Sítios do Alto Barrocal1
p. 81-102
Texte intégral
Algarve, Algarves: Variações duma incerteza
1Ao fundo de um país vertical, que se olha a partir do Norte, o Sul ocupa um lugar remanescente, espraiado em desertos e charnecas, onde é possível remeter grandes áreas para traços comuns de uma história, de morfologias sociais e de destinos colectivos. Ao sul deste Sul, surge contudo uma região que nega todas as aparentes simplicidades da metade nacional onde se situa: o Algarve, aliás os Algarves, plural em que eram chamados no tempo da monarquia, e no qual lhe chamam por vezes os próprios algarvios; plural que denuncia o cruzar nele de diversidades e de complexidades.
2Destacado desse outro território designado por Al-Gharb e que fôra a totalidade ou parte da zona ocidental ultramarina e cismarina, que ficava além do estreito de Gibraltar, o Algarve conservou o seu nome árabe, e nele a sua particularidade de reinoi[21]. A configuração dos conflitos da «reconquista», veio condensar no Guadiana a demarcação de uma fronteira política que as serras e as planícies desertificadas do Baixo Alentejo já estabeleciam geograficamente a Norte, e assim, até 1910 os reis de Portugal intitularam-se reis «de Portugal e dos Algarves» sem encontrarem nisso embargo para a unidade da coroa. O plural contudo, não deixa de ser significativo e nele podemos ler ora a indefinição confusa de um reino remoto, ora a antecipação de direitos sobre outros algarves ultramarinos, ora ainda a simples expressão de variedade que lhe dão os algarvios. Um título que acaba afinal por exprimir dois traços constantes na vida do Algarve: o da sua imprecisa diversidade, e o de uma acautelada tutela sobre a sua receada individualidade.
3Quanto à sua imprecisa diversidade, ela é por um lado o resultado das próprias mudanças históricas na maneira de experimentar e de conhecer o espaço. Mas, para além disso, há no Algarve a par de zonas de definição e percepção claras e constantes, outras que pelo contrário têm tido um destino incerto quanto ao seu estatuto de classificação. É o caso do Alto Barrocal, zona problemática onde decorreu o trabalho de campo e que me colocou as interrogações que trago a este Seminário.
4Região administrativa de contornos estáveis[3, 8], o Algarve tem visto as suas diversidades interiores serem sistematizadas de maneiras diferentes. Os critérios que têm sido seguidos buscam uma coerência e um ajuste completo a esta região pequena e aparentemente de fácil leitura, mas levantamse problemas quanto a algumas zonas ditas de transição ou mistas e que se adaptam mal à justaposição de sub-zonas definidas nos seus quadros típicos. Os critérios mistos de povoamento, solo, paisagem, vegetação, altitude, etc., conjugam-se nas várias classificações e de forma geral concordam nalgumas distinções que identificam. Mas, se certas sub-regiões reunem acordos estáveis na sua definição outras aparecem e desaparecem nos vários critérios. Não só consoante as variáveis mobilizadas para a sua caracterização, mas também conforme a sua paisagem aparece mais ou menos explicada na visão de quem a olha, e do momento histórico em que são vistas. Os algarves convergem assim para a caracterização de Algarves típicos, o que remete algumas figuras da diversidade para uma categoria periférica de «zona de transição». É o que se passa com as áreas que se situam entre a serra e o litoral.
5Em 1577 para Frei João de S. José[15], o Algarve dividia-se entre as «terras que jazem na costa do mar» e o sertão «das outras que se escondem entre empoladas serras». João Baptista da Silva Lopes em 1841[11] fala-nos em «três fachas ou bandas: a primeira de uma légua, beira-mar, planície de areia pela maior parte; a segunda 2 1/2 a 3 léguas de barrocal de pedra calcárea, alguma siliciosa, e terra forte, negra, e barrenta com elevação para a serra, a qual forma a 3.a faixa (...)».
6Amorim Girão em meados dos anos 20[9] oscila entre a distinção de Serra, Barrocal e Litoral e só Serra e Litoral. Chama-lhe a «Andaluzia portuguesa» o que se explica por considerar que «quando se fala de região algarvia, é sobretudo à zona litoral do Algarve administrativo e histórico que queremos referir-nos». Em sua opinião «só por critério geológico e hipsométrico» se podem considerar três faixas, concluindo que «nestas condições, pondo de parte a zona intermediária, zona de transição, tanto pelo que diz respeito ao relevo, como a outras características geográficas essenciais, podemos considerar a região algarvia dividida em duas sub-regiões distintas assim distribuídas, segundo a opinião do agrónomo Sr. Coelho de Bívar: a) montanhosa e serranha (...) b) marítima ou litoral» e resumindo «A-pesar-de tudo a Serra e o Litoral são as únicas divisões que o povo distingue e que a linguagem popular consagrou. Ir lá abaixo ao Algarve é a expressão que o serranho emprega quando desce à zona litoral (...)».
7Assim, o que está em causa é sobretudo a relevância de uma zona intermédia, e os critérios que permitem a sua caracterização. Embora assinalada ela perturba a classificação dos algarves e acaba por vezes dispensada. Outras vezes porém é afirmada, mas então, algo precipita no seu interior variedades crescentes e isso como que desequilibra uma qualquer equidade que parece dever reinar na conjugação das várias sub-regiões. A zona intermédia revela não só novas diversidades interiores, como torna descontínua a faixa intermédia a que deveria corresponder. Quase desaparece a Este, e toca o mar a Oeste. O Barrocal é vários barrocais e nem todo o Algarve o conhece do mesmo modo.
8Em 1927 Silva Teles, no Guia de Portugal[25], depois de Raul Proença assinalar a divisão tripartida, fala de algumas particularidades locais e caracteriza-as: «É no concelho de Loulé, o maior da província, e em especial nas freguesias de Querença, Salir e Alte, que essas particularidades locais, provenientes da associação fortuita do barrocal com a serra se mostram em maior número».
9Será contudo com Leite de Vasconcellos que vamos encontrar a mais detalhada determinação dos algarves[24], apresentando este autor três conceitos: o primeiro, Serra e Algarve, é apresentado na perspectiva da Serra e vai fazer passar a distinção por uma linha que atravessa as cotas médias. O segundo critério, que apresenta como sendo o mais comum, divide os Algarves em Serra, Barrocal e Beira-mar. Mas, Leite de Vasconcellos apresenta agora como Barrocal povoações que no primeiro conceito vinham incluídas na Serra. O terceiro conceito, inclui a Serra, a Beira-serra, uma «região inominata» e a Beira-mar. Neste terceiro critério, a Serra mantém a ambiguidade de demarcação da Beira-serra: «(...) Alte, há quem a considera da Serra e da Beiraserra». A «região inominata» corresponde a parte do Barrocal no conceito anterior, e a Beira-mar às áreas piscatórias e marítimas.
10Desta detalhada disposição de conceitos, ressalta a incerteza de uma zona intermédia que, de forma volúvel, ora vai ocupando lugares de Beira-serra, ora de Barrocal, e de uma região significativamente chamada «inominata». Pertencem-lhe «(...) por exemplo, Pera (concelho de Silves), Querença, concelho de Loulé, e S. Bartomomeu de Messines. O último constitui um povoado, de casas espalhadas no qual abunda pedra (...). Há outro sítio de Barrocal ao pé de Aljezur. O concelho que possui mais número de barrocais é o de Loulé».
11Assim, indefinido entre a delimitação espacial de uma faixa e a sua caracterização como simples denominação de sítios povoados ou não, mais ou menos pedregosos, o Barrocal para Leite de Vasconcellos é finalmente «expressão inaceitável como assepção geográfica e que serve apenas de denominação a vários sítios».
12Deste modo, o Algarve vai sendo dividido em duas zonas transversais: a Serra, que não levanta mais problemas de diversidade interior, e o resto Sul ao qual se reconhece diversidade mas que se acaba por reunir sob a designação única do Algarve verdadeiro, fazendo para isso insistência nos factores comuns às suas áreas diversas, sobretudo ao papel integrador das cidades e da sua história, em detrimento das zonas que escapam ao sistema de contrastes em que assenta este critério.
13«Há dois Algarves: o povo só conhece por este nome a orla do maciço antigo; o resto é a serra, um mar de xistos que sobe a mais de 500 metros». «Descendo por eles as hortas e os arvoredos cultivados anunciam o Algarve típico». É Orlando Ribeiro numa caracterização genérica do Algarve[20], autor que aliás, a propósito de um outro problema, o do povoamento, não deixará de interrogar as diversidades interiores desse «Algarve típico»[22]. Assim também Mariano Feio[6] distingue a Serra e o Algarve essencialmente pelo relevo e pela natureza do solo. A Serra de relevo antigo e de xistos, o Algarve como anfiteatro frente ao mar onde predomina a rocha calcárea. «Au surplus il faut remarquer la grande netteté des limites naturelles de la région. D’un coté la mer, de 1’autres les schistes de la serra; les arbres caracteristiques de l’Algarve, avec toutes possibilités qu’ils impliquent, vont jusqu’au contact de la bordure et du massif ancien, mais ne le depassent pas: les arbres se developpent lentement et produisent peu dans le schiste. En resumé, une limite que Pont peut tracer avec la rigueur d’une limite geologique».
14Contudo, Mariano Feio regista adiante as duas subdivisões do Algarve Litoral e Barrocal e até, duma Meia Serra. Na sequência, também outros autores esboçando caracterizações transversais desta região, reconduzem as diferenças às três zonas já referidas. Assim Gaetano Ferro, Dan Stanislawski e Carminda Cavaco principalmentel[7,23,4].
15Desta série de leituras das diferenças dos algarves, onde predominam os critérios paisagísticos e geológicos, ressalta uma zona onde geograficamente parece difícil decidir de que Algarve ou algarves se trata. Onde Mariano Feio encontra uma fronteira geológica, tinha Leite de Vasconcellos (provavelmente apoiado em M. Viegas Guerreiro) encontrado uma Beira Serra ou Alto Barrocal, situado de forma ambígua na Serra ou no Barrocal este por sua vez constituindo zona vaga e por este autor dada por «inominata». Mesmo quando é reconhecida a individualidade do Barrocal em oposição ao Litoral, a definição do seu perfil típico é quase sempre situada na orla Sul deixando a metade Norte indeterminada quanto à sua assimilação pela Serra ou pelos Barrocais.
16Contudo, neste Barrocal surge por vezes destacada uma zona Norte. É o que se passa com as «particularidades locais» que Silva Teles[25] refere no Guia de Portugal «provenientes da associação fortuita do barrocal com a serra». Diz o mesmo autor que «em área pouco considerável esses aspectos tão variados do solo e da cobertura vegetal provocam contrastes, tipos de paisagem, absolutamente antagónicos com os da zona plana meridional». Noutros casos, esta particularidade do Alto Barrocal é designada por «zona de contacto» entre o maciço antigo e a zona calcárea. Sublinha-se então, ora a variedade das suas terras e das suas águas, ora as particularidades do seu clima e do seu povoamento. Assim Ferro[7]: «nos terrenos de contacto entre o maciço antigo e o barrocal, o triássico é parcialmente permeável» e «à orla de contacto corresponde uma série de terrenos particularmente férteis» e igualmente Stanislawski refere o efeito do encontro de terrenos permeáveis com as encostas impermeáveis de xisto, no particular regime de águas, fertilidade de solos e povoamento do Alto Barrocal.
17Geraldino Brites, no Guia de Portugal[25] considera mesmo uma particularidade de clima nesta zona: «esta direcção (dos relevos) assegura uma eficaz protecção dos ventos dos quadrantes N e E como não existe nenhum outro ponto do Algarve. É a região pitoresca e aprazível do Barranco do Velho, Querença, Salir, Alportel, S. Brás, e já no seu limite, de Loulé e Estoi».
18Apesar da sua série de particularidades, o Alto Barrocal não surge nunca individualizado como sub-região mesmo quando, como veremos adiante, a análise das suas formas de povoamento lhe vincam uma diferença significativa.
19Entre outras razões creio que é sobretudo a dificuldade de sistematizar os aspectos díspares desta região sob critérios de coerência espacial geográfica que tornam vaga a determinação do Alto Barrocal. Por outro lado, os itinerários criam sequência na percepção do espaço e, na ordem habitual, à continuidade simples da Serra, segue-se o contraste das variedades dos barrocais, e a nitidez deste contraste vale pela clareza que dá a ambas as zonas que nele se demarcam.
20Ainda hoje e ao contrário do que acontecia até finais do século XIX, para chegar ao Algarve tomam-se espontaneamente as estradas que atravessam o Alentejo. Esta experiência dos caminhos ensina na sua rapidez que o Algarve começa num maciço montanhoso extenso, regular e monótono, que se abate por entre pequenas árvores e muros brancos terminando em areais e falésias ocre sobre o mar. Mas, a mesma rapidez que leva às praias, torna também possível uma experiência extensiva deste Sul que ajuda a perceber doutra forma as suas diferenças.
21Começando pela Serra, aliás serras, estão elas dispostas num arco que apenas sugere uma interrupção entre S. Marcos da Serra e S. Bartolomeu de Messines. De uma ponta a outra e ressalvando o contraste geológico de Monchique, estendem-se estes montes xistosos a leste, do Caldeirão pela Serra de Tavira acima até Mértola e à Serra de Serpa. A Oeste, por Santana e Santa Clara até Sabóia e Odemira. São assim um extenso conjunto de acidentes que da planície alentejana se vão levantando na chamada Serra Chã até se abaterem por vezes subitamente a Sul. Os seus relevos antigos criam uma infinidade de cerros iguais, arredondados, numa faixa muito larga. É por isso também uma zona de inúmeros pequenos vales por onde correm ribeiros de curso muito irregular e por onde se dispersam reduzidos conjuntos de casas de xisto: os montes. É também uma zona de circulação transversal. De Serpa a Santa Clara correram as guerrilhas do Remexido, e ia-se trabalhar às minas de S. Domingos ou aos declives de xisto em Sabóia, sempre ao longo de uma paisagem familiar.
22Esta Serra, ou estas minúsculas serras, sempre vistas como reserva arcaica do Sul, sempre dadas como em vias de despovoamento absoluto e como lugar de todos os perigos, têm afinal surpreendido os investigadores[1]. Não só o seu povoamento apesar de escasso, aparece vivaz, como para deserto hostil, aparece constantemente cruzado por almocreves, ranchos de trabalho e pastores. A Serra algarvia mostra-se assim um terreno «activo», ligado a âmbitos mais vastos e distantes como o do Alentejo acima e do restante Algarve abaixo.
23Este, o Baixo Algarve, é o que as povoações da Serra chamam, admirando as suas riquezas, «os algarves». Começam no sopé da Serra. Contudo, aí onde eles parecem começar os algarves são situados pelos seus algarvios mais a sul ainda. No concelho de Loulé por exemplo, à beira da Serra os algarvios dizem da sua zona ser a Beira-Serra, ou Alto Barrocal, ou apenas não ser a Serra nem ser ainda algarves. A estes situam no barrocal mais a sul ainda, barrocal que partilha por sua vez a designação de «os algarves» com os terrenos planos das campinas, elas próprias ainda nalguns sítios de cima e de baixo, e que, em pântanos, dunas, areais, ou falésias baixas confinam com os territórios de vincada individualidade dos pescadores.
24Assim, e de forma muito variável segundo a longitude, encontramos no Algarve uma segunda zona transversal que vai incluir, apesar da sua relativa continuidade geológica, realidades tão diversas como as que opõe os hortejos de Alportel ao morgado de Quarteira ou vilas como Loulé a povoações como Querença, contrastes que não encontramos distanciados de tal modo, nem percorrendo os lugares da serra, nem os núcleos piscatórios, abstracção feita para estes últimos da sua recente dimensão turística.
25Particularmente no centro, nos concelhos de Loulé e de S. Brás de Alportel onde é mais larga, esta zona sublinha a imprecisão que acarreta a sobredeterminação de um critério de transversalidades contínuas. Aqui, esse critério defronta uma área de perturbação que não pode deixar de remeter para outras maneiras de interrogar esses contextos. Por exemplo para os problemas que se levantam, não quanto à conjunção de traços comuns que produzem a homogeneidade espacial duma zona, mas quanto aos factos que tornam rebelde às determinações classificativas áreas como esse incerto Alto Barrocal de que falava Leite de Vasconcellos e que ao individualizar-se torna «inominato» o restante Barrocal. O que é então essa zona de transição e como perturba ela uma caracterização do Barrocal algarvio cujo epítome se situa aliás sempre na sua metade sul? Quais as razões que levam a relegá-lo para um estatuto de remanescência social? Será a sua aparente falta de «características», «aspecto confuso e desordenado» e «mutabilidade» que tomarei como outras tantas linhas condutoras para o questionar.
Sítios: O Grau Zero do Povoamento
26Poucos aspectos do Barrocal reflectirão tanto os seus contrastes e incertezas interiores como o povoamento. Zona atravessada por centros tão diversos como as vilas históricas de Silves, Loulé ou S. Brás, e por aldeias como Salir ou Alte, ela é também a zona por excelência dos núcleos mais rudimentares e do povoamento disperso algarvio muito especialmente dessa sua forma quase exclusiva que é o «Sítio»[7].
27«Sítio», é no barrocal algarvio, e sobretudo no Alto Barrocal onde ocorre habitualmente, uma forma de povoamento de características muito imprecisas e que não pode deixar de sugerir essa outra imprecisão que encontrámos na caracterização de toda a zona a que pertence.
28Nas descrições do Algarve, a dispersão do povoamento no Alto Barrocal aparece retratada normalmente como «casais espalhados». A expressão joga em contraste com os «montes da serra» e com as «aldeias do barrocal», ambas estruturas morfologicamente claras e clarificadoras da paisagem e dos sistemas onde ocorrem. Contudo, o estatuto e o significado histórico e social destes «casais espalhados», não pode ser definido, tal como os barrocais relativamente aos restantes algarves como «de transição» no duplo sentido espacial e temporal, de casas equidistantes de aldeias e montes, e de subúrbios percursores de futuras concentrações.
29Leite de Vasconcellos[24], na sua classificação das «classes de povoamento» faz um registo minucioso das acepções da designação de «sítio». Primeiro, localiza o uso da palavra, explicitamente no Algarve não serranho e nas Ilhas, as quais pela sua colonização algarvia remetem de novo o termo para o Algarve. Quanto às outras ocorrências, salvo pequenas excepções, Leite de Vasconcellos dá ao termo o sentido de lugar onde se deram ocorrências maravilhosas, como no Sítio da Nazaré. Assim, considera-o em termos gerais uma fórmula algarvia, de grau inferior à aldeia, e equivalente a casal, quinta e monte noutras regiões. Contudo, atribui a Sítio o «primeiro grau» na ordem classificatória do povoamento e como significado apenas um «vago sentido de localização». Esta definição é tanto mais curiosa, quanto de seguida Leite de Vasconcellos, tentando uma caracterização dos sítios algarvios mal lhes encontra qualquer elemento regular para além desse «vago sentido de localização». Quanto ao número de casas, fala em «4, 5, 6, 15, 30, 50 e mais casas». Quanto à disposição diz poderem as casas ser «avulsas ou juntas», «sem ruas ou com caminhos», sem orientação específica. Certo é serem habitações, terem terreno adjunto e partilharem o topónimo. Para além disto o valor da categoria topológica «sítio», varia constantemente.
30Esta constante variação dos referentes da palavra «sítio» remete segundo creio para outra ordem de problema. Mesmo as diferenças morfológicas entre os vários tipos de dispersão e de núcleos elementares algarvios, tal como foi analisada com exactidão por Gaétano Ferro, acabam relativizadas pelas rápidas transformações dos sítios, que aliás lhes parecem inerentes. Creio assim que os sítios do Alto Barrocal, na sua dispersão e na sua heterogeneidade morfológica, só podem ter como razão uma lógica de tomada social do espaço. Perceber o que seja o «sítio», obriga a pesquisar todo o sistema de povoamento, os seus contextos históricos, e a razão social e cultural do seu relacionamento com os espaços determinados do barrocal algarvio onde ocorrem, onde perduram, e onde mudam. Assim, esse «vago sentido de localização» que para além de impreciso é ainda instável, e que ocupa áreas de paisagem híbrida, acentuada ainda pelo encontro de linhas de relevo perpendiculares e de cotas variadíssimas parece concorrer numa conjugação de factores de descaracterização extrema no contexto de outras paisagens algarvias, comparativamente tão marcadas como são a serranha, imediatamente acima, e a do outro barrocal, logo abaixo.
31Enquanto sistema de povoamento Orlando Ribeiro[19] partindo da classificação de Leite de Vasconcellos, mas desenvolvendo-a num sentido sistemático de localização nacional dos tipos de povoamento, integra os sítios algarvios na «variedade montanhosa» do «tipo estremenho» sob a denominação de «dispersão intercalar». «Sítio» no Algarve é apresentado como sinónimo de «casal» e de «lugar», e é interpretado no contexto da dispersão do habitat segundo dois critérios: o da coesão das habitações, e da sua intimidade com os campos de cultura. No Algarve, a dispersão dos sítios é reportada às relações que estabelece com os núcleos concentrados de povoamento, e daí, ser integrada na forma de «dispersão intercalar». Para Orlando Ribeiro trata-se de «uma vaga de povoamento de estilo disseminado, (insinuada) entre as antigas povoações de casas juntas», e igualmente Mariano Feio[6], insiste no carácter recente deste povoamento considerando-o progressivo do litoral sobre as encostas: «L’habitat dispersée occupe tôt la plaine littorale, s’étend le long des dépressions du Barrocal et gagne progressivement les reliefs calcaires. Son essort et récent: il a doublé ou même triplé durant de dernier demi-siècle».
32Posto em relação com os campos intercalares, fruto de uma expansão recente, o povoamento disperso é também associado ao regadio. Orlando Ribeiro situa as dispersões primeiro na época romana, depois na difusão do milho, 1500 anos depois. Considera contudo que o Algarve «foge à regra: porque, se ao pé de muitos casais existem a nora e tanque para regar a horta, a dispersão ganha também os maciços calcáreos, onde as plantações de árvores de fruto fornecem alimento aos homens e aos gados. A cisterna ou o burro carregando os cântaros, asseguram à população que assim se dissemina a satisfação de uma das suas necessidades primordiais».
33Os sítios algarvios seriam pois, no contexto geral de um povoamento intercalar que vai progredindo entre povoamentos concentrados, um caso particular, pelas especiais relações que estabelece com os recursos de uma natureza variada e especial, e particularmente com os «campos intercalares» do «arvoredo algarvio». Assim, podemos tomar como parâmetros de explicação dos «sítios» a sua variedade de águas, e o tipo de arvoredo que os projecta para relações com os mercados urbanos. Porém, para além destes há ainda um outro: algo como um movimento de povoamento e de despovoamento que parece continuamente recente, e que associa um factor de instabilidade à dispersão, suscitando interrogações não só sob as formas sociais a que possa corresponder tal povoamento, como sobre as suas variações históricas, heterogeneidade morfológica e sistema de reprodução.
34Para além da incerteza que rodeia a caracterização duma zona algarvia do Alto Barrocal, e ainda a que rodeia a caracterização do seu povoamento parece pois haver mais uma característica que acentua este terreno como problemático: a precaridade de estabelecimento dos sítios.
35Em 1929, Estanco Louro[12], comentando o mapa do censo da população dos sítios de Alportel, sítios de Alto Barrocal, diz: «se pusermos de lado os sítios absorventes e absorvidos, observamos que alguns desaparecem e que outros têm grandes amplitudes populacionais. (...) Como explicar tais oscilações se as condições de progresso ou decadência seriam, na freguesia, sensivelmente as mesmas? Cremos que aqui só em parte limitadíssima, intervem o fenómeno económico regional e que a causa principal do facto se deve procurar na índole e costumes dos respectivos habitantes. Os costumes divergem em áreas mesmo diminutas: numas partes trabalha-se mais, procria-se mais naturalmente, reduzem-se as necessidades ao inverosímil; noutras, há uma boa dose de tradição para o celibato, campeiam o alcoolismo, a preguiça, a prodigalidade, o que desorganiza, dispersa e extingue a família».
36Estanco Louro, insuspeito conhecedor do Alto Barrocal, já antes, a propósito de um relato quinhentista, tinha apontado o desaparecimento de vários sítios e o aparecimento de outros. É assim curioso notar como os sítios se revelam formas de povoamento simultaneamente precárias e vivazes. Apesar de intercalar, esta forma de povoamento — o sítio — não parece transitória, antes revelando uma grande estabilidade sistémica apesar da sua grande fragilidade estrutural interna. O nosso autor, que não descura este fenómeno, apontou para causas os «costumes divergentes» e esboça quase um programa de análise na sua síntese explicativa. Por um lado — ou talvez numa fase do ciclo dos sítios — mais trabalho, mais filhos, menos gastos; noutra, celibato, dissipação patrimonial e anomia.
37Os apontamentos de trabalho de campo que apresento de seguida reportam-se a um terreno localizado neste duplo contexto que acabo de caracterizar: o do Alto Barrocal com as suas confusas heterogeneidades e o dos «sítios» com a sua incerta dispersão.
Sítios: Um Contexto Material
38Querença é uma extensa freguesia situada em pleno Alto Barrocal no concelho de Loulé. O seu território, abrange de forma genérica três zonas diferenciadas: uma zona oriental, que confina com Alportel, e que corresponde ao sítio ou sítios da Amendoeira. Uma zona ocidental que corresponde à chamada Querença de Baixo, e é polarizada pela aldeia da Tôr, que por sua vez se situa junto à ponte que serve a estrada entre Loulé e Salir. Por fim uma zona central, a Querença de Cima, que se dispersa por diversos sítios, até se esbaterem os seus limites nas encostas despovoadas do Caldeirão, ou nos primeiros montes ou aldeias de configuração serrana, e que administrativamente estão incluídos na freguesia de Salir, como é o caso dos Touriz e da Quintã.
39Esta zona central, onde fica a sede da freguesia, desenvolve-se numa área que apresenta planificada a forma de um triângulo obtuso, e cujo lado maior, virado a nordeste confina com a Serra, fechando-se por outro lado a sul, numa linha que acompanha as cumeadas paralelas à margem direita da ribeira dos Mercês, e que, na confluência desta com a ribeira da Benémola define o terceiro lado para Norte até ao sítio do Cerro da Corte. É esta a área que as populações reconhecem mais correntemente como Querença, pois aqui, nem há as vastas soluções de relativa continuidade de povoamento que a distanciam da Amendoeira, nem os complexos e interessantes contrastes que têm feito a oposição e até a relação de rivalidade com a Tôr. Temos portanto uma coerência interna, embora relativa do contexto da dispersão. Dentro desta Querença há ainda uma progressão de contrastes sucessivos, dos quais o primeiro será o que opõe a metade noroeste, os Corcitos, à restante metade. Mas, tomando como critério a escolha da arbitrariedade mínima na segmentação de um povoamento com estas características, é à totalidade da zona central que me refiro e que passo a chamar apenas Querença.
40Esta é uma zona onde se entrecruzam inúmeras pequenas elevações, que é cortada por pequenas linhas de água irregulares e onde, em pequenas áreas, surgem tipos variados de solo. Uma paisagem que não inspira um sentido natural de organização do espaço. Pelo contrário parece-me serem esses contrastes e essa diversidade explorados na sua não organicidade territorial. Terras, águas e casas parecem surgir como surpresas por entre caminhos sinuosos e, mesmo dos pontos mais altos de Querença, só de forma muito parcelar é possível abarcar um conjunto de casas de dois ou três «sítios».
41Quanto à variedade dos seus solos distinguem-se em Querença seis tipos. As piores terras são as de serra ou Talisca, não só pela aspereza das esquírolas de xisto que a compõem como pelo declive acentuado que apresentam quase sempre. De seguida vêm três tipos de solo mais leve, progressivamente melhor, embora não acentuadamente como em contraste com a serra. São o Arneiro, o Bôrno e o Caliço. O primeiro leve, poroso com cor de vinho; o segundo castanho leve, e o terceiro claro e leve também. Seguese Barrocal, terra argilosa ocre tida como de «muita força», e por fim o solo de Vargem, ou de Horta, o mais fértil e que ladeia o curso das ribeiras, surgindo também noutras depressões planas. São, no saber local, seis «terras» diferentes, e que outros factores podem vir a diferenciar mais ainda. Primeiro a sua exposição ao sol e ao frio o que na desordem dos acidentes multiplica a variedade de situações. Temos assim as soalheiras, viradas ao sul e ao mar, as umbrias, viradas a norte e aos ventos continentais, e as chapas, altas e planas. Por fim, outros factores determinam a classificação como a quantidade e tamanho de pedras, e a água. As pedras, em muitos casos pequenos blocos calcáreos no Barrocal, são removíveis, e para elas se encontra aplicação útil na construção de muros e de valados ou, quando excessivas, empilhadas em «muroiços», isto sem contar com a sempre mais restrita utilização nas construções ou no fabrico de cal.
42Quanto às águas, os vários critérios da sua classificação encontram corgos, barrancos, ribeiros, ou minas, poços e açudes além ainda das águas escondidas em algueirões e sumidouros. Quanto à forma de a utilizar na rega distinguem-se águas de rojo e águas tiradas mas, o que mais conta nesta variedade é a sua incerteza. Em toda a área de Querença só uma ribeira, a de Benémola, tem curso ininterrupto. Todas as restantes águas são incertas e poucos são os poços que não secaram em piores anos. As ribeiras que descem das serras secam no verão e, no inverno, quase sempre destroem com as suas torrentes algumas pequenas hortas marginais. Quanto às águas subterrâneas, as dos poços, minas e algueirões, onde se escondem águas e imaginários, variam conforme as chuvas, conforme a pressão dos usos e conforme os caprichos deste subsolo onde é frequente uma actividade sísmica sensível. Por outro lado a difusão dos furos artesianos neste contexto muito marcado por uma forte autonomia das casas, tem levado a que entre poços que se secam e águas que «se somem», o controlo tanto social como técnico sobre a água tenha mudado mais de figura do que ganho em garantia.
43As árvores, são ainda neste contexto um importante elemento diferenciador. Tanto em relação à serra, que admira aqui as «árvores de rendimento», como nas próprias ocupações destes espaços. Árvores como a alfarrobeira que não exigem qualquer trabalho para além do seu varejo, dão um rendimento seguro ao seu proprietário, mesmo ausente, e permitem o arrendamento da terra. Em menor escala, o mesmo se passa com amendoeiras e oliveiras, decaída que está a importância do figo. As árvores, além de introduzirem mais um factor no equilíbrio variável da qualidade das terras onde se encontram, assinalam uma presença virtual dos seus donos ausentes, criando uma espécie de grau intermédio de presença social.
44Mas, na distribuição das diversidades, a própria morfologia dos «sítios» apresenta os seus casos. Nas diversas formas de construção podemos encontrar o «Monte do Lavrador», conjunto quadrangular de edificações que além dos anexos de lavoura tinha casas para criados e que correspondia às explorações mais antigas e mais ricas; os sítios formados por casas-rua, ou seja conjunto sequenciado de habitações e de pequenos anexos geralmente percorrido por uma rua calçada ao longo de toda a frente, por vezes com outra fieira de casas e/ou anexos semelhantes à frente, partilhando a mesma rua. Outros sítios compõem-se apenas de casas isoladas, de planta rectangular, umas com anexos adjuntos, outras com anexos dispostos em redor de um páteo. Sem querer alargar esta tipologia genérica à arquitectura, devo referir contudo que os materiais empregues, a sua relação às formas obtidas, a inclusão ou exclusão de diversos elementos interiores (poial, padre-santo, etc.) de aspectos decorativos exteriores (cor, cantarias, data, etc.) e a própria marcação do espaço em redor da casa acentuam fortemente a diversidade morfológica dos sítios como lugares edificados, tornando impossível a definição do sítio típico, e estimulando a pesquisa sobre a reunião de diferenças que eles representam. Diferenças que remetem para os contextos históricos em que cada sítio viveu ou tem vivido o seu processo reprodutivo e que marcam nos edifícios as suas mudanças. Mudanças de valoração dos meios materiais que fazem o sustento e a melhoria de cada casa; dos meios humanos que cada uma foi perdendo e foi ganhando, e que foram destinando as casas, como objectos físicos, ora à ruína, ora à sobredivisão interior, ora ao prolongamento, ora ainda ao desmantelamento para que os seus materiais pudessem ser aproveitados pelos herdeiros na construção de casas novas.
45Resultado de um povoamento que foi ocupando e desocupando sítios, a paisagem povoada de Querença exprime essas transformações. De 34 topónimos de sítios identificados de forma quase contínua desde 1854, 8 são absorvidos por outros topónimos, 12 despovoam-se e 13 surgem pela primeira vez registados após aquela data. Alguns incluem lugares nomeados no seu interior mas que não são considerados sítios. É o caso da Portela, um dos sítios maiores e mais duradouros, com os lugares de Portela de Cima, Portela de Baixo, Cruz dos Caminhos, Ladeira, Arneiro e Taliscas, embora todos implantados numa área restrita e totalizando só 20 casas.
46De 17 sítios povoados hoje, alguns estão prestes a ficar desertos, outros, pelo contrário, têm crescido, não só absorvendo outros sítios, mas aumentando o seu número de residentes, como o sítio do Povo. Outros ainda, extintos durante algum tempo voltaram depois a ser habitados. Os processos que culminam nestes resultados são contudo muito diferentes.
47É assim que, a uma variedade de paisagens quase desconcertante, acresce a impressão desordenada do povoamento disperso, desordem que está ligada a uma relativa instabilidade das suas localizações, e portanto a uma certa precaridade das ocupações destas pequenas casas espalhadas. A própria variedade tipológica das construções indicia acentuadas distâncias entre as situações históricas em que se desenvolveram e estas têm sido ricas em transformações.
48Três elementos ressaltam, desde o século XV, nas referências à área que corresponde de forma genérica àquela de que nos ocupamos: o primeiro é a repetida referência a um povoamento disperso, em redor de um sítio isolado—o da Igreja. Fala-se de «vizinhos espalhados por montes» e de que «a capela de Querença fica em um alto despovoado». Quatro séculos mais tarde, diz-se que «a Igreja está acompanhada pelas casas do pároco e do sacristão e por poucas mais», e que a freguesia vive «espalhada por casais»[6]. O segundo é a existência perto de grandes propriedades como os Morgados de Atôr, Salir e Amendoeira, todos sítios confinantes. A sua característica comum é terem como principal componente vastas áreas de várzea entre encostas de barrocal. Representam além disso uma fronteira pois, e esse é o terceiro elemento, surge a referência da zona «para cima da ribeira de Atôr» como campo aberto sobre a serra para os gados[13, 14]. Facto que coloca Querença, desde essa altura pelo menos, na posição de zona adstrita à economia que Loulé centraliza, pois a expansão da agricultura nas campinas e no baixo barrocal exigia a existência de gados mas não lhes podia facultar pastos, nem extensos nem regulares. A «serra» para onde é mandada a adua de Loulé, fica ao cabo de canadas que convergem «para cima da ribeira de Atôr o terceiro elemento, surge a referência da zona «para cima da ribeira de Atôr»[2, 13].Creio que até à grande expansão da cultura dos cereais nos começos do século XX, esta deveria ser uma das principais utilizações da terra. Topónimos como «cortes» e «curralões» apontam nesse sentido, mas sobretudo, a memória ainda conservada dos «muitos gados» em que se empregavam como criados e pastores membros de casas dos sítios de Querença. Gados que pertenciam na sua maior parte a lavradores da zona ou seja, proprietários ricos mas explorando terras variadas, menos extensas e férteis e mais remotas do que as dos morgados. Conta-se de um desses proprietários que para casar as filhas o dote que oferecia era tal que bastava o valor dos chocalhos dos seus gados para as não deixar passar fome. Eram contudo gados miúdos: ovelhas, cabras e porcos. Os bois e vacas nunca devem ter sido frequentes pois não só a extensão e configuração das terras não permitia frequentemente lavouras «a bois», como há ainda memória de se ir à serra buscar bois para algumas lavras, e cuja contrapartida era a simples devolução dos animais mais gordos. Com efeito, havia nestas terras mais baixas, pelo menos um alimento que permitia essa troca: as folhas das figueiras.
49Assim, estes montes do Alto Barrocal, forneciam sobretudo pastagens. No entanto, nos seus interstícios vivia uma população dispersa cujo sustento tinha mais recursos. Além das indispensáveis hortas, recorria-se aos matos para a caça, para o mel, para a cera, para o medronho, e sobretudo para combustível que os vários fornos de cal consumiam, e que Loulé exportava como carvão.
50Com a expansão do cultivo dos cereais, quase todos os terrenos, mesmo os mais pobres e declivosos passaram a ser semeados[10]. O processo, creio, terá sido mais extensivo na serra, onde as encostas de xisto foram arroteadas e os sobreiros passaram a partilhar os solos pobres com o trigo, o centeio e a aveia. No Alto Barrocal a própria configuração do relevo do solo não permitia a não ser em pequenos troços, as sementeiras. Há memória ainda do difícil equilíbrio procurado entre os lavradores, cada vez mais interessados nos cereais e menos nos gados, e os pequenos e médios pastores, que trocavam a estrumação pelos seus rebanhos contra o direito de levar os seus gados aos restolhos. Só que, aqui no Alto Barrocal surge já um problema que não se colocava na serra: o das árvores de pequeno porte, e «de rendimento». Assim, a população destes sítios ia procurando num máximo de diversidade de recursos, e de disponibilidade para a mudança dos seus valores relativos, a garantia de um desenvolvimento que não se podia basear na reprodução de um sistema estável.
51Entre esta diversidade de recursos, contava-se os «ganhos». Eram os trabalhos remunerados, entre os quais é muito viva ainda a memória de ir às ceifas para os lados de Beja, Aljezur, Santa Clara, e para os lavradores da «serra», o que significava toda a serra de Tavira e daí para norte no sentido de Serpa, jogando com os diferentes tempos de maturação dos cereais. Havia também o trabalho nas minas de S. Domingos e houve mesmo algum em fábricas de conservas de Olhão. Emigrar para França e para a Alemanha veio pois na continuidade de experiências de mobilidade, algumas das quais podiam não ser só sazonais, como era o caso do trabalho nas minas. Ela veio também na continuidade da experiência de destinos que os deslocavam definitivamente, como fora a emigração para as Américas, ou para Lisboa, ou para Faro, ou para Loulé... ou para outros sítios ainda mais perto embora igualmente sem prolongar neles relações sem mais razões.
52Este parece-me ser em traços muito gerais o quadro material da vida recente das populações de Querença durante esse período de expansão demográfica, de arroteias e cereais, de retracção dos gados que cobre os últimos anos do século XIX e vai até aos anos 40, altura em que, primeiro na serra e depois aqui mesmo, declina a cultura do trigo.
53A cultura dos cereais da serra levou a um enorme processo de desertificação gerando aí uma forte retracção do seu cultivo, atingindo porventura mais os lavradores do que as populações dos montes que tinham outros recursos de equilíbrio com as novas condições do meio, mas, para todos os efeitos, diminuindo a actividade na serra. Abaixo, no Alto Barrocal, a diversidade de produções permitia formar outros rendimentos, e ser menos afectado pela decadência daquele. O figo, a alfarroba e a amêndoa bem como a azeitona e alguns excedentes hortícolas, tinham compradores intermediários espalhados entre os sítios. Na confluência de caminhos ou noutros pontos estratégicos, surgiam armazéns de compradores, pequenas lojas mistas com tabernas onde havia também bailes regularmente. Estas casas constituíam aliás o único pólo cívico local, permanente, comum a vários sítios.
54Mas foi talvez a coincidência da difusão dos motores de rega com o colapso dos cereais que tenha tornado este período uma época de viragem. Os muares podiam agora ser dispensados da tarefa de tirar água à nora, de fazer as lavouras tortuosas entre pedras e árvores, e, diminuindo o seu efectivo, dispensavam também as sementeiras para lhes dar de comer. Em contrapartida, muitas terras de sequeiro passavam, com os motores, a regadio. Esta transformação não foi contudo radical, pois os muares continuavam a ser indispensáveis em muitos casos, tanto na falta de meios para adquirir uma bomba, como servindo de meio de transporte nos caminhos sinuosos e difíceis a que a grande dispersão de parcelas de cada casa obriga. A sua redução deixou no entanto marcas visíveis, entre outros aspectos sobre o trabalho dos ferreiros, nas feiras de gado, nos trajectos dos ciganos e no abandono a mato de terras onde já não era preciso ir semear a fava ou a aveia, e onde já não valia a pena ir semear o trigo.
55Os sítios viraram-se então para as múltiplas hortas, ao longo de ribeiras, em redor de poços, ao pé de cada casa onde se mandou fazer um furo artesiano, para as «árvores de rendimento»: para a alfarroba, para a cortiça, para o figo e para a amêndoa, e em escala mais restrita para o azeite, pouco vinho e alguma aguardente de medronho. Continuaram também virados para os «ganhos» agora mais na construção civil «lá no Algarve» e na emigração, sobretudo para França, cujas reformas constituem talvez a sua mais importante consequência local.
Sítios: Questões sobre um terreno
56Ao cabo destas transformações, o sistema aparentemente permaneceu. O povoamento por «sítios» continua disperso, os recursos diversificados, a ocupação e desocupação de sítios movendo-se e, duma forma geral, o modo de se reproduzir socialmente também. Contudo, se o quadro material histórico da sua vida social é figurável, já o mesmo parece difícil em relação aos processos reguladores próprios desta sociedade marcada pela dispersão, pela autonomia das casas e pela instabilidade na ocupação. Como se organiza neste contexto a vida colectiva? O que significa socialmente esta situação onde prevalecem valores como o da autonomia de cada casa e o da disponibilidade para não permanecer nos sítios, e que em geral evita tudo o que limite essa maneira solta de pertencer transitoriamente a este contexto?
57Ao nível das relações de cooperação, creio que os recursos aduzidos pela emigração e a expansão do regadio veio vincar a autonomia de cada casa. Contudo, anteriormente, o tipo de relações de entreajuda, de trocas, e de dependências era mais alargado. Quando os cereais de sequeiro tinham maior expressão entre as culturas, faziam-se eiras colectivas, reunindo as produções de vários sítios, e partilhando o aluguer da «máquina», uma debulhadora com o respectivo tractor, que vinha da serra. Para vigiar as eiras era então nomeado um «guarda do bordão». Contudo, num contexto de dispersão, as próprias eiras colectivas eram muitas também, e assim, o seu significado como cooperação e o da própria instituição do «guarda de bordão», diluia-se. Em contrapartida, multiplicava-se pelo número de eiras, as ocasiões de suspeitas de roubo e de inveja. As preferências parecem ter ido sempre para as eiras particulares, onde se fazia a debulha a «pata de besta» e onde cada casa podia controlar completamente todo o processo.
58Num meio onde a água é incerta, e antes de se terem generalizado os furos artesianos, o uso em comum da água, apesar de pouco frequente ocorria em certos casos[17]. Na maior horta de Querença regada por uma só levada ao longo de uma ribeira, nunca foi possível regular o «giro da água», apesar de alguns dos seus proprietários se terem dirigido a um advogado de Loulé para saber se haveria uma lei geral que regulasse o seu uso. No entanto, nas «noras de companhia», que correspondem a hortas regadas a partir de «água tirada» à nora de um poço, e nomeadamente na maior delas o giro de água existiu. Foi, mesmo assim, pouco duradouro. Os maiores proprietários, logo que puderam, passaram a regar a partir de furos. Entre os restantes, o direito à água não é igual, pois quando foi preciso afundar o poço por falta de água, nem todos tinham o mesmo interesse nisso, ficando o giro da água dividido entre os que regam sempre, e os que só regam se a água estiver acima da marca do nível original. O mecanismo da nora, entretanto envelheceu e é agora substituído pelas bombas que cada um leva e traz para casa depois da rega, no seu carro de mão, na bicicleta ou no dorso da besta. Além de ter diminuído o conjunto de elementos postos em comum para a rega, a diminuição do número de regantes também contribuiu para que hoje a «nora de companhia» seja apenas um ponto de água comum de uso livre e não regulado por todos os proprietários de hortas ao longo da mesma levada.
59Há ainda a memória, e por vezes o uso, de trocas de serviços e de trabalhos comuns. São as «tornas» e as «ajudadas». As «tornas» só de trabalho ou de trabalho e de besta (torna-homem e torna-geira) ligavam apenas os homens de duas casas entre si e para trabalhos de lavoura. Eram sobretudo um hábito de vizinhança. Já as «ajudadas» envolvem mais pessoas e fazemse ainda hoje para o varejo da alfarroba, da amêndoa e da azeitona, para as vindimas, para a matação do porco, e para outros trabalhos não regulares que exigem muita gente, como o da construção. Conserva-se uma clara contabilidade de reciprocidades e lembra-se o tempo em que as «ajudadas» eram mobilizadas para mais trabalhos, como as roçadas de mato e as ceifas, e envolviam mais pessoas, sobretudo pobres, vindos tanto da serra como «do Algarve». Esperavam estes pobres contar mais tarde com essas casas para os alimentar quando a fome apertasse. Hoje restam as «ajudadas» entre vizinhos e vizinhos-parentes mas, mesmo assim, o seu significado num novo contexto de produção parece muito reduzido, à excepção da «matação do porco», festa da casa, onde se faz a mais viva redefinição das relações entre elas. Definição que aliás marca bem escolhas precisas entre parentes e entre vizinhos neste momento quase único da comensalidade. Contudo, ainda aqui, prevalece uma forte indeterminação sobre o relacionamento das casas, que parece sempre assente num contexto pouco firme. O facto pode estar ligado ao seu curto ciclo de desenvolvimento. O casamento neolocal que é regra, excepto em certos casos para o último filho a casar, produz para o casal uma redefinição por vezes muito extensa de vizinhos e de proximidades de parentes. Os sítios, cuja pequena dimensão dá maior relevo ao fenómeno, comportam frequentemente bom número de «estranhos» que tomaram lugar neles recentemente, numa fase da sua expansão produtiva e reprodutiva.
60No sítio da Portela há, distribuídos por 4 topónimos, 16 casas habitadas. Segundo os registos que corrigi e confirmei com informações pessoais, havia em 1851, 8 casas habitadas. Em 1862 há ainda 8 casas habitadas e numa delas mora já um antepassado comum a 4 das 16 casas actuais. A partir de 1868 há um aumento notável do número de crianças que, apesar dos muitos que morrem, se mantém em número ligeiramente superior ao de adultos. A partir de 1894 há 16 casas habitadas e em 1904 22, número que nunca é ultrapassado.
61Das 16 casas de hoje, 4 são novas e 4 foram compradas. As restantes 8 foram «deixadas» mas dessas, só 4 dos seus habitantes nasceram nelas. Em 6 casas ambos os membros do casal são de fora do sítio. Nos restantes 10 casais em 6, a mulher é de fora e em 4 é o marido. Mesmo entre as 4 casas aparentadas, as relações não são frequentes. Numa vive um homem sozinho e só 2 casas se dão mais entre si. Apesar do parentesco que liga estas casas, as 2 casas que se dão mais são habitadas por casais cujas mulheres vieram ambas do mesmo sítio da serra embora sem parentesco entre si.
62Das casas vazias, algumas aguardam o destino que os herdeiros, já distanciados da vida ali, lhes queiram dar. Uma foi vendida a um inglês, outra ainda desmantelada. Por «deixa» a cada herdeiro coube, na rigorosa partilha equitativa, um troço do edifício. Recuperados os pobres mas raros materiais de construção que são os paus da cobertura e as cantarias de portas e janelas, depressa o resto abateu e hoje o que dele sobra está em muros, e num pequeno montículo ao canto de uma terra. O destino desta casa exprime bem o sentido aritmético da disponibilidade do património. Entregue por cada casa aos filhos, equitativamente à medida que vão casando, resta por fim o mínimo que assegure a sobrevivência dos pais. Noutros casos fica o quinhão do último, que terá de cuidar dos pais, casado ou solteiro, e mais tarde será dono da casa. O mais comum contudo é os filhos casarem e irem morar para outro sítio, por vezes longe, levando consigo logo uma boa parte daquilo a que têm direito. Os pais, que ao casar formaram nova residência, eventualmente também distante das dos seus pais, num sítio para eles sem tradições familiares ou de vizinhança, acabam por vezes velhos, isolados dos filhos, só com as boas ou más vizinhanças que fizeram.
63Mas, estas mesmas vizinhanças que parecem tão assumidas na sua transitoridade, não deixam contudo de ser reguladas, quanto mais não seja pelos próprios princípios que limitam o seu alcance e as suas dimensões, tal como se, a aparência frouxa desta vicinalidade mitigada, não fosse só o resultado de uma insuficiência dos tempos de estabelecimento, mas antes o resultado produzido por um sistema próprio.
64Foi o que me sugeriu a análise de alguns casos de conflito em que a gestão das distâncias entre as casas permitiu evitá-lo, restringir-lhe o eco social ou impedir que dele se produzisse confronto. Contudo, as tensões de rivalidade, suspeita e inveja são inevitáveis, e até talvez agravadas neste contexto de imprecisões. Apesar de me ter sido afirmado que a suspeição de bruxaria e o recurso às «benzilhonas» estava em declínio, adivinha-se em muitas situações ser esse o registo em que elas estão a ser pensadas e geridas.
65Mesmo a morte, não marca com clareza um sentido de pertença colectiva nestes sítios. O morto é velado em casa, por parentes e vizinhos, mas, mal sai para o cemitério, atravessa caminhos e espaços que ficam relativamente alheios ao facto. Mesmo na zona da igreja, perto do cemitério, cuida-se de encostar as portadas das janelas dos dois cafés vizinhos, mas as portas ficam abertas e o comércio até se activa. Um funeral é, em grande parte, um ajuntamento de forasteiros, e não é frequente mover a uma solidariedade colectiva de luto. Em contrapartida os dias de finados e de Todos os Santos dispersam ambos toda a gente por cemitérios de Salir, Loulé e outros, enquanto a Querença acorrem nesses dias gentes de fora que reconhecem ainda por lá alguns parentes.
66Nas festas, que são sobretudo três — S. Luís em finais de Janeiro, Folares na 2.a feira a seguir à Páscoa e Padroeira a 15 de Agosto — há uma comissão que as organiza, uma hierarquia de juízas que a dirige e um espaço central que é ocupado, frente à igreja. O padre tem aí os seus momentos de maior projecção colectiva, mas em toda a dinâmica das celebrações religiosas quase só as mulheres participam, limitando-se os homens ao leilão das ofertas e ao convívio aliás não exclusivo, nos espaços da bebida e da comida.
67No leilão são vendidos os «ramos», composições de «comidas ricas», bolos, bebidas, pão, fritos, etc., numa bandeja encimada por uma bandeira onde aparece, por vezes a par de notas de banco, algumas estrangeiras, o nome bem claro do ofertante e o sítio onde reside. É tentador interpretar este quase desvio, em proveito dos prestígios pessoais, do momento mais participado destas celebrações colectivas.
68A igreja vive aliás a vários níveis grande dificuldade de comunicação com uma população que além de ter tradições pouco clericais não se reconhece no sentido paroquial em que a pretendem integrar. A própria relação aos poderes políticos locais é limitada, e é habitual ouvir auto-censuras pela falta de espírito de cooperação, solidariedade cívica e sobretudo de lealdade política. O estatuto de comerciante local, antes e depois do 25 de Abril tem sido uma base indispensável do prestígio político e a presidência da Junta há muitos mandatos que cabe a pessoas com casas de comércio, mesmo não naturais da freguesia, sem que as pertenças partidárias induzam comportamentos de voto coerentes.
69Os comerciantes pareceram-me ser aliás o principal elo de ligação às redes de poder urbanas — partidárias, administrativas e bancárias — por se encontrarem num equilíbrio de equidistâncias aos diversos «sítios» e à cidade. Já o mesmo se não passa com aqueles que chegaram a lugares de relevo na capital, talvez por um excesso de ausência social que a natureza dos seus cargos acentua.
70Assim me pareceram os «sítios» deste Alto Barrocal. A natureza recente do seu povoamento ou a sua situação de periferia relativamente a centros próximos mais desenvolvidos não bastam para explicar os traços mais perturbadores das suas morfologias e da sua história. Os «sítios» parecem não só muito mais antigos como sistema de ocupação, como parecem produzir a sua própria disponibilidade para a movência e para a mudança. O ciclo curto de desenvolvimento das suas casas apaga aqui muitos dos traços que, do «espaço» aos «territórios» conduzem à definição de «terrenos».
71Mas, o casamento neolocal e a distribuição do património aos filhos pelo casamento não tem só como consequência a aparente irrelevância social dos «sítios». Com a saída dos filhos poucas décadas após a chegada dos fundadores, a casa não só se contrai como quase «sobra» cada vez mais isolada entre as restantes. Os futuros que gerou correm destinos longínquos, e não é raro à solidão familiar dos velhos, associar-se um desaparecimento social de mau agoiro. Sozinhos e velhos, por vezes com medo de morrer com sofrimento e sem ajuda, outras com o sentido agudo de uma tarefa a que cumpre fechar um ciclo, falam em «qualquer dia passar um baraço ao pescoço». E fazem-no, sem pavores escatológicos, creio.
72À variedade da paisagem e à dispersão do povoamento sobrepõe-se no Alto Barrocal uma incerteza das localizações e, em geral uma indeterminação das formas sociais, que creio ligadas aqui ao sentido de transitoridade da situação social de cada casa e de cada «sítio», bem como ao da precaridade do enraizamento local, das suas memórias e das relações sociais.
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Notes de fin
1 Trabalho de campo desenvolvido na preparação de doutoramento sob a orientação do Prof. Raul Iturra.
Auteur
Nasceu em Lisboa em 1955. Mestrado sobre identidade cultural e emigração portuguesa, com base em trabalho de campo no S.E. da França. Actualmente a preparar o doutoramento com base em trabalho de campo no Alto Barrocal Algarvio. Assistente de Antropologia Social no I.S.C.T.E. e membro do Centro de Estudos de Antropologia Social.
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