Capítulo 2. Os Impérios
p. 37-63
Texte intégral
I
1Na freguesia de Santa Bárbara — como no conjunto da ilha de Santa Maria — as Festas do Espírito Santo são conhecidas pela designação genérica de Impérios1. Na sua base encontram-se promessas individuais — de que os motivos mais recorrentes são a saúde e a riqueza — que intercambiam a graça divina solicitada com o patrocínio de um Império num local de culto preciso: a igreja paroquial ou duas das ermidas existentes na freguesia — as ermidas de Nossa Senhora de Lourdes (situada no lugar do Norte) ou de Jesus, Maria, José (situada em São Lourenço). Cada um destes locais de culto possui nas suas imediações dois edifícios de características rituais utilizados exclusivamente no âmbito dos Impérios — a copeira e o teatro.
2O vovente recebe no quadro dos festejos a designação de imperador — sendo a sua esposa pelo seu lado designada por imperatriz — operando como o seu principal organizador e oficiante. O imperador é coadjuvado nas suas funções por um grupo de vinte a trinta ajudantes, com designações, insígnias e desempenhos tradicionalmente fixados. Entre esses ajudantes destaca-se a folia, que asssegura, por intermédio de um conjunto de cânticos de características tradicionais, a direcção e o acompanhamento musical dos festejos.
3A Coroa do Espírito Santo, forma consagrada de representação da divindade, constitui o elemento em torno do qual se estruturam os Impérios. Trata-se de uma Coroa em prata trabalhada, encimada por uma pomba, e que constitui a insígnia central de um conjunto de que fazem ainda parte um ceptro-também encimado por uma pomba — e uma salva, ambos em prata. Em Santa Bárbara existem três dessas Coroas, cada uma delas adscrita aos locais de culto atrás mencionados. Esta forma «sui generis» de representação da divindade deve ser, por um lado, relacionada com as origens usualmente atribuídas às Festas do Espírito Santo, que, como vimos, reservam um papel decisivo à figura da Rainha Santa Isabel. E é, por outro lado, solidária de um conjunto de outras designações e insígnias, igualmente retiradas de uma linguagem de poder, que integram a sequência ritual dos Impérios.
4Esta é marcada, antes de mais, por um conjunto de ritos e festejos de características religiosas: terços e outras cerimónias de homenagem à Coroa, procissões e cortejos vários, etc… De entre esses ritos destaca-se a coroação, imposição solene da Coroa ao imperador, realizada pelo padre no termo da missa. Simultaneamente, a sequência ritual dos Impérios concede um lugar de relevo a um conjunto de refeições, dádivas e distribuições de alimentos. Circulando exclusivamente no âmbito dos Impérios, esses alimentos podem ser encarados, de acordo com a definição proposta por Ernesto Veiga de Oliveira, como alimentos cerimoniais: «manjares, pratos ou refeições de composição especial que pode ser muito singela mas que reveste quase sempre o aspecto de uma prescrição obrigatória de fundo rigorosamente tradicional (…) e de aceitação geral» (Veiga de Oliveira, 1984m: 205). A articulação de determinadas cerimónias cíclicas no quadro etnográfico europeu com formas de circulação cerimonial do alimento é um facto recorrente2. Mas atinge, nas Festas do Espírito Santo em geral e nos Impérios em particular, uma dimensão especialmente expressiva, tanto pela quantidade extremamente significativa de alimentos distribuídos, como pelo número muito elevado de indivíduos e casas abrangidos por essas prestações alimentares.
5Tradicionalmente, o período consagrado em Santa Bárbara à realização dos Impérios — o chamado tempo dos Impérios — estendia-se, à semelhança do que se passa no conjunto do arquipélago, ao longo das oito semanas que medeiam entre o domingo de Páscoa e o domingo da Trindade. Os festejos, em número variável de ano para ano, de acordo com as promessas existentes, convergiam preferencialmente para o domingo de Pentecostes — dia em que a Igreja comemora a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos-para a 2.a feira imediatamente a seguir — a chamada 2.a feira de Pentecostes — e para o domingo da Trindade — uma semana depois do domingo de Pentecostes3. Era nessas datas que tinha lugar o dia de Império, ponto culminante dos festejos. As semanas que antecediam o dia de Império coincidiam com a sua fase preliminar e eram ocupadas com um certo número de cerimónias preparatórias. Enquanto estas se centravam em casa do imperador, o dia de Império decorria por seu turno na igreja ou ermida para a qual o Império havia sido prometido.
QUADRO 6. Impérios promovidos por emigrantes e Impérios promovidos por locais em Santa Bárbara (1964-1987)
ANO | TOTAL DE IMPÉRIOS | IMPÉRIOS DE EMIGRANTES | IMPÉRIOS DE RESIDENTES |
1964 | 4 | – | 4 |
1965 | 3 | 1 | 2 |
1966 | 2 | 1 | 1 |
1967 | 5 | 1 | 4 |
(…) | |||
1970 | 2 | 1 | 1 |
1971 | 4 | 3 | 1 |
1972 | 6 | 4 | 2 |
1973 | 7 | 7 | – |
1974 | 6 | 6 | – |
1975 | 3 | 2 | 1 |
1976 | 3 | 3 | – |
1977 | 4 | 4 | – |
1978 | 6 | 6 | – |
1979 | 5 | 5 | – |
1980 | 2 | 2 | – |
1981 | 2 | 1 | 1 |
1982 | 5 | 5 | – |
1983 | 1 | 1 | – |
1984 | 2 | 1 | 1 |
1985 | 4 | 2 | 2 |
1986 | 1 | 1 | – |
1987 | 4 | 4 | – |
QUADRO 7. Impérios do tempo e fora do tempo em Santa Bárbara (1964-1987)
ANO | TOTAL DE IMPÉRIOS | IMPÉRIOS DO TEMPO | IMPÉRIOS FORA DO TEMPO |
1964 | 4 | 4 | – |
1965 | 3 | 3 | – |
1966 | 2 | 2 | – |
1967 | 5 | 5 | – |
(…) | |||
1970 | 2 | 2 | – |
1971 | 4 | 4 | – |
1972 | 6 | 6 | – |
1973 | 7 | 6 | 1 |
1974 | 6 | 6 | – |
1975 | 3 | 2 | 1 |
1976 | 3 | 3 | – |
1977 | 4 | 4 | – |
1978 | 6 | 6 | – |
1979 | 5 | 4 | 1 |
1980 | 2 | 2 | – |
1981 | 2 | 1 | 1 |
1982 | 5 | 3 | 2 |
1983 | 1 | – | 1 |
1984 | 2 | 1 | 1 |
1985 | 4 | 2 | 2 |
1986 | 1 | – | 1 |
1987 | 4 | 1 | 3 |
6Esta organização temporal dos Impérios conheceu nos últimos 25/30 anos algumas transformações. Estas ficam a dever-se à generalização, a partir do início do surto migratório dos anos 60, de Impérios prometidos por emigrantes. Resultantes na maior parte dos casos de promessas relacionadas com a emigração — «se eu for para a América (ou para o Canadá) e que tenha sorte, prometo um Império à Senhora de Lourdes (ou a Santa Bárbara)…» — esses Impérios representam cerca de 75% do total de Impérios realizados na freguesia entre 1964 e 1987 (cf. quadro 6)4. Muitas pessoas referem a este propósito, em tom de brincadeira, que «se não fossem os emigrantes, os Impérios já tinham acabado»5. De facto, contrariamente ao que se passa noutros contextos (cf. Boissevain, 1992), a emigração tem operado em Santa Bárbara não como um factor de enfraquecimento da festa, mas, antes, como um instrumento da sua continuidade e reforço.
7Esta estreita dependência entre Impérios e emigração conduziu em primeiro lugar ao aumento do número dos chamados Impérios fora do tempo. Muitos dos emigrantes apenas conseguem deslocar-se à freguesia nos meses consagrados às férias e um certo número de Impérios passou em consequência a realizar-se nesse período (cf. quadro 7). Como essas deslocações têm também uma duração máxima de três/quatro semanas deu-se simultaneamente uma contracção da fase preliminar dos Impérios. Assim, em vez das sete/oito semanas tradicionalmente previstas, os Impérios estendem-se actualmente por um período de duas/três semanas.
8Apesar destas transformações, os Impérios conservaram entretanto intactas grande parte das suas características tradicionais.
II
9A sua realização requer antes de mais, como vimos, a formação de um extenso grupo de ajudantes, escolhido pelo imperador e encarregue de o coadjuvar nas tarefas de ordem prática e nos desempenhos cerimoniais requeridos pelo Império. A direcção do grupo está confiada ao copeiro. Com funções particularmente importantes de direcção e organização na esfera da circulação do alimento, o copeiro opera ainda como orientador geral do Império, de que é um especialista local. É nele que de alguma forma o imperador delega as suas competências de organizador principal do Império. Na freguesia existem actualmente dois copeiros em actividade, sendo de salientar que ambos ocuparam ou ocupam ainda importantes funções de liderança no contexto local. Um deles exerceu, durante alguns anos, o cargo de Presidente da Junta de Freguesia, enquanto o outro foi Presidente da Assembleia de Freguesia; ambos desempenharam ainda funções de relevo nas instâncias administrativas da paróquia. Esta associação entre o cargo de copeiro e a liderança local é recorrente, reencontrando-se também entre os copeiros que anteriormente exerceram essa função. Um deles foi durante muitos anos escrivão da Junta de Freguesia; outro ocupou as funções de presidente da Junta entre 1956 e 1963; um terceiro, finalmente, foi também presidente da Junta de Freguesia entre 1964 e 1974.
10Quanto aos ajudantes propriamente ditos, dividem-se em três grandes grupos. Num primeiro incluem-se aqueles que mais directamente secundam o imperador nos seus desempenhos cerimoniais: os ajudantes grados, os pagens da mesa e a folia. Os ajudantes grados são quatro: o trinchante, o mestre sala e dois briadores (provável corruptela de vereadores); estes últimos cargos devem ser desempenhados por dois rapazes solteiros. Estes ajudantes possuem como principal insígnia distintiva — para além do lenço ao pescoço usado por todos os ajudantes — uma vara de cerca de 2 metros. Em dia de Império usam também um fruteiro enrolado em volta do braço esquerdo e dois deles — o trinchante e o mestre sala — envergam ainda uma toalha branca caída sobre o peito. Os pagens da mesa são em número de dois, escolhidos entre crianças de idades compreendidas entre os quatro e os oito anos. Idealmente, a escolha recai sobre os filhos do imperador. Além do fruteiro, usam ainda como insígnia uma toalha branca a tiracolo. Quanto à folia — que, como vimos, tem a seu cargo o acompanhamento e a direcção musical das principais sequências rituais do Império — é composta pelo mestre, que toca o tambor e dirige, e por dois outros foliões, um que transporta o estandarte do Espírito Santo e outro que toca os testos, um idiofone composto por dois pratos metálicos6. Os seus cantares, conhecidos pela designação de alvoradas, possuem características tradicionais particularmente acentuadas, reservando um papel importante à improvisação, e confíguram-se ora como cânticos religiosos, ora como enunciados reguladores das diversas sequências rituais do Império. Do reportório da folia fazem ainda parte cantares de características mais lúdicas, conhecidos sob a designação de falsetes.
11Ao lado deste primeiro grupo, conta-se depois um conjunto de doze a quinze ajudantes designados de acordo com as tarefas que lhes estão cometidas em dia de Império, particularmente no âmbito da distribuição de alimentos. Deste grupo fazem parte o ajudante de imperador, o ajudante de trinchante, o copeiro do vinho — também conhecido por ajudante de copeiro — sete a dez ajudantes de copeira, quatro a seis ajudantes de portais, um ajudante da porta da copeira e um ajudante da porta da igreja. Pode também incluir-se neste grupo o foguista, que tem a seu cargo o lançamento das roqueiras, ou foguetes, no decurso dos festejos.
12Num terceiro grupo incluem-se, por fim, os ajudantes encarregues das tarefas de preparação culinária do Império. Entre esses ajudantes contam-se duas cozinheiras, dirigidas por uma mestra7 — eventualmente auxiliadas por outras ajudantes femininas sem designações ou atribuições fixas — e dois cozinheiros, coadjuvados por um agueiro e por um escarrilhador.
III
13Como vimos, a estrutura genérica dos Impérios começa por comportar um conjunto de cerimónias e festejos de características mais explicitamente religiosas. Essas cerimónias e festejos centram-se, no decurso da fase preliminar do Império, na casa do imperador, ou, no caso de alguns emigrantes, na casa de um parente chegado residente na freguesia, geralmente os pais ou um irmão. É lá que a Coroa é momentaneamente instalada, num altar erguido expressamente para o efeito. Este altar é montado num dos cantos da divisão principal da casa que recebe a designação de quarto do Espírito Santo. Consiste numa pequena mesa, sobre a qual é colocada uma estrutura de madeira com 4 degraus. O conjunto é coberto com toalhas brancas rendadas. A Coroa é posta no topo do altar, enquanto o ceptro é fixado num pequeno recipiente com grãos de trigo, colocado na base do altar. Por cima do altar é presa ao tecto uma armação circular de vime da qual pendem duas cortinas brancas que se abrem em baixo. Tradicionalmente a ornamentação do altar compreendia, além de um conjunto de castiçais, uma série de decorações florais. A divisão era também profusamente enfeitada com flores, ramos de giesta, etc… Hoje em dia, devido à influência da emigração, generalizou-se também o uso de decorações natalícias8.
14É em torno do altar que decorre aquela que é a cerimónia religiosa central da fase preliminar do Império: a alumiação. Esta baseia-se num conjunto de cantares em honra e louvor do Espírito Santo entoados pela folia junto ao altar. Por vezes é também rezado o terço. À cerimónia assistem em geral algumas dezenas de pessoas. A esta componente religiosa, a alumiação junta um importante carácter lúdico. Dos cantares religiosos, passa-se a cantares de temática profana, por vezes acentuadamente jocosa. Fora do quarto do Espírito Santo sucedem-se as conversas e as canções ao desafio, chegando mesmo a organizar-se improvisados bailes. Tradicionalmente, realizavam-se alumiações em todos os fins de semana do longo período de sete/oito semanas por que se estendia a fase preliminar de um Império, e, ainda, na5.a feira de Ascensão. Com a contracção da fase preliminar dos Impérios, entretanto, passaram a realizar-se apenas uma a duas alumiações, a primeira no dia em que a Coroa é instalada em casa do imperador e uma segunda sensivelmente a meio da fase preliminar do Império.
15No dia de Império, os festejos centram-se por seu turno na igreja ou ermida para que o Império foi prometido e têm o seu ponto culminante na coroação. Como vimos, esta cerimónia chave do Império consiste na imposição solene da Coroa ao imperador e tem lugar no termo da missa — que é por isso chamada de missa da coroação — sendo realizada pelo padre, de acordo com um cerimonial fixado eclesiasticamente desde finais do século passado: «ajoelhada (…) a pessoa que tiver de coroar, o pároco a aspergirá com água benta e, feita a aspersão, tomará o ceptro e osculando a pombinha, do mesmo modo a dará também a beijar ao imperador que o recebe com a mão direita e o encosta ao ombro esquerdo, segurando-o com ambas as mãos. Feito isto, o pároco recebe a coroa que lhe ministrará o pagem (…) e osculando a pombinha da mesma coroa a dá igualmente a beijar ao imperador e logo a coloca sobre a cabeça do mesmo, entoando ou cantando o hino Veni Creator e, incensando-a em seguida (…), ajoelha enquanto se canta a primeira estrofe do hino. Terminado este e dito o Emitte Spiritum Tuum, (…) o pároco entoa ou canta Oremus (…). Findo o acto da coroação, a pároco vestido da sobrepeliz acompanhará a coroa (…) até à porta da igreja» (Resoluções…, 1895: 133-134).
16Para além destas cerimónias, a estrutura religiosa dos Impérios comporta ainda um certo número de cortejos. Estes cortejos assinalam as fases mais importantes dos festejos: a instalação da Coroa em casa do imperador, a sua transferência, no termo da fase preliminar do Império, para a igreja ou ermida onde decorre o dia de Império, a coroação, o fim do Império. Apesar de algumas diferenças em aspectos de detalhe, a estruturação cerimonial destes cortejos obedece a um certo número de características comuns. O imperador, encarregue do transporte da Coroa, constitui a sua figura central; a imperatriz segue a seu lado e ambos são antecedidos pelos pagens da mesa. Os ajudantes grados — que se fazem acompanhar das suas varas — enquadram este grupo central: o trinchante e o mestre sala vão à sua frente, enquanto os dois briadores seguem atrás. Ligeiramente destacado deste grupo e anunciando o cortejo segue a folia, que assegura não só o seu acompanhamento musical, como a sua direcção (figura 1).
17A semelhança que estes cortejos possuem com as procissões religiosas correntes deve ser sublinhada. Assim, é usual certos troços do seu itinerário serem atapetados com flores. À sua passagem, as pessoas, abandonando momentaneamente as suas ocupações, adquirem uma atitude de recolhimento, e muitas delas aproximam-se da Coroa com o objectivo de a beijar. O seu decurso é ainda acompanhado pelo contínuo estralejar das roqueiras e pelo repicar dos sinos.
IV
18É em articulação com estas cerimónias de natureza mais estritamente religiosa que têm lugar o conjunto de refeições, dádivas e distribuições alimentares que integram a sequência ritual dos Impérios.
19Estas baseiam-se num certo número de alimentos tradicionalmente definidos, entre os quais avultam as Sopas de Espírito Santo e um conjunto de variedades de massa sovada. As Sopas do Espírito Santo — cuja confecção compete aos cozinheiros — são feitas à base de carne de rês cozida, de fatias de pão de trigo e de um tempero de canela e hortelã. A sua feitura requer o abate de um certo número de reses — vacas, vitelas ou bois — cuja carne é também aproveitada sob a forma de prestações cruas. A massa sovada é por seu turno confeccionada com farinha de trigo, ovos, açúcar, manteiga, banha e fermento. No âmbito dos Impérios, são preparados três tipos distintos de pães de massa sovada: escaldadas,pães de mesa e roscas9. Além destes pães de massa sovada, os Impérios exigem ainda a preparação de três qualidades de biscoitos — biscoitos de orelha, biscoitos encanelados e biscoitos de aguardente10 — de pães leves — designação localmente atribuída ao pão-de-ló — e, sobretudo, de uma quantidade importante de pães de trigo, usados não só na confecção das Sopas mas também no quadro de outras prestações alimentares. A confecção deste conjunto de alimentos está a cargo das cozinheiras. Por fim, os Impérios requerem ainda o consumo de quantidades significativas de vinho.
20Os alimentos que passámos em revista circulam nos Impérios em quantidades extremamente importantes e a sua preparação representa um dispêndio cerimonial muito elevado, cujo valor monetário se situa em média entre os 1.500 e os 2.000 contos11.
QUADRO 9. Composição das irmandades (Impérios de 1987)
PRIMEIRO IMPÉRIO S. BÁRBARA | SEGUNDO IMPÉRIO S. BÁRBARA | PRIMEIRO IMPÉRIO NORTE | SEGUNDO IMPÉRIO NORTE | |
Pães de mesa e roscas | 86 | 104 | 55 | 88 |
Outras ofertas | 46 | 70 | 65 | 58 |
a) géneros | – | 14 | – | 12 |
b) dinheiro | – | 56 | – | 46 |
Total | 132 | 174 | 120 | 146 |
21A parte mais importante desse dispêndio é o requerido pelo gado. Um Império envolve em geral o abate de um número médio de sete a nove cabeças de gado, cujo custo representa uma despesa média situada entre os 700 e os 1.000 contos. Entretanto — como se depreende do Quadro 8, relativo à totalidade dos Impérios realizados em Santa Bárbara entre 1965 e 1987 — tem havido casos de Impérios que abateram um total de onze reses. Foi o que se passou em 1966, 1970, 1979 e 1981. Em 1989, houve mesmo um Império — o mais forte que alguma vez se realizou não apenas em Santa Bárbara, mas em toda a ilha de Santa Maria — que abateu doze reses. Por outro lado, o dispêndio com o gado pode em certos casos atingir valores mais altos do que aqueles que referimos atrás. É o que se passa com os Impérios que, entre as cabeças de gado para abate, incluem uma junta de bois, cujo valor se aproxima dos 500 contos. Em Santa Bárbara, tomei conhecimento de três desses Impérios, todos eles realizados nos últimos 20 anos.
22Os gastos requeridos pela preparação das diferentes massas e pães atinge também valores muito significativos. A parte mais importante refere-se aos pães de mesa e roscas. Preparados em quantidades que, nos casos mais expressivos, são superiores a uma centena, eles envolvem um dispêndio global de 800 kg de farinha e de 300 dúzias de ovos. A preparação do pão de trigo e das restantes massas exige pelo seu lado cerca de 850 kg de farinha, e o gasto com o vinho, por fim, pode atingir os 700 litros12.
23O imperador, no quadro das funções que assume no âmbito dos Impérios, além de ter a seu cargo a confecção e a distribuição da maior parte dos alimentos, é ainda o seu principal financiador. A sua contribuição situa-se entre os 30% e os 60% do total de despesas e corresponde a um valor médio situado entre os 400 e os 700 contos.
24Os restantes 40 a 70% provêm, pelo seu lado, da contribuição de um conjunto amplo de outras casas que, mediante ofertas tradicionalmente regulamentadas, se associam ao dispêndio individual do imperador. Essas ofertas, cujo número oscila entre as cento e vinte e as cento e oitenta, recebem a designação de irmandade e dividem-se em três grandes grupos (cf. Quadro 9). O primeiro compreende aquela que é a forma tradicional dominante da irmandade: a oferta de um pão de mesa ou rosca, preparado pela casa que realiza essa oferta. Deste grupo fazem ainda parte os provimentos de mesa constituídos por um pão de mesa, uma rosca e um pão leve. Este primeiro grupo de ofertas, que corresponde a cerca de 50 a 60% do total das ofertas, tem uma importância decisiva: de facto, a quase totalidade dos pães de mesa e roscas distribuídas no quadro do Império resulta justamente destas irmandades. Um segundo grupo compreende um conjunto de dádivas feitas em dinheiro. A grande maioria dessas ofertas — cuja importância tem vindo a aumentar nos últimos 20/30 anos — toma como padrão o valor monetário atribuído a um pão de mesa ou a uma rosca: cerca de 2.500/3.000 escudos. Outras, porém, apresentam valores superiores. Um certo número de entre elas resulta de contribuições de emigrantes e é geralmente feita em moeda canadiana ou americana. No conjunto, estas ofertas correspondem a cerca de 40 a 50% do total das contribuições, podendo atingir um quantitativo global de cerca de 200/300 contos. Por fim, um terceiro grupo de irmandades — correspondente a 10 a 20% do total de ofertas — compreende as dádivas em géneros: vinho, trigo, milho, cabeças de gado. Estas irmandades assumem uma particular importância pelo peso que têm no financiamento global do Império: como se pode verificar no Quadro 10, em certos casos elas representam 60% do total dos gastos com o gado.
QUADRO 10. Cabeças de gado abatidas e cabeças de gado oferecidas (Impérios de 1987)
CABEÇAS DE GADO ABATIDAS | CABEÇAS DE GADO OFERECIDAS | |
Primeiro Império de Santa Bárbara | 8 | 3 |
Segundo Império de Santa Bárbara | 8 | 2 ½ |
Primeiro Império do Norte | 6 | 1 |
Segundo Império do Norte | 7 | 4 ½ |
25Além das ofertas recebidas no quadro da irmandade, os imperadores promoviam ainda tradicionalmente um conjunto de peditórios de géneros — trigo, milho e vinho — que tinham lugar no ano anterior ao do Império, por ocasião respectivamente das debulhas de trigo (princípio de Agosto), das vindimas (finais de Agosto, princípios de Setembro) e da apanha do milho (em Setembro/Outubro). Entretanto, e desde há cerca de 10/15 anos, esses peditórios tornaram-se mais raros13.
26Os alimentos que integram a sequência ritual do Império circulam sob a forma de um certo número de prestações que abrangem um conjunto variável de indivíduos e casas tradicionalmente definido. De acordo com a sequência genérica dos festejos, essas prestações desenrolam-se em primeiro lugar ao longo da fase preliminar do Império, para atingirem o seu ponto culminante em dia de Império.
27O início da fase preliminar do Império é marcado por uma série de prestações destinadas exclusivamente aos ajudantes. Além de lhes fornecer a alimentação corrente no âmbito das tarefas preparatórias do Império, o imperador está vinculado para com eles a um certo número de prestações de características mais cerimoniais. A primeira dessas prestações ocorre na véspera do dia em que a Coroa é instalada em casa do imperador e consta de uma distribuição porta-a-porta de escaldadas por cada um dos ajudantes14. No dia em que a Coroa é instalada em casa do imperador, realiza-se por seu turno a Ceia dos Ajudantes, uma refeição de características cerimoniais exclusivamente destinada aos ajudantes e seus familiares. Além de Sopas do Espírito Santo e de massa sovada, são preparados vários outros pratos: carne de vaca guisada, galinha, carne de porco, peixe frito, etc… A realização desta Ceia assinala a constituição formal do grupo de ajudantes: no seu termo, depois de o imperador fazer a entrega dos lenços àqueles, o copeiro procede à leitura do rol dos ajudantes, anunciando o nome de cada um, bem como o respectivo cargo.
28Simultaneamente a estas prestações consagradas aos ajudantes, a fase preliminar de um Império articula-se com formas de circulação do alimento de características mais amplas.
29Assim, no decurso das alumiações, as pessoas presentes são convidadas a servir-se de biscoitos de orelha e aguardente, bem como de vinho, cuja distribuição está a cargo dos briadores.
30Por outro lado, na madrugada do dia em que o imperador instala em sua casa a Coroa, realiza-se uma distribuição porta-a-porta de Sopas do Espírito Santo, que, além dos ajudantes, abrange ainda dois grupos distintos de casas: a) a totalidade dos vizinhos do lugar de residência do imperador, ou, no caso de lugares mais pequenos, a totalidade dos vizinhos do chamado compromisso, que constitui um agrupamento de lugares para efeitos exclusivamente rituais; b) todas as casas da freguesia onde se encontrem enfermos, pessoas doentes ou muito idosas que já não saem de casa15. As Sopas são distribuídas em caboucas — designação dada ao recipiente de barro em que elas são transportadas — pelos ajudantes e ainda por um conjunto de crianças e rapazes que se oferecem para o efeito, sendo a sua distribuição dirigida pelo copeiro, com base no chamado rol das Sopas ou rol das caboucas. Nos casos mais expressivos, podem ser distribuídas entre oitenta a cem caboucas de Sopas.
31Finalmente, no termo da fase preliminar do Império, tem lugar a retribuição das ofertas feitas ao imperador por intermédio da irmandade. De facto, embora essas ofertas sejam feitas de acordo com princípios genéricos de total gratuitidade, vinculam na prática o imperador a uma contra dádiva de agradecimento. Essa contra dádiva é também conhecida sob a designação genérica de irmandade e é composta por um pão de trigo e por um pedaço de carne crua de rês. Além de incidir sobre a totalidade das casas que fizeram irmandades ao Império, esta distribuição abrange ainda os ajudantes, o padre e o sacristão, e um certo número de esmolas feitas a casas mais pobres da freguesia. Nos casos mais expressivos são distribuídas um total de aproximadamente duzentas e cinquenta irmandades, envolvendo o abate de cinco a seis reses.
32Estas prestações possuem um valor diferenciado — medido por intermédio da qualidade e sobretudo do peso da posta de carne, que pode oscilar entre os 3/4 kg e os 10/15 kg — de acordo com o próprio valor da oferta que pretendem retribuir. No escalão mais baixo, encontram-se as irmandades correspondentes a pães de mesa e roscas, ou a ofertas monetárias de valor equivalente, bem como as esmolas feitas a casas mais pobres. Num segundo escalão, incluem-se as irmandades destinadas aos ajudantes e as que retribuem os provimentos de mesa e um certo número de ofertas em dinheiro e em géneros de valor intermédio. Num último escalão, por fim, encontram-se as irmandades correspondentes às ofertas em cabeças de gado e a somas mais elevadas de dinheiro.
33Orientada pelo copeiro com base no rol da irmandade, a distribuição da irmandade encontrava-se tradicionalmente a cargo dos briadores. Hoje em dia, porém, é assegurada pelo conjunto dos ajudantes do Império que, em grupos de dois, percorrem as várias casas da freguesia. Na maior parte delas está preparada uma pequena mesa com biscoitos e vinho doce de que os ajudantes são convidados a servir-se.
34Para além desta retribuição imediata, o imperador está ainda vinculado à eventual retribuição diferida das ofertas recebidas no quadro da irmandade. Caso alguma das casas que lhe tenha feito uma oferta venha por seu turno a realizar um Império, ele deve retribuir com uma dádiva da mesma natureza e valor. Inversamente, muitas das irmandades que lhe são oferecidas constituem a retribuição de ofertas anteriormente feitas por ele a outros imperadores.
*
35A distribuição da irmandade é a última prestação alimentar assegurada a partir da casa do imperador. Daí, o centro de gravidade dos festejos transfere-se para a igreja ou ermida para a qual o Império foi prometido, onde têm lugar as refeições e distribuições alimentares que integram a sequência ritual de dia de Império.
36Essa transferência dá lugar, como vimos, à organização de um cortejo específico — o cortejo que leva o Império para a copeira. Este, além da dimensão religiosa comum aos restantes cortejos dos Impérios, possui como traço distintivo uma forte marcação alimentar: em conjunto com a Coroa, são simultaneamente transportados os alimentos necessários ao dia de Império. Imediatamente a seguir à cabeça do cortejo, incorporam-se duas alas compostas maioritariamente por mulheres que transportam os pães de mesa e as roscas oferecidos ao Império no quadro da irmandade. Estes são profusamente decorados com flores, sendo colocados dentro de um açafate forrado com toalhas brancas rendadas. O seu transporte cabe em princípio a um membro feminino da unidade doméstica que os ofereceu ao Império. Na cauda do cortejo seguem por seu turno dois carros de bois engalanados que asseguram o transporte do pão, da carne, do vinho e das achas necessárias à confecção das Sopas (cf. figura 2).
37A própria realização deste cortejo articula-se também com algumas formas de circulação do alimento. Assim é usual o imperador convidar as pessoas que nele se integram a comerem Sopas do Espírito Santo servidas previamente em sua casa. No decurso da marcha, dois ajudantes vão também distribuindo pelas pessoas que assistem à sua passagem e pelas casas que se situam no seu itinerário pedaços de fígado de vaca cozido e fatias de pão de trigo. À chegada do cortejo à copeira — e depois do padre ter procedido à benção dos alimentos — realiza-se uma corrida de vinho entre todas as pessoas que se incorporaram no cortejo.
*
38Do conjunto de refeições e distribuições alimentares que integram a sequência ritual de um Império as mais importantes são as que têm lugar no dia de Império. Centrando-se nos pães de mesa e roscas e nas Sopas de Espírito Santo, elas possuem como traço central o seu carácter generalizado e aberto. A liberalidade e a amplitude como valores genéricos que presidem à circulação do alimento atingem então a sua expressão mais significativa: quem quer que se dirija ao Império é convidado a partilhar do alimento amplamente distribuído ao longo de todo o dia.
39As distribuições de pães de mesa e roscas têm por base as ofertas feitas ao Império no quadro da irmandade. Alternam ao longo do dia com corridas de vinho e decorrem no exterior do recinto. São organizadas a partir do teatro — um pequeno edifício de planta quadrangular, nuns casos fechado, noutros «tipo alpendre» — onde, depois da missa da coroação, a Coroa é depositada.
40O seu início ocorre no termo da missa da coroação e dá lugar a uma elaborada cerimónia conhecida sob a designação de abertura da mesa, composta por uma sucessão de cortejos, em que, além dos personagens habituais- imperador, imperatriz, pagens da mesa, ajudantes grados e folia — se integra também o padre, encarregue de, no termo da cerimónia, proceder a uma nova benção dos alimentos.
41Ao longo do dia, a distribuição de massa sovada encontra-se a cargo dos ajúdantes grados, dois dos quais — o mestre sala e o trinchante — possuem designações que remetem justamente para as funções que asseguram no quadro dessa distribuição. O mestre sala — coadjuvado pelos briadores — está encarregue de dirigir os sucessivos cortejos que procedem ao transporte cerimonial dos pães de mesa e roscas para o teatro. Estes cortejos, conduzidos pela folia, são integrados por um conjunto de quatro a cinco mulheres-idealmente escolhidas entre as unidades domésticas que fizeram ofertas ao Império — que asseguram o transporte da massa sovada. O trinchante — eventualmente coadjuvado por um ajudante de trinchante — está pelo seu lado encarregue de cortar em fatias os pães de mesa e as roscas. Os briadores, por fim, têm a seu cargo a condução das corridas: a espaços, percorrem o recinto, convidando todas as pessoas a servir-se das fatias de massa sovada, que transportam em açafates. Por cada corrida de massa sovada, realiza-se, imediatamente a seguir, uma corrida de vinho, organizada nos mesmos moldes.
42Simultaneamente às corridas de massa sovada e de vinho, o dia de Império é marcado pela distribuição, também ilimitadamente aberta, de Sopas do Espírito Santo16. Essa distribuição tem lugar, ao longo de todo o dia de Império, na copeira. Além de uma cozinha — destinada à preparação das Sopas — e de uma sala maior, provida de um conjunto de mesas e bancos corridos —, onde são servidas as Sopas — a copeira possui ainda uma pequena divisão suplementar, conhecida sob a designação de quarto da imperatriz. Essa designação advém-lhe do facto de, durante todo o dia de Império, ser aí que a imperatriz se instala.
43A distribuição de Sopas é feita por intermédio de sucessivas mesadas abrangendo entre três a quatro dezenas de pessoas. Além das Sopas propriamente ditas, são ainda distribuídas no decurso da refeição fatias de pão de trigo e dois ou três copos de vinho. O serviço é assegurado por um conjunto de dez a doze ajudantes de copeira, cabendo a distribuição do vinho especificamente ao ajudante de copeiro. O ajudante da porta da copeira está encarregue de orientar a entrada das pessoas na copeira.
44Tradicionalmente, a distribuição de Sopas intervinha exclusivamente no dia de Império, iniciando-se após o termo da cerimónia de abertura da mesa. Há cerca de 20 anos, entretanto, generalizou-se o chamado caldo da meia noite: uma distribuição de Sopas que tem lugar na noite da véspera ou já na madrugada de dia de Império, e no quadro da qual chegam a ser servidas, apesar do tardio da hora, quatro a cinco mesadas de Sopas.
45O carácter generalizado e aberto das prestações alimentares asseguradas em dia de Império atrai, ao longo do dia, milhares de pessoas pertencentes tanto à freguesia de Santa Bárbara, como às restantes freguesias da ilha. O afluxo à copeira, em particular, é muito elevado e nas alturas de maior movimento — ao fim da manhã e durante a tarde — formam-se extensas «bichas» à sua porta. No exterior do recinto e a par das constantes corridas de massa sovada e de vinho, «barracas de comes e bebes», bailes improvisados, despiques entre folias e cantigas ao desafio — opondo por vezes foliões ou cantadores de freguesias diferentes — contribuem para conferir ao recinto uma grande animação e efervescência. Revêem-se conhecidos, acertam-se negócios, multiplicam-se as conversas e as discussões. Em torno da abundância alimentar emblemática desse dia, é a «festa», no sentido mais comum e também mais forte do termo, que acontece. Particularmente valorizado no passado, quando as ocasiões de encontro colectivo eram mais escassas, este ambiente «festivo» é ainda hoje indissociável da imagem do dia de Império.
*
46Marcado sobretudo pelas prestações de carácter generalizado que passámos em revista, o dia de Império articula-se ainda com um certo número de outras prestações, de carácter mais restrito. Assim, na madrugada de dia de Império, tem lugar uma nova distribuição porta-a-porta de Sopas do Espírito Santo. Organizada em moldes genericamente semelhantes à distribuição que tem lugar no dia em que o imperador instala a Coroa em sua casa, esta distribuição incide entretanto sobre algumas categorias diferentes de casas. De facto além dos ajudantes, são agora beneficiados com ela: a) a totalidade dos vizinhos do lugar — ou do compromisso — onde se situa a ermida para a qual o Império foi prometido (em vez dos vizinhos do lugar ou compromisso de residência do imperador); b) as casas com enfermos e pessoas enlutadas — os anojados — à escala da freguesia (os anojados acrescentam-se agora aos enfermos). Nos casos mais expressivos são abrangidas por esta distribuição entre cento e vinte a cento e cinquenta casas.
47Alguns destes grupos são ainda objecto de um tratamento particular no quadro das grandes prestações abertas que marcam o dia de Império. Assim os anojados são abrangidos por uma distribuição especial de massa sovada e de vinho que tem lugar imediatamente após o termo da missa da coroação, enquanto decorre a cerimónia da abertura da mesa. Dado o facto de os interditos associados ao luto impedirem a sua continuação no recinto do Império, eles são convidados, à medida que abandonam o Império, a servir-se da massa sovada e do vinho. No passado, por outro lado, era também usual que uma das primeiras corridas de massa sovada e de vinho após a abertura da mesa corresse as casas do lugar — ou do compromisso — onde o Império se realizava. Hoje em dia, porém, essa prática apenas se mantém viva em certos Impérios.
48No quarto da imperatriz tem também lugar, ao longo de todo o dia de Império, uma distribuição restrita de Sopas, reservada a pessoas convidadas expressamente pelo imperador. Entre essas pessoas contam-se o padre — que, logo a seguir ao termo da cerimónia da abertura da mesa, participa, em conjunto com o imperador e com a imperatriz, numa pequena refeição que lhe é expressamente destinada — e as várias mulheres que, ao longo do dia, asseguram o transporte cerimonial da massa sovada para o teatro.
49Por fim, os ajudantes recebem também, ao longo de todo o dia de Império, um tratamento particular. A primeira corrida de massa sovada após a abertura da mesa está-lhes reservada e, além da massa sovada integra também uma ou duas fatias de pão leve. Por outro lado, no decurso do dia, por cada corrida para o geral, realiza-se uma corrida que lhes é especificamente destinada. Finalmente, no termo do dia de Império, após a recolha da Coroa, os ajudantes recebem ainda um convite em massa sovada, que consta de um número muito grande de fatias de pães de mesa ou roscas. No passado realizava-se ainda — sensivelmente a meio do dia — uma refeição reservada aos ajudantes. As distribuições de Sopas na copeira eram momentaneamente interrompidas e os ajudantes reuniam-se para a chamada ceia da copagem.
*
50Iniciando-se, como vimos, sob o signo de prestações destinadas exclusivamente aos ajudantes, é também sob esse signo que um Império termina.
51No dia seguinte ao dia de Império realiza-se de facto uma nova Ceia dos Ajudantes, em tudo semelhante àquela que marcou o início da fase preliminar dos festejos17. No seu decurso têm lugar as despedidas e agradecimentos formais: a folia, depois de saudar o imperador, agradece a cada um dos ajudantes — através de quadras apropriadas, frequentemente de carácter jocoso — a sua participação no Império.
52No termo da Ceia, o imperador procede a uma nova distribuição de convites em massa sovada aos ajudantes. Tal como aqueles que foram distribuídos no termo do dia de Império, estes convites finais constam também de quantidades muito grandes de massa sovada.
53Além destes convites, o imperador faz também a entrega a cada ajudante de um envelope contendo dinheiro — entre mil a cinco mil escudos, de acordo com o trabalho concreto dispendido por cada um nas tarefas preparatórias do Império18. Este costume é recente, tendo sido introduzido pelos emigrantes. Tradicionalmente, o imperador oferecia apenas a alguns ajudantes — a mestra, os cozinheiros, o copeiro — algumas peças de vestuário — uma camisa, um avental, etc… Esta dádiva final monetarizada é aliás objecto de uma apreciação contraditória. Enquanto muitas pessoas insistem no carácter «gratuito» de que se deve revestir a contribuição dos ajudantes para o Império — «uma pessoa não ajuda pelo dinheiro» — outras salientam, sobretudo em relação aos ajudantes masculinos, a justiça de repor os dias de trabalho perdidos por muito deles.
V
54Os Impérios constituem a modalidade central de que se reveste o culto ao Espírito Santo em Santa Bárbara.
55Este compreende simultaneamente um conjunto de outras modalidades «menores», entre as quais começam por avultar as Esmolas e os Jantares.
56Tanto as Esmolas como os Jantares têm na sua base, à semelhança dos Impérios, promessas individuais. Mas apresentam em relação aos Impérios uma muito menor elaboração cerimonial. Da sua sequência ritual encontra-se ausente não apenas a Coroa, mas o conjunto de cerimónias de características mais estritamente religiosas que, nos Impérios, se centram nela. As formas de circulação cerimonial do alimento previstas são pelo seu lado de grande simplicidade e assentam exclusivamente no dispêndio cerimonial do vovente-bastante inferior ao requerido por um Império — com exclusão de quaisquer ofertas ou participação da comunidade.
57As Esmolas consistem na distribuição de cerca de meia centena de porções de carne de vaca crua e de idêntico número de pães de trigo e de garrafas de vinho. Como sugere a designação de esmola, essa distribuição privilegiava tradicionalmente as casas mais pobres da freguesia. Mas em muitos casos, perante as dificuldades em defini-las de uma forma rigorosa, é adoptado o critério de abranger nessa distribuição, para além de um certo número de famílias à escala da freguesia cujo baixo estatuto económico não oferece dúvidas, a totalidade das casas do lugar ou do compromisso de residência do promotor da Esmola.
QUADRO 11. Esmolas e jantares em Santa Bárbara (1964-1987)
ANO | ESMOLAS | JANTARES |
1964 | 1 | – |
1965 | – | – |
1966 | – | – |
1967 | – | 1 |
(…) | ||
1970 | – | 1 |
1971 | – | – |
1972 | – | – |
1973 | – | 1 |
1974 | 1 | – |
1975 | 1 | – |
1976 | 1 | – |
1977 | – | 1 |
1978 | – | – |
1979 | – | 1 |
1980 | 1 | 2 |
1981 | 1 | 1 |
1982 | 3 | 1 |
1983 | 2 | 4 |
1984 | 1 | 2 |
1985 | 1 | 1 |
1986 | 4 | 1 |
1987 | 2 | 2 |
58Quanto aos Jantares eles consistem fundamentalmente numa distribuição generalizada de Sopas do Espírito Santo numa das três copeiras existentes na freguesia. A sua realização requer o abate de pelo menos uma cabeça de gado e o dispêndio de aproximadamente 220 kg de farinha e de 380 litros de vinho, correspondentes a uma despesa monetária média de cerca de 200 contos. Tem havido entretanto casos de Jantares onde são abatidas duas reses. Esta distribuição de Sopas tem lugar a um domingo, após o termo da missa, e processa-se em termos gerais idênticos aos dos Impérios. É também usual proceder, na madrugada desse dia, a uma distribuição porta-a-porta de Sopas entre os ajudantes do Jantar — cujo número não ultrapassa em geral os dez —, o conjunto das casas que integram o lugar ou o compromisso da copeira e a totalidade dos enfermos à escala da freguesia.
59Uma terceira modalidade menor do culto ao Espírito Santo é constituída pelos chamados Impérios secos. Tradicionalmente, realizavam-se em Santa Bárbara dois Impérios com estas características: um, por ocasião do São João (24 de Junho), e outro, por ocasião do São Pedro (29 de Junho).
60Comecemos pelo Império de São João. A sua promoção não dependia, como no caso dos Impérios, de promessas individuais, mas assentava antes em formas de cooperação vicinal, envolvendo tradicionalmente o conjunto de moços solteiros da freguesia. Por essa razão, ele era também designado por Império dos rapazes. Estes, algum tempo antes do Império, reuniam entre si para escolherem quem devia desempenhar os principais cargos previstos na sua estrutura ritual: imperador, ajudantes grados, folia.
61A sequência religiosa dos festejos era uma duplicação, de forma mais concentrada, da sequência religiosa dos Impérios e compreendia, além da coroação e dos vários cortejos previstos na estrutura usual dos Impérios, uma alumiação, realizada em geral na ante-véspera do dia de São João. Quanto às formas de circulação cerimonial do alimento, elas assentavam exclusivamente na distribuição generalizada, a seguir à missa da coroação, de massa sovada — pães da mesa e roscas — e vinho. A massa sovada resultava de ofertas feitas por casas da freguesia, com relevo para aquelas onde existiam moços solteiros. O vinho era comprado com o produto de um peditório realizado na freguesia poucos dias antes dos festejos.
62O Império de São Pedro resultava por seu turno da cooperação entre o lugar do Forno — situado na periferia da freguesia — e o lugar da Cruz de São Mor — pertencente à vizinha freguesia de Santo Espírito (cf. mapa 2). Os festejos realizavam-se alternadamente em cada um dos lugares, que designavam também, de entre os respectivos vizinhos, os titulares dos diferentes cargos previstos na estrutura dos festejos: imperador, ajudantes grados e folia. Embora estes cargos fossem exercidos por adultos, a coroação incidia não sobre o imperador, mas sobre uma criança. A sua estrutura ritual era em linhas gerais similar à do Império de São João, sendo as distribuições generalizadas de massa sovada e de vinho asseguradas a partir de ofertas feitas pela totalidade das casas de ambos os lugares.
63Devido sobretudo à crise demográfica provocada pela emigração nos lugares do Forno e da Cruz de São Mor, o Império de São Pedro deixou de se realizar há cerca de 20 anos.
64O Império de São João esteve também durante um largo período de tempo sem se realizar. Entretanto, em 1986, devido a uma iniciativa do pároco local — na altura recém nomeado para a freguesia — foi recuperado, embora em moldes algo diferentes dos originais, sobretudo no tocante às suas formas de organização19. Esta passou a assentar em modalidades de cooperação que envolvem idealmente o conjunto da freguesia: é por intermédio de um sorteio aberto a todos os vizinhos que são escolhidos o imperador e os ajudantes grados e é a totalidade das casas da freguesia que é suposta fornecer os pães de mesa e roscas necessários aos festejos. Quanto à coroação, ela incide sobre uma criança, escolhida geralmente entre os filhos do imperador.
Notes de bas de page
1 Na descrição etnográfica dos Impérios de Santa Bárbara que é de seguida apresentada procurei reter os aspectos mais importantes da estrutura dos festejos, com sacrifício por vezes de elementos de carácter mais secundário. Para uma descrição mais completa dos festejos, cf. Leal 1984. Na bibliografia disponível acerca dos Impérios de Santa Maria avultam dois artigos (Júlio Cabral, 1903 e Joaquim Cabral, 1921) e ainda o volume «Impérios Marienses (Folclore Açoreano)» de Jaime de Figueiredo (1957). Os elementos fornecidos por estes textos dizem entretanto respeito aos Impérios das freguesias da metade ocidental da ilha, cuja estrutura é em certos aspectos distinta da prevalecente em Santa Bárbara. Embora tenham um horizonte mais largo, os volumes «Pedras de Santa Maria» de Armando Monteiro (1969) e «Memórias da Minha Ilha» de Jacinto Monteiro (1982), fornecem também alguns elementos de interesse acerca dos Impérios. Do ponto de vista histórico, as «Crónicas da Província de São João Evangelista das Ilhas dos Açores» de Fr. Agostinho de Monte Alverne, escritas no decurso do séc. XVII, contêm algumas referências ao culto do Espírito Santo em Santa Maria, com particular destaque para o relato de alguns milagres operados pelo Espírito Santo (Monte Alverne, 1986: 97-98).
2 Cf., para Portugal, alguns dos textos inseridos em Veiga de Oliveira, 1984. Ver ainda numa perspectiva comparativa, Van Gennep, 1947.
3 A realização de Impérios no domingo da Trindade parece datar, em Santa Bárbara, de finais do século passado. Até então, os Impérios convergiam exclusivamente para o domingo de Pentecostes e, eventualmente para 2.a feira de Pentecostes. É pelo menos o que se pode depreender do comentário publicado em 1901 num jornal local, segundo o qual «Impérios da Trindade só se faziam na Vila (…). Hoje porém sucede que se fazem Impérios da Trindade não só nas Igrejas paroquiais de fora da Vila, mas num grande número de ermidas, especialmente lá para Santo Espírito e Santa Bárbara» (O Eco Mariense, n.o 2 de 23/11/1901).
4 Quer o quadro 1, quer os quadros 2, 3 e 6 foram elaborados a partir dos requerimentos dirigidos à Câmara Municipal de Vila do Porto, pedindo autorização para abate do gado fora do matadouro por ocasião dos Impérios. Como essa autorização só foi tornada obrigatória a partir do início dos anos 60, apenas é possível dispor de dados a partir de 1964. Não me foi entretanto possível localizar os requerimentos referentes aos anos de 1968 e 1969. Todos os dados foram depois confirmados e ampliados por intermédio de uma recolha oral de informação.
5 Este vínculo entre os Impérios e a emigração exprime-se também na recriação dos festejos nos países de acolhimento dos emigrantes. Nos EUA realizam-se Impérios promovidos exclusivamente por marienses em Saugues, desde 1927 (cf. Baluarte, II série, n.o 3, 1/7/1977), em Hartford, Conn., desde 1976, e em Taunton e Hudson, desde 1978 (cf. Baluarte, 11 série, n.o 17, 1/9/1978).
6 Além de Santa Maria, os testos encontram-se também — embora sob uma forma ligeiramente diferente — nas Festas do Espírito Santo das Flores e Corvo. No continente, o único exemplo conhecido da sua utilização situa-se na Beira Baixa, mais uma vez no quadro das Festas do Espírito Santo. Cf. a este respeito, Veiga de Oliveira, 1966, 227-228, e Veiga de Oliveira, 1986, 28-29.
7 A mestra tem na esfera da confecção do alimento uma importância similar ao copeiro. Na freguesia, existem actualmente duas mulheres que exercem com regularidade esse cargo.
8 A decoração do altar e do quarto do Espírito Santo — bem como o conjunto de outras decorações que integram a sequência dos Impérios — é uma tarefa exclusivamente feminina cuja direcção se encontra a cargo da mestra.
9 Um pão de mesa é um grande pão de massa sovada com cerca de 35/40 cm de diâmetro que, para 9/10 maquias de farinha (cada maquia de farinha corresponde sensivelmente a 800 g), leva três dúzias de ovos, 1 kg de açúcar, 3 a 4 colheres de manteiga, 3 a 4 colheres de banha e fermento. A rosca, por seu turno, para 7 maquias de farinha, leva um pouco mais de manteiga e açúcar, além de sumo de limão. A escaldada, por fim, tem as dimensões de um pão de trigo vulgar e é apenas levemente temperada: para 12 maquias de farinha são necessárias 2 dúzias de ovos, 1 kg de açúcar, 500 g de manteiga, lima e fermento de milho.
10 Os biscoitos de orelha e os encanelados são feitos da mesma massa — para 1 maquia de farinha, 4 ovos, 3 ou 4 colheres de açúcar, 2 colheres de banha, 2 de manteiga, fermento — apenas diferindo na forma exterior. Os de orelha desenham uma espécie de triângulo vazado de ângulos arrebitados. Os encanelados, mais pequenos, formam uma pequena circunferência vazada, podendo ser recobertos por açúcar em ponto. Os biscoitos de aguardente levam, para 1 maquia de farinha, 8 ovos, 1 cálice de aguardente com meia colher de sal misturada, 1 colher de açúcar, 1 colher de manteiga, 1 colher de banha e uma casquinha de limão. Não levam fermento e a sua forma exterior, circular vazada se vista de cima, apresenta-se, de perfil, estalada a meio.
11 Salvo indicação em contrário, os valores monetários indicados ao longo do presente capítulo têm como padrão base o ano de 1987. Nesse ano realizaram-se quatro Impérios na freguesia. O primeiro realizou-se na igreja paroquial de Santa Bárbara, no domingo de Pentecostes — que nesse ano recaiu a 7 de Junho — e teve à sua frente um emigrante retornado há cerca de seis meses à freguesia. Os restantes três Impérios foram promovidos por emigrantes que se deslocaram expressamente à freguesia. Um deles realizou-se também na igreja de Santa Bárbara, a 19 de Julho. Quanto aos outros tiveram por seu turno lugar na ermida de Nossa Senhora de Lourdes (Norte) a 9 e 16 de Agosto respectivamente. No decurso do texto estes Impérios serão designados respectivamente por Primeiro Império de Santa Bárbara, Segundo Império de Santa Bárbara, Primeiro Império do Norte e Segundo Império do Norte. Estas designações inspiram-se em formas usadas localmente para identificar os Impérios. Entre estas, de facto, é comum a identificação do Império ser feita por referência à igreja/ermida ou lugar em que ele se realiza — Santa Bárbara, Norte, Senhora de Lourdes, São Lourenço, etc… — combinada, caso haja mais de um Império num desses locais, com a indicação da ordem cronológica que ele ocupa — primeiro, segundo, terceiro, etc… Outras formas de designação local dos Impérios repousam sobre a indicação da data em que ele teve ou terá lugar, ou sobre a identificação do respectivo imperador. No caso vertente teríamos, de acordo com o primeiro critério, os Impérios de 7 de Junho, 19 de Julho, 9 de Agosto e 16 de Agosto e, de acordo com o segundo, os Impérios de Manuel da Eira, Agostinho Andrade, António Bairos e João de Melo.
12 Além do vinho, a maior parte dos imperadores adquire também quantidades importantes de cerveja e outros refrigerantes, consumidos no decurso das várias tarefas preparatórias do Império. O total de gastos correspondentes aos vários tipos de massas e pães e às bebidas pode elevar-se, nos casos mais expressivos, a cerca de 580/620 contos.
13 Dos quatro Impérios realizados era 1987, apenas um — o Segundo Império de Santa Bárbara — promoveu esses peditórios. O produto apurado foi de 12 alqueires de trigo, 13 alqueires de milho e 10 mil escudos em dinheiro.
14 Tradicionalmente, esta distribuição de escaldadas tinha lugar na 5.a Feira de Ascensão, que era por essa razão conhecida pela designação de 5.a Feira dos Brindeiros (brindeiros é outra das designações por que são conhecidas as escaldadas).
15 Esta distribuição de Sopas do Espírito Santo, em conjunto com a Ceia dos Ajudantes, requer o abate de uma cabeça de gado.
16 A confecção das Sopas do Espírito Santo para o dia de Império requer em geral o abate de duas reses.
17 Esta Ceia é conhecida sob a designação de Império dos Velhacos, uma vez que os ajudantes, libertos das responsabilidades do Império, podem então beber à sua vontade.
18 O total de dinheiro dispendido cora estas ofertas monetárias feitas aos ajudantes atinge valores muito significativos. Em 1987, o imperador do Primeiro Império de Santa Bárbara gastou para esse fim 190 contos, o do Segundo Império de Santa Bárbara, 170 contos e o do Segundo Império do Norte de 16 de Agosto, 150 contos. No Primeiro Império do Norte, os envelopes foram substituídos por pequenas ofertas «simbólicas» de objectos adquiridos pelo imperador no Canadá.
19 Para uma análise mais detalhada das circunstâncias que rodearam o relançamento do Império de São João, cf. o Apêndice A deste livro.
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