VII
p. 251-288
Texte intégral
Os guitarristas trovadores de Lisboa nos princípios do século XIX. – Cantigas populares dias ruas lisboetas na mesma época.– Cantigas políticas no tempo de D. Miguel. – Os guitarristas profissionais e os guitarristas amadores. – Dilettanti do fado. – O Conde da Anadia e o Marquês de Castelo-Melhor. – Continua-se a enumeração dos guitarristas antigos. – Os guitarristas modernos. – O bater o fado. – A dança do fado e a dança do fandango. – Bailadores de fandango e batedores de fado. – O fado aristocratiza-se. – João Maria dos Anjos faz época. – Sãtira aos cantadores e guitarristas. – Trovas do fado moderno. – Evolução do fado. – Persistência do fado devida às suas fortes raízes tradicionais.
1Depois dos cantadores cabe a vez aos guitarristas, cujos instrumentos parecem espalhar o ideal no ambiente. Os guitarristas trovadores, vagueando à la buena de Dios pelas ruas de Lisboa, são antigos.1 À semelhança dos aedos e dos rapsodos gregos, que cantavam os primitivos cantos populares – esses trocos miúdos do plectro homérico – acompanhando-se da cítara e do forminx, também aqueles menestréis se acompanhavam da guitarra; e à semelhança dos jograis da Idade Média, que cantavam de terra em terra, também calcorreavam por esse reino fora, entoando as canções deste país da laranja, onde, da mesma maneira que na comédia de Beaumarchais, tout finit par des chansons.
2Nos começos do século xix, os cegos papelistas acompanhavam-se de um moço ou de um cão, apregoavam as leis novas, os decretos do Príncipe Regente e os regulamentos de polícia, vendiam livros de orações, almanaques, canções populares e contos faceciosos para divertir o vulgacho, à maneira do cego Jacquemin, que, então, vendia as canções nas ruas de Paris. No tempo da guerra peninsular, anunciavam as proclamações do governo, as cartas oficiais dos generais, os triunfos dos aliados e as derrotas do inimigo. E as suas vozes sonoras casavam-se, amiúde, com os acordes da guitarra, que dedilhavam proficientemente. No Rossio e em outras praças, estacionavam cantadores e tocadores de guitarra indigentes, cegos e com vista, ladeados pelas respectivas mulheres, em torno dos quais se reunia a multidão ávida de escutar as tocatas populares e as endeixas acompanhadas pela guitarra carpidora.
3Anos depois – em 1824 –, a licenciosidade das cantigas dos guitarristas chegou a ponto tal e tamanho, que os agentes policiais notavam o facto como digno de correctivo. Assim, a parte de polícia de 31 de Agosto daquele ano dizia: «Murmura-se que em uma capital policiada como Lisboa se consintam bandos de cegos e vadios com guitarras pelas ruas, entoando cantigas indecentíssimas e obscenas, como as que agora andam em moda – do Negro melro –, a cujo acompanhamento de guitarra se seguem trejeitos escandalosos, e não pouco ofensivos à decência e moral pública! Com tais lições não admira que os progressos dos maus hábitos se espalhem entre as famílias honestas e de boa educação, vendo-se até o honrado chefe de família, que preza os bons costumes, na precisão de não consentir que seus filhos cheguem às janelas para não beberem em fonte impura tão pestífero veneno.2»
4A cantiga do Negro melro, então corriqueira nas ruas lisbonenses, era do teor seguinte:
O ladrão do negro melro
Toda a noite assobiou,
Lá por essa madrugada
Bateu as asas, voou.
O ladrão do negro melro
Toda la noite cantou,
Pela fresca madrugada
Deu às asas e voou.
E como às asas deu,
Depois que tanto cantou,
O ladrão do negro melro
De todo desaforou.
O ladrão do negro melro
Aonde ele vai cantar!
Vai, nem que fosse solteiro,
Sem mulher que aturar.
O ladrão do negro melro
Onde foi fazer o ninho!
Lá p’rós lados de Leiria,
No mais alto pinheirinho!
O ladrão do negro melro
Toda a noite requiquiu,
Ao chegar a madrugada,
Bateu as asas, fugiu.
O ladrão do negro melro
Foi-me à quinta às ameixas,
Torna cá, oh negro melro,
Anda buscar as que deixas!
5Outra cantiga trivialíssima era a da Maria Cachucha, que já se dançava com os fandangos e os boleros, no tempo em que Manuela Ruiz bailava o fandango no Salitre e Maria Guidetti o bolero em S. Carlos (1802):
Maria Cachucha
Quem te cachuchou?
– Foi um frade Loio,
Que aqui passou.
Maria Cachucha
Não vás ao Rossio,
Toma lá dinheiro,
Sustenta o teu brio.
Maria Cachucha
Não vás ao quintal,
Em sainha branca
Que parece mal.
Maria Cachucha
Que vida é a tua?
Comer e beber,
Passear na rua.
Maria Cachucha
Com quem dormes tu?
– Eu durmo sozinha,
Sem medo nenhum.
Maria Cachucha
Com quem dormes tu?
– Durmo com um gato,
Que me arranha o c...
Maria Cachucha,
Se fores passear,
Vai pelas beirinhas,
Podes-te molhar.
6Outra cantiga correntia na ruas de Lisboa, desde os princípios do século xix, era o Pèzinho:
Ponha aqui,
Ponha aqui,
O seu pèzinho,
Ponha aqui,
Ponha aqui,
Ao pé do meu.
Se ele é torto,
Se ele é torto,
Ou aleijado,
Foi jeito,
Foi jeito,
Que Deus lhe deu.
Estou contente do meu par,
Foi condão de Deus m’o dar.
Ponha aqui,
Ponha aqui,
O seu pèzinho,
Ponha aqui,
Ponha aqui,
Ao pé do meu.
Ao tirar,
Ao tirar,
O seu pèzinho,
Ai, Jesus!
Ai, Jesus!
Que lá vou eu!
Estou contente do meu par,
Foi condão de Deus m’o dar.
7Outro vulgarismo musical das ruas lisboetas era a cantiga da saloia:
Quero cantar a saloia,
Já que outra moda não sei,
Minha mãe era saloia,
Eu com ela me criei.
Sou saloia, trago botas,
Também trago o meu mantéu,
Também tiro a carapuça
A quem me tira o chapéu.
Já fui amada d’um grande,
Lindos olhos me piscou,
Também quis dar-me um abraço,
E estas falas me soltou:
Oh saloia, dá-me um beijo,
Que eu te darei um vintém,
Os beijos d’uma saloia
São caros, mas sabem bem.
Oh saloia, dá-me um beijo,
Que eu te darei um pataco,
Um vintém é pelo beijo,
O outro é p’ró tabaco.
8Finalmente, outra cantiga popular, acompanhada pelo zangarrear da viola ou da guitarra, era esta:
Ai! Ai! Já não há quem queira,
Ai! Ai! Já não há quem queira,
Ganhar um vintém,
Levar a chiquita,
As bandas d’álem!
Ai! Ai! Já não há quem queira,
Ai! Ai! Já não há quem queira,
Ganhar um vintém,
Levar a chiquita,
Das Naus à Ribeira!
Ai! Ai! Já não há quem queira,
Ai! Ai! Já não há quem queira,
Ganhar um vintém,
Levar a chiquita,
Da Ribeira a Belém.
9Entre os versos políticos sediciosos que se cantavam anteriormente à vinda de D. Miguel, apareceram uns que haviam sido cantados no teatro da Rua dos Condes, e que novamente o foram em 1826 no teatro de Vila Franca da Restauração (Vila Franca de Xira):
Aqueles que tiram pecados
E cortam o ar co’a mão,
São bichinhos que não querem
Liberal Constituição.
Se conhecesse os Marrecos,
Com um chicote na mão,
Eu faria cantar todos:
Liberal Constituição.
Tremeu toda a fradaria,
Deu no papa uma sazão,
Quando soube que tínhamos
Liberal Constituição.3
10Em 1829, os miguelistas cantavam à guitarra alguns versos de carácter político:
Oh, ilha da Madeira,
Deita p’ra cá os malhados,
Para virem a Lisboa
Morrer todos enforcados.4
11Ao que os constitucionais respondiam – trauteando em voz baixa e à socapa – com estas quadras de um sabor não menos afeleado:
O D. Miguel não é rei,
Nem filho de D. João,
É filho d’um guarda cabras
Da quinta do Ramalhão.
D. Miguel não governa,
Nem é filho de João,
Apenas é um bastardo
Do feitor do Ramalhão.
D. Miguel para ser rei
Duas coisas foi primeiro,
A primeira foi campino,
A segunda foi cocheiro.
É certo e mais que certo,
Fique em memória eterna,
Que indo feito cocheiro,
D. Miguel quebrou a perna.5
Anda cá, oh D. Miguel,
Anda cá, meu toleirão,
Hás-de ir para Santa Helena
Mandado por teu irmão.
Os malhados já estão certos
Na sua sorte segura,
Já se ofereceram levar
D. Miguel à sepultura.6
12Passaremos agora a enunciar os principais guitarristas, quer profissionais quer simples amadores.
13O primeiro guitarrista, depois da aparição do fado nas ruas de Lisboa, é João Pedro Quaresma, que morreu com 80 anos e foi mestre do guitarrista Maia, hoje o decano dos guitarristas lisbonenses. João Maria de Melo, o Cego, é de entre 1840 e 1850; e o José Maria Vidal também é guitarrista antigo. O José Vinagre era um bom tocador de guitarra, que fadejava nos botequins da Ribeira Nova antes da Maria da Fonte. À volta de 1845, vivia um cego, que estacionava habitualmente na Rua do Arsenal e que tocava guitarra de uma maneira surpreendente. Punha o chapéu aos pés, e os transeuntes iam-lho enchendo de moedas de cobre.7
14Nos botequins da Ribeira Nova, tocava-se então muito o saltério, instrumento que tinha voga. Ainda há trinta e cinco anos existia um tocador de saltério, um homem baixo e de cara rapada como César, que andava tocando pelos cafés, principalmente no café Grego, no Cais do Sodré, e no café da Arcada, no Terreiro do Paço.
15João de Deus, o eminente lírico, dedilhou banza em Coimbra, em 1854 (quando frequentava o curso de Direito), como é tradicional entre os escolares coimbrões, porque, já na noite de 31 de Dezembro de 1799 para 1 de Janeiro de 1800 os estudantes da Universidade, munidos de borrachas de vinho e de guitarras, vieram, antes de soar a meia-noite, para as margens do Mondego, a fim de celebrar a entrada do século xix.8
16José Maria Anchieta, o intrépido explorador africano, tornou-se uma celebridade na guitarra, quando cursou a Universidade de Coimbra. Em Lisboa, mostrou que não era para graças. O sr. Bulhão Pato conta que, uma vez, nos antigos casebres do Loreto, uma matilha de quatro fadistas arremeteu contra Anchieta. Mas este fez-lhes frente, cresceu para eles, pôs três fora de combate, sendo, porém, esfaqueado pelo quarto. E, ao passar de maca pelo Marrare do Chiado, saudou jubilosamente os amigos que estavam à porta, como se fosse para uma diversão.9
17Um tocador excelentíssimo, mas este de viola da Beira, foi o José Dória, de Coimbra (Dr. José António dos Santos Neves Dória, bacharel em Medicina). Tocava o fado de Coimbra de uma maneira quase fantástica.10 Em Lisboa, tocou em vários concertos, o último dos quais se realizou no palácio do Marquês de Castelo-Melhor, em que o auditório – onde se viam os maestros Sá de Noronha e Cossoul e a cantora Rey-Balla – se sentiu maravilhado pela arte espantosa com que o virtuose comunicava a vida e a paixão aos sons prisioneiros da matéria, de que o instrumento era constituído. E a Rey-Balla, cuja sensibilidade amorável e mórbida a fazia chorar ouvindo cantar o fado, ofereceu-lhe o seu retrato com uma dedicatória amabilíssima.
18O guitarrista profissional Ambrósio Fernandes Maia, hoje septuagenário, antigo barbeiro em Campo de Ourique e natural de Queluz, é o decano dos guitarristas lisboetas. Escreveu um método para aprender a tocar guitarra. Compôs o primeiro fado das salas em 1869, e mais os fados seguintes: Artilheiro, da Ribeira-Nova, da Cesária, do Porto, de Viseu, de Cascais, de Coimbra, Marialva, Trinado, Bigode, da Meia-Noite, Arte Nova e do Piolho. O fado Artilheiro faz parte dos números de música da comédia dramática Lobos na malhada, original do Dr. Cunha e Costa, que subiu à cena num teatro do Rio de Janeiro em Novembro de 1902. O Maia foi mestre do notável guitarrista o Vizinho. Entrou nos concertos de fado em casa do Marquês de Castelo-Melhor, junto com João Maria dos Anjos e outros distintos concertistas de guitarra, concertos que se recomendavam pela execução nítida, segura, cantante, como a poesia que envolve a genuiníssima canção popular. O Maia é quem empunha hoje o legal-standart dos que tocam o fado na maneira antiga.
19José Maria dos Cavalinhos notabilizou-se como um guitarrista de haute-marque. Tinha a alcunha dos Cavalinhos, porque fizera parte de uma companhia de cavalinhos ambulante. Tocava por música e mandou fabricar uma guitarra de dezoito cordas, em que realizava o tour de force de executar todos os fados de dificuldades. Compôs o fado do Anadia11 e um outro fado que tomou o nome do autor. O fado do Anadia, que fez época, estava em todos os lábios, escapava-se dolorosamente de todas as guitarras.
20O Conde da Anadia teve celebridade como um pândego de truz. Não tocava guitarra, nem cantava, mas apreciava deveras o canto do fado, e gostava muito de ir às feiras e a jantares no campo. O grupo dos seus companheiros era formado de Luís Aranha, Simão Aranha, José Esteves Costa, o cavaleiro Diogo Henriques Bettencourt, o Padre Mateus, empregado na alfândega, o Manuel Gonçalves Tormenta, o José Carlos, de Évora, Domingos Martins Peres, Avilez, Dr. José Avelar, Luís de Araújo, Campos Valdez, Francisco de Almeida Carvalho ou o Carvalho ratado, e Manuel Botas, o actual inteligente das toiradas, que levava a guitarra para fadejar no momento psicológico.
21O Botas aguardava-os na tendinha do Rossio, e daí seguiam para o Colete encarnado, no lado oriental do Campo Grande, onde se banqueteavam com o belo peixe frito e a salada concomitante. Não iam esperar os toiros a Frielas, nas tardes de espera. Nunca passavam além do Campo Grande, abancando naquela casa de pasto, que já tinha a mesa posta para eles, e ali esperavam a passagem do gado para o descanso no Campo Pequeno. O Conde da Anadia era o tipo do gentil-homem campagnard, o modelo da delicadeza e fidalguia, e embora se desse com certa roda inferior à sua hierarquia, sempre se soube manter no seu lugar e respeitar-se, tal qual o Conde de Vimioso.
22Quando foi da empresa de Campos Valdez, em S. Carlos, alguns amigos de Domingos Martins Peres – um grande amador do fado –, apenas terminava a récita do teatro lírico, partiam imediatamente para casa dele, na Ameixoeira, onde a mesa estava posta e se servia logo a ceia. Durante esta, chegavam a cantar, às vezes, um acto inteiro da ópera que acabavam de ouvir em S. Carlos. Encontravam-se lá muito o Conde da Anadia, Luís Aranha, o Marquês de Castelo-Melhor, Luís de Araújo e outros. Em certo jantar que ali se deu, o Marquês de Castelo-Melhor pediu a Luís de Araújo que mandasse servir o jantar de trás para diante, e assim se fez, começando-se pela sobremesa e acabando-se na sopa.
23Além do Conde da Anadia, outro titular popularíssimo amou a guitarra e gostou do fado – o Marquês de Castelo-Melhor. Não se limitava a um amor platónico, como aconteceu ao Conde da Anadia, porque, embora não cantasse o fado, sabia tocá-lo sofrivelmente na guitarra. Aprendera em Coimbra, quando frequentava o segundo ano de Direito, e teve por mestre um cego que zangarreava aquele instrumento nas ruas da Lusa-Atenas. Foi seu companheiro nessa aprendizagem o sr. dr. João da Silva Matos, que, a breve trecho, abandonou guitarras e guitarradas. O Marquês, porém, sempre tocou guitarra, sendo, a miúdo, acompanhado à viola pelo sr. D. Luís Breton y Vedra ou por D. Juan Salces, antigo tenor de uma companhia de zarzuela, que veio para Lisboa em 1865 e que por cá se deixou ficar. O Marquês de Castelo-Melhor nunca fez prodígios de execução na guitarra. Tocava-a regularmente e nada mais. Contudo, logrou impressionar a princesa Rattazzi, que o ouviu numa soirée íntima em casa do próprio Marquês em Paris, «tocando na guitarra os fados nacionais de uma originalidade vivamente acentuada»12. Mas a princesa Rattazzi percebia menos de fadinhos e fadunchos do que percebia de tinturas capilares, de pastas, loções e cremes para dissimular as rugas da derme coriácea, e da química capciosa dos mil artifícios de toilette, adrede preparada para restaurar a beleza numa idade em que ela se torna o mais insustentável dos paradoxos.
24Alguns minutos antes de morrer, ainda o Marquês de Castelo-Melhor estivera executando vários trechos musicais na guitarra, acompanhado com a viola espanhola pelo seu amigo sr. D. Luís Breton y Vedra, que o fora visitar ao seu palácio na Rua Ocidental do Passeio Público (hoje propriedade do Marquês da Foz). O marquês tencionava partir para Madrid, onde se iam realizar grandes festas para celebrar o casamento do rei Afonso xii com D. Maria das Mercedes, no número das quais festas se compreendia uma toirada por amadores, em que o marquês contava toirear. O sr. Vedra dissuadiu-o do intento, e aconselhou-o a que levasse a sua farda de oficial-mor da Casa Real para se poder apresentar nos bailes e nas funções no Paço. O marquês concordou e disse: «Valeu. Levo a farda!» Foram as suas derradeiras palavras. Em seguida, deu um grito e caiu no chão, acudindo-lhe logo o sr. Vedra. Mas debalde, porque o marquês estava morto.
25O Marquês de Castelo-Melhor nunca foi um árbitro das elegâncias, um desses faróis móveis do janotismo e da distinção. A distinção, no sentido de elegância, tornou-se um neologismo dos países democráticos, e a glória de um grão senhor consiste em não ser conhecido e aproximado senão dos seus pares. Ora o Marquês de Castelo-Melhor convivia, um pouco familiarmente, com todas as classes. Encarnou, porém, de maneira superior, o chic à cheval, foi um ginetário de primeira ordem, um dos mais autênticos sustentáculos das nobres tradições da gineta, da antiga escola portuguesa de cavalaria, conforme a professava o Marquês de Marialva.
26O Marquês de Castelo-Melhor tinha boas partidas. El-rei D. Luís dispensava-lhe uma profunda amizade. Uma vez, no Paço da Ajuda, quando este monarca principiava a atacar certo trecho de Rossini no piano – e D. Luís era um medíocre pianista –, o marquês exclamou com a sua habitual franqueza: «Vossa Majestade vai tocar Rossini!... Ora é melhor que vamos conversar.»13
27Outra vez, durante um intervalo em S. Carlos, foi ao camarote real cumprimentar Suas Majestades. Quando se avizinhou o momento de subir o pano, as visitas e as personagens de serviço começaram a sair da saleta. A cada uma que se retirava, el-rei fazia-lhe um epigrama. O marquês dirigiu-se para a porta, mas, ao chegar lá, parou, como quem aguarda alguma coisa. «Porque espera?» perguntou o soberano.
28«Como tenho visto Vossa Majestade – respondeu ele–, fazer epigramas a todos que saem, espero também pelo meu...»
29D. Luís riu com a graça e poupou o marquês.
30O Marquês de Castelo-Melhor conservava religiosamente numa caixinha um lenço de pescoço, que lhe ofertara uma senhora por quem estivera loucamente apaixonado. Só o punha nos dias solenes.
31Por ocasião do falecimento do Marquês de Castelo-Melhor, Júlio César Machado traçou-lhe o perfil em poucas linhas: «O marquês, apesar de toda a sua sem-cerimónia, era um dos poucos fidalgos a valer que deveras se distanciassem e impusessem; e tinha o condão, aquele moço que toireava, tocava guitarra, gostava de cavalos, de folias e de rapaziadas, de ter uns ares de gentil-homem que atiravam para longe a pieguice de fidalgotes e fidalgueiros, ao ponto de ninguém os ver em ele aparecendo, em tanta maneira, na figura, no porte, no garbo, respirava a elegância nobre e viril desse esbelto homem.»14
32Este perfil tem a nitidez fotográfica dos retratos de Nadar ou de Reutlinger. Sim! O Marquês de Castelo-Melhor amou o toureio, a guitarra e o fado, a canção tão caracteristicamente nacional, a canção que parece composta com as pulsações oceânicas, as brisas salinas, as pirilampizações da ardentia, feita de pingentes de prata boiantes, os rumores côncavos de bordo, as espumas referventes que coroam as volutas glaucas das ondas, as musselinas tenuíssimas da bruma, a alegria loira da bonança e as vozes fluidas das nereidas que habitam nas grutas de cristal sob o sono aparente das vagas...
33O fado seguinte foi improvisado pelo amador De Vecchi numa corrida de toiros em Salvaterra, na qual tomou parte o Marquês de Castelo-Melhor.
Ergue a campa, oh Vimioso,
Ainda há toiradas reais!
Corre, voa a Salvaterra,
Pois lá brilham os teus rivais!
Estalam foguetes no ar,
Rompe a música estrondosa,
Vai Salvaterra, a formosa,
Uma toirada gozar;
Anda lá tudo no ar,
Cada qual anda ansioso,
Corre o povo pressuroso,
A festa ninguém se salva,
Baixa à terra, oh Marialva!
Ergue a campa, oh Vimioso!
Bravo, ao marquês cavaleiro,
Que toureia com despique!
Croft e António Manique
Têm brilho verdadeiro;
Rafael, gentil toureiro,
Tem denodo até não mais,
São dos artistas rivais
Esses moços tão valentes,
Todos gritam de contentes:
Ainda há toiradas reais!
Grupo ousado e destemido,
Que aos bois, de cara faz frente,
É cabo o Ponte valente,
Segue o Caldeira atrevido;
De cara, Rebelo querido
Pega um boi como uma serra,
Tinoco nada o aterra,
D’Antas, Castelo e Ribeiro,
Para os ver, o mundo inteiro
Corre, voa a Salvaterra.
Bravo, oh valente abegão,
Que a cavalo ou de cernelha,
Parece, da guarda velha,
Ser o valente campeão!
Roquete, o anfitrião,
Dá corpulentos animais,
Não há quem possa exigir mais,
Até na campa os finados
Gritam em bem altos brados:
Pois lá brilham os teus rivais!
34O António dos Fósforos, um guitarrista de primeiríssima, tocava guitarra eximiamente, e tocava-a com todos os dedos da mão direita. Nascera na Mouraria, e era bexigoso, feio como um sátiro dos tempos mitológicos. Andava mal vestido, um pouco à faia, de barrete, e sempre com a guitarra, instrumento de que poderia dizer como o poeta: sócio meu e meu tirano. O António dos Fósforos estivera preso na grilheta e pertencera ao número dos que calçaram o Rossio, que foi empedrado em 1848. Compôs o fado Cadete.
35Os dois Casacas ganharam reputação sólida. O António Casaca possuía toda a técnica da arte e guitarreava de uma forma maravilhosa num botequim do Campo das Cebolas; o José Casaca tocava num botequim à Ribeira-Nova. O Constantino e o José Palmela, dois tocadores de mão-cheia, arpejavam banza nos cafés da Ribeira Velha.
36O Magiolly conquistou alta celebridade de guitarrista. Era piloto de navios mercantes. Durante o tempo que esteve de cama por ter quebrado uma perna na Calçada do Salitre, escreveu o fado do Magiolly, que é muito bonito e que ele dedicou ao Marquês de Castelo-Melhor, o qual lho retribuiu com dez libras esterlinas. Sustentou muitos desafios à guitarra com o Constantino marceneiro – um bom guitarrista –, desafios que se travavam numa taberna ao Campo de Sant’Ana, e de que o Magiolly saiu sempre vitorioso. O Magiolly amancebou-se com uma cantadora famosa, a Ana do Porto. Entre os seus percalços, cita-se o de ter gramado uma facada do D. Miguel Soutto de Ėl-Rei, mas aquele, depois, partiu a cabeça a este com um cacete à porta do Marrare do Arco do Bandeira. O Magiolly embarcou, mais tarde, para o Chile, em cujo exército assentou praça, e onde atingiu o posto de capitão, sendo morto numa daquelas revoluções que constituem o plato del dia das republiquetas que bordam o golfo do México, o mar das Antilhas e o Grande Oceano Pacífico.
37Em seguida aos guitarristas que indicámos vinham: o José Gualdino (discípulo do António dos Fósforos e morador a S. Sebastião da Pedreira), o irmão do Pau Real – razoável tocador, e o Freitas da Piedade, óptimo executante, que morava na Cova da Piedade, onde estabelecera loja de bebidas. A estes seguiam-se o João Alturas (óptimo tocador e cantador), o João da Preta (assim chamado por ter sido criado por uma preta da Mouraria), o José das três rocas, o bandarilheiro José Petiz, o carpinteiro Luís Patrone, o Pataco (regular tocador), o Peixoto (tocador notabilíssimo), o Coxo da Trafaria (antigo marujo), o Tomás dos Santos Bairro Alto, o Wenceslau, marujo, o Maxarico, marupo, João Maria dos Anjos, o Braz e o Pedro Nicolau de Oliveira, todos já falecidos.
38Embora se não possa integrar na falange dos guitarristas da grande tradição, apontaremos o Luís Velhinho, guitarrista inferior, que se tornou mais conhecido pela sua casa de burros de aluguer no Poço do Borratém e pela sua habilidade insueta em aplicar o método sedativo das sangrias de navalha aos adversários renitentes em se chegar ao rego, do que se popularizou pela arte de arranhar na banza.
39Dos citados acima, especializaremos três. Pedro Nicolau de Oliveira ou Pedro Calcinhas era compositor na Imprensa Nacional, polia boas rimas para o fado e tocava guitarra na perfeição. O Peixoto, filho de um adelo da Calçada do Caldas, já em pequeno tocava magnificamente saltério na loja do pai. Se vivesse, seria um guitarrista que havia de dar água pela barba aos mais acepilhados profissionais, havia de arear o juízo aos melhores tocadores de guitarra.
40João Maria dos Anjos, guitarrista de repicaponto, fora sapateiro em Alfama e era filho de outro sapateiro e óptimo guitarrista. O Anjos principiou por tocar num café da Ribeira Velha, enquanto o António dos Fósforos tocava noutro café, perto daquele. Foi João Maria dos Anjos quem descobriu todos os segredos da guitarra, e, rompendo dificuldades, provou que se podiam executar nela não só os fados e as canções populares, mas as partituras de ópera, que ele transportava do piano para aquele instrumento. E assim fez tábua-rasa sobre os velhos processos de tocar guitarra.
41O Anjos tivera esmerada educação musical, tocava música à primeira vista e em todos os instrumentos. Numa comédia de Aristides Abranches, escrita de propósito para o Anjos, ele ia pedindo, sucessivamente, os instrumentos aos instrumentistas da orquestra e executando diversos trechos musicais. O Anjos deu os primeiros concertos de guitarra no Casino Lisbonense (durante a empresa Gruder) e organizou depois um quinteto, e, ainda depois, um sexteto. Esteve para ir com o quinteto ao Brasil, contratado por Ernesto Desforges, mas arreceou-se da febre-amarela, e o quinteto dissolveu-se. O sexteto era constituído por quatro guitarras e duas violas: o Anjos, o Petrolino, o João da Preta, o Augusto Pinto de Araújo, o violista Zaraquitana e o violista e belo guitarrista António Eloy Cardoso, agora empregado no caminho de ferro de Salamanca. Com este sexteto percorreu o Anjos as províncias. Também deu concertos em Madrid com o guitarrista Vizinho e o Zaraquitana.
42João Maria dos Anjos foi professor de guitarra de el-rei D. Carlos (então príncipe real), que o socorreu liberrimamente na doença de que sofreu durante quatro meses, e que, afinal, o vitimou – a tísica pulmonar. O sr. D. Carlos pagou todos os medicamentos, mandou o Dr. Ravara para o tratar e satisfez as despesas do enterro. João Maria dos Anjos faleceu na Rua Direita de Arroios, n.° 106, em 25 de Julho de 1889, dois dias depois de morrer o grande actor António Pedro. Deixou vários fados, entre eles o que tomou o seu nome, o fado das salas, o fado Casino Lisbonense (em 1873) e o Meu segredo ou Canção de Cascais.
43Com João Maria dos Anjos desapareceu o primeiro guitarrista português de todos os tempos. Ele vivera em perpétuo sonho – o sonho, que é uma segunda vida, como escreveu Gérard de Nerval – na nossa época de frio positivismo, em que tudo reclama uma equação ou uma densidade...
44Outros guitarristas que ainda vivem, sendo alguns deles contemporâneos dos que vimos de indicar, são : António Cândido de Miranda, o Vizinho, autor de um fado das salas, guitarrista que tocava com gosto, sentimento e agilidade, e que executava o fado corrido de uma maneira sensibilizadora; o José Um, tocador e cantador gracioso; o José dos Santos, antigo barraqueiro das feiras e actual camaroteiro do teatro da Rua dos Condes, João da Silva ou o João de Val de Pereiro, marceneiro; o Inácio Palhinhas, discípulo do Maia; José Fernandes Viegas, tocador e cantador, discípulo do Maia; o José da Rosalina (da Outra Banda), grande executante de guitarra; Augusto Pinto de Araújo, o Camões, chapeleiro; o Nine, antigo sargento, hoje em Elvas; José Maria Urceira, o Zaraquitana, correcto violista que tocava no café Bom da Rua da Bitesga; e Luís Carlos da Silva Petrolino, discípulo de João Maria dos Anjos e autor do fado Luís Petrolino, um dos poucos que ainda toca no género antigo.
45Entre os guitarristas e violistas em pleno exercício figuram: Tomás Ribeiro, concertista que recebeu educação musical no Conservatório e conhece a fundo a guitarra; J. R. Robles, antigo sargento que tomou parte na revolta de 31 de Janeiro no Porto; André Carmo Dias, notabilíssimo executante de guitarra, Alberto Carlos Lima, Alexandre de Oliveira, Alfredo Mântua (regente da tuna da Escola Politécnica), Augusto Machado, Alfredo Raposo, António da Silva, João Alves Castelo (bandolinista e regente do quinteto Gillet), Diamantino Mourão (director do sexteto Bertini), Carlos Augusto Sampaio, Eduardo Silva (autor de diversos fados), Júlio Silva (autor do Triste Fado), o Landeiro, Francisco Soares Nogueira, João da Silva, Ivo dos Santos Josué, Jorge Silva, José Augusto da Silva, Júlio Câmara, Eduardo Duque, etc.
46Na élite dos guitarristas modernos brilha Reynaldo Varela, autor do fado das 3 horas, do fado Boémio, do fado do Estoril, do fado Novo, etc. O fado das 3 horas foi escrito em 1887 e é acompanhado de versos do dr. Branho Caldas, natural das Caldas de Vizela, que os improvisou dentro de um barco vogando no rio Vizela numa noite de serenata.
47O fado Boémio ou Ûltimo fado (2.° fado de Varela) foi composto em 1896 e é acompanhado de quatro quadras de um poeta de Vila do Conde, as quais o autor da música adaptou ao seu fado. O fado Estoril (3.° fado de Varela) foi composto em Setembro de 1901. Além destes fados, tem inúmeras variações sobre o fado. Os versos do fado das 3 horas são estes:
Murmura, rio, murmura,
É doce o teu murmurar;
Que tristeza, que ternura,
Tu tens no teu soluçar!
Pela calada da noite,
Enquanto não surge a aurora,
Qu’esta minha alma se afoite,
Suspira, guitarra, chora!
Voga, barco, mansamente,
Pelas águas prateadas,
Leva este canto dolente
Aos peitos das namoradas.
Cada nota tão sentida
Que a minha guitarra envia,
É uma canção dolorida
D’amor e melancolia.
E estas canções eu trago-as
Presas nas asas da brisa,
Para espalhar sobre as águas,
Enquanto o barco desliza!...
48Os versos do fado Boémio são estes:
Guitarra, minha guitarra,
Vamos correr esse mundo,
Será vendo-te a meu lado
Meu pesar menos profundo.
Quando eu gemer, tu suspiras,
Sorrirás quando eu sorrir,
Havemos assim, guitarra,
Prazer e dor compartir.
Quando a saudade de amante
Vier meus olhos turvar,
Tu cantarás e cantando
Minha dor hás-de acalmar.
Entre as folhas orvalhadas
Dormem as rosas e os lírios,
Não dorme quem tem amores,
Porque amores são martírios.
49Temos agora o grupo dos guitarristas amadores. Aí por 1887 ou 1888, havia um grande tocador de viola, o Cipriano da Administração, que é já falecido. José Horta, tocador e cantador, o Domingos Martins, da Ameixoeira, António Galache, tocador e cantador, o Soromenho, o Leonardo, empregado público, guitarrista, e o João Caetano, empregado na Câmara Municipal, podiam formar ombro a ombro dos profissionais. O explorador africano Roberto Ivens foi – quando aspirante de marinha – discípulo do guitarrista Maia e notável guitarrista amador. O major João José de Figueiredo, há pouco falecido, tocava e cantava proficientemente; e o Almeida das Petas tocou guitarra e viola no género fino. O José de Queiroz, pintor amador, brilhou igualmente como diletante de guitarra. O dr. Jaime de Abreu, quando cursava a Universidade, celebrizou-se como um guitarrista superfino, talvez o primeiro que tem havido entre os estudantes de Coimbra.
50O fado tem duas espécies de dança: bater o fado e a dança do fado propriamente dita. Bater o fado é uma dança ou meneio particular em que entram duas pessoas ou três: uma que apara (ou duas, às vezes) e que deve estar quieta e o mais firme possível, e outra que bate, dando regularmente as pancadas com a parte inferior das coxas nas coxas das pernas do que apara, e meneando-se com requebros obscenos. O Conde de Vimioso batia o fado como um catita e José Crisóstomo Veloso Horta, amador tauromáquico de primeira plana, tocava guitarra, cantava e batia o fado divinamente. Em época posterior, quem bateu o record dos batedores de fado foi o Mercadet. Depois dele, vinham o padre Mateus, empregado na alfândega, o guitarrista Josué dos Santos, o Augusto da Emília dos Caniços, e o José da Bolacheira, que tocava alguma coisa guitarra e representou como actor no Teatro de D. Maria ii.
51O grande batedor de fado Mercadet esteve empregado no Arsenal de Marinha e pertenceu à boémia à outrance, à boémia alegre como um bando de máscaras tunantes no carnaval. Tinha pilhas de graça, assim como o Guedes do Tesouro, seu amigo e companheiro do seu notambulismo impenitente. Estabeleceram um coté nos antigos casebres do Loreto, cuja porta, viúva de fecho, se conservava sempre encostada. A mobília compunha-se de duas enxergas, e de cadeiras e canapés... pintados na parede pelo Guedes, homem de grande habilidade artística. Com o dobrar dos anos, o Mercadet imobilizou-se no quietismo da vida pacífica, converteu-se num sedentário e morreu feito mestre de meninos com colégio à Cruz do Taboado.
52Houve batedores de fado excitantes como as figuritas das caixas de fósforos, que, pela petulância de suas atitudes, simbolizam maravilhosamente o produto inflamável de que são o ornamento. As que aparavam com mais gajé nos tesos fados batidos eram: a Borboleta, a Ana do Porto, a Ana de Setúbal, a Emília Midões, a Amélia do Paixão, e a Lucinda do Bairro Alto, convivas alegres desse eterno banquete do amor venal, onde as blandícias das gulodices fundentes alternam com as especiarias vigorosamente apimentadas e os acepipes impertinentemente cantaridados.
53À volta de 1830, existiam bailarinos de fado e de fandango notabilíssimos. Estava nesse caso o Salvador Mexerico, antigo artilheiro do regimento do Cais dos Soldados, que bailava com uma rapidez telegráfica e uma desenvoltura estapafúrdia. Ia aos botequins da Ribeira Nova – principalmente ao botequim dos Macacos, e ao botequim do Caraças15 – onde vinha gente de longe para o ver dançar o fado e o fandango entre doze ovos postos no chão, por meio dos quais passava sem quebrar um só. No mesmo caso se achava o Teodósio, os dois irmãos Castanholas, o fadista Manuel Ratão, grande jogador de pau do Campo de Sant’Ana, e o Mexelhão, canteiro, que fora soldado de sapadores. Todos eles, mas principalmente o Salvador Mexerico, davam sota e ás ao maior bailão. Dançavam o fado seguindo nota a nota, nas suas evoluções trepidantes, a música ondulosa como a vida ondulosa das vagas; bailavam o fandango com o virtuosismo sudorífico de um marujo britânico sapateando o solo inglês. Além do fado e do fandango, havia também o banzé, uma dança de pretos que eles executavam sempre nos bailes da rainha do Congo na Floresta Egípcia. Do nome desta dança proveio o termo banzé, empregado no calão lisboeta depois de 1840.
54Dissemos anteriormente que o fado apresentava duas fases completamente distintas: a popular e espontânea e a aristocrática e literária. Quando aquela terminou, em 1868 ou 1869, já o canto do fado experimentara modificações com o Damas. Foi ele que principiou a imprimir uma feição mais delicada e um tudo nada mais artística ao fado. Nos começos da segunda fase aparece João Maria dos Anjos, que, por assim dizer, aristocratiza a guitarra. Então, vemo-la a entrar triunfante nas salas onde se cortejam todas as vaidades da vaidade, ouvimo-la sobre a areia das praias, na serenidade embaladora das noites estivais, enquanto os corações batem no voo das preces e as estrelas piscam coquetemente os olhos celestiais. Secundando inconscientemente a tarefa reformadora de João Maria dos Anjos, aparece o Calcinhas, o verdadeiro iniciador do moderno canto fino do fado.
55O fado aristocratiza-se, afidalga-se, conquista direitos de cidade na arte musical, recebe as suas cartas de crédito na música sallonnière. Vive-se em plena fadocracia. Lavra uma febre de amor ao fado, que faz lembrar a febre do entusiasmo pelas obras de Alexandre Dumas, que lavrou em Londres e a que os ingleses chamaram a febre Dumas – the Dumas fever. As senhoras do tom não desdenham aprender a guitarra, que readquire o posto que tivera nos antigos tempos. E a guitarra do povo, o alaúde popular, o dulcísono instrumento que o compreende nas suas dores, lhe escuta as suas mágoas, lhe traduz os seus queixumes e lhe suaviza o fatum – o inelutável destino–, converte-se na guitarra senhoril, no instrumento que vai repousar sobre os tamboretes dos toucadores elegantes, sobre as otomanas dos salões alcatifados e sobre os veladores das alcovas catitas, que passa a ser beliscado por dedos avezados a dobrarem-se apenas às torturas do piano, a darem voo aos pensamentos harmoniosos de Thalberg e a interpretarem a graça etérea das páginas de Chopin. E os arames prateados das banzas soam aos ouvidos das damas como se fossem as cordas de oiro do heptacórdio de Eros... O fado parece vir dar uma voz às tristezas, aos sonhos e aos amores daquele tempo, como Verdi prestou uma voz às tristezas, aos sonhos e aos amores de uma geração, nas dores do Rigoletto, nas lamentações do Trovador e nos soluços da Traviata. Os critiqueiros populares marginam logo a nova moda com duas anotações rimadas:
Se isto assim continua,
Onde irá parar não sei;
Veremos andar p’la rua
De guitarra o próprio rei.
Oh fado, que foste fado,
Oh fado, que já não és,
O fadinho invade tudo
Da cabeça até aos pés.
56Par a par, a musa faiante engendra estas duas quadras denigrativas de cantadores e guitarristas populares:
Nem a campa do Campanudo,
Nem a palha do Palhinhas,
Nem as calças do Calcinhas,
Nem a musa do Peludo.
Vi as campas ao Campanudo,
Vi as calças ao Calcinhas,
Na mangedoura d’um burro
Vi as palhas ao Palhinhas.
57Então, o Teatro da Trindade dá-nos (em 1869) o Ditoso Fado, onde Rosa Damasceno nos vem dizer:
Quando pego na guitarra,
Sinto logo o quer que é
Que me fala ao coração
E me faz pular o pé.
58Ao que o Taborda lhe replica:
Eu p’lo fado sou lamecha,
Não está mais na minha mão,
Quisera ouvi-lo cantar
A toda a lusa nação.16
59Então, o Marquês de Castelo-Melhor celebra sessões de fado no seu palácio da Rua Ocidental do Passeio Público, em que tomam parte João Maria dos Anjos e outros guitarristas de nomeada; algumas damas de alta extracção entusiasmam-se pelo fadinho, entre elas a falecida Condessa de Ficalho, que gostava muitíssimo de o ouvir tocar; e encetam-se os concertos públicos de guitarras, o primeiro dos quais se realizou no Casino Lisbonense na noite de 3 de Maio de 1873. Neste concerto entraram o Vizinho, o Josué dos Santos, o Casaca, João Maria dos Anjos, José Gualdino, o Tomás Bairro Alto, o Wenceslau, João da Silva, etc. O Anjos, o Maia e o Vizinho tiveram uma ovação estrepitosa. Principalmente o último, no fado trinado com trechos das óperas Trovador, Marta e Norma. Passados oito dias, realizaram novo concerto no teatro do Ginásio. Depois, o Anjos, o Vizinho e o Josué, deram concertos de guitarra no palácio de Cristal do Porto, sob a empresa Gomes Cardim, e no café Chinês, na Póvoa de Varzim.
60A propósito daquele primeiro concerto de guitarras discorria então um folhetinista: «Pois se há coisa que nos dê no goto é a guitarra aventureira, espécie de Bonaparte músico, elevado até aos salões principescos e que pode dizer aos pianos de Erard e de Pleyel: «Quando eu estava na Porcalhota...» da mesma forma que o homem de Campo Fórmio dizia aos portadores de diademas: «Quando eu era de artilharia...» Napoleão esmagava o direito divino dos reis, a guitarra destrói a hierarquia dos instrumentos. É o eterno ceci tuera cela, principiando no livro que mata o edifício e acabando na corda de aço que faz estalar de inveja o opulento bordão de seda... Na guitarra é que se devia tocar o hino de 1640. Ai! Quem a não tinha ouvido a ela, por uma dessas noites em que as estrelas chovem claridades trémulas, quem a não tinha ouvido gemer e soluçar como uma meiga criatura a quem mágoas oprimem? Vinha dos recessos das escuridões dolorosas, e acordava os ecos com as suas querelas enternecidas. Tocava uns compassos dolentes, uma triste solfa em que se pressentiam lágrimas. E quando no meio daqueles requebros se erguia uma voz desentoada e ronca, a gente sabia bem que havia ali um condão, fatum, a entoar a salurnal da impudência acompanhada por um rumor de amarguras.»17
61A trajectória evolutiva do fado não parou. O fado tornou-se mais literário, mais artístico, e, conseguintemente, perdeu o seu carácter popular. Os versos que até aqui haviam estado entregues à mechamea espiritual dos vates populares começaram a ser fundidos pelo estro dos poetas mais íntimos das Musas. A música, que até aqui brotava da inspiração dos guitarristas e dos cantadores, passa a ser composta por maestros diplomados pelo Conservatório. E, facto curioso, a transformação do fado é paralelamente acompanhada da decadência gradual do fadistismo.
62O fadista de agora mantém-se molecularmente idêntico ao antigo, mas o seu campo de acção é que se tem restringido pouco a pouco, e as suas proezas de navalha – que eram como que um brevet de chic – representam apenas um eco débil das do passado, um post-scriptum de contrafacção. Decididamente as tradições vão-se!
63Como amostra das trovas dos fados dernier-style apresentamos três cantigas: a primeira é inédita de José Inácio de Araújo e glosada sobre um mote do eminente poeta Bulhão Pato:
Queres tu que mais ainda
Meu coração possa amar?
Deus próprio responderia:
Não tenho mais para dar.
Eu amo-te com excesso,
Meu amor toca os limites,
Que dele te capacites,
É tudo quanto te peço;
Sei que o teu amor mereço,
Encantadora Lucinda,
Mas, oh minha prenda linda,
De minha alma doce encanto,
Dedicando-te amor tanto,
Queres tu que mais ainda.
Falo franco, franco sou,
Mais amor não posso dar-te,
Dou da vida a melhor parte
Neste afecto que te dou;
Dentro d’alma se arraigou,
Não há-de o tempo apagar
E não, não podes julgar,
Oh beleza peregrina!
Que com mais força divina
Meu coração possa amar.
Se velo, em meu coração
Sempre encontras temo abrigo,
Se durmo, sonho contigo
E não tenho outra visão;
Mais amor? Onde é que então
Tal amor se encontraria?
Em vão tua voz rogaria
Numa prece ao Criador;
Não há no mundo mais amor,
Deus próprio responderia.
Aceita, pois, este amor,
Sem que outra ideia te ocorra,
Pede a Deus que eu não morra,
Mas não o peças maior.
Dei-te d’esta alma o vigor,
Dei-te todo o meu pensar,
Dei-te o singelo trovar
D’uma guitarra singela,
Dei-te a vida e os gozos d’ela,
Não tenho mais para dar.
64A segunda é original do sr. Boaventura Henriques de Carvalho e glosada sobre um mote de José Inácio de Araújo:
Às vezes d’uma suspeita
Pode surgir um martírio;
Quando é nódoa que se deita
Sobre a brancura d’um lírio.
Consagro-te imenso amor,
Mulher de raro talento,
Neste puro sentimento,
Há também acerba dor:
Porque o vulgo, com rigor
A maldade não enjeita!
Estando a ela sujeita
A chama d’amor infindo,
É estrada que vai seguindo,
As vezes, d’uma suspeita.
Só então ocultamente,
Serás por mim muito amada,
P’ra não seres caluniada,
Sendo eu p’ra ti indif’rente,
Este amor, puro, inocente,
Meu coração admira-o,
Mas nunca lhe faça círio,
Não lhe dê publicidade,
Porque também da verdade
Pode surgir um martírio.
Hei-de guardar em meu peito,
Tanto amor que o fascinou,
Na certeza que ele entrou,
Em um sacrário perfeito,
Despreza amor preconceito,
Que o contrafaz e despeita,
E o vulgo mau, se deleita
Empregando frase forte,
Quando é mais feia que a morte,
Quando é nódoa que se deita.
Para evitar que a maldade
Erga o seu altar um dia,
Suponho ser fantasia
O que em mim é realidade,
Que possa tanta bondade,
Que te desce lá do empíreo,
Fazer que nunca em delírio
Eu diga quanto te amava–,
– Era mancha que ficava
Sobre a brancura d’um lírio. –
65A terceira é o fado que fazia parte das canções do Orfeão Académico de Coimbra em 1900, e foi composto pelo jovem poeta Afonso Lopes Vieira:
Olhos que a mim me perdeis,
Que me encheis
Todo de luz e de graça;
Tende piedade de mim,
Sendo assim
Engraçados dais desgraça.
Olhos verdes, verdes olhos,
Vejo-os, olho-os,
De os olhar ando já cego;
Verdes com as minhas mágoas,
Como as águas,
Que leva o rio Mondego.
Cantai as minhas cantigas,
Raparigas,
Que a cantar mais lindas sois;
Dizei-as aos namorados,
E – casados...
Às vossas filhas, depois.
Segue-se um fado de novíssimo género, o fado socialista18:
Um de maio, alerta! alerta!
Soldados da liberdade!
Eia avante, é destruir
Fronteiras e propriedade.
Sentinelas avançadas
Redobrai vossa atenção,
E, ao grito da revolução,
Estejam a postos e formadas;
Haja união, camaradas,
E a vitória será certa,
Eis o alvo que nos desperta
P’ra missão civilizada,
É dia, resurge a aurora,
Um de Maio alerta! alerta!
Lutemos pelo ideal
D’onde o nosso bem dimana,
Sigamos José Fontana
E Antero do Quental;
Abaixo o vil capital
Inimigo da igualdade,
Haja solidariedade
Sigamos um trilho novo,
Avante, filhos do povo,
Soldados da liberdade!
Mostrai aos vis argentários
Que é falso o seu predomínio,
Que à força do latrocínio
Se fizeram proprietários;
Erguei-vos, oh proletários!
Que a glória há-de surgir,
E para termos no porvir,
Paz, amor, civilização,
Os muros da opressão
Eia, avante, é destruir!
Abaixo o militarismo,
Que também é retrocesso,
Trabalhadores do progresso,
Defensores do socialismo!
Um belo positivismo
Mostrai à vil sociedade,
Que a terra é da humanidade,
Que é de todos quanto encerra,
Que não pode haver na terra
Fronteiras e propriedade!
66Modernamente, as nossas canções populares chamaram a atenção de alguns músicos distintos. Vítor Hussla, professor em Lisboa, compôs rapsódias de músicas populares portuguesas, em que intercalou fados. Outros o imitaram. Mas o primeiro glosador das nossas canções populares, incluindo o fado, foi o violinista portuense Marques Pinto, que compôs uma grande fantasia popular. Alguns músicos de categoria não se têm dedignado de compor fados. Haja vista o que sucede com Rey Colaço. Já Teófilo Gautier – esse Brummel literário – dizia que, em literatura, não há géneros inferiores, mas sim escritores inábeis. Outro tanto podemos dizer da arte musical e dos que a cultivam. A essência do mundo, o fundo do ser e do pensamento, a alma misteriosa do universo, o que há de mais íntimo e de mais profundo em nós, e nas miragens deste esferóide rotante, esse não sei quê que se chama – a inspiração, tanto pode iluminar os grandes quadros como as pequeninas telas musicais, tanto pode luzir numa partitura intrincada como no fado comezinho. E se, nas obras-primas dos grandes maestros, a alma misteriosa do universo nos fala a sua linguagem mística, a essência do mundo se manifesta a nossos olhos, e as regiões longínquas das causas primeiras e das ideias eternas aparecem acessíveis e próximas, no fado – a mais sugestiva canção lusitana – revela-se a alma nacional palpitante de emoção.
67Porque a música do fado se tem adulterado ou despopu-larizado até se transformar em serenata, em balada ou numa espécie de passa cale lento, porque as trovas do fado se poliram como jóias em que se espelham todos os reflexos das almas poéticas, porque os versos do fado se facetaram como diamantes em que brilha a gama inquieta dos tons do arco-íris tremeluzindo nas águas puras dos cristais, pretendem alguns que o fado tende a desaparecer de entre as nossas canções nacionais. Não o acreditamos. O fado – que, á maneira do ouro, se vai enobrecendo sob a patina dos anos – não pode, como tantas outras coisas, desaparecer na promiscuidade das novas usanças cosmopolitas e na banalização caprichosa das modas. Parece que ele possui como que uma sorte de resistência psíquica, que obsta ao seu desaparecimento. Apesar de tudo, o fado conserva um carácter estreme de individualidade local, e o povo vai recolhendo, hereditariamente, a memória e o gosto, o ritmo e o sentido dessa canção amada, e conserva-a, religiosamente, como um piedoso legado dos seus ancestrais.
68De qualquer maneira, o fado subsistirá, porque ele corresponde maravilhosamente à nossa índole contemplativa, elegíaca e sonhadora, porque ele reflecte a nossa alma ondeante e diversa como o homem de Montaigne, porque ele nasceu no mar, no mar onde fomos grandes, no mar onde conquistámos as glórias que fizeram da pátria portuguesa um elemento funcional no mundo moderno, e a fizeram subir triunfantemente os degraus da História. A cançonetista parisiense Thereza dizia que a canção era, por vezes, a pátria. Também podemos dizer que o fado é, por vezes, este rincão da bola sublunar. É a imensa e profunda tristeza do nosso litoral, é a frescura verde dos nossos campos em que se fundem aromas, é o borbotão férvido do nosso Tejo, que desce, de terras de Espanha, sem uma tara, é o reflexo do nosso céu em todos os seus aspectos : de um anil imaculado no Estio, plúmbeo no Outono, gridefe no Inverno, azul-safira na Primavera, quando Maio pulveriza de ouro a Natureza, põe topes de prata no arvoredo e diz, alegremente, que todos os lustres estão acesos.
69Para nós, é ponto de fé, que os nossos sucedâneos poderão repetir o que, no alvorecer do século xx, escreveu um juvenil poeta de Coimbra19:
Guitarra, chorando o fado,
Lembrais-me, vós, muita vez,
A vida, o sonho passado,
D’ este povo português!
Porque a alma portuguesa
Suspira adentro de vós,
Guitarras, onde se reza,
O fado dos meus avós!
Notes de bas de page
1 O último desses cantadores afamados das ruas lisboetas foi o Gaspar da Viola, um virtuose da mendicidade.
2 Polícia secreta dos últimos tempos do reinado do Sr. D. João VI, p. 242.
3 Arquivo do Ministério da Justiça. Maço 90.
4 Arquivo da Torre do Tombo. Intendência Geral de Policia. Correspondência dos ministros dos bairros, Santa Isabel. Maço 71.
5 Alude-se aqui ao facto de D. Miguel ter fracturado uma perna, por se ter voltado o carrinho, em que, junto com as infantas D. Isabel Maria e D. Maria d’Assunção, passeava na estrada de Caxias no dia 9 de Novembro de 1828. O ter quebrado só uma perna, quando podia ter quebrado as duas, foi atribuído a um milagre da Senhora da Rocha. Os liberais epigramatizaram muito o caso, e um dos epigramas foi este:
A D. Miguel um milagre
Fez a Senhora da Rocha,
Quebrando-se-lhe o carrinho,
Quebrou-se-lhe só uma coxa.
Bem podias, Virgem pura,
Para ostentar teu poder,
Na que lhe ficou inteira
Outro milagre fazer.
Por seu turno, os miguelistas celebraram o caso cantando:
D. Miguel é bonito,
É bonito e bem feito,
Quebrou uma perna,
Ficou sem defeito.
6 Correspondências dos ministros dos bairros, Santa Catarina. Maço 64.
7 Por esse tempo, e ainda depois, viveu no Porto um mendigo legendário, o José das Desgraças, tocador de guitarra. Todos o conheciam, assim como ao seu cão inseparável e ao seu enorme chapéu de seda azulada. O Ferreirinha da Régua várias vezes lhe deu dinheiro para comprar cães.
8 João de Deus, quando estudante de Coimbra, tocava guitarra, cantava e compunha música. «Tocava deliciosamente a banza dos estudantes, compondo música para ela.» (Eu e as notabilidades literárias. Artigo de Cunha Belém na Revista Brasil-Portugal, n.° 91). Noite fechada, João de Deus ia com outros estudantes, muito embuçados, cantar versos e música – tudo original seu.– à porta de certo lente com quem embirrava. (Trindade Coelho, In illo tempore, p. 227).
9 Bulhão Pato. Memórias, vol. I, p. 78.
10 Joaquim de Vasconcelos. Os músicos portugueses, vol. i, p. 82.
11 Há quem atribua o fado do Anadia ao guitarrista Constantino, o que é inexacto.
12 Madame Rattazzi. Le Portugal à vol d’oiseau, p. 47.
13 Rossini era amicíssimo de el-rei D. Luis. Quando este foi a Paris em 1865, o autor do Barbeiro de Sevilha ofereceu-lhe um concerto em sua casa, onde o soberano cantou a romanza de barítono do Trovador, o Eri tu do Baile de máscaras e a cavatina do Trovador, acompanhando, como coristas, Rossini, Verdi, Caetano Braga, Perruzzi, Lucantoni e o visconde de Paiva, esse grande elegante que acabou no suicídio como o Monpavon do Nabab.
14 O Marquês de Castelo Melhor, folhetim do Diário de Notícias de 25 de Janeiro de 1878.
15 Botequim à esquina da Ribeira Nova e da Travessa de S. Paulo. Pertencia a um irmão do fundador do botequim dos Macacos.
16 O Ditoso Fado representou-se novamente na Trindade pelo Ribeirinho e Josefa de Oliveira, e numa excursão artística às províncias, em 1873, por Beatriz e Taborda.
17 Folhetim de E. A. Vidal no O Diário Popular de 11 de Maio de 1873.
18 Actualmente, existe uma enorme quantidade de fados socialistas.
19 Celestino David. O livro de um português. 1901.
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