O trágico e o contraste
O Fado no bairro de Alfama
Partimos para Alfama com algumas perguntas iniciais. Onde está o fado em Alfama? Como é ele? E antes disso: haverá de facto fado em Alfama? Para nossa surpresa, as primeiras respostas que obtivemos foram rotundamente negativas. Primeiro contacto: almoço com o Vitalha (na altura, para nós era ainda o Victor). Cerca de 30 anos. Vive em Alfama. Nasceu lá. Aparece bem vestido, fato completo, colete e gravata. E com aquele ar malicioso, desenrascado, espertalhão, que de boa vontade se associa ao pe...
Éditeur : Etnográfica Press
Lieu d’édition : Lisboa
Publication sur OpenEdition Books : 21 janvier 2019
ISBN numérique : 979-10-365-1638-2
DOI : 10.4000/books.etnograficapress.1592
Collection : Portugal de Perto | 8
Année d’édition : 1984
ISBN (Édition imprimée) : 978-972-20-0668-2
Nombre de pages : 278
Partimos para Alfama com algumas perguntas iniciais. Onde está o fado em Alfama? Como é ele? E antes disso: haverá de facto fado em Alfama? Para nossa surpresa, as primeiras respostas que obtivemos foram rotundamente negativas. Primeiro contacto: almoço com o Vitalha (na altura, para nós era ainda o Victor). Cerca de 30 anos. Vive em Alfama. Nasceu lá. Aparece bem vestido, fato completo, colete e gravata. E com aquele ar malicioso, desenrascado, espertalhão, que de boa vontade se associa ao personagem característico dos bairros populares de Lisboa. O ar «gingão» — dizia ele de si próprio, meses mais tarde, em animada conversa. O Vitalha está plenamente disposto a ajudar («embora tenha pouco tempo…»: é árbitro de futebol, tem os fins-de-semana sempre ocupados). Mostra a sua aprovação por termos escolhido o bairro de Alfama como centro de interesse para o nosso estudo. E surge de imediato o termo de comparação: o Bairro Alto. Esse já não seria bom porque… «Não tem nada!… A não ser aquilo que se sabe…» Ou seja, é «muito ordinário» para nós. O tema da forte identidade colectiva bairrista e da rivalidade com outros bairros lisboetas é uma constante que se nos foi deparando em Alfama. Ainda lhe faremos referência. Veja-se para já, a este respeito, o trabalho de João Catarino e Madalena Pereira sobre os Santos Populares em Alfama e as descrições das cenas de pancadaria das «púrrias» dos bairros alfacinhas em Alfama — Gente do Mar, de Eduardo de Noronha.
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