do Sol. Em contrapartida, 19 concelhos registam mais de 25. No Continente, a implantação de grupos é mais acentuada na região Norte e no litoral a norte de Lisboa. Os Açores têm uma concentração maior do que a Madeira. Adoptando a perspectiva do número de grupos por 10 mil habitantes (mapa 4.2) de modo a ter em conta as conhecidas assimetrias regionais na distribuição da população portuguesa pelo território, a leitura altera-se substancialmente. Aqui é o interior do país que tem os índices mais elevados. No Continente, Miranda do Douro, Viana do Alentejo, Alvito e Ferreira do Alentejo são os concelhos com 16 ou mais grupos por 10 mil habitantes. Nos Açores são três os concelhos com idêntico índice: Corvo, Velas e Lajes do Pico.
Quadro 4.6 Habitat segundo o tipo (%)
Tipologia urbano/rural 1996 | Tipologia urbano/rural 1998 | ||||
Freguesias | Freguesias | População | Freguesias | População | Áreas |
Rurais (FR) | 52 | n/d | 50 | 16 | Predominantemente rurais (APR) |
Semiurbanas (FSU) | 33 | n/d | 26 | 16 | Medianamente urbanas (AMU) |
Urbanas (FU) | 15 | n/d | 24 | 68 | Predominantemente urbanas (APU) |
Totais | 100 | - | 100 | 100 |
Quadro 4.7 Distribuição das freguesias e da população do continente segundo as tipologias urbano/rural (%)
Tipo | Habitat | ||||||
FU (1996) | FSU (1996) | FR (1996) | APU (1998) | AMU (1998) | APR (1998) | Número de casos | |
Rancho/grupo folclórico | 32,9 | 41,2 | 25,9 | 49,1 | 28,0 | 22,9 | 656 |
Grupo de cantares | 33,0 | 39,5 | 27,5 | 45,0 | 33,0 | 22,0 | 91 |
Grupo coral alentejano | 35,8 | 28,4 | 35,8 | 46,3 | 22,4 | 31,3 | 67 |
Tuna | 31,6 | 52,6 | 15,8 | 52,6 | 36,8 | 10,5 | 19 |
Grupo de cavaquinhos | 42,9 | 47,6 | 9,5 | 61,9 | 28,6 | 9,5 | 21 |
Outros tipos | 35,1 | 42,1 | 22,8 | 57,4 | 23,5 | 19,1 | 68 |
de grupos | |||||||
Total | 33,4 | 40,7 | 25,9 | 49,5 | 28,0 | 22,5 | 922 |
19Tendo em conta a localização por distrito e região autónoma (quadro 4.5), constata-se que em todos existem GMT em número significativo, embora com acentuadas diferenças entre si: o número de grupos oscila entre os 45 de Bragança e os 301 do Porto. Adoptando como instrumento de medida o quociente do número de grupos sobre a população residente, Beja é o distrito em que este é mais alto (8 grupos por cada 10 mil habitantes). No pólo oposto encontram-se os distritos de Faro, Porto e a Região Autónoma da Madeira, com 2, e os de Lisboa e Setúbal com apenas 1 grupo para igual número de habitantes. Estes últimos são aqueles que se situam abaixo da média nacional (perto de 3 por cada 10 mil habitantes). Refira-se ainda que, quer no plano nacional quer no confronto inter-regiões autónomas, os Açores mostram números absolutos e, como tem sido constatado, em função da população, muito significativos. Já em diversos outros estudos se destacou o expressivo envolvimento da população açoriana na vida cultural e musical da região, quer através da participação em grupos (Castelo-Branco e Lima 1998: 12-13; Santos, M. L. L. 1998: 155), quer através da assistência aos espectáculos de música e dança tradicionais (Neves 2001: 5).
Quadro 4.8 Habitat (tipologia urbano/rural 1998) segundo a data de fundação (%)
Data de fundação | Tipologia urbano/rural 1998 | |||
APU | AMU | APR | Número de casos | |
Até 1950 | 47,2 | 24,5 | 28,3 | 53 |
1951-1974 | 56,1 | 24,4 | 19,5 | 123 |
1975-1984 | 46,7 | 30,1 | 23,2 | 336 |
1985-1994 | 52,8 | 26,7 | 20,5 | 307 |
1995-1998 | 41,7 | 31,1 | 27,2 | 103 |
Total | 49,5 | 28,0 | 22,5 | 922 |
Quadro 4.9 Número de elementos segundo o habitat (tipologia urbano/rural 1998) e o tipo (%)
Tipo | Tipologia urbano/rural 1998 | |||
APU | AMU | APR | Total de elementos | |
Rancho/grupo folclórico | 50,4 | 28,0 | 21,7 | 29.177 |
Grupo de cantares | 41,0 | 35,3 | 23,7 | 1.556 |
Grupo coral alentejano | 48,0 | 21,8 | 30,2 | 1.593 |
Tuna | 61,7 | 29,8 | 8,5 | 543 |
Grupo de cavaquinhos | 60,9 | 28,6 | 10,5 | 304 |
Outros tipos de grupos | 60,6 | 26,0 | 13,4 | 1.292 |
Total | 50,5 | 28,0 | 21,5 | 34.465 |
20O fenómeno dos GMT está em grande parte associado ao habitat rural, origem e espaço social de práticas musicais tradicionais. A utilização das tipologias urbano/rural difundidas pelo INE permite explorar duas questões complementares:10 a) até que ponto os grupos objecto de análise acompanharam o processo de urbanização característico da sociedade portuguesa nas últimas décadas? b) até que ponto as populações rurais dão continuidade aos GMT?11 Para abordar estas duas questões serão utilizadas, além das tipologias urbano/rural acima referidas, duas variáveis explicativas: o tipo de grupo e a data de fundação.12
21O quadro 4.6 mostra a distribuição das freguesias do Continente segundo as tipologias urbano/rural de 1996 e de 1998. A sua leitura evidencia a estabilidade da percentagem de freguesias rurais (FR, 52% contra 50%) e o aumento das urbanas (FU, 15% contra 24%), em grande parte devido às alterações verificadas nas semiurbanas (FSU, 33% contra 26%). Os dados (de 1998) evidenciam uma percentagem relativamente elevada de população a habitar em áreas urbanas: 68% da população em 24% das freguesias.
22Em termos gerais, pode afirmar-se que, segundo a tipologia de 1998, metade dos GMT são oriundos de áreas predominantemente urbanas (APU) quando, segundo a de 1996, o principal contingente se situa em freguesias semiurbanas (41%) e os grupos localizados em freguesias urbanas não vão além de 33% (quadro 4.7). Poder-se-á concluir que, de um para o outro ano diminui ligeiramente o número de grupos sedeados em freguesias/áreas rurais (26% contra 23%) e diminui substancialmente o número de grupos situados em freguesias/áreas intermédias (41% contra 28%) devido ao grande crescimento dos grupos em freguesias/áreas predominantemente urbanas (dos já referidos 33% para 50%).
23Partindo da tipologia das freguesias de 1996 conclui-se que, à semelhança do total de grupos em análise (e contribuindo largamente para os valores globais alcançados) os ranchos/grupos folclóricos se situam principalmente em freguesias semiurbanas (41%); nas freguesias urbanas situa-se o segundo maior contingente (33%) e nas freguesias rurais os restantes 26%. Este padrão verifica-se também nos restantes tipos, com ligeiras variações, com uma excepção geral e um caso particular. A excepção é a dos grupos corais alentejanos que registam a mais elevada percentagem de casos situados em freguesias rurais (36%), percentagem, aliás, idêntica à dos grupos situados em freguesias urbanas (distribuição que se deve, como se verá, à dupla localização destes grupos: no Alentejo e nos distritos de Lisboa e Setúbal). Neste caso, os grupos em freguesias semiurbanas são minoritários (28%). O caso particular é o dos grupos de cavaquinhos, que congregam simultaneamente a mais baixa percentagem nas freguesias rurais (10%) e a mais elevada nas urbanas (43%).
24O padrão atrás descrito altera-se substancialmente aplicando a tipologia de 1998 (ainda quadro 4.7). Em geral, a parte mais significativa dos grupos situa-se em áreas urbanas e, pelo contrário, os menores contingentes nas áreas rurais. Os grupos corais alentejanos mantêm a situação excepcional, uma vez que a percentagem dos situados em áreas rurais se mantém elevada (31%), mais elevada que os das áreas medianamente urbanas (22%). De todo o modo, verifica-se também uma tendência para a localização predominantemente urbana destes grupos (46%).
25Uma outra abordagem cruza a tipologia de áreas urbanas/rurais de 1998 com a data de fundação dos grupos (quadro 4.8). Neste aspecto, será interessante notar que, apesar de ser entre os grupos fundados antes de 1950 que se verifica que a localização em APR tem maior incidência (28%), o que, aliás, se esperaria, a percentagem imediatamente inferior é a dos grupos fundados entre 1995 e 1998 (27%), valor que sugere a “resistência” da institucionalização da música tradicional à dominância urbana. Por outro lado, é significativo que seja entre os grupos fundados antes de 1974 que se verifica a maior percentagem de grupos situados em APU (56%) ou, numa leitura complementar, a menor em APR (20%). Este facto leva a supor que, ou os grupos mais antigos foram fundados já em habitat urbano, e então este fenómeno possuía já um carácter urbano não despiciendo, ou deu-se entretanto uma evolução da área rural para urbana, e neste caso o fenómeno observado remete para a adaptação dos GMT a esta evolução.
26Uma tendência a registar é a do crescimento das percentagens dos grupos fundados após 1951 e situados em AMU relativamente aos em APR. Com diferenças mais ou menos volumosas consoante o escalão da data de fundação e com percentagens que oscilam entre 24% (grupos fundados entre 1951 e 1974) e 31% (1995-1998), estes valores indiciam uma convivência relativamente pacífica com o processo de urbanização.
27Tendo em conta as acentuadas diferenças entre as populações residentes em habitat urbano e rural (ver atrás quadro 4.6), importará cruzar o tipo de grupo pela tipologia urbano/rural de 1998, tendo como unidade de contagem não o grupo mas o número de elementos (quadro 4.9). Deste ponto de vista, refira-se desde logo (até pelo seu elevado número) que são 50% os elementos dos ranchos/grupos folclóricos situados em APU. Por outro lado, salientam-se as tunas como o tipo com maior número de elementos situados em APU (e menos em APR), e os grupos corais alentejanos como aquele que possui mais elementos “rurais” (provavelmente os que residem no Alentejo e não na região da Grande Lisboa). Ainda uma referência aos grupos de cantares, para frisar a percentagem daqueles elementos que se situam em AMU—35%—, quando o outro tipo de grupo com a percentagem mais aproximada é o das tunas, com 30%.
Quadro 4.10 GMT fundados até 1929
Ano | Nome | Concelho | Distrito | Região | Fonte |
1877 | Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas | Vila da feira | Aveiro | Norte | Q |
1897 | Tuna de Ois da Ribeira | Águeda | Aveiro | Centro | Q |
ca. 1900 | Grupo Folclórico dos Pauliteiros de Cércio | M. do Douro | Bragança | Norte | Q |
ca. 1900 | Grupo de Pauliteiros de Picote | M. do Douro | Bragança | Norte | Q |
1907 | Rancho das Cantarinhas de Buarcos | Figueira da Foz | Coimbra | Centro | Q |
1907 | Tuna da Associação Cultural “Flores de Maio” | Machico | Funchal | Madeira | R |
1913 | Orquestra de Palheta do Recreio Musical União da Mocidade | Funchal | Funchal | Madeira | Q |
1916 | Tuna Mourisquense 1° de Janeiro | Águeda | Aveiro | Centro | R |
1919 | Rancho de Cantarinhas “Flores das Tricanas” de Abrunheira | Montemor-o-Velho | Coimbra | Centro | R |
1922 | Rancho Folclórico S. João de Casal Comba | Mealhada | Aveiro | Centro | Q |
1923 | Rancho Regional das Lavradeiras de Carreço | Viana do Castelo | Viana do Castelo | Norte | Q |
1926 | Grupo Coral “Os Mineiros de Aljustrel” | Aljustrel | Beja | Alentejo | R |
1926 | Grupo Musical Estrela de Argoncilhe | Vila da Feira | Aveiro | Norte | R |
1927 | Grupo Coral “Guadiana” de Mértola | Mértola | Beja | Alentejo | Q |
1927 | Rancho Folclórico da Sociedade Recreativa de S. Braz Varge | Elvas | Portalegre | Alentejo | R |
1928 | Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa | Serpa | Beja | Alentejo | R |
1929 | Rancho Coral e Etnográfico de Vila Nova de São Bento | Serpa | Beja | Alentejo | R |
Perspectiva histórica
28De acordo com os dados obtidos, os dois GMT mais antigos que permanecem em actividade apresentam-se como tunas: a Tuna Esperança de Santa Maria de Lamas, fundada em 1877, e a Tuna de Ois da Ribeira, fundada em 1897 (quadro 4.10).13 A par destes, também dois grupos de pauliteiros (de Cércio e de Picote, ambos localizados no concelho de Miranda do Douro) terão a sua origem no século XIX.14 Aliás, segundo os dados obtidos, o primeiro grupo que se apresenta no inquérito como um “rancho” remonta à primeira década do século XX. Trata-se do Rancho das Cantarinhas de Buarcos, do concelho de Figueira da Foz, fundado em 1907. Em 1926 assinala-se a fundação do primeiro grupo coral alentejano, o Grupo Coral “Os Mineiros de Aljustrel”, e do Grupo Musical Estrela de Argoncilhe.
29O confronto entre os resultados do presente inquérito e a literatura existente sobre os ranchos folclóricos sugere ainda uma discussão com maior pormenor. Segundo Manuel Miranda da Costa Pereira (Pereira 1991), posteriormente citado por diversos autores (Melo 1997: 200; Castelo-Branco 1997: 39), a origem destes grupos dataria de 1923, ano de fundação do Rancho Regional das Lavradeiras de Carreço.15 Dirigido pelo folclorista e arqueólogo Abel Viana (Carvalho 2000; Pereira, M. E. 1997), que tem sido referido como seu fundador, este grupo viria a servir de modelo a três outros grupos fundados em localidades vizinhas nos dez anos seguintes (Pereira 1991). Esta constatação não só atribui uma datação à origem dos ranchos folclóricos como faz do lugar de Carreço e, por via da localização e da influência deste, do distrito de Viana do Castelo e do Minho (região Norte) o seu “berço”. Os dados do presente inquérito levam a relativizar estas afirmações. Em primeiro lugar, não foi só o referido Rancho das Cantarinhas de Buarcos que foi fundado antes de 1923 (ver de novo quadro 4.10). Em segundo lugar, a região Centro emerge com um significativo número de ranchos/grupos folclóricos fundados no período anterior a 1923, com os distritos de Coimbra e Aveiro em destaque, distritos nos quais existe, ainda hoje, elevado número de ranchos/grupos folclóricos e outros GMT (como se viu no quadro 4.5).
30Em qualquer caso, a distribuição dos GMT segundo o ano de fundação apresenta grandes diferenças nos vários tipos de GMT, quer no aspecto de continuidade, quer no do número de novos grupos. Disto procura dar conta o quadro 4.11.
31Numa primeira leitura longitudinal, os ranchos/grupos folclóricos destacam-se claramente pelo volume e pela continuidade. Uma outra leitura que este quadro sugere é a da intensificação que se verifica após 1974 em qualquer dos dois aspectos atrás referidos e para a generalidade dos GMT considerados. No caso dos ranchos/grupos folclóricos é nítido que este ano delimita dois períodos no tocante ao número de grupos fundados: um primeiro de crescimento mitigado e um segundo de crescimento acentuado. Os números correspondentes aos grupos fundados antes e depois do 25 de Abril são elucidativos: 6 em 1974 e 15 em 1975. Finalmente, evidencia-se uma maior diversidade nos tipos de grupos após 1975. De entre os GMT cuja origem data desta altura importa referir os grupos urbanos que visam a recriação da música tradicional, caso da Brigada Victor Jara (grupo fundado em 1975), o mais antigo destes grupos ainda em actividade, e um caso bem ilustrativo do papel da música nas lutas de carácter estético e ideológico da altura (Lima 2000).
Quadro 4.12 Data de fundação segundo o tipo (%)
Tipo | Data de fundação | Número de casos | ||||
Até 1950 | 1951 | 1975 | 1985 | 1995 | ||
Rancho/grupo folclórico | 5,4 | 15,4 | 42,7 | 29,2 | 7,3 | 703 |
Grupo de cantares | 1,0 | 2,0 | 14,7 | 58,8 | 23,5 | 102 |
Grupo coral alentejano | 9,0 | 16,4 | 26,9 | 28,3 | 19,4 | 67 |
Tuna | 12,5 | 4,2 | 25,0 | 45,8 | 12,5 | 24 |
Grupo de cavaquinhos | 0,0 | 0,0 | 9,6 | 71,4 | 19,0 | 21 |
Outros tipos de grupos | 9,9 | 11,3 | 19,7 | 42,2 | 16,9 | 71 |
Total | 5,6 | 13,2 | 36,0 | 34,4 | 10,8 | 988 |
Quadro 4.13 Data de fundação segundo a localização (%)
Localização | Data de fundação | Número de casos | ||||
Até 1950 | 1951 | 1975 | 1985 | 1995 | ||
Norte | 5,9 | 13,1 | 39,1 | 33,7 | 8,2 | 306 |
Centro | 6,9 | 14,8 | 40,2 | 29,2 | 8,9 | 291 |
Lisboa e Vale do Tejo | 2,9 | 13,9 | 34,9 | 36,8 | 11,5 | 209 |
Alentejo | 8,5 | 11,7 | 23,4 | 36,2 | 20,2 | 94 |
Algarve | 0,0 | 4,6 | 31,8 | 40,9 | 22,7 | 22 |
Açores | 2,0 | 8,0 | 28,0 | 48,0 | 14,0 | 50 |
Madeira | 12,5 | 12,5 | 18,7 | 50,0 | 6,3 | 16 |
Total | 5,6 | 13,2 | 36,0 | 34,4 | 10,8 | 988 |
Quadro 4.14 Iniciativa ou motivo de fundação segundo a data de fundação (%)
Data de fundação | Iniciativa ou motivo de fundação | Número de casos | ||||
Por uma família | Por uma instituição | Para participar num acontecimento | Por uma ou várias pessoas | Por uma iniciativa | ||
Até 1950 | 12,7 | 16,4 | 36,4 | 58,2 | 7,3 | 55 |
1951-1974 | 9,2 | 17,7 | 33,8 | 53,8 | 11,5 | 130 |
1975-1984 | 5,9 | 22,2 | 26,4 | 62,4 | 11,2 | 356 |
1985-1994 | 5,3 | 27,9 | 17,1 | 62,1 | 11,2 | 340 |
1995-1998 | 7,5 | 27,1 | 16,8 | 66,4 | 12,1 | 107 |
Totais | 6,7 | 23,8 | 23,7 | 61,3 | 11,1 | 988 |
Quadro 4.15 Iniciativa ou motivo de fundação segundo o tipo (%)
Tipo | Iniciativa ou motivo de fundação | Número de casos | ||||
Por uma família | Por uma instituição | Para participar num acontecimento | Por uma ou várias pessoas | Por uma iniciativa | ||
Rancho/grupo folclórico | 7,0 | 22,0 | 26,2 | 61,9 | 10,5 | 703 |
Grupo de cantares | 5,9 | 28,4 | 27,5 | 57,8 | 10,8 | 102 |
Grupo coral alentejano | 6,0 | 25,4 | 9,0 | 59,7 | 11,9 | 67 |
Tuna | 8,3 | 29,2 | 16,7 | 62,5 | 16,7 | 24 |
Grupo de cavaquinhos | 0,0 | 52,4 | 19,0 | 42,9 | 28,6 | 21 |
Outros tipos de grupos | 4,2 | 16,9 | 11,3 | 67,6 | 9,9 | 71 |
Totais | 6,7 | 23,8 | 23,7 | 61,3 | 11,1 | 988 |
32Os GMT registam um forte incentivo e uma diversificação dos tipos de grupos em actividade no período que se segue ao 25 de Abril de 1974. Totalizam 81% os grupos fundados após 1975 (quadro 4.12). Especificando, a década balizada pelos anos de 1975 e de 1984 é a mais significativa para os ranchos/grupos folclóricos (43%), ao passo que a década seguinte, 1985 a 1994, é a que tem maiores percentagens de outros tipos de grupos. Note-se ainda que os grupos corais alentejanos são aqueles que têm distribuição mais equilibrada ao longo das balizas temporais consideradas.
33Na perspectiva da data de fundação segundo a localização (quadro 4.13), as regiões Norte e Centro surgem como aquelas em que a renovação dos grupos é menor. De certo modo, o mesmo pode ser dito quanto à Madeira. Pelo contrário, as demais regiões, com destaque para o Algarve e o Alentejo, surgem com alguma renovação, uma vez que mostram valores relativamente elevados no período 1985-1994 e sobretudo no período 1995-1998.
34Quanto à iniciativa ou motivo da fundação dos GMT, segundo os dados do inquérito deve-se maioritariamente a indivíduos (61%), sendo, no entanto, expressiva a percentagem de GMT fundados por uma instituição (24%) ou com o propósito específico de participação num acontecimento (24%) (quadro 4.14).
35Relativamente aos grupos fundados por uma instituição, constata-se que as casas do povo têm um peso significativo: 77 num total de 234 grupos, ou seja, 1 em cada 3. Ainda a este propósito, é conhecido o importante papel atribuído pelo Estado Novo a estas instituições enquanto espaços de sociabilidade, nas quais era obrigatória a filiação dos grupos. Legalmente extintas na sequência do 25 de Abril de 1974, permanecem na actualidade, em muitas localidades, enquanto espaços de actividade associativa.
36Tendo em conta a data de fundação dos GMT, as iniciativas de fundação por uma ou várias pessoas e por uma instituição são mais expressivas nos grupos mais recentes. O caso contrário ocorre com o propósito específico de participação num acontecimento e com a iniciativa familiar que são mais expressivas em grupos mais antigos (respectivamente 36% e 13% dos grupos fundados antes de 1950).
37A iniciativa de fundação do grupo por uma ou várias pessoas apenas não é maioritária nos grupos de cavaquinhos, nos quais a opção de resposta por uma instituição recolhe 52% das referências (quadro 4.15). Também as opções por uma instituição e para participar num acontecimento recolhem percentagens significativas, neste último caso com as excepções dos grupos corais alentejanos e “outros tipos de grupos”. Importa, contudo, notar que se está perante uma pergunta de resposta múltipla, ou seja, que várias iniciativas ou motivos de fundação podem estar, conjugadamente, na origem do grupo.
38Um outro aspecto a reter prende-se com a ligação anterior de pelo menos um dos fundadores do grupo inquirido a outros grupos (Q2.3.1), ligação referida por 41%. Esta percentagem ganha expressão dos grupos mais antigos (18%) para os mais recentes (64%), o que significa que a experiência adquirida num grupo é frequentemente aproveitada na fundação de outro (s).
39A literatura existente refere a ligação de um número considerável de grupos a etnógrafos e folcloristas que trabalharam a nível local e nacional, desempenhando um papel activo na fundação, orientação, legitimação e divulgação dos grupos.16 Os dados recolhidos através do inquérito não confirmam esta ligação, remetendo a fundação dos grupos para personalidades locais que exercem um leque variado de profissões apresentadas no quadro 4.16.
40Neste quadro, a Classificação Nacional das Profissões foi aplicada às respostas obtidas e cruzada com as variáveis independentes. Tendo em conta os totais, nota-se que o leque de profissões é bastante alargado e que as categorias “operários, artífices e trabalhadores similares” (16%) e “pessoal administrativo e similares” (15%) são as mais significativas. O cruzamento com as variáveis independentes (tipo, localização e data de fundação) sugere outras leituras. No tocante ao tipo, os ranchos/grupos folclóricos são aqueles que mais se aproximam da média. Mas outras especificidades se detectam. Por exemplo, nos grupos de cantares predominam os fundadores que se enquadram nas categorias de técnicos e profissionais de nível intermédio (29%); nos grupos corais alentejanos, à importância dos operários, artífices e trabalhadores similares (23%) junta-se a dos agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura e pescas (18%); as tunas apresentam, com níveis próximos, fundadores que são técnicos e profissionais de nível intermédio (22%) e estudantes (20%) e um valor elevado nos quadros superiores da administração pública, dirigentes e quadros superiores de empresas (10%); esta última categoria é igualmente significativa nos grupos de cavaquinhos (15%), para os quais as duas categorias dominantes no total em análise são as mais volumosas, com igual percentagem (24%); e, quanto aos outros tipos de grupos, o pessoal administrativo e similares é a mais significativa, a que se seguem os técnicos profissionais de nível intermédio.
41O cruzamento com a localização indica diversas especificidades. Apresentam-se apenas três exemplos: na Região de Lisboa e Vale do Tejo destacam-se os operários, artífices e trabalhadores similares (21%); no Alentejo os agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura e pescas (21%), e na Madeira os técnicos e profissionais de nível intermédio (27%) e, situação ímpar, os especialistas das profissões intelectuais e científicas (18%).
42Quanto ao cruzamento com a data de fundação, note-se a presença de três relações: por um lado, aquelas profissões dos fundadores que mostram um peso relativamente próximo seja qual for o arco temporal, de que é exemplo maior o pessoal administrativo e similares; por outro lado, aquelas profissões cujo peso relativo tem vindo a diminuir, designadamente os agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura e pescas; finalmente, assinalam-se as profissões que têm vindo a ganhar peso, como é o caso dos técnicos e profissionais de nível intermédio, e das categorias de não activos, designadamente dos reformados.
Quadro 4.17 Abrangência geográfica do repertório por tipo (%)
Tipo | Abrangência geográfica | Número de casos | ||
Todo o país | Apenas parte do país | ns/nr | ||
Rancho/grupo folclórico | 6,4 | 92,7 | 0,9 | 703 |
Grupo de cantares | 49,0 | 48,0 | 2,9 | 102 |
Grupo coral alentejano | 22,4 | 74,6 | 3,0 | 67 |
Tuna | 50,0 | 33,3 | 16,7 | 24 |
Grupo de cavaquinhos | 61,9 | 38,1 | 0,0 | 21 |
Outros tipos de grupos | 56,3 | 35,2 | 8,5 | 71 |
Total | 17,7 | 80,2 | 2,1 | 988 |
Quadro 4.18 Área geográfica representada pelo repertório (n = 760) (%)
Área geográfica | % |
Lugar | 1,1 |
Freguesia | 23,9 |
Várias freguesias limítrofes | 3,9 |
Concelho | 22,1 |
Distrito/Ilha | 5,8 |
NUTS III | 3,6 |
Sub-região | 8,8 |
Província | 13,7 |
Várias províncias | 8,0 |
Outras delimitações de âmbito não determinado | 9,1 |
Total | 100,0 |
Áreas geográficas representadas pelo repertório
43A delimitação da área geográfica representada pelo repertório de cada GMT é uma questão central para estes e para os organismos reguladores (FFP, INATEL, federações regionais, entre outros). A identidade do grupo depende, em parte, da área geográfica que representa, havendo, por vezes, conflitos entre grupos vizinhos que reclamam o mesmo repertório.
44De acordo com o quadro 4.17, 80% dos GMT refere que o seu repertório abrange uma parte do território nacional. Apenas 18% afirmam que o seu repertório abrange todo o país.
45Este panorama altera-se quanto se tem em conta o tipo de GMT. Os ranchos/grupos folclóricos, grupos corais alentejanos e grupos de bombos remetem o repertório que representam para uma parte do território nacional, ao passo que os grupos de cavaquinhos (62%), os outros tipos de grupos (62%) e as tunas (50%) afirmam que o seu repertório é oriundo de todo o território nacional.
Quadro 4.19 Actividades performativas dos elementos (n = 36.477) (%)
Actividade | N.° de elementos | % |
Elementos que cantam | 8.309 | 22,8 |
Elementos que tocam instrumento (s) | 8.298 | 22,7 |
Elementos que tocam e cantam | 4.619 | 12,7 |
Elementos que dançam | 16.808 | 46,1 |
Apresentador (es) | 1.151 | 3,2 |
Figurantes, porta-estandartes ou bandeiras | 2.516 | 6,9 |
Elementos noutras actividades | 1.000 | 2,7 |
Quadro 4.20 Número de elementos segundo o tipo (%)
Tipo | Número de elementos | % |
Rancho/grupo folclórico | 30.463 | 84,8 |
Grupo de cantares | 1.797 | 5,0 |
Grupo coral alentejano | 1.490 | 4,1 |
Tuna | 605 | 1,7 |
Grupo de cavaquinhos | 305 | 0,8 |
Outros tipos de grupos | 1.281 | 3,6 |
Total | 35.941 | 100,0 |
46Embora com valores relativamente baixos, são surpreendentes as respostas de 45 ranchos/grupos folclóricos (6%) e 15 grupos corais alentejanos (22%) que afirmam que o repertório musical que representam tem a sua origem em todo o país. No caso dos ranchos/grupos folclóricos, trata-se de grupos inseridos em associações de trabalhadores de empresas (públicas ou privadas) ou mesmo em instituições de carácter social (exemplos: lares de terceira idade, centros sociais, etc.). Os elementos que os constituem coligiram para os seus grupos repertório musical e coreográfico oriundo dos locais onde nasceram, o que explica a ampla área geográfica representada pelos seus repertórios.
47No que diz respeito às áreas geográficas que abrangem apenas parte do país (quadro 4.18), constata-se que estas vão desde áreas geográficas extremamente circunscritas (como, por exemplo, o lugar onde o grupo está sedeado, 1%) até áreas mais extensas. A freguesia é referida por 24%, o concelho por 22%, ao passo que uma larga maioria (48%) representa repertório cuja origem é atribuída a zonas geográficas superiores à delimitação de concelho.
48Além das referências a delimitações administrativas actuais, são indicadas outras há muito caídas em desuso, nomeadamente províncias.17 Independentemente de se tratar da representação de parte (9%), da totalidade (13%) ou mesmo de mais do que uma província (8%), esta divisão assume uma grande importância na delimitação da origem do repertório, testemunhando a continuação da conceptualização das divisões administrativas em vigor até 1959 também como áreas culturais e musicais (Castelo-Branco e Toscano 1988: 169).
Caracterização dos elementos
49Das 998 respostas ao questionário resulta um total de perto de 36 mil elementos participando de alguma forma nos GMT, dos quais 53% do sexo masculino. Com 46%, a dança constitui a principal actividade performativa (quadro 4.19). Cantar ou tocar instrumentos (23% cada uma) ou ambas as actividades em simultâneo (13%) também envolvem grande número de elementos. Outras actividades são as de apresentador (3%), figurante (7%), além das não identificadas (3%).
50Qual a estrutura etária dos elementos que integram os GMT? Seguindo escalões ditados pela correspondência com etapas de vida (fim da escolaridade obrigatória, entrada para a universidade, entrada na vida activa por parte dos jovens adultos), em parte coincidentes com problemas de recrutamento referidos pelos próprios grupos, conclui-se que os seus membros cruzam todas as faixas etárias e evidencia-se mesmo uma acentuada renovação geracional (figura 4.1).
Quadro 4.21 Número de elementos segundo a localização (NUTS II) (%)
NUTS II | Número de elementos | % |
Norte | 12.547 | 34,8 |
Centro | 10.843 | 30,2 |
Lisboa e Vale do Tejo | 7.505 | 20,9 |
Alentejo | 2.432 | 6,8 |
Algarve | 638 | 1,8 |
Açores | 1.589 | 4,4 |
Madeira | 387 | 1,1 |
Total | 35.941 | 100,0 |
Quadro 4.22 Número de elementos dos grupos segundo a data de fundação (%)
Data de fundação | Número de elementos | % | Média de elementos por grupo |
Até 1950 | 1.954 | 5,4 | 38,2 |
1951-1974 | 5.548 | 15,4 | 42,3 |
1975-1984 | 14.153 | 39,4 | 41,0 |
1985-1994 | 11.102 | 30,9 | 33,1 |
1995-1998 | 3.184 | 8,9 | 30,5 |
Total | 35.941 | 100,0 | 37,1 |
51Se é verdade que o escalão mais expressivo (19%) é aquele que agrupa as idades compreendidas entre os 40 e os 59 anos, verifica-se igualmente que esta percentagem baixa acentuadamente para 9% no escalão dos 60 e mais anos. Em contrapartida, importa salientar a especial incidência de elementos pertencentes aos grupos etários com idades inferiores a 22 anos, os quais perfazem 46%. De facto, de um modo geral, como se verá, não parecem confirmar-se as preocupações manifestadas pelos responsáveis com a dificuldade de recrutamento e/ou com o abandono de elementos dos grupos. O que não quer dizer que tais fenómenos não se verifiquem com um carácter mais ou menos acentuado.
Quadro 4.23 Estimativa do número de elementos por tipo
Tipo | Média de elementos | Número de grupos recenseados | Número total de elementos (estimativa) |
Rancho/grupo folclórico | 44,2 | 2.118 | 93.616 |
Grupo de cantares | 17,7 | 133 | 2.354 |
Grupo coral alentejano | 23,8 | 164 | 3.903 |
Tuna | 26,3 | 49 | 1.289 |
Grupo de cavaquinhos | 14,5 | 28 | 406 |
Outros tipos de grupos | 18,6 | 358 | 6.659 |
Total | 37,1 | 2.850 | 108.227 |
52De facto, este panorama não é independente do tipo de grupo nem da sua localização ou da data de fundação.18 Aliás, convém ter presente, como se pode verificar no quadro 4.20, que o número de elementos apresenta grandes variações entre os diversos tipos, sendo que a grande maioria (85%) integra os ranchos/grupos folclóricos.
53Tendo em conta a localização (NUTS II, quadro 4.21), confirma-se o peso das regiões a norte de Lisboa e Vale do Tejo, onde se localizam 86% dos elementos dos GMT, e em particular da região Norte (35%). Destaque-se igualmente a região autónoma dos Açores (4% do total), a qual regista níveis muito significativos de participação na vida cultural.
54Do ponto de vista do número de elementos por concelho, o de Guimarães é aquele que regista o maior número, com 971, logo seguido do de Leiria, com 793.
55Relativamente à distribuição dos elementos segundo a data de fundação dos respectivos grupos (quadro 4.22), verifica-se que é nos criados no período subsequente a 1974 que se encontra o maior contingente (79%). O número de elementos que integram os grupos fundados após 1995 regista uma quebra acentuada, devido ao menor número de grupos criados neste período e a uma quebra sensível no número médio de elementos por grupo (31), o menor número nos períodos considerados. Acrescente-se que a média mais elevada de elementos por grupo é de 42, reportando-se ao arco temporal 1951-1974.
56Como se caracteriza a estrutura etária tendo em conta o tipo, a localização e a data de fundação? Numa primeira leitura de carácter geral evidencia-se a transversalidade geracional, uma vez que, seja qual for a variável manuseada, estão sempre presentes em número significativo elementos de todas as faixas etárias.
57Os grupos corais alentejanos mostram o mais acentuado grau de envelhecimento (72% dos elementos destes grupos têm mais de 40 anos), envelhecimento no topo a que se soma a fraqueza dos grupos etários intermédios (figura 4.2). Isto apesar de dar mostras de alguma capacidade de captação dos mais jovens. Situação inversa apresentam as tunas, uma vez que os escalões de idade correspondentes aos jovens e jovens adultos (ou seja, dos 18 aos 22 e dos 23 aos 29 anos) são, neste caso, os mais significativos. Assinale-se, finalmente, a acentuada renovação dos ranchos/grupos folclóricos, muito em particular, mas também dos grupos de cavaquinhos e dos outros tipos de grupos nos quais as percentagens dos escalões mais jovens (aqui considerados até aos 22 anos de idade) detêm um peso deveras significativo—respectivamente 49%, 42% e 38%.
58Do ponto de vista da localização, destaca-se o relativo equilíbrio que se verifica nas regiões que possuem maior número de elementos, ou seja, do Norte, Centro e, de certo modo, Lisboa e Vale do Tejo (figura 4.3). Verifica-se igualmente uma elevada juvenilidade nas regiões autónomas e, muito acentuadamente, no Algarve. Pelo contrário, acompanhando as tendências populacionais na região, está patente o envelhecimento dos grupos alentejanos, sem dúvida em grande medida reflexo da composição etária dos grupos corais alentejanos uma vez que este é o tipo de grupo dominante nesta região.
59Quanto à data de fundação, apenas duas breves notas para destacar, por um lado, o relativo equilíbrio que se verifica no padrão seguido pelos diversos escalões desta variável e, por outro, para salientar aquela que será, porventura, a única excepção digna de registo, ou seja, a dos grupos fundados após 1995 (figura 4.4). De facto, neste último caso verifica-se uma elevada percentagem dos mais jovens (com menos de 14 anos), percentagem que regista fortes quebras nos escalões de idade subsequentes e só inverte a tendência no escalão dos 30 aos 39 anos. Ao considerar a data de fundação mostram-se algo fundados os receios de diversos responsáveis de grupos quanto à quebra de participação dos jovens. Apesar da capacidade de atracção dos mais jovens—porventura devido ao parentesco entre os membros dos grupos—, a manutenção de jovens adultos nos grupos quando estes ingressam no ensino secundário ou superior e, posteriormente, na vida activa, revela-se mais difícil.
60De todo o modo, realce-se que se trata de uma característica que se manifesta apenas nos grupos fundados após 1995.
61Viu-se já o número de grupos e o número de elementos envolvidos a partir das respostas obtidas. Passa-se agora a uma extrapolação para o universo recenseado: qual o número total de indivíduos com participação nos grupos de música tradicional em Portugal? Uma avaliação foi ensaiada tendo em conta as respostas obtidas através do questionário e os números do recenseamento. Multiplicou-se o número médio de elementos por tipo de grupo—obtido através do questionário—com o número de grupos recenseados. O quadro 4.23 mostra os valores intermédios e os resultados assim obtidos.
62Passando à apresentação da estimativa do número total de elementos dos GMT, o valor obtido revela que os indivíduos directamente envolvidos no universo em estudo ultrapassarão os 108 mil, dos quais a esmagadora maioria (93.616) são elementos de ranchos/grupos folclóricos. Note-se ainda que os grupos corais alentejanos registam o número total estimado de elementos imediatamente a seguir. E apesar de, em números absolutos, não haver qualquer comparação com os ranchos/grupos folclóricos, não deixa de ser indicativo de uma importante dinâmica de representação regional, no caso do Alentejo, e das suas tradições musicais.
63Um outro dado significativo revelado por este indicador é o do número médio de elementos por tipo de GMT, o qual oscila entre os 44 nos ranchos/grupos folclóricos e os 15 nos grupos de cavaquinhos, o que mais uma vez confirma as dinâmicas distintas de cada um dos tipos de grupos.
64Um outro aspecto relativo à constituição dos grupos prende-se com o parentesco entre os seus elementos (quadro 4.24). Os dados indicam que 94% dos grupos inquiridos integram pelo menos dois elementos da mesma família.19 Tendo em conta o tipo de GMT, constata-se que os valores mais altos se referem aos ranchos/grupos folclóricos (98%). Nos restantes tipos, a incidência de laços familiares é menor. Neste sentido, destaca-se o facto de apenas 67% dos grupos corais alentejanos terem elementos ligados por parentesco. Se se tiver em conta que estes são, na sua maioria, constituídos exclusivamente por elementos do mesmo sexo, até há pouco apenas masculino,20 poder-se-á pressupor que a probabilidade de existirem laços familiares entre os seus elementos é menor relativamente aos outros tipos. Ou seja, tendo em atenção este factor, a percentagem em análise é elevada.
65Relativamente à presença de grupo/rancho infantil/juvenil associado ao grupo adulto (quadro 4.25), tal acontece em 19% do número de casos analisados. Tendo em conta o tipo de grupo, são os ranchos/grupos folclóricos aqueles que, como se esperaria, registam a principal percentagem de sentido afirmativo (24%). Pelo contrário, os grupos de cavaquinhos aproximam-se, nas respostas de sentido negativo, da totalidade das respostas (95%, sendo os restantes 5% não respostas). Quanto à localização, as regiões de Lisboa e Vale do Tejo (31%) e da Madeira (0%) registam os valores maior e menor. É nos grupos de formação mais recente que se verifica existir maior frequência de formações infantis/juvenis associadas.
Quadro 4.26 Objectivos por tipo (médias)
Objectivos | Ranchos/grupos folclóricos | Grupos de cantares | Grupos corais alentejanos | Resultados globais |
Transmitir a tradição às gerações mais novas | 3,73 | 3,28 | 3,59 | 3,65 |
Preservar a tradição musical | 3,62 | 3,23 | 3,57 | 3,57 |
Divulgar a tradição musical | 3,54 | 3,34 | 3,46 | 3,50 |
Proporcionar o convívio entre elementos do grupo | 3,33 | 3,23 | 3,30 | 3,33 |
Obter prestígio para a área representada pelo grupo | 3,28 | 3,00 | 3,51 | 3,25 |
Ocupar os tempos livres dos elementos do grupo | 3,21 | 2,98 | 2,96 | 3,17 |
Recriar a tradição musical | 3,12 | 3,04 | 3,23 | 3,11 |
Estimular a criatividade dos elementos do grupo | 2,73 | 3,04 | 3,00 | 2,79 |
Desenvolver aptidões musicais dos elementos do grupo | 2,65 | 3,12 | 2,24 | 2,72 |
Proporcionar viagens aos elementos do grupo | 2,52 | 2,48 | 2,70 | 2,48 |
Remunerar financeiramente os elementos do grupo | 1,16 | 1,60 | 1,16 | 1,19 |
Quadro 4.27 Projectos (%)
Projectos | Conteúdos | Número | % |
Instalações | Aquisição de sede própria ou realização de melhoramentos nas instalações. | 275 | 27,8 |
Preservação e divulgação da tradição | Manutenção e transmissão de tradições musicais e coreográficas de uma dada região, bem como dos seus “usos e costumes”. | 271 | 27,4 |
Actuações no estrangeiro | Agendamento de actuações no estrangeiro ao abrigo de permutas com outros grupos estrangeiros. | 180 | 18,2 |
Edição de fonogramas | Selecção e preparação de repertório musical a gravar e a reunião das condições necessárias para o seu registo e difusão. | 172 | 17,4 |
Acções de divulgação | Participação em programas de rádio, televisão ou outros meios de comunicação; produção de cartazes, brochuras e livros sobre o grupo. | 139 | 14,1 |
Aquisição de equipamento | Aquisição de meios de transporte próprios (autocarros, carrinhas, etc.), instrumentos musicais, trajos ou equipamento técnico de captação e amplificação de som (PA). | 137 | 13,9 |
Alargamento da esfera de acção | Criação de infra-estruturas (museus, escolas de música, escolas de folclore ou lares de terceira idade, entre outras). | 130 | 13.2 |
Recolha etnográfica | Recolha de artefactos (trajos, utensílios agrícolas, entre outros), repertório musical e/ou coreográfico. | 112 | 11,3 |
Organização de iniciativas | Planeamento e organização de iniciativas, como festivais de folclore, encontros, comemorações, convívios, entre outras. | 98 | 9,9 |
Recrutamento de elementos | Recrutamento de elementos jovens e/ou capazes de desempenhar funções específicas (por exemplo: tocadores de acordeon ou concertina e dançadores, etc.). | 86 | 8,7 |
Filiação na Federação do Folclore Português | Preparação e acompanhamento do processo de candidatura à FFP. | 57 | 5,8 |
Outros projectos | Angariação de fundos, alteração dos órgãos directivos, informatização dos serviços administrativos, obtenção do estatuto de utilidade pública, aperfeiçoamento técnico do grupo. | 60 | 6,1 |
Objectivos e projectos
66Com vista a apreender qual ou quais os principais objectivos do grupo na perspectiva dos seus membros, foi solicitado que se posicionassem relativamente a um conjunto de 11 afirmações numa escala de “nada adequado” (1) a “totalmente adequado” (4) (Q6.1). Os resultados globais, apresentados como médias das respostas obtidas (quadro 4.26), mostram que apenas a afirmação “remunerar financeiramente os elementos do grupo” é considerada como nada adequada. Pelo contrário, três funções ligadas à tradição (transmitir às gerações mais novas, preservar e divulgar) são aquelas que mais se aproximam duma apreciação de adequação total, com a transmissão às gerações mais novas à cabeça (3, 65). Repare-se que a quarta função associada à tradição musical, a da recriação, é relativamente menos valorizada (3, 11), aliás na linha de outras afirmações dirigidas à intervenção musical dos elementos do grupo, seja no sentido de estimular a sua criatividade (2, 79) ou de desenvolver as aptidões musicais (2, 72). Outras afirmações, relativas às relações de sociabilidade entre os elementos do grupo, designadamente o convívio e a ocupação dos tempos livres, merecem também médias relativamente altas, ao nível do muito adequado (3, 33 e 3, 17 respectivamente).
67A análise das respostas segundo o tipo de GMT mostra algumas diferenças assinaláveis. Repare-se, por exemplo, no reforço dos valores dos ranchos/grupos folclóricos relativamente às médias totais no tocante às três funções mais valorizadas e, pelo contrário, na desvalorização destas por parte dos grupos de cantares, os quais, por sua vez, valorizam como muito adequado o desenvolvimento de aptidões musicais (3, 12) e o estímulo à criatividade (3, 04); ou ainda nas médias que alcançam, nos grupos corais alentejanos, as funções ligadas à obtenção de prestígio para a área representada pelo grupo (3, 51) e para a recriação da tradição musical (3, 23), resultados que confirmam a ligação à sua área geográfica de origem (genericamente o Alentejo) e sugerem, mais do que com os restantes tipos de grupos, uma disponibilidade para adaptar a tradição musical.
Quadro 4.28 Projectos segundo o tipo (%)
Tipo | Projectos | Número de casos | ||||||||||||
Edição de fonogramas | Instalações | Organização de iniciativas | Actuações no estrangeiro | Recrutamento de novos elementos | Acções de divulgação | Preservação e divulgação da tradição | Filiação na FFP | Recolha etnográfica | Aquisição de equipamento | Alargamento da esfera de acção | Outros projectos | ns/nr | ||
Rancho/ grupo folclórico | 11,5 | 34,0 | 11,4 | 20,3 | 9,1 | 12,9 | 27,3 | 8,1 | 11,4 | 14,8 | 15,8 | 6,4 | 6,0 | 703 |
Grupo de cantares | 36,3 | 14,7 | 2,9 | 14,7 | 3,9 | 16,7 | 29,4 | 0,0 | 14,7 | 6,9 | 6,9 | 8,8 | 12,7 | 102 |
Grupo coral alentejano | 20,9 | 7,5 | 4,5 | 13,4 | 13,4 | 20,9 | 37,3 | 0,0 | 3,0 | 7,5 | 4,5 | 1,5 | 13,4 | 67 |
Tuna | 41,7 | 8,3 | 16,7 | 16,7 | 0,0 | 0,0 | 16,7 | 0,0 | 12,5 | 20,8 | 16,7 | 4,2 | 12,5 | 24 |
Grupo de cavaquinhos | 42,9 | 19,0 | 4,8 | 14,3 | 14,3 | 23,8 | 23,8 | 0,0 | 14,3 | 42,9 | 4,8 | 0,0 | 4,8 | 21 |
Outros tipos de grupos | 29,6 | 14,1 | 9,9 | 8,5 | 8,5 | 16,9 | 21,1 | 0,0 | 12,7 | 9,9 | 5,6 | 5,6 | 15,5 | 71 |
Totais | 17,4 | 27,8 | 9,9 | 18,2 | 8,7 | 14,1 | 27,4 | 5,8 | 11,3 | 13,9 | 13,2 | 6,1 | 8,0 | 988 |
68Referidos os objectivos dos GMT, passa-se à abordagem das perspectivas futuras, a partir de uma pergunta aberta solicitando uma descrição sucinta dos principais projectos. As respostas obtidas, correspondentes a 92% dos questionários, foram agrupadas em doze categorias de projectos (quadro 4.27).
69A partir do quadro 4.27 constata-se que os projectos que dizem respeito às instalações, bem como os referentes à preservação e divulgação da tradição, são aqueles que mais vezes foram enunciados (isto é, respectivamente 28% e 27% do total de GMT analisados). Constata-se ainda que são pouco significativos os projectos que visam a Organização de iniciativas, o recrutamento de elementos, a filiação na FFP ou ainda os outros projectos. Todos eles representam valores inferiores a 10% do total. As restantes categorias de projectos (actuações no estrangeiro, edição de fonogramas, acções de divulgação, aquisição de equipamento, alargamento da esfera de acção e recolha etnográfica) apresentam valores de importância intermédia, isto é, entre os 18% e os 11%.
70Tendo em conta o tipo, constata-se que há projectos que se tornam particularmente significativos para os ranchos/grupos folclóricos na medida em que atingem valores acima da média (quadro 4.28). Trata-se especificamente das instalações (34%), das actuações no estrangeiro (20%), do alargamento da esfera de acção (15,8%), da organização de iniciativas (11%) e da filiação na FFP (8%).
71Uma nota ainda para o facto de serem os ranchos/grupos folclóricos que, com maior incidência, realizam iniciativas como festivais ou encontros de folclore (89% dos ranchos/grupos folclóricos organizaram em 1998 pelo menos uma destas iniciativas), enunciando-as como projectos (11%).
72Relativamente aos grupos de cantares detectam-se também projectos que se tornam particularmente significativos pois, mais uma vez, atingem valores acima da média. Trata-se essencialmente da recolha etnográfica (15%) e de outros projectos (9%).
73No que respeita aos grupos corais alentejanos, os projectos que visam a divulgação da tradição e o recrutamento de novos elementos são também particularmente significativos (37% e 13,4%). Saliente-se ainda que os projectos que visam a recolha etnográfica têm muito pouca expressão para estes grupos (3%). A justificação para este resultado prende-se com a elevada faixa etária da maioria dos seus membros, cujas memórias representam a principal fonte para o repertório. Tal como foi anteriormente referido, estes grupos valorizam uma liberdade criativa ao adaptarem a tradição musical. O seu repertório é frequentemente construído a partir de novas letras da autoria dos elementos do grupo, musicadas com melodias tradicionais.
74Ainda no que se refere à análise dos projectos futuros segundo o tipo, é necessário fazer uma chamada de atenção para a edição de fonogramas. Embora os dados do inquérito demonstrem que são projectos de importância intermédia no conjunto das respostas obtidas (17%), constata-se que são vitais para todos tipos de grupos à excepção dos ranchos/grupos folclóricos. Acrescente-se ainda que a edição de fonogramas torna-se gradualmente expressiva dos grupos mais antigos (11%) para os grupos mais recentes (26%), que valorizam este meio para a divulgação do seu repertório e como fonte de receita.
Estatuto jurídico e filiação em organismos de cultura e folclore
75Do ponto de vista do estatuto jurídico, resulta claramente da leitura do quadro 4.29 que o modelo associativo é dominante (76%), seja qual for o tipo de GMT, a localização e a data de fundação. Importa, contudo, dar conta de alguns casos que se afastam, ainda que pouco, desta tendência. Repare-se que, para os grupos corais alentejanos e os outros tipos de grupos, o modelo cooperativo alcança algum significado (9% e 6%, respectivamente). Trata-se de um modelo organizativo significativo no Alentejo e, coerentemente, no período pós-1974. Aliás, este é um dos modelos concorrentes do associativo no arco temporal situado entre 1975 e 1994, o qual recupera, depois deste ano, da quebra antes verificada. Importa ter em conta que este modelo (associação) pode adquirir variadas facetas e orientações, inclusivamente consoante o regime político. Daí que o derrube do Estado Novo não pareça ter implicado uma diferença significativa no tocante à adopção do estatuto de associação. Aponta-se ainda a percentagem de grupos que assinalam a opção outra situação, nas regiões da Madeira (31%), dos Açores (24%) e do Algarve (14%).
76Parte significativa dos GMT mantém ligação a pelo menos um organismo nacional de cultura e folclore. Apenas 35% não têm nem tiveram qualquer filiação (quadro 4.30). Dos organismos referidos destacam-se o INATEL (38%) e a FFP (23%). Recorde-se que o INATEL foi constituído em 1975 a partir da reestruturação da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), criada em 1935. Enquanto existiu, a FNAT teve a seu cargo a constituição, promoção e orientação de grupos musicais (incluindo grupos folclóricos), competências que o INATEL herdou. No ano de 1998 a Divisão de Etnografia e Folclore (DEF) do INATEL prestava apoio aos grupos de folclore, que se inseria em três vertentes distintas: apoio técnico, apoio formativo e apoio financeiro.21 Os dados permitem detectar alguma renovação da filiação nesta instituição. De facto, a percentagem dos grupos filiados é particularmente significativa entre os ranchos/grupos folclóricos (45,7%). Por outro lado, a influência deste instituto é mais forte nas regiões Centro (48%) e Norte (43%), ao passo que na do Alentejo é reduzida (17%). Assinale-se ainda que a percentagem dos filiados tende a diminuir com a juventude dos grupos.
77Este fenómeno é também patente no tocante à FFP, uma organização privada, fundada em 1977, na qual 23% dos grupos analisados se declaram filiados.22 Tem como finalidade “a valorização e defesa do folclore” (FFP 1978: 3). O interesse ou a viabilidade da filiação nesta federação tem vindo a diminuir, uma vez que nos GMT fundados entre 1995 e 1998 a percentagem é de apenas 1%, contra 53% dos fundados entre 1951 e 1974.
78É também significativo o facto de os resultados do questionário detectarem a emergência de associações de folclore de âmbito regional.23 São filiados neste tipo de associações 11% dos GMT.
79Também a Federação Nacional das Colectividades de Cultura e Recreio (FNCCR, fundada em 1924), cuja massa associativa é particularmente elevada entre os ranchos/grupos folclóricos (31%) e adquire maior significado nos GMT localizados nas regiões a norte de Lisboa e Vale do Tejo, mostra uma sensível quebra de recrutamentos entre os grupos fundados mais recentemente: entre aqueles cuja data de fundação se situa entre 1951 e 1974 a percentagem é de 14%, diminuindo depois consistentemente até alcançar os 7% entre os grupos fundados no arco temporal 1995-1998.
80Por outro lado, contrariamente às referidas organizações, o número de grupos inscritos na Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), cooperativa fundada em 1925 para a gestão do direito de autor, é relativamente baixo (3%), ganhando maior expressão nos grupos mais recentes. Esta baixa percentagem poderá ser justificada por duas ordens de razões. Em primeiro lugar porque a SPA apenas admite a inscrição de autores (letra, música, arranjos). Sendo a letra (e sobretudo) a música tradicionais, conclui-se que os grupos se referem essencialmente ao registo da autoria de arranjos do seu repertório (Q4.1). Neste sentido, os resultados sugerem uma crescente assunção de arranjos da música tradicional. Repare-se que esta inscrição é particularmente patente nos “outros tipos de grupos”, nos quais pontuam os “grupos urbanos de recriação”. O segundo aspecto a ter em consideração prende-se com a necessária autorização da SPA para a edição de fonogramas.
81Importa ainda referir uma outra opção de resposta—a ausência de qualquer filiação, a qual representa uma percentagem total de 35% e vem crescendo nos grupos mais recentes, 51% dos grupos fundados entre 1995 e 1998. Esta opção é particularmente significativa (acima ou igual a 50%) nas regiões do Alentejo (59%), do Algarve (55%) e da Madeira (50%). Quanto aos tipos de GMT, a não filiação é comum entre os grupos corais alentejanos (60%).
Actividades dos grupos em 1998
82Os contextos das actuações e as iniciativas em que estas se inserem, permitem demarcar duas dinâmicas distintas do mercado dos GMT. A primeira prende-se com a centralidade das actuações em festas de carácter local para todos os tipos, uma vez que 88,2% dos grupos inquiridos actuaram em festas do concelho, da cidade ou outras festas locais no ano de 1998 (quadro 4.31). A segunda prende-se com a predominância de determinadas iniciativas em certos tipos de grupo. As actuações em festivais são predominantes nos ranchos/grupos folclóricos (90%), ao passo que as actuações em encontros de grupos do mesmo tipo são mais comuns nos grupos corais alentejanos (85%). Acrescente-se que as festas religiosas ou romarias são maioritárias nos ranchos/grupos folclóricos, grupos de cantares e outros tipos de grupos (84%, 70% e 76% respectivamente).
83Dado que o ano a que se refere o inquérito coincide com a realização da Exposição Mundial de Lisboa, é possível ter uma noção da participação dos GMT — 15% do total. Do ponto de vista do tipo, a participação é particularmente significativa nos grupos corais alentejanos (28%), e pouco relevantes nos grupos de cavaquinhos (5%). Os ranchos/grupos folclóricos registam uma percentagem de 14%.
Quadro 4.31 Contextos de actuação segundo o tipo (%)
Tipo | Contextos de actuação | Número de casos | ||||||||
Festivais | Encontros de grupos do mesmo tipo | Festas religiosas ou romarias | Festas do concelho, da cidade ou outras festas locais | Feiras | Expo’98 | Programas de rádio e programas de televisão | Outra (s) iniciativa (s) | ns/nr | ||
Rancho/grupo folclórico | 89,5 | 55,9 | 83,4 | 88,2 | 42,8 | 13,8 | 45,9 | 28,4 | 2,1 | 703 |
Grupo de cantares | 39,2 | 59,8 | 69,6 | 83,3 | 39,2 | 18,6 | 46,1 | 31,4 | 2,9 | 102 |
Grupo coral alentejano | 25,4 | 85,1 | 52,2 | 76,1 | 46,3 | 28,4 | 55,2 | 32,8 | 9,0 | 67 |
Tuna | 54,2 | 70,8 | 66,7 | 83,3 | 41,7 | 12,5 | 50,0 | 41,7 | 0,0 | 24 |
Grupo de cavaquinhos | 38,1 | 66,7 | 76,2 | 85,7 | 42,9 | 4,8 | 52,4 | 47,6 | 0,0 | 21 |
Outros tipos de grupos | 46,5 | 53,5 | 76,1 | 90,1 | 50,7 | 18,3 | 54,9 | 32,4 | 4,2 | 71 |
Totais | 74,9 | 58,7 | 78,7 | 86,8 | 43,2 | 15,4 | 47,5 | 30,1 | 2,7 | 988 |
84Tendo em conta o número de actuações realizadas no ano de 1998, constata-se, em primeiro lugar, que estas totalizam mais de 21.000 actuações, sendo a grande maioria (74%) realizadas por ranchos/grupos folclóricos. Neste contexto, as actuações constituem, de facto, uma actividade regular importante para os inquiridos, uma vez que 53% destes realizaram pelo menos 19 actuações no ano de 1998. O número de actuações segundo as diferentes iniciativas permite, por seu lado, vincar as duas dinâmicas anteriormente referidas.
85A centralidade das festas de carácter local mantém-se evidente para todos os tipos de grupo (figura 4.5). É nos grupos de cantares e nos outros tipos de grupos que estas assumem uma maior importância (respectivamente 28% e 30% dos totais de actuações).
86Nos ranchos/grupos folclóricos a participação em festivais representa 29% do total das suas actuações. Nos grupos de cantares, é a participação em festas de concelho, de cidade ou outras festas locais que recolhe a percentagem mais elevada (28%). Quanto aos grupos corais alentejanos, destacam-se as actuações em encontros de grupos do mesmo tipo (52%), percentagem que corresponde a uma média de 12 actuações anuais por grupo.
87Passando aos espaços em que ocorrem as actuações, verifica-se que são comuns a todos os GMT (quadro 4.32): palcos ao ar livre (92%) e salas de espectáculos (62%).
Aspectos económicos
88Uma das possíveis receitas é constituída pelas remunerações devidas pelas actuações (Q12.3). Mas importa precisar desde logo que esta não é uma opção partilhada pela totalidade dos grupos, uma vez que 26% afirmam não cobrar qualquer remuneração. Esta opção é particularmente acentuada nos grupos corais alentejanos (72%). Entre os que solicitam remuneração (69%), destacam-se os grupos de cavaquinhos (81%) e os ranchos/grupos folclóricos (75%). Ainda deste ponto de vista, e segundo a localização, apenas os GMT da região do Alentejo têm percentagens abaixo dos 50%, mais precisamente 40%. A percentagem mais elevada é a da região do Algarve (86%). Note-se ainda que a solicitação de remuneração é inversamente proporcional à antiguidade, ou seja, quanto mais recentes menor é a percentagem de grupos que solicitam remuneração.
89Aprofundando os resultados relativamente aos grupos que declaram receber cachet pelas actuações, importa notar que este é geralmente muito baixo (quadro 4.33). Com feito, para 58% o valor máximo cobrado não ultrapassa normalmente os 250 euros e 95% cobra, no máximo, 750 euros. O confronto dos dados totais com as variáveis independentes permite descortinar especificidades neste quadro geral. Assim, quanto ao tipo de grupo, os valores mais baixos são mais comuns entre os ranchos/grupos folclóricos e os grupos de cantares. Em qualquer destes tipos o escalão mais baixo é o maioritário (63% e 52%, respectivamente). Nos outros tipos de grupos o escalão mais comum é o imediatamente a seguir (entre 251 e 500 euros). Este é também o tipo com um espectro mais alargado de remunerações. Nesta óptica, destacam-se os 6% do escalão mais elevado — mais de 2001 euros. No tocante à localização, o valor mais baixo volta a ser maioritário na maior parte das regiões (com destaque para os Açores, 86%), excluindo-se o Norte (43%) e o Alentejo (50%). A estas baixas percentagens corresponde normalmente um espectro mais alargado dos escalões (veja-se o caso do Norte, região na qual, anote-se, o escalão entre 251 e 500 euros é o mais significativo, com 44%), mas este alargamento é também visível na região Centro. Finalmente, segundo a data de fundação, é entre os mais antigos que se nota a fuga ao escalão mais baixo das remunerações (46%). Nos demais este é claramente maioritário, com destaque para os grupos fundados mais recentemente (68%).
Quadro 4.32 Espaços de actuação segundo o tipo (%)
Tipo | Espaços das actuações | Número de casos | ||||
Salas de espectáculo | Palcos ao ar livre | Restaurantes | Unidades hoteleiras | Outro (s) espaço (s) | ||
Rancho/grupo folclórico | 55,8 | 93,6 | 27,5 | 25,6 | 19,8 | 703 |
Grupo de cantares | 85,3 | 85,3 | 41,2 | 32,4 | 24,5 | 102 |
Grupo coral alentejano | 68,7 | 88,1 | 26,9 | 17,9 | 25,4 | 67 |
Tuna | 75,0 | 87,5 | 37,5 | 37,5 | 37,5 | 24 |
Grupo de cavaquinhos | 85,7 | 100,0 | 57,1 | 23,8 | 23,8 | 21 |
Outros tipos de grupos | 69,0 | 81,7 | 31,0 | 22,5 | 29,6 | 71 |
Totais | 61,7 | 91,5 | 30,0 | 25,8 | 21,9 | 988 |
90É de 12% a percentagem dos grupos que declaram não receber qualquer apoio, em forma de subsídio monetário e/ou em bens e serviços (quadro 4.34). Os ranchos/grupos folclóricos são aqueles que apresentam o valor mais baixo (apenas 6%). No pólo oposto estão os outros tipos de grupos (31%). Do ponto de vista da região, a inexistência de qualquer subsídio faz-se sentir sobretudo no Sul do país (Alentejo e Algarve, ambas com 18%). Vista sob o ângulo da data de fundação, os mais antigos apresentam uma percentagem baixa (7%), ao contrário dos mais recentes (1995-1998), em que a inexistência de apoios é de 19%.
91Adoptando a perspectiva daqueles que referem terem recebido apoios (88%), destacam-se as autarquias (82%), seguidas das comissões de festas (38%) e do INATEL (37%). Também os governos civis merecem uma referência pelos 31% que registam. Embora não exista informação sobre os montantes envolvidos, a natureza dos apoios concedidos e a sua importância na actividade dos grupos, importa destacar a diversidade de organismos apoiantes e fazer uma referência à sua natureza. Trata-se de organismos públicos descentralizados (autarquias) ou desconcentrados da administração central (governos civis, entre outros), uma vez que são os organismos desconcentrados que têm a competência da atribuição de apoios aos GMT. É o caso do Ministério da Cultura, através das delegações regionais de cultura. Daí que se possa falar do sector da música tradicional enquanto sector assistido pelas autoridades locais, por contraposição ao sector da música erudita, assistido pelo poder central. Isto não significa que outras entidades, privadas, estejam excluídas, uma vez que, por exemplo, as empresas registam a percentagem relativamente elevada de 28%.
92A análise dos dados pelo tipo de grupo não mostra grandes diferenças relativamente aos totais. Importa, porém, pontuar alguns dos resultados mais divergentes. Assim, as regiões de turismo são mais significativas para os grupos corais alentejanos (16%) e para os ranchos/grupos folclóricos (15%). O Ministério da Cultura surge como menos importante para os ranchos/grupos folclóricos (3%), comparativamente com outros, designadamente os grupos corais alentejanos (10%).
93O cruzamento com a localização mostra uma quebra por parte das autarquias nos Açores (64%), eventualmente colmatada pela Direcção Regional dos Assuntos Culturais (64%). Por outro lado, as regiões de turismo adquirem valores particularmente significativos no Algarve (36%) e na Madeira (31%).
94Finalmente, no que toca à data de fundação, a tendência mais significativa a salientar refere-se possivelmente à relação negativa entre os apoios concedidos pela generalidade dos organismos referidos, e muito particularmente aqueles que têm maior peso, dos GMT mais antigos para os mais recentes.
95O montante total apurado da despesa é de 7.393 milhares de euros (quadro 4.35), dos quais a parte substancial se refere aos grupos/ranchos folclóricos (83%). Na estrutura da despesa, as principais componentes são as iniciativas organizadas pelo grupo e os transportes, 23% cada, ou seja, 46% no conjunto. A despesa menos volumosa, de entre as enunciadas, é a relativa ao ensaiador (2%), ainda assim significativa tendo em atenção que se trata de apenas um indivíduo.
96Tomando como referência as despesas totais, é patente a diversidade do peso de cada item na estrutura das despesas em cada tipo de grupo. Por exemplo, os transportes são claramente determinantes para os ranchos/grupos folclóricos e menos importantes para os demais tipos. Os instrumentos musicais ganham uma expressão particularmente significativa nos outros tipos de grupos (19%), nos grupos de cantares (17%) e nos grupos de cavaquinhos (16%). Os trajos são particularmente notados nas despesas dos grupos de cavaquinhos e dos grupos corais alentejanos (28%). O ensaiador destaca-se particularmente nas tunas (11%). As iniciativas organizadas pelo grupo realçam-se quer nos grupos corais alentejanos (30%) quer nos ranchos/grupos folclóricos (24%).
97A localização ganha outras especificidades, designadamente o peso do acordeonista na região de Lisboa e Vale do Tejo (14%); os trajos nos Açores (24%) e na Madeira (20%); o Algarve atinge uma percentagem de monta nos transportes (32%).
98Por sua vez, pela data de fundação reconhece-se uma mudança, dos antigos para os mais recentes, nas opções relativas às despesas feitas. No tocante aos instrumentos musicais e aos trajos, nota-se um aumento do peso respectivo (de 4% para 14% e de 14% para 19%). Pelo contrário, nos transportes nota-se uma diminuição (de 29% para 14%). Nas restantes, o peso relativo na estrutura da despesa não sofre grandes alterações.
Conclusões
99O inquérito aos grupos de música tradicional é o primeiro instrumento de análise extensivo e sistemático aplicado a este universo. Os resultados obtidos permitem realçar várias características de um fenómeno que marca o século XX em Portugal.
100Os GMT mobilizam na actualidade directamente mais de 108.000 pessoas em todo o país, envolvendo de igual modo ambos os sexos e todas as faixas etárias. Concretizam-se através de diversos tipos de grupos de música e dança, dos quais 71% são ranchos/grupos folclóricos. A implantação de grupos em relação à população residente varia, sendo particularmente expressiva em áreas periféricas e no interior, com especial destaque para a Região Autónoma dos Açores e os distritos de Beja e Viseu, onde o número de grupos em função da população residente é muito significativo (8 por cada 10.000 habitantes no caso de Beja e 6 nos casos de Viseu e dos Açores). Integrados nos movimentos associativo e cooperativo, a viabilidade financeira e logística da maioria dos grupos é assegurada através dos apoios atribuídos por organismos públicos desconcentrados e descentralizados, com destaque para as autarquias. Portanto, está-se perante um sector assistido pelas autoridades locais.
101Os grupos mantêm uma actividade regular intensa, sobretudo no Verão, num total de 21.000 espectáculos em 1998, a maioria dos quais ao ar livre em festas locais, festivais e encontros de grupos do mesmo tipo. Em zonas com grande actividade turística, como a Madeira e o Algarve, as exibições dos grupos enquadram-se no âmbito da actividade turística, servindo os hotéis e restaurantes como locais privilegiados de performação. Em zonas com um importante índice de emigração os grupos actuam também nas comunidades portuguesas no estrangeiro, sendo a percentagem de exibições fora do país particularmente expressiva nos grupos da região Norte e da Madeira.
102O fenómeno folclórico tem sido frequentemente atribuído à política cultural do Estado Novo e os grupos folclóricos fundados no princípio do século XX no Alto Minho têm sido referidos como o seu modelo inicial. Os resultados do inquérito relativizam tais afirmações, remetendo para o último quartel do século XIX a fundação dos primeiros grupos, para a região Centro a grande concentração de grupos no princípio do século XX, e para o período posterior ao 25 de Abril de 1974 a expansão em número e a diversificação dos tipos de grupos, tendo 81% a sua data de fundação no último quartel do século XX.
103Na sua maioria, os GMT pretendem exibir repertórios associados a uma zona circunscrita do país, constituindo unidades de referência áreas administrativas, como a freguesia, o concelho ou as antigas províncias. São matérias de espectáculo, vivências, sonoridades, gestualidades e indumentária supostamente originárias do mundo rural, desaparecido ou em vias de desaparecimento, e de um período que remonta ao final do século XIX e princípio do século XX. Mas é no meio urbano que o universo campestre é recriado. Nas últimas décadas do século XX a mancha correspondente à parte da população que vive em áreas urbanas no mapa de Portugal alterou-se profundamente. Tendo em conta a influência das tradições rurais nos grupos analisados e a presumida origem rural de parte significativa destes grupos, estes não só resistiram, mantendo-se em níveis relativamente elevados em áreas rurais, como se adaptaram a esta evolução da sociedade portuguesa, uma vez que é muito significativo, e aumentou mesmo de 1996 para 1998, o número de grupos localizados em áreas urbanas.
104As actividades dos GMT, especialmente dos ranchos/grupos folclóricos, são reguladas por um organismo público (INATEL) e outro privado (FFP), havendo uma tendência para a proliferação de outros organismos privados de regulação, nomeadamente as associações regionais de folclore, e também para a autonomização dos grupos em relação a entidades reguladoras.
105A preservação, divulgação e transmissão da tradição para as gerações mais novas, são os principais objectivos que norteiam os GMT. A família constitui a base social na qual a esmagadora maioria dos grupos estão ancorados. Com excepção dos grupos corais alentejanos, na sua maioria constituídos por homens, em mais de 90% dos GMT existem duas ou mais pessoas com grau de parentesco. É a predominância de relações de parentesco nos grupos que tem garantido o equilíbrio no recrutamento de membros dos dois sexos, a continuidade e a coesão dos grupos.
106No final do século XX, os GMT mobilizam milhares de aderentes, perpetuam memórias, (re) criam repertórios, animam espaços públicos, proporcionam sociabilidades, (re) constroem e negoceiam identidades e incrementam as indústrias do património. As suas actividades podem ser interpretadas como uma resposta e ao mesmo tempo uma reacção à modernidade.
Annexe
Anexo 1 Inquérito aos Grupos de Música Tradicional em Portugal
Notes de bas de page
1 O inquérito insere-se num projecto de investigação mais vasto, intitulado “A Revivificação do Património Tradicional Expressivo em Portugal no Século XX”, coordenado por Salwa Castelo-Branco e financiado pelo Programa Lusitânia da FCT e do Instituto Camões. Resultados parciais do inquérito estão publicados em (Castelo Branco e Lima 1998; e Castelo-Branco, Neves e Lima 2001).
2 Os nossos agradecimentos a Maria de Lourdes Lima dos Santos por ter acolhido no OAC as fases do tratamento e análise dos dados do questionário e pelo apoio dado ao longo da pesquisa, a António Firmino da Costa pela revisão crítica do questionário, a Jorge Santos (OAC) pela colaboração no tratamento e análise dos dados e elaboração dos mapas aqui apresentados, aos membros da equipa do INET (Carla Raposeira, Maria do Rosário Pestana, Susana Sardo, Margarida Seromenho e Paulo Lameiro) e aos directores dos grupos pela colaboração no pré-teste e pela revisão da primeira versão do questionário: Alberto da Costa Rego do Grupo Etnográfico da Areosa, Alfredo Ferreira da Silva do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, Amélia Fonseca das Adufeiras de Monsanto, António Cardoso do Grupo de Música Popular Leiricanta, Augusto Oliveira Gonçalves de Cantares do Minho — Grupo de Recolha e Divulgação de Música Popular do Alto Minho, Fernando Soares do Rancho Folclórico Infantil de Loulé, Gonçalo Lé do Grupo Etnográfico e Cénico das Barrocas, Henrique Alberto do Rancho Folclórico do Calvário, Joana Guimarães de Populanca — Grupo de Música e Cantares Tradicionais, Joaquim Pinto do Grupo Etnográfico de Danças e Cantares do Minho, José Carlos Roque da Silva do Grupo de Cantares “O Repescando” da Associação Recreativa Andrinense, José Manuel Janeiras do Grupo Coral Alentejano Amigos do Barreiro, Margarida Antunes do Cramol — Grupo de Canto de Mulheres da Biblioteca Operária Oeirense, Joaquim Mendes do Grupo de Cavaquinhos e Cantares à Beira, Rosa Irene do Grupo Típico Cancioneiro de Águeda, Teresa de Freitas Sampaio e Feliz do Vale Machado do Rancho Regional das Lavradeiras de Carreço e membros das direcções do Grupo de Bombos e Gigantones de Negrelos e do Grupo Folclórico do CCSD 500 dos Trabalhadores da Saúde e Segurança Social de Viseu.
3 Realçam-se os contactos efectuados, através de ofício e telefone, com as câmaras municipais, as delegações regionais do Ministério da Cultura, as direcções dos assuntos culturais dos governos regionais e as regiões de turismo.
4 Abase de dados dos grupos de música tradicional está disponível no INET através do endereço www.inet.fcsh.unl.pt.
5 Importa salientar desde já que, no presente inquérito, a designação tuna refere-se às tradicionais, também designadas tocatas ou estúrdias, e não às tunas académicas ou às “tunas-orquestra”. Trata-se de grupos musicais constituídos por instrumentos de corda dedilhada: bandolins, bandolas, bandoloncelos, violas, viola baixo. O seu repertório integra arranjos de música tradicional, composições dos maestros e outro repertório de música urbana.
6 A literatura consultada para os diferentes perfis de grupo é a seguinte: rancho folclórico (Sardo 1988: 33; Castelo-Branco 1991: 97, e 1997: 33-49 e Holton 1999: 54); grupo folclórico (Sardo 1988 e Holton 1999: 9); grupo de cantares (Pestana 2000); grupo coral alentejano (Castelo-Branco 1992: 68); tuna (Oliveira, E. 2000: 227, Castelo-Branco 1997: 146 e Castelo-Branco e Lima 1998: 11); grupo de bombos (Oliveira, E. 2000: 98); zés pereiras (Oliveira, E. 2000: 66); grupo de pauliteiros (Oliveira, E. 2000: 86); grupo urbano de recriação (Lima 2000: 3e11); grupocoral (Cardoso 1986: 48-49).
7 A consulta de vários estudos etnomusicológicos permitiu detectar algumas diferenças entre as designações rancho folclórico e grupo folclórico. Alguns autores argumentam que a designação “grupo folclórico” tem maior ou menor implementação consoante os contextos geográficos em que se integra (Sardo 1988: 33). Por outro lado, o termo “rancho” refere-se a um conjunto igual ou superior a 25 pessoas que trabalham para uma casa agrícola, propriedade de dimensões que justifiquem a produção de 10 pipas de vinho, 5 pipas de azeite e 20 rezas de cereal por ano (Sardo 1988: 33). No final do século XIX, o termo ‘Rancho’ designa um conjunto de trabalhadores agrícolas empregados por grandes proprietários de terrenos para efectuar tarefas que exigiam um trabalho manual intensivo (Castelo-Branco 1997: 37).
8 A bibliografia assinala diferenças entre as designações zés pereiras e grupo de bombos. Segundo Ernesto Veiga de Oliveira, os grupos de bombos, também chamados bombos ou zés pereiras beirões, circunscrevem-se à região do Fundão e são compostos por “enormes bombos e caixas, a acompanhar o instrumento melódico […]. Estes bombos são famosos pelo seu brio nas festas locais, onde acompanham também cantares e danças, e são tão grandes que têm que ir apoiados sobre a coxa direita do tocador, quando este caminha, e é em verdadeiros saltos que ele bate com as massetas, deixando as peles ensanguentadas” (Oliveira 1982: 98). Segundo o mesmo autor, a designação zés pereiras não implica propriamente uma limitação geográfica, correspondendo genericamente a um grupo constituído por bombos e caixas sendo, “de uso qualificadamente cerimonial, figurando agora exclusivamente em certas solenidades públicas” (Oliveira 1982: 66).
9 Para a construção da variável “actividades performativas dos GMT” têm-se em conta apenas as actividades estritamente relacionadas com a dança, o canto e a execução de instrumentos. Ficam excluídas: figurino, porta-estandarte, apresentador, entre outras.
10 O INE difundiu até ao momento duas tipologias: uma datada de 1996 (freguesias rurais, semi-urbanas e urbanas) e outra de 1998 (áreas predominantemente rurais, medianamente urbanas e predominantemente urbanas). Atipologia de 1998 resulta da colaboração entre o INE e a Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano (INE e DGOTDU 1998). Embora comparáveis, ao contrário da tipologia de 1996, a de 1998 não inclui as regiões autónomas, motivo que determina que aqui se reduza a unidade territorial de análise ao Continente.
11 Ao colocar a questão deste modo, e ao não discutir aqui se este fenómeno tem ou não origens rurais, está-se a ressalvar o efeito induzido pelo (provável) desaparecimento entretanto ocorrido de GMT mais antigos, presumivelmente de origem rural, fenómeno que o presente inquérito não permite iluminar. Importa ainda ter presente um outro efeito decorrente do processo de urbanização, ou seja, a alteração ao longo do tempo da classificação das freguesias (de rurais para urbanas).
12 Os arcos temporais utilizados na variável data de fundação, pretendem distinguir entre o período anterior e o posterior ao 25 de Abril de 1974. Quanto ao período anterior a 1974, este foi subdividido em dois, delimitados pelo ano de 1950, que representa o início documentado do aumento do número de grupos (ver Melo 2001: 192 e adiante quadro 4.11). Quanto ao período que se segue a 1974, adopta-se uma divisão mais fina — por décadas — de modo a dar conta das mudanças ocorridas.
13 O inquérito tem por referência o ano de 1998. Dado o seu carácter inédito, não permite uma análise diacrónica mas tão-só uma retrospectiva, a qual se refere aos grupos que se encontravam em actividade no ano de recenseamento ou que responderam ao questionário.
14 Em qualquer dos casos, não foi explicitado na resposta ao questionário um ano em concreto, remetendo-se a fundação do grupo para o período anterior a 1900, referência genérica que se manteve mesmo em contactos directos realizados posteriormente.
15 Outro ponto de vista remete para a data de “institucionalização” deste grupo, 1924/1925 (Melo 1997: 200).
16 Neste livro cf. artigos sobre Almeida Campos (Maria do Rosário Pestana), Carlos Santos (Jorge Freitas Branco), António Marvão (António João César, Teresa Petas e Luís Clemente), António Mourinho (Ana Cristina Brissos) e Pedro Homem de Melo (João Vasconcelos). Na Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX (no prelo) Salwa El-Shawan Castelo-Branco (org.), ver entradas sobre Manuel Augusto de Almeida Campos, Abel Viana, António Mourinho, António Marvão, Gonçalo Sampaio, António Sousa Gomes e Carlos Santos.
17 A concepção das províncias tem como base o mapa de Amorim Girão de 1930. Segundo Jorge Gaspar, “abolidas as províncias pela Revisão Constitucional de 1959 e não obstante o fraco desempenho revelado pela autarquia provincial, aquele mapa teve um importante impacte na configuração mental que os portugueses construíram do território nacional. Por isso, para muitos, quando se fala em províncias ou regiões, são aquelas onze unidades (ou parte delas) que se destacam” (Gaspar 1993: 16).
18 A discrepância entre a base do quadro 4.19 (36.477) e a base dos demais quadros e figuras (35.941), ambas referentes ao total de elementos, deriva do facto de se tratar de perguntas diferentes (Q3.1 e Q3.6, respectivamente) e de diferenças no preenchimento do questionário.
19 Demonstrando a importância da projecção do parentesco para o exterior do grupo, Kimberly Holton relata que numa das actuações em palco do Rancho Folclórico de Sobrecelo, o apresentador “introduced his entire rancho according to familial clusters—father and son, mother and daughter, brother and sister, husband and wife—stepping out of the group to receive applause” (Holton 1999: 327).
20 Até ao princípio da década de 80, as mulheres só cantavam em contextos privados, ou durante o trabalho agrícola, mas nunca em espectáculos. Desde os anos 80 vários grupos corais alentejanos femininos e mistos têm vindo a ser constituídos no Baixo Alentejo (Castelo-Branco 1992: 68).
21 Em 1998, o apoio técnico contempla a disponibilização aos grupos interessados do acesso aos Serviços de Documentação da DEF. O apoio formativo desdobrava-se em acções como: encontros, colóquios e seminários de âmbito regional e visitas técnicas aos grupos por parte de elementos da DEF. O apoio financeiro englobava a atribuição de subsídios para a aquisição de trajos, instrumentos musicais (em regime de comodato), a manutenção e apetrechamento de pequenos museus e de colecções monográficas anexas aos grupos de folclore, o apoio a edições fonográficas e videográficas e o apoio a trabalhos de investigação.
22 Ver artigo neste volume.
23 As associações regionais de folclore citadas são: Associação de Folclore do Alto Minho; Associação de Folclore Dão Lafões; Associação de Folcloristas do Alto Alentejo; AFERM — Associação de Folclore e Etnografia da Região do Mondego; Associação de Defesa do Folclore da Região de Turismo dos Templários; Associação Folclórica da Região de Leiria; Associação para a Defesa da Cultura Tradicional Portuguesa; Associação Folclorista do Alto Alentejo; Associação de Folclore e Etnografia do Algarve.
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