Jill Dias e a vertigem pré-colonial da antropologia histórica
p. 83-94
Texte intégral
1Quando Jill Dias se doutorou em História de Inglaterra, pela Universidade de Oxford, em 1973, não podia adivinhar que viria pouco tempo depois a metamorfosear-se de alma e coração, e para sempre, em historiadora da África colonial portuguesa. Foi uma confluência de fatores da sua vida pessoal que a levou até Luanda no último ano da ditadura e da Guerra Colonial, acompanhando seu marido, Alberto Dias. Durante essa permanência em Angola, Jill Dias dedicou-se muito naturalmente àquilo que melhor sabia fazer: a procura de vestígios de outra era. Consciente da profunda fragilidade histórica dos documentos de papel, e por conseguinte da importância de resgatar o passado em quaisquer circunstâncias, conseguiu em pleno processo de descolonização aceder aos arquivos angolanos e copiar um grande número de documentos, muitos deles à mão, o que foi o início da sua carreira de africanista e em grande medida o início do seu arquivo particular em Portugal, hoje Fundo Jill Rosemary Dias da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. (Cf. Silva et al. 2011: 9)
2O contexto subsequente ao “25 de Abril” de 1974 foi marcado pelo surgimento de várias obras de cariz fortemente ideológico sobre a história do colonialismo português, estabelecendo uma dicotomia plurissecular entre opressores brancos e oprimidos negros. Foi nesse período conturbado que Jill Dias, manuseando sem ideias pré-concebidas uma vasta documentação, sobretudo do século XIX, começou a vislumbrar a existência daquilo a que ela própria veio a chamar “um mundo desaparecido”, feito de Sás da Bandeira mestiços, sobas de bicórnio, ambakistas de cartola e tantas outras personagens saídas de uma galeria que se diria quase cinematográfica. Aliás, Jill Dias entregou-se a uma valorização incansável da fotografia como fonte histórica, tendo colecionado raros e variadíssimos documentos iconográficos coloniais que ajudavam verdadeiramente a recriar aquele mundo. Estamos aqui, de certa forma, perante uma Weltanschauung. A África de Jill Dias era um universo colonial que não podia ser retratado a preto e branco, pois era na verdade “crioulo”, segundo uma das suas expressões favoritas para significar que as distinções sociais, ideológicas e raciais não eram unívocas antes da ocupação efetiva. Se os propagandistas do Estado Novo tinham reforçado o mito dos quinhentos anos de Portugal em África, uma nova geração intelectual pós-revolucionária estava, no fundo, a veicular uma versão em negativo do mesmo mito, para afirmar uma continuada realidade de exploração racial e de resistência. Consciente de que o seu dossier histórico era politicamente explosivo, Jill Dias nunca fez concessões e deu um contributo de relevo para o conhecimento de certas verdades inconvenientes, nomeadamente relacionadas com o tráfico de escravos.
3Ela sabia que os estereótipos de raiz ideológica não iam desaparecer da historiografia africana. Ainda hoje é fácil encontrar generalizações dessa índole, que chegam a recorrer às noções de bem e de mal para explicar a interação secular entre portugueses e africanos. Estão em causa processos de construção e consolidação de mitos nacionalistas de Angola, como de outros países de África, por parte de investigadores que deliberada ou inconscientemente extrapolam da realidade colonial do século XX para uma diacronia e uma dicotomia profundas. Jill Dias batalhou de forma insistente contra essa deriva, não por qualquer conveniência ideológica, mas por um simples imperativo de rigor. Em Angola, as faixas de influência portuguesa anteriores à ocupação militar efetiva eram, nas suas palavras, um “mosaico de grande complexidade”. Não se tratava apenas de portugueses e africanos, mas de um conjunto heteróclito de identidades crioulas que emergiram no contexto do tráfico de escravos, inclusive de brancos e mestiços descendentes de antigas famílias portuguesas. Segundo Jill Dias, a abolição da escravatura no século XIX e o ulterior endurecimento da presença colonial portuguesa tiveram um efeito desintegrador dessa Angola “crioula”, mas ainda era possível a reconstrução minuciosa de tais microcosmos. “Julgo que só assim”, escreveu a propósito, “só assim se tornará possível evitar interpretações históricas da época colonial em Angola demasiado simplistas ou generalizantes”. (Dias 1997: 13)
4O seu trabalho foi feito em filigrana, aprofundando nomeadamente os estudos de caso oitocentistas a norte do Kwanza, num registo de etnografia histórica que remete para a Antropologia. Mas por outro lado, Jill Dias não deixou de introduzir coordenadas mais abstratas na incomensurabilidade, como que facultando aos seus pares uma espécie de mapa exploratório desse mundo por reconstituir, um mapa feito de “graus variáveis de aculturação”, para usar a sua expressão. (Dias 1990: 243) Esta combinação entre a ideia cartográfica e o old concept culturalista permitiu-lhe, com grande coragem, e sem se incomodar com acusações pós-modernas, sugerir a existência de articulações históricas entre a distância geográfica, a mestiçagem biológica e a integração cultural. Num extremo estava Luanda, com as suas oligarquias de ascendência e identidade lusas, que procuravam manter-se tão brancas quanto possível, casando as suas filhas com novos imigrantes brasileiros ou portugueses. E no outro extremo, estavam os potentados independentes, para lá do hinterland de Luanda, sem qualquer relação direta com Portugal. Entre estes dois pólos, encontravam-se realidades intermédias nos dois sentidos. “Os interesses mercantis”, escreveu Jill Dias, “juntamente com a cultura e a religião ocidentais, penetravam o interior do continente a um ritmo desigual, criando condições propícias à emergência de novos grupos sociais, culturais ou políticos, paralelamente, ou em substituição de outros mais antigos.” (Dias 2002: 294) Na sua mundivisão, havia tendencialmente um maior grau de africanidade em termos culturais, e de negritude em termos biológicos, à medida que se avançava geograficamente para o interior. Assim, as oligarquias mestiças dos centros comerciais e administrativos a leste de Luanda, “onde a infusão de novo sangue europeu era, desde há muito, mínimo”, caracterizavam-se não só por uma ascendência “predominantemente negra”, como escreve Jill Dias, mas também por “um maior grau de africanização e ligações mais íntimas às elites africanas dos sobados”. Se nalguns casos se mantinham apelidos antigos de pura extração portuguesa, como os Pereira Bravo, os Fragoso dos Santos ou os Mendes Machado, noutros casos eram acrescentados artificialmente nomes como “Lisboa” e “Madeira” ou os de conhecidos heróis da conquista colonial de Angola, “como indicativo real ou fictício de uma linhagem portuguesa”. (Dias 1984: 66, 67)
5Note-se bem que esta conceptualização de matriz cartográfica não era de forma alguma estanque, nem redundava num vocabulário mecânico para reações de tipo químico. Antes pelo contrário, permitia enfatizar a permeabilidade e o sincretismo das comunidades em questão, ao mesmo tempo que fazia implodir, em grande medida, a dicotomia colonizador/colonizado. A escala dos africanismos e ocidentalismos tinha pois um valor inteiramente relativo, permitindo contudo despertar o imaginário. Deste ponto de vista, é muito tocante a importância transversal que Jill Dias atribuía às mulheres de extração cultural predominantemente africana, esposas ou mucamas, nos processos de enculturação ou socialização das crianças em famílias de cunho patrilinear português. Esse enfoque feminino simboliza, no fundo, a sensibilidade de Jill Dias para os escaninhos culturais daquela outra realidade maior, por assim dizer, a das interdependências políticas e económicas dos diferentes grupos. Nunca hesitou em afirmar que o tráfico de escravos funcionara como força coesiva entre os dois pólos, europeu e africano, mas ao mesmo tempo não se cansava de chamar a atenção para a complexidade e ambivalência dos espaços intersticiais. Tratava-se pois de um mosaico em movimento, comparável metaforicamente à oscilação das fronteiras de Angola antes da ocupação efetiva. É neste cenário de zonas interculturais e de linguagens crioulizadas que se situa a problemática da Antropologia e da História na obra de Jill Dias.
6Os diálogos recentes entre as duas disciplinas, em particular no hegemónico contexto anglo-saxónico, continuam a orientar-se pelo caráter contingente da própria distinção disciplinar entre Antropologia e História. Põe-se até em questão a ideia de interdisciplinaridade, procurando-se mais exatamente ir contra a disciplina. Neste contexto, a Antropologia Histórica tem-se afirmado como espaço intersticial que, vindo das margens das duas disciplinas, ocupa cada vez mais um lugar central para todos aqueles que investigam o arquivo colonial. Jill Dias fez Antropologia Histórica? Sem dúvida que sim. Mas esta resposta pronta não deve esconder o facto de que o seu pensamento e o seu método têm pontos de profunda dissonância em relação a certos pressupostos epistemológicos em voga. Convenhamos em primeiro lugar que a Antropologia Histórica atualmente dominante se posiciona, de forma inequívoca, contra as experiências de reconstituição de formações culturais e sociais pré-coloniais, sobretudo se forem levadas a cabo através dos conteúdos do arquivo colonial. Considera-se que essas tentativas são uma forma de essencialismo e que veiculam “ideologias nostálgicas de continuidade cultural, diferença e autenticidade”, para utilizar a formulação de Eric Tagliacozzo e Andrew Wilford no recente Clio/Anthropos. Exploring the Boundaries Between History and Anthropology. (2009: 17)
7Esta posição traduz o enclausuramento voluntário da Antropologia Histórica num fragmento muito pequeno da História da Humanidade. Tal como no tempo de Evans-Pritchard, os bárbaros da Antiguidade, para usar uma metonímia, continuam a ser “extra-terrestres” para a grande maioria dos antropólogos. Não é verdadeiramente a História que interessa à Antropologia, mas apenas a expansão colonial europeia e em particular o imperialismo tardio dos séculos XIX e XX. Não será afinal o historic turn, em grande medida, um movimento anti-histórico? A recordação dos ensinamentos de Jill Dias revela-se crucial nesta interrogação, tratando-se de uma historiadora que não deitou fora o bebé com a água do banho. Dito por outras palavras, o seu enfoque no período colonial não a levou a seguir a moda intelectual de ostracismo do estudo das realidades pré-coloniais.
8Tive o privilégio de ser seu aluno de História da Antropologia em 1989 e recordo com nostalgia as suas aulas, que tinham a característica extraordinária de serem dadas com um sorriso nos lábios. Uma das suas maiores lições, uma lição de humildade que nunca esqueci, foi a de que os praticantes de novos paradigmas estão sempre convencidos da sua própria superioridade intelectual em relação às gerações anteriores; e que não conseguem antever a lei implacável que um dia os transformará a eles próprios em outras tantas relíquias de uma Antropologia justa ou injustamente considerada ultrapassada. É por isso que não se encontra nos seus escritos e acredito que nunca ninguém lhe ouviu uma única palavra de arrogância moral ou de menosprezo intelectual em relação à produção teórica e etnográfica dos antropólogos sociais e culturais do período colonial, em particular os britânicos. Da mesma forma que rejeitava as dicotomias fáceis na historiografia de África, tinha uma noção profunda da complexidade e diversidade da História da Antropologia, que não se coadunava com generalizações e estereótipos. Foi por isso que Jill Dias atravessou com uma serenidade incrível as convulsões epistemológicas da Antropologia naqueles anos 80. Ela entendia que os clássicos estavam a ser criticados de forma equívoca, desde logo quando se afirmava que, por conivência com o sistema colonial, faziam abstração do mesmo.
9Deparamo-nos ainda hoje, e desde há várias décadas, com uma tendência muito difundida para estigmatizar a Antropologia moderna, sugerindo que veiculava uma visão das sociedades pré-coloniais como ilhas de continuidade intemporal, sem conflitos nem variações internas, distintas e distanciadas umas das outras. Esta leitura, muito difundida desde o célebre texto de Fredrik Barth sobre grupos étnicos e suas fronteiras, onde o autor lança justamente a metáfora das ilhas em tom de crítica à Antropologia moderna, revela ignorância ou pelo menos desrespeito da variedade e riqueza do arquivo da disciplina, quando não uma generalização intencional. Nas palavras de Herbert Lewis, os antropólogos que hoje se demarcam de forma vincada dos predecessores da primeira metade do século XX tendem a infligir-lhes o mesmo tratamento que estes supostamente tinham infligido aos povos que estudavam: “essencializar, totalizar, estereotipar, alterizar... inventar uma coisa que nunca existiu de forma a dominá-la.” (Lewis 1998: 718, 726) Com efeito, o manuseamento atento da diversificada produção clássica, tanto nos planos etnográfico como teórico, revela à saciedade que essa visão da história da disciplina é profundamente errada. É irónico constatar que já nos anos 30 os discípulos de Malinowski se distanciavam deliberadamente do modelo oceânico, de (relativo) isolamento das ilhas e arquipélagos pelas próprias vicissitudes geográficas do Pacífico, afirmando enfaticamente que em África os diferentes grupos estavam em “contacto constante”. (Richards 1935: 20) Da mesma forma, afirmava-se correntemente na época que os membros de uma sociedade não eram autómatos. Havia em muitos autores, nomeadamente funcionalistas, uma clara perceção de que a cultura de um povo “não é de forma alguma uniforme” e de que pelo contrário “é feita essencialmente de variações e de reações individuais aos padrões tradicionais”. (Schapera 1935: 319)
10Uma outra razão que nos deve fazer pensar no historic turn como anti-histórico prende-se com o facto de se estabelecer frequentemente uma equiparação pejorativa entre continuidade cultural e essencialismo, de forma a excluir, como ideológica, a própria hipótese da continuidade. Esta exclusão não pode senão ser anti-histórica, na medida em que coloca uma espécie de dogma de sociologia do poder no lugar da investigação histórica de sapa, relativa à própria hipótese de continuidade. É caso para evocar a acusação que Marshall Sahlins dirige à Antropologia Histórica atualmente hegemónica: ao negar às culturas não-europeias uma existência exterior à situação colonial, realiza no discurso o que o Imperialismo tentou na prática, isto é, a destruição dessas mesmas culturas. (Sahlins |1993|: 478) Essa Antropologia tende a equacionar a alegada ilusão de continuidade cultural com a tentação clássica de reconstituir as realidades pré-coloniais, considerando enfim inaceitável a identificação de antigas estruturas nativas em contexto colonial. E aqui regressamos a Jill Dias, uma vez que a sua obra contrasta com esse ponto de vista.
11Apesar da sua maior especialização no século XIX, também manuseou vasta documentação entre os séculos XV e XVIII, o que lhe permitiu constatar a antiguidade e permanência multissecular de várias identidades políticas e sociolinguísticas do território angolano. Ela era a primeira a reconhecer, e passo a citar, que “seria completamente falso concluir que (...) as instituições sociais e políticas ou os comportamentos culturais das populações correspondentes aos nomes ou etiquetas étnicos, linguísticos ou políticos que se encontram nessa documentação permaneceram estáticos.” (Dias 2002: 294) Admitia no entanto como muito provável a permanência de certas instituições sociais e culturais, sobretudo nos domínios do político e do parentesco, o que demonstra claramente que não caía no erro frequente de se confundir continuidade com imobilismo estático e com ausência de conflitos internos e externos. No pensamento de Jill Dias, a ideia de mudança profunda coabita inequivocamente com a de estruturas remotas. A influência portuguesa e o tráfico de escravos ultramarino tinham sem dúvida gerado novas realidades económicas e políticas, sociais e culturais, mas isso aconteceu em grande medida através de idiomas nativos pré-coloniais.
12Entrando em relações de vassalagem com a coroa portuguesa, e explorando as oportunidades fornecidas pelo tráfico ultramarino, os sobados ou reinos fornecedores de escravos tinham atingido um patamar político e económico mais pujante. Mas essa idiossincrasia histórica representava, na ótica de Jill Dias, um exacerbamento dos estados nativos, e não uma destruição dos seus mecanismos de poder centralizado, como seja o controlo indireto dos homens e mulheres das aldeias linhageiras através dos respetivos chefes. As patentes honoríficas, os uniformes, as armas de fogo e os bens exóticos facultados pelos portugueses eram “altamente estimados pelas autoridades políticas africanas”, que os redistribuíam entre os seus súbditos principais, nomeadamente os chefes de linhagem responsáveis pelo própria eleição do potentado e pela sua manutenção no cargo. (Dias 1997: 29) Consolidou-se dessa forma uma lógica colonial de fortalecimento das estruturas políticas nativas, como essenciais que eram para os interesses portugueses, e sem prejuízo da introdução de bastos traços culturais de origem europeia. Na sua tentativa de abrir uma janela sobre um mundo desaparecido, Jill Dias vislumbrou a continuidade fundamental dessa simbiose até à segunda metade do século XIX. E por detrás desta leitura, estava uma sensibilidade antropológica específica em matéria de colonialismo.
13Por outro lado, Jill Dias explorava empiricamente todos os indícios de que esses idiomas políticos extravasavam geograficamente a Angola colonial, o que lhe permitia por método comparativo reforçar a ideia de que existiam de facto realidades remotas, pré-coloniais. Muito interessante, deste ponto de vista, é o facto de ter encontrado documentação portuguesa que referia os laços de parentesco não só entre os sobas do hinterland de Luanda vassalos da coroa, mas também entre estes e os que se situavam ainda mais a leste, em situação de autonomia política relativamente à esfera de influência colonial. Considerava provável que a maioria desses laços de parentesco referidos nas fontes portuguesas tivessem significado “relações simbólicas entre ‘posições’ sociais ou políticas, representadas pelos títulos dos sobados, e não entre indivíduos vivos”. Ou seja, eram “relações “genealógicas” fixas, herdadas por quem sucedia à posição representada pelo título do sobado”. (Dias 1997: 16) Considerando que a documentação do arquivo colonial era um tanto confusa em relação a essa realidade – e apesar da existência de alguns contributos significativos por parte de observadores portugueses, com destaque para Henrique de Carvalho – Jill Dias não hesitava em recorrer às etnografias feitas no século XX por antropólogos profissionais que tinham estudado mecanismos desse tipo em áreas interiores relativamente contíguas à Lunda. Tratava-se de sociedades que, no momento da observação, só há algumas décadas atrás tinham entrado no xadrez do imperialismo tardio, nomeadamente britânico.
14Era o caso, por exemplo, dos Bemba da Rodésia do Norte estudados por Audrey Richards, cujos escritos Jill Dias citava em reforço da sua hipótese. “Para estudos antropológicos pioneiros sobre o mesmo ou semelhante fenómeno observado noutras sociedades da savana africana mais a leste de Angola, veja-se, sobretudo, A.I. Richards (...)”, escrevia em nota de rodapé seguida das referências. (Dias 1997: 18) Este recurso bibliográfico é extremamente significativo, se tivermos em conta que Audrey Richards foi, entre as fiéis discípulas de Malinowski, porventura a que mais seguiu os seus apelos, a partir do final dos anos 20, para que os antropólogos estudassem a mudança em contexto colonial. É sempre bom recordar que Malinowski foi um dos primeiros e maiores mentores da viragem da Antropologia para a contemporaneidade do contacto colonial, em detrimento das meras reconstruções do passado tribal, para o que muito contribuiu a sua viagem às colónias britânicas do Sul e do Sudoeste africano em 1934. Já nesse tempo procurava demarcar-se do “old anthropologist” e explorava, com muito mais subtileza teórica do que lhe é geralmente reconhecida, novos caminhos para o Funcionalismo. (V. Rossetti 1985) Mesmo em relação à sua Melanésia, passou a considerar que um exclusivo enfoque nas instituições nativas, longe de espelhar o presente etnográfico, constituía precisamente uma reconstrução histórica, associada a um interesse de antiquário que eventualmente obliterava “the real issues”, sendo portanto pouco compatível com as responsabilidades políticas do antropólogo sensível à sorte dos povos colonizados. (Malinowski 1945: 6, 14)
15Audrey Richards integrou a plêiade de investigadores do International African Institute que, justamente sob o impulso de Malinowski, se dedicaram a estudar os fenómenos coloniais de “culture contact”, tendo contribuído para um importante fórum de discussão na revista Africa em meados dos anos 30 sobre os métodos a desenvolver nesse sentido pelos antropólogos funcionalistas. Todos estavam de acordo sobre a importância de reconstituir tanto quanto possível o passado pré-colonial, não já como um fim em si mesmo e tampouco num espírito de etnografia de salvação, mas para servir de termo de comparação às novas realidades. Segundo a própria Audrey Richards, esse trabalho de reconstrução era “o problema central”, o ponto de partida e a condição sine qua non dos estudos de “culture contact”, pela simples razão de que não era possível estudar a mudança sem referência ao passado. “E assim, é quase paradoxal verificar que os antropólogos que mais resolutamente viraram as costas à Antropologia de antiquário são justamente aqueles para quem a ‘história’ de uma forma ou de outra assume a maior importância.” (Richards 1935: 21; V. Mair 1934: 416; Hunter, 1934: 345; Schapera 1935: 321; Malinowski 1939: 44)
16Era também evidente que a reconstrução histórica tendia forçosamente a assumir um aspeto mais esquematizado do que a observação direta, com resultados comparáveis a uma etnografia baseada exclusivamente em entrevistas a informadores. Mas se o trabalho de historiador consistia justamente em lidar com fragmentos, tirando ilações a partir dos mesmos, nem por isso deixava de ter cabimento na Antropologia. Nas palavras de Malinowski, “quando a observação direta não é possível, temos de adotar o segundo melhor método”, isto é, recorrer a “reminiscências em segunda mão”. (1939: 45) Sem descurar as fontes de arquivo, ainda era possível aceder ao passado através do presente. Apesar das inevitáveis distorções da memória e do preconceito a favor ou contra os tempos antigos, não deixava de ser atribuído um especial valor às fontes vivas, isto é, os informadores mais velhos que ainda recordavam os tempos pré-europeus.
17Era justamente o caso entre os Bemba da Rodésia do Norte, que só em 1897 tinham assistido à chegada dos britânicos e que permaneceram relativamente pouco explorados pela potência colonial durante as primeiras décadas do século XX, por falta de interesse económico no seu terreno. No primeiro trabalho de campo que aí realizou em 1930-1931, Audrey Richards fez mais do que ouvir a voz dos velhos; viu-lhes o passado marcado na carne, nas mutilações corporais sofridas perante a corte do Citimukulu, que dispunha despoticamente da população e do território do seu reino, a exemplo de tantos outros chefes bantos investidos de um poder místico. A família real era chamada de crocodilo, pois os seus membros, segundo as palavras de um velho, eram “como crocodilos que se apoderam do povo humilde e os desfazem em pedaços com os dentes”. (cit. in Richards 1940: 106) É curioso notar que Audrey Richards, apesar da sua preparação técnica para tratar sociologicamente o sistema político tradicional Bemba, não deixava de evocar a integração histórica deste grupo na vasta área cultural de expansão banto, marcada por certas “semelhanças flagrantes”. (Richards 1940: 83)
18Contrariamente aos preconceitos de que são alvo hoje em dia, os funcionalistas eram os primeiros a dizer que as suas reconstituições não representavam as sociedades nativas na origem ou num estado intemporal, mas sim num período histórico concreto. “Como é óbvio, todas essas culturas sofreram mudanças no passado, não apenas por um processo interno, mas através de influências externas. Invasões e conquistas são factos estabelecidos na história de muitos povos africanos.” (Mair 1934: 418) Os Bemba, por exemplo, descendiam duma linhagem dissidente do grande povo Luba, tendo atravessado o rio Lualaba há cerca de 250 anos e consolidado militarmente a sua posição no território atual. Qualquer africanista tinha consciência do clima de convulsão política que vigorava nos reinos bantos tradicionais, tendo Audrey Richards conseguido reconstituir as usurpações do trono da última dinastia de Citimukulus. Mas nem por isso os funcionalistas abriam mão da identificação de elementos estruturais e por conseguinte de continuidades culturais e sociológicas, quer no tempo, quer no espaço.
19Também neste sentido, eles foram historiadores. E Jill Dias, que sempre se dedicou a estudar as realidades coloniais, também revelava a sua verdadeira fibra de historiadora quando admitia que a confluência da História e da Antropologia não podia nem devia esgotar-se no período colonial. As realidades ante-europeias não eram propriamente a sua área específica, mas o facto é que a sua Antropologia Histórica não excluía, por preconceito de escola, a importância dessa temática, reconhecendo ao invés que a vastidão temporal e geográfica da África pré-colonial era merecedora da máxima combinação de esforços. Na sua obra em particular, um tal interesse tinha pontos em comum com os clássicos do “culture contact”, na medida em que as formações antigas não representavam um fim em sim mesmo: tratava-se mais exatamente de um termo de comparação incontornável no mosaico angolano da “aculturação”. Daí que Jill Dias procurasse oportunamente suprir as deficiências do arquivo colonial através do maior rigor etnográfico do arquivo moderno da História da Antropologia. Admitindo a recorrência de certas estruturas políticas e de parentesco na grande família banto, teve a ousadia de remeter o leitor para uma etnografia posterior e geograficamente mais afastada, a dos Bemba da Rodésia do Norte nos anos 1930, para coadjuvar a reconstituição de contextos com fontes muito escassas ou fracas, nomeadamente duma Angola mais afastada da influência portuguesa. É certo que Audrey Richards fizera um trabalho de reconstituição, e não de observação direta, mas fizera-o com fontes vivas e num contexto com um passado colonial comparativamente muito recente.
20Até pela sua formação oxoniana, Jill Dias manuseava os documentos de ambos os arquivos – o colonial e o da História da Antropologia – com um aparato crítico profundamente empirista, enquanto indícios por decifrar de realidades desaparecidas. Embora o arquivo colonial lhe inspirasse maiores cuidados que o das etnografias profissionais do século XX, também não deixava de o valorizar extraordinariamente em termos de conteúdo. “Esta documentação”, e passo a citar, “embora fornecendo um olhar parcial, até tendencioso, das coisas, revela muitas vezes nas entrelinhas, as múltiplas dimensões e nuances não só das relações internas entre membros dos diferentes grupos culturais e políticos habitando o território colonial no século XIX, como da natureza complexa dos laços ligando estes com os diferentes povos africanos, politicamente autónomos, à sua volta.” (Dias 1990: 16) Jill Dias tinha por isso uma visão solidária da comunidade de africanistas, segundo a qual as pesquisas individuais deveriam ser projetadas em função das lacunas no conhecimento e da documentação disponível para o preenchimento das mesmas. Em particular os fundos do Arquivo Histórico Nacional, em Luanda, em articulação com os do Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, continham, e passo a citar, “informações preciosas e únicas para a reconstrução da experiência de muitas sociedades angolanas abrangidas pela administração colonial (...)”. (Dias 1997: 14) A investigação que ela própria levou a cabo sobre o Kabuku Kambilu, o mais poderoso estado africano da zona de ocupação portuguesa a norte do Kwanza no século XIX, é uma boa ilustração do que, em seu entender, podia e devia ser feito com base nas fontes existentes. Tendo em conta que existiam cerca de trezentos sobados no hinterland de Luanda que prestavam vassalagem à coroa portuguesa em meados do século XIX, é evidente que estamos perante um desafio científico de magnas proporções. O sentido cumulativo da disciplina histórica está aqui bem presente, porventura em contraste com a falta do mesmo na Antropologia, conforme sugere o famoso ensaio de paródia de Bernard Cohn, “An Anthropologist among the Historians: a Field Study”. (Cohn |1962|: 13)
21A perceção da imensidão, para não dizer da incomensurabilidade do arquivo colonial é uma característica dominante da atual Antropologia Histórica, em relação a quaisquer povos integrados num império dos séculos XIX e XX. Pode mesmo dizer-se que uma das consequências desse tipo de percepção é a elevação do próprio arquivo, da sua construção e da sua monumentalidade, a objeto de interesse antropológico. “A Antropologia Histórica direciona-se do conteúdo arquivístico do colonialismo para as divagações da sua forma”, escreve Brian Axel na introdução à obra de referência From the Margins. Historical Anthropology and Its Futures. Este tipo de abordagem está associado à crítica cáustica da produção de conhecimento como derivação colonialista e até mesmo do empirismo como ideologia ocidental descartável. Desse ponto de vista, os documentos etnográficos não devem ser encarados como “repositórios de factos”, mas como “casos complexos de um discurso que produz os seus objetos como reais, isto é, como existentes antes e fora do discurso”. (Axel 2002: 13, 21) Essa tendência intelectual como que boicota a avaliação do conteúdo etnográfico de milhares de documentos. Mas mais do que isso, subordina por completo o arquivo da História da Antropologia ao arquivo colonial, como se a Antropologia clássica tivesse sido uma espécie de expoente máximo do delírio classificatório do colonialismo.
22Para Jill Dias, ao invés, o manuseamento crítico e desde logo a contextualização das condições de produção do documento não eram um fim em si mesmo, como hoje acontece de forma predominante, mas apenas uma etapa metodológica do verdadeiro trabalho – o trabalho de reconstituição histórica. Qualquer tipo de documento era um documento histórico, e por conseguinte tinha potencialidades a explorar em termos de conteúdo. E nesta medida, Jill Dias procurava avaliar criteriosamente as diferenças qualitativas existentes quer no arquivo colonial, quer no arquivo da História da Antropologia. A sua obra é um antídoto, passe a metáfora, contra um dos mais graves riscos daquela Antropologia Histórica, ou seja, a diluição da bibliografia antropológica numa espécie de plasma colonial onde impera o nivelamento e o anonimato. Além de se desvalorizarem as etnografias profissionais enquanto produtos do colonialismo, não se estabelecem as devidas distinções entre os muitos etnógrafos amadores, alguns com obras de vulto publicadas e outros perdidos num oceano de documentos da mais variada ordem.
23Aliás, Jill Dias discordava por completo da caracterização do arquivo colonial como sendo predominantemente etnográfico e tudo indica que não era nada recetiva à ideia pós-moderna, engendrada por Derrida, segundo a qual a febre de produção etnográfica era uma resposta à ansiedade do poder colonial e uma forma de supressão discursiva do caráter arbitrário da sua violência. Com efeito, o universo crioulo de Jill Dias não se coadunava sequer com a ideia de que o arquivo colonial era alimentado na sua vastidão pelos agentes da potência colonizadora. Se pegarmos ao acaso num dos muitos documentos que encontrou e copiou em Luanda, pode-nos calhar, por exemplo, uma carta de um soba ou dos seus makota, escrita em Português pelo punho de um secretário ambakista, um “portuguesão” de pele negra, olhado pelos outros negros como branco. Uma carta por exemplo como esta, de Março de 1876, em que os homens do Ndumbu a Pepu declaravam ao governador-geral de Angola que os usos e costumes desse sobado eram “transmitidos e preservados desde os tempos mais remotos”, nomeadamente no tocante ao direito de eleger o soba de entre os parentes do governante falecido. (cit. in Dias 1997: 20) Estamos perante uma voz colonial? Dificilmente. Estamos então perante uma voz nativa? Quão fácil seria reduzir esse pedaço de papel a um caso oitocentista de invenção da tradição para fins políticos. Ficaria dessa forma resolvida a ambivalência identitária dos produtores do documento, como meras vítimas nativas, por contágio, da ilusão etnográfica dos colonizadores. Jill Dias não tomava esse caminho fácil, sem primeiro tomar aqueloutro mais difícil, o do benefício da dúvida histórica.
24Jill Dias era uma mulher de bom senso e de ideias claras, duas características bem inglesas por sinal. A sensatez da sua escrita é inspiradora e, quando comparada com alguns excessos de matriz filosófica anti-cientista, quase nos levam a pensar que a “febre do arquivo” é uma doença, não tanto do colonialismo do século XX, mas da Antropologia Histórica. Num momento em que o binómio conceptual conhecimento/poder se transformou ele próprio numa forma de poder, para não dizer de colonialismo das consciências na cena antropológica internacional, a releitura de Jill Dias aponta direções alternativas de crítica documental, de reabilitação do conhecimento empírico das realidades culturais e históricas através do arquivo, mas não em função do mesmo. Pode dizer-se que a sua obra encerra um potencial de devolução da História da Antropologia à Antropologia Histórica praticada no século XXI.
Bibliographie
Des DOI sont automatiquement ajoutés aux références bibliographiques par Bilbo, l’outil d’annotation bibliographique d’OpenEdition. Ces références bibliographiques peuvent être téléchargées dans les formats APA, Chicago et MLA.
Format
- APA
- Chicago
- MLA
AXEL, Brian Keith (ed.), 2002, From the Margins. Historical Anthropology and Its Futures. Durham, Duke University Press.
10.2307/j.ctv1131256 :BARTH, Fredrik, 1969, “Grupos étnicos e suas fronteiras”, in P. Poutignat et al., Teorias da etnicidade. São Paulo, UNESP.
COHN, Bernard, 2003 [1962], “An Anthropologist among the Historians: a Field Study”, in An Anthropologist among the Historians and Other Essays. Oxford, Oxford University Press.
DIAS, Jill, 1984, “Uma questão de identidade: respostas intelectuais às transformações económicas no seio da elite crioula da Angola portuguesa entre 1870 e 1930”, Revista Internacional de Estudos Africanos, n.° 1, 61-94.1990 “Relações económicas e de poder no interior de Luanda, ca. 1850-1875”, Atas da 1.a Reunião da História de África. Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical, 241-258.1997, “O Kabuku Kambilu (c. 1850-1900): uma identidade política ambígua”, Actas do seminário Encontro de Povos e Culturas em Angola, Luanda, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 13-55.
2002, “Novas identidades africanas em Angola no contexto do comércio atlântico”, in Cristiana Bastos, M. Vale de Almeida, Bela Feldman Branco (coord.), Trânsitos coloniais: diálogos críticos luso-brasileiros. Lisboa, ICS
HUNTER, Monica, 1934, “Methods of Study of Culture Contact”, Africa. Journal of the International African Institute, Vol. 7, No. 3, 335-350.
10.2307/1155494 :LEWIS, Herbert S., 1998, “The Misrepresentation of Anthropology”, American Anthropologist, 100 (3): 716-731
MALINOWSKI, Bronislaw, 1929, “Practical Anthropology”, Africa. Journal of the International African Institute, Vol. 2, n.° 1, 22-38.
10.2307/1155162 :1939, “The Present State of Studies in Culture Contact: Some Comments on an American Approach”, Africa. Journal of the International African Institute, Vol. 12, No. 1, 27-48.
1945, The Dynamics of Culture Change. An Inquiry into Race Relations in Africa, New Haven, Yale University Press.
MAIR, Lucy, 1934, “The Study of Culture Contact as a Practical Problem”, Africa. Journal of the International African Institute, Vol. 7, No. 4, 415-422.
10.2307/1155876 :RICHARDS, Audrey I., 1931, “Anthropological Problems in North-Eastern Rhodesia”, Africa. Journal of the International African Institute, Vol. 8, n.° 2, 121-144.
10.2307/1155573 :1935, “The Village Census in the Study of Culture Contact”, Africa. Journal of the International African Institute, Vol. 8, No. 1, 20-33.
1940, “The Political System of the Bemba Tribe – North-Eastern Rhodesia”, in M. Fortes, E. E. Evans-Pritchard, African Political Systems.
1950, “Some Types of Family Structure amongst the Central Bantu”, in A.R. Radcliffe-Brown, D. Forde (eds.), African Systems of Kinship and Marriage. Londres, Oxford University Press, 207-251.
SAHLINS, Marshall, 1993, “Goodbye to Tristes Tropes: Ethnography in the Context of Modern World History”, Culture in Practice. Selected Essays. New York, Zone Books, 2000.
SCHAPERA, Isaac, 1935, “Field Methods in the Study of Modern Culture Contacts”, Africa. Journal of the International African Institute, vol. 8, No. 3, 315-328.
10.2307/3180416 :ROSSETTI, Carlo, 1985, “B. Malinowski, the Sociology of ‘Modern Problems’ in Africa and the ‘Colonial Situation’”, Cahiers d’Études africaines, Vol. 100, XXV-4, 477-503.
SILVA, Maria Cardeira da; ROSA, Frederico Delgado; JULIÃO, José Manuel, 2011, Cadernos de Jill Dias. Inventário de um arquivo. Lisboa, FCT, FCSH/UNL, CRIA, Fundação Calouste Gulbenkian.
TAGLIACOZZO, Eric; WILFORD, Andrew (coord.), 2009, Clio/Anthropos. Exploring the Boundaries Between History and Anthropology. Stanford, Stanford University Press.
Auteur
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Centro em Rede de Investigação em Antropologia
Le texte seul est utilisable sous licence Licence OpenEdition Books. Les autres éléments (illustrations, fichiers annexes importés) sont « Tous droits réservés », sauf mention contraire.
Castelos a Bombordo
Etnografias de patrimónios africanos e memórias portuguesas
Maria Cardeira da Silva (dir.)
2013
Etnografias Urbanas
Graça Índias Cordeiro, Luís Vicente Baptista et António Firmino da Costa (dir.)
2003
População, Família, Sociedade
Portugal, séculos XIX-XX (2a edição revista e aumentada)
Robert Rowland
1997
As Lições de Jill Dias
Antropologia, História, África e Academia
Maria Cardeira da Silva et Clara Saraiva (dir.)
2013
Vozes do Povo
A folclorização em Portugal
Salwa El-Shawan Castelo-Branco et Jorge Freitas Branco (dir.)
2003