Capítulo 2. Vestígios de uma modernidade apagada: a Paris popular da primeira metade do século xix1
p. 27-45
Texte intégral
1A Paris do século xix, a mesma que povoa as páginas de Baudelaire, de Marx e de Benjamin, é, provavelmente, a da margem direita. Desde o início do século xviii que a sua história e tensões se inscrevem em torno do arco traçado desde a Bastilha até à actual Praça da Concórdia, através da imponente promenade arborizada construída sobre os destroços da antiga cintura de muralhas. Desde que o Rei-Sol, no apogeu do seu poder e seguro das suas vitórias, decide destruir os velhos muros, é para o norte e noroeste do território que a cidade começa a transbordar de maneira exuberante.
2O movimento, inicialmente tímido, acelera-se a partir do final do século xviii até atingir o apogeu ao longo da primeira metade do século xix. Entre o Primeiro Império e a Monarquia de Julho, desde a Praça Luís XV – a actual Concórdia – à Rua Poissonnière, o exterior dos boulevards enfeita-se com uma auréola de novos bairros onde se podem ver os velhos e novos aristocratas misturar-se com uma multidão crescente de financeiros, altos funcionários, negociantes, empreiteiros e empregados.
3Este movimento exprime, antes do mais, o enorme desenvolvimento que a sociedade francesa, e parisiense, viveu durante a primeira metade do século xix. Após as perturbações revolucionárias e as guerras do Império, o conjunto da nação parece estar melhor, deixando-se tomar febrilmente por actividades simultaneamente económicas, artísticas e políticas. Paradoxalmente, como o exprimiu lucidamente George Sand na sua autobiografia, tal manifestação de forças e novos empreendimentos eclodiu para além da restauração e viu chegar o apogeu sob o governo conservador de Guizot2.
4Paris, os seus novos bairros e boulevards são, simultaneamente, o centro e expressão deste processo. Porque é para os seus espaços que se dirigem todos os investimentos da nova aristocracia e da burguesia parisiense. E é igualmente nestes espaços que nasce e se desenvolve uma cultura específica que faz da cidade ou, mais exactamente, desta porção de cidade, a sua sede e o seu objecto.
5É a cultura do boulevard, com a vida dos seus cafés, teatros, bailes e guinguettes, cocottes e dandies. Mas é também a cultura da juventude romântica, dividida entre utopias sociais e pragmatismo económico, com os seus ímpetos literários e as suas paixões políticas. E é a cultura da indústria e da mercadoria, com o nascimento do comércio e do consumo de massa, da publicidade e da imprensa popular. Em resumo, trata-se de uma nova modernidade que muitos contemporâneos perceberam e fixaram como tal, transmitindo-nos um impressionante corpus de textos, imagens, músicas e objectos.
6Estes aspectos são já bem conhecidos. Integrados por Baudelaire, desde o Segundo Império, numa estética que faz da cidade, dos seus espaços públicos e das suas multidões, marca de identidade do novo actor urbano, eles voltam em seguida na leitura de cada nova geração literária impondo-se como centrais a partir da complexa leitura operada por Walter Benjamin no seu trabalho sobre as passages parisienses (Benjamin, 1991; Stierle, 1993; Bowie, 2001).
7O que é menos conhecido é que a formação das práticas e das imagens da nova modernidade acompanha a perda de legibilidade da parte mais antiga e popular da cidade. Se o fim do século xviii, no seu texto fundador, Sébastien Mercier falava da cidade como de uma totalidade única e coerente, os numerosos Tableaux de Paris publicados a partir do Primeiro Império focalizam quase unicamente o espaço e as figuras sociais dos grandes boulevards e dos novos bairros da cidade (Mercier, 1782; Etienne, 1813; Pain e Beauregard, 1828; Texier, 1852).
8É que, entretanto, o antigo centro também evoluiu imenso, sobretudo do lado da margem direita. Aqui, até ao fim do Antigo Regime, o denso edificado medieval era salpicado e iluminado pelas numerosas manchas verdejantes dos vastos domínios da igreja e nume- rosos hotéis aristocratas e burgueses. Aos olhos dos observadores ele não se distinguia bem do resto da trama parisiense na qual se acotovelavam as três ordens tradicionais e o povo artesão. Ura, com a revolução e a venda dos bens nacionais, os domínios dos conventos e da quasse totalidade dos hotéis particulares são atingidos pela especulação imobiliária que os transforma em construções com destino comercial e, frequentemente, industrial (Poete, 1925; Dubech e D’Espezel, 1926). O primeiro efeito destas dinâmicas é produzir a densificação destes espaços que se enchem de ruelas e pequenas vielas, de becos e pátios interiores. Mas, sobretudo, elas atraem uma massa cada vez maior de famílias em busca de trabalho ao mesmo tempo que incitam numerosas famílias abastadas a mudarem-se para os novos bairros da cidade.
9Ao mesmo tempo que nasce uma nova Paris, cintilante de galerias e grandes boulevards, parece desaparecer a do centro. “Do outro lado do riacho-quer dizer, dos boulevards – são as Grandes índias (Grandes Indes)”, escrevia Musset em 1837. Uma imagem forte na qual se confundem vários registos diferentes, mas que mostram, antes do mais, a imensa ambiguidade que marca as relações entre a jovem intelligentsia da época e o mundo popular. Este último interessa e atrai desde que se possa agarrá-lo como parte importante e natural do mundo colorido dos boulevards, dos teatros e das guinguettes. Mas cie parece ter-se tornado indecifrável aos olhos da quase totalidade do público bur- guês quando domina, sozinho, o espaço urbano. Neste caso, ele constitui-se como desconhecido, o outro, o diferente de si, o índio, nomeadamente...
10A construção da brilhante modernidade da cidade parece, pois, ir a par com o nascimento de uma imagem dc alteridade que se instala progressivamente nos discursos e nas representações da sociedade parisiense. Uma espécie de espinho encravado na sua carne o que impede a redução das tensões, afastando-as para o seu interior.
11Sem oretender descrever ao detalhe a complexidade dinâmicas, limitar-me-ei, que se seguem, a ilustrar destas nas páginas os elementos mais marcantes. Na primeira parte, evocarei os discursos e as análises dos principais observadores que tentam interrogar esta alteridade. Longe de a esclarecer, eles apenas reproduzem a imagem, amplificando-a. Tanto o olhar dos médicos higienistas como o dos arquitectos ou dos urbanistas permanece, com efeito, prisioneiro em categorias que impedem o agarrar da complexidade das práticas e das fisionomias sociais existentes nestes espaços. Mesmo as descrições literárias parecem limitar-se aos estereótipos da alteridade fixando-se nas imagens mais fortes do miserabilismo populista. Com uma única excepção: o olhar balzaquiano parece agarrar os traços do mundo social no qual se misturam os laços de família e de vizinhança, de produção e de comércio, de troca e de lazer, que se organizam em torno do edifício e do quarteirão, expressando uma modernidade totalmente diferente daquela que se manifesta através da sociabilidade dos boulevards. Como tentarei mostrar na segunda parte deste texto, uma simples análise de dados profissionais e demográficos dos bairros centrais permite confirmar estes aspectos. Longe de surgirem como cloacas infestadas de uma população marginal e doentia, estes bairros revelam-se como espaços vivos, marcados pela presença de uma população activa, ligada ao conjunto do tecido económico da cidade.
“Do outro lado do riacho”: a opaca alteridade do centro popular
12As primeiras descrições que evocam explicitamente imagens de alteridade e degradação do centro parisiense são traçadas por médicos higienistas. Trata-se apenas de alguns raros textos, pois o período de ouro destes inquéritos começa, sobretudo, para a cidade de Paris, a partir do Segundo Império. Mas eles são importantes sob vários aspectos. Por um lado, porque representam uma primeira tentativa de descrever as formas de um centro de cidade que surge, pela primeira vez, como terra incógnita. Por outro lado, porque os seus discursos, elaborados no âmbito das topografias médicas, são legitimados pela autoridade da ciência constituindo-se como uma referência de peso nos debates que se iniciam.
13Dois médicos em particular debruçam-se sobre os antigos bairros da margem direita. No início da Restauração, o doutor Legras, médico voluntário encarregue do gabinete de beneficiência do bairro de Marchés, redige uma primeira monografia sobre as condições de higiene da população local (Legras, 1822). Vinte anos mais tarde, Henry Bayard volta aos mesmos espaços, alargando a observação aos quatro bairros que compõem o antigo quarto arrondissement (Bayard, 1842)3. Tratam-se de estudos minuciosos ao longo dos quais os dois médicos tentam analisar o arrondissement, observando-o nas suas dimensões físicas, históricas e demográficas. Henri Bayard, em particular, enquadra a fisionomia dos bairros numa história longa que encena a transformação progressiva de um espaço físico, espécie de bacia natural, marcado pela presença de um rio, uma zona baixa e pantanosa rodeada por um arco em baixo relevo, numa forma urbana de intrincadas ruas e ruelas, a maior parte insalubres, na qual se amontoa uma população pobre e assolada por numerosas doenças endémicas.
14Sem nos determos mais nestes estudos, é interessante reparar como, debruçando-se atentamente sobre várias características destes bairros, eles nunca chegam a restituir imagens claras nem do ambiente físico nem da sua composição social. O espaço, estudado como uma configuração única forjada ao longo de uma história que corre entre constrangimentos geológicos e sociais, é percebido e descrito como um tecido compacto, caracterizado globalmente pela presença de zonas de morbilidade particularmente intensas. Assim, a compreensão da trama urbana não ultrapassa a individualização das diferentes zonas de morbilidade nas quais se assimilam, sem distinção, indivíduos e formas construídas, doenças e práticas sociais criadoras da categoria universo cloacal. Um bom exemplo desta leitura é dado pela descrição dos quarteirões, hoje desaparecidos, antes situados no bairro Saint Honoré, entre as actuais Rua de Rivoli e Rua do Louvre:
“Na verdade, para os que conhecem as ruas Tire Chape, da Bibliothèque, do Chantre, Jean-Tison, das Lavandières, das Poulies... não exageramos se dissermos que se tratam de infames cloacas. Veremos que todas as casas que aí se situam são o refúgio da indigência e da prostituição. As ruas largas, arejadas, são em muito pequeno número; algumas delas estão completamente ocupadas pelo comércio de telas, cujo depósito provoca nos armazéns uma grande humidade.” (Bayard, 1842: 51)
15É evidente que a descrição restitui sobretudo imagens de conjunto, detendo-se fundamentalmente na estreiteza das ruas e no rosto da miséria e da prostituição que parecem dominar. À excepção da referência aos armazéns dos comerciantes, nada é dito sobre as fisionomias sociais e profissionais do resto da população, apesar de tudo maioritária.
16Igualmente opaco, mas fundamentalmente diferente, é o olhar lançado sobre estas mesmas zonas pelos arquitectos e os promotores imobiliários que, na mesma altura, se inquietam com a situação do urbanismo parisiense. Estes não reparam nas caras escrofulosas e nas doenças das prostitutas e dos mendigos que povoam os trabalhos dos higienistas. Baseando-se as suas categorias na questão da renda imobiliária, o problema dos velhos bairros põe-se, na sua visão, antes do mais e sobretudo, em termos de uma grande queda de procura de novos bens, devido ao empobrecimento da sua população.
17E nesta óptica, nomeadamente, que se orienta a reflexão apresentada em 1829 por um grupo de proprietários, arquitectos e promotores imobiliários à comissão de inquérito encarregue pelo conselho municipal de Paris de se debruçar sobre a situação dos antigos bairros da cidade (Collectif, 1829). Aos seus olhos a questão do centro antigo, evocada por vários observadores, consiste essencialmente na série de fenómenos induzidos pela crescente pressão demográfica que se faz sentir sobre esta parte da cidade. Porque o amontoar da população no dédalo de ruelas do centro teria produzido um aumento considerável de tráfego, tornando cada vez mais difíceis as actividades industriais e comerciais. O que teria incitado os promotores mais dinâmicos a mudarem-se para os bairros periféricos, levando com eles grande parte das famílias burguesas. Estas dinâmicas ter-se-iam, seguidamente, agravado pela relutância mostrada por uma clientela abastada em habitar os novos imóveis construídos no centro4. Muito embora fossem construídos com materiais caros, estes edifícios elevavam-se em vários andares reduzindo, deste modo, a exposição ao sol e a ventilação das ruas e, sobretudo, implicavam uma mistura social pouco apreciada pelos compradores mais ricos.
18Demonstrando uma sensibilidade dominante na época, desde então totalmente desaparecida do horizonte parisiense, os signatários propunham resolver o problema do centro pela implementação de um urbanismo pensado segundo um “modelo nórdico”. Noutros termos, preconizavam inverter as dinâmicas observadas, favorecendo a construção de edifícios de tamanho mais reduzido, no centro da cidade, exclusivamente dirigidos para um público burguês e construídos com materiais resistentes mas menos dispendiosos5. Sem mencionar explicitamente o traçado medieval dos bairros centrais, o relatório faz-lhe, contudo, uma referência indirecta, pois, de acordo com os redactores do texto, as intervenções propostas deveriam permitir a filtragem e clarificação de um tecido urbano e social descrito como sobrecarregado, pouco coerente e não funcional.
19As diferentes propostas que surgem à luz do dia sobre as questões do alargamento das ruas ou a abertura de traçados mais amplos, menos rígidos e tortuosos, inscrevem-se num campo de projectos articulados entre estas visões e as dos higienistas. Sendo frequentemente invocadas umas para melhor justificar as outras, os discursos dos edis, dos administradores e dos médicos coincidem progressivamente numa retórica que parece desejar evitar qualquer esforço de apreensão real dos bairros centrais e da textura social que eles albergam. Evitamento que se agudiza quando o debate sobre a política urbana se crispa, durante a Monarquia de Julho, sobre a questão específica da deslocação do centro da cidade.
20E ao longo deste período que muitos observadores parecem descobrir a geografia particular dos movimentos evocados na introdução, como por exemplo o exuberante crescimento da margem direita e, mais particularmente, dos bairros do Noroeste. Descoberta tardia ou estratégia discursiva, a verdade é que as inquietações dos edis se focalizam progressivamente sobre o descentramento da cidade em direcção, quase unicamente, a oeste. Tendência perigosa, a seu ver, para um organismo urbano que se queria estruturado de modo harmonioso em torno de um centro nevrálgico acolhendo todas as instituições do poder ligadas por círculos excêntricos, aos seus principais órgãos, às estruturas de serviços e produção. É o que exprimem claramente vários notáveis da margem esquerda no estudo sobre a deslocação da população parisiense, que eles redigem em resposta ao concurso aberto pelo conselho municipal de Paris de 29 Outubro de 1839:
“Desde há muito tempo, existe na capital um movimento através do qual a população abastada se afasta dos antigos bairros para os novos. Este movimento, fácil de observar, toma como base o bairro da Bourse, expande-se para a Chaussée d’Antin, e segue a direcção do bairro Saint-Lazare até ao faubourg Saint-honoré. Este facto tão importante, que nada mais faz do que mudar o centro da cidade, ao deslocar a sua base e criar ao lado da cidade antiga uma cidade completamente nova, provoca apreensões legítimas por toda a parte.” (Chabrol-Chaméane, 1840: 1)
21Os trabalhos desta comissão, dirigidos pelo prefeito Chabrol, tiveram uma grande repercussão na época e foram frequentemente tomados como referência nos trabalhos dos edis do Segundo Império. No entanto, também neste caso não é prestada qualquer atenção às fisionomias dos actores sociais que povoam os antigos bairros da cidade. Mas dando como certa a presença de uma população doentia e tendencialmente depravada, é proposto um conjunto de medidas que visam melhorar a circulação, principalmente das mercadorias, entre os diferentes arrondissements e, sobretudo, entre as duas margens do Sena. Além da evolução técnica conhecida pelo debate, a imagem implícita que estes textos retomam e contribuem para confirmar é fundamentalmente a mesma que é transmitida pelos higienistas e os notáveis dos anos 1820. Nomeadamente que a mistura demográfica das últimas décadas teria produzido a decantação nos bairros do centro, não apenas das famílias mais pobres mas também das menos empreendedoras e capazes; em suma, a escória da população parisiense.
22A única voz que parece destoar neste concerto é a do conde Rambuteau, prefeito do Sena entre 1833 e 1848. Ao evocar nas suas memórias estas questões, o antigo administrador sublinha a importância em compreender e respeitar a particularidade do tecido social do centro, relembrando que a sua densidade particular era um fenómeno muito recente devido, nomeadamente, à “febre de construções públicas e privadas” que tinha destruído numerosas zonas verdes que antigamente animavam o espaço local (Rambuteau, 1907: 372-377). E certo que Rambuteau, ao escrever as suas memórias, ao longo dos anos sessenta, com a ajuda do sobrinho, queria também justificar a sua abordagem criando as suas distâncias relativamente àquela, muito mais violenta, do seu sucessor, o prefeito Haussmann6. Contudo, as suas intervenções mostram uma maior atenção às práticas sociais dos bairros centrais mesmo que, neste caso também, as ópticas utilizadas não permitissem agarrar a fisionomia social dos habitantes.
Por trás da alteridade: as formas complexas de uma diferença
23Não menos impreciso surge o olhar trazido pelos escritores e jornalistas. A riquíssima literatura que abunda nesses esboços de physionomiques parisiennes parece fixar-se nos boulevards e nos caracteres mais anedóticos, evitando cuidadosamente penetrar nas índias para encontrar os seus habitantes. E certo que escritores como Sue e Hugo fizeram esta viagem restituindo caracteres que continuam a comover muitos leitores. Mas o seu traço é muito grosso e as fisionomias sociais que eles desenham são bastante desfocadas, muito próximas da imagem estereotipada e nunca bem definida, como a que observámos entre os higienistas, os proprietários, os arquitectos e os urbanistas. A da miséria e da degradação, da doença física e moral de toda uma população amontoada em casebres bafientos e malcheirosos.
24Tais aspectos apreendem, sem dúvida, uma dimensão importante presente neste espaço, como mostram, aliás, não apenas estes testemunhos, como também fontes iconográficas, demográficas e cadastrais7. Mas eles não conseguem, também, restituir um retrato verosímil dos habitantes. As 150 000 pessoas recenseadas em 1817 nos 2.°, 3.° e 4.° arrondissements pelo conde de Chabrol não correspondem todas, certamente, ao retrato rígido forjado a partir da relação directa entre antigos bairros, morbilidade e imoralidade.
25Somente Honoré de Balzac, com a sua incrível sagacidade e capacidade de apreender os traços que revelam as junções mais pertinentes de uma sociedade, parece restituir um retrato mais contrastado. Em César Birotteau, por exemplo, ao pintar a ascensão e a queda sociais de um comerciante do antigo bairro Saint Honoré, o escritor guia o leitor através de inúmeras ruelas e travessas do centro da margem direita. Através de longas páginas, ele analisa não apenas os décors dos diferentes prédios mas restitui igualmente as cores e os odores de cada pedaço de rua detendo-se sobre as fisionomias precisas dos seus habitantes. O olhar não é condescendente. Contrariamente a Sue e, mais tarde, Hugo, Balzac não se tenta identificar com as casas e as pessoas pelas quais ele declara sentir repugnância. No entanto, e talvez devido a esta mesma razão, ele mostra-nos por várias vezes que nesta trama de ruelas se acomoda uma comunidade que está longe de ser apenas doente e marginal, mas que escapa ao olhar dos seus contemporâneos porque se ocupa de práticas profissionais e relacionais totalmente diferentes das desenvolvidas noutros espaços da cidade.
26A título de exemplo, veja-se a descrição do prédio da Rua Greneta, na qual Balzac dá vida a M Gigonnet, um dos personagens secundários do seu romance:
"A rua Grenétat é uma rua em que todas as casas, invadidas por uma multidão de comércios, oferecem um aspecto repelente. As construções têm ali um carácter horrível. A ignóbil sujidade das fábricas predomina ali (...) Excepto Gigonnet, todos os locatários exerciam uma profissão. Vinham, saíam constantemente operários. Os degraus estavam portanto revestidos de uma capa de lama dura ou mole, consoante o tempo, e onde permaneciam imundices. Nesta fétida escada, cada patamar oferecia aos olhos os nomes do fabricante escrito em dourado sobre uma lata pintada de vermelho e envernizada, com amostras das suas obras-primas. Quase sempre, as portas abertas deixavam ver a estranha união do lar e da fábrica, e por elas se escapavam gritos e grunhidos inauditos, cantos, assobios que lembravam o momento das quatro horas nos animais do Jardim das Plantas. No primeiro andar faziam-se, num tugúrio infecto, os mais belos suspensórios do antigo Paris. No segundo, produziam-se, no meio das mais imundas sujidades, as mais elegantes cartonagens que ostentam no dia do Ano Novo as montras dos boulevards do Palais Royal.” (Balzac, 1937)8
27Balzac percebe e descreve, aqui, qualquer coisa de mais complexo e melhor definido que a imagem indistinta e genérica fixada pelos observadores da época. Se ele evoca um aspecto repugnante, se ele fala de construções horríveis e de vil imundice, ele mostra igualmente uma comunidade viva e estruturada em torno da produção e da comercialização de uma série de objectos bastante específicos. Ao mesmo tempo ele repara como, nas escadarias sombrias destes prédios, se cruzam e misturam, por vezes nas mesmas famílias e nas mesmas casas, as figuras e papéis dos fabricantes e dos comerciantes, dos operários e dos artesãos, dos empregados e caixeiros. Em suma, todo um mundo organizado de maneira muito coerente num ambiente que tem como universo a rua e o bairro, totalmente diferente daquele que calcorreia os novos bairros da cidade mas que podemos encontrar em várias fontes, desde que procuremos os seus vestígios.
28Podemos encontrá-lo, nomeadamente, nos dados dos anuários do comércio da época que pormenorizam com precisão a longa lista de fabricantes, comerciantes e artesãos que povoavam essas ruas e edifícios. Deste modo, percorrendo as actividades registadas no anuário de 1851 para a Rua Greneta, encontramos, precisamente, as mesmas figuras tão finamente evocadas nas páginas balzaquianas:
29Dados eloquentes, só por si, que mostram até que ponto o tecido social do centro da cidade se caracterizava por um entrelaçamento de actividades e de papéis profissionais ao mesmo tempo complexo e coerente. Em cerca de 200 metros da rua antiga10, estavam registados sete albergarias, dez tabletiers 11 e uma dezena de artesãos ourives e quinquilheiros, também de seleiros, de oculistas, de nacríer12, de espelheiros, de torneiros, de envernizadores, de gravadores, assim como uma multidão de fabricantes, para além de um médico, um dentista e um farmacêutico ervanário. Muito embora esta rua pudesse ser assimilada, como o resto do bairro, a uma cloaca a céu aberto, adivinhamos, através destes dados simples, todo um mundo perfeitamente organizado em torno da produção de uma gama de produtos que precisam do concurso de vários ofícios e funções.
30É, aliás, o que podemos ler na ilustração da Rua Greneta gravada por Adolphe Martial-Potemont em 1845:
31A imagem foi tirada a partir do Pátio da Trinité, o grande espaço que se abria no meio da rua e que a punha também em contacto, através de um dédalo de pátios e vias, com as ruas Saint-Denis e Saint-Martin. Ela permite observar claramente as diferentes dimensões que se tecem e se sobrepõem no interior destes espaços. Na Rua Greneta, ao fundo da imagem, dois dos edifícios revelam sinais da sua utilização parcial como lugar de produção (neste caso, uma fábrica de pérolas e uma outra de botões e molduras). Em primeiro plano vemos, pelo contrário, um alugador de carroças e também armazéns e uma tabuleta indicando a actividade de um serralheiro ou de um ferrador. Os prédios, por seu lado, deixam transparecer claramente os numerosos reordenamentos suportados pelos edifícios originais ao longo do tempo. À esquerda, pequenos armazéns e fábricas surgidos depois da Revolução apoiam-se a uma casa com vigas à vista, muito provavelmente do século xv. Ao fundo, outra casa mostra pelo menos três camadas de construção diferentes. Tal como nas outras, é possível ver, nesta imagem, vestígios de transformações recentes que alteraram o bairro e que podemos seguir facilmente comparando três planos feitos em três momentos diferentes.
32Na planta de 1756 (A) o tecido urbano define-se quase unicamente através da presença dos domínios religiosos. Na imagem vemos claramente os conventos de Saint-Martin-des-Champs, na Rua SaintMartin, e o Hospital de la Trinité, na Rua Saint-Denis. A pouca distância descortinamos igualmente os conventos de SaintSauveur e das Filies Dieu. A Rua Greneta surge aqui, sobretudo, na sua antiga dimensão de atalho campestre ligando o convento de Saint-Martin e o Hospital de la Trinité com as suas amplas construções, os seus jardins e os seus campos hortícolas.
33Esta trama muda drasticamente a partir da Revolução quando, com a venda dos bens eclesiásticos, os campos e os edifícios são, progressivamente, atingidos pela especulação imobiliária. Assim, na planta de 1808 (B), podemos ver que a cintura de muralhas foi derrubada, enquanto que os jardins e os diferentes edifícios foram integrados no edificado laico da cidade. Mas é sobretudo ao longo dos anos seguintes que os vestígios de antigos espaços verdes desaparecem totalmente e que a rede de construções se densifica atingindo a complexa geometria observável na planta de 1848 (C).
34É pois no decurso destes anos que se forma o Pátio da Trinité. Espaço caótico aos olhos dos observadores, mas altamente funcional no interior de uma parte da cidade que progressivamente se foi dedicando à produção artesanal em larga escala. Com efeito, ao longo do mesmo período e sob o impacto dos mesmos fenómenos, o conjunto do centro da cidade densifica-se, as suas construções transformando-se num labirinto de ruas, ruelas, becos e pátios, dos quais apenas vemos uma pequena parte, mas que caracterizam, durante várias décadas, a totalidade do espaço compreendido entre a ilha da Cité e os grands boulevards, o Palais Royal e a Praça da Bastilha.
35Estes elementos são importantes. Em quase todas as descrições da época a imagem de alteridade cloacal e doentia atribuída aos bairros centrais acompanha a de estagnação e podridão. Como se, ao lado da cidade moderna e cintilante que se desenvolve para lá dos boulevards, houvesse uma outra incapaz de acompanhar esta evolução, retraída sobre si própria e albergando progressivamente as margens da população parisiense. Na realidade, uma observação mais fina destes espaços mostra claramente que o centro se desenvolve de uma forma igualmente vigorosa. Contudo, o seu desenvolvimento concretiza-se sob formas e em direcções totalmente diferentes, não apenas como novos bairros burgueses, mas também em bairros operários que surgirão ao longo do Segundo Império e da Terceira República.
36Aos olhos de Musset e de outros observadores da época a modernidade apenas se podia concretizar nos objectos e nas práticas que se impunham através da cultura dos boulevards. Era-lhes, pois, mais difícil reconhecer, na complexa articulação dos bairros centrais, as coerências de um espaço que se conseguiu estruturar de uma forma extremamente funcional em torno da produção de bens, e particularmente de bens de luxo. Ora, desde que se analisam as actividades existentes em cada rua, apercebemo-nos que cada uma delas aloja grupos de artesãos extremamente especializados na produção de uma parte de um trabalho conjunto que se completa com outras partes preparadas por outros artesãos e operários que habitam vizinhanças próximas.
37Na figura que se segue, assinalei as profissões declaradas por todos os habitantes da Rua Greneta ou de uma rua vizinha que assinaram um acto notarial ao longo do ano 185113. Ela constitui, pois, um indicador relativamente fiável das actividades desempenhadas pelos membros mais activos do bairro.
38A figura ilustra bem a importância da especialização das actividades desempenhadas nesta parte restrita do espaço urbano. Como já tínhamos visto para os dados do anuário do comércio, na Rua Greneta dominam os fabricantes de guarda-chuvas, brinquedos, de cordas para instrumentos, etc. E em redor deles, nas ruas vizinhas, uma multidão de estampadores, de costureiras, de quinquilheiros e de cortadores de peles, produzem as partes dos diferentes trabalhos conjuntos.
39Sob esta óptica o espaço físico do bairro, com os seus becos, os seus pátios e as suas tortuosidades labirínticas, surge-nos, sobretudo, como o produto de uma construção colectiva, não programada, apesar de perfeitamente racional, que soube reconverter e adaptar, com mil intervenções, antigas construções às exigências específicas de uma produção de massa de bens de luxo.
40E, paradoxalmente, grande parte desta produção destinava-se a fornecer as vitrinas e as montras das lojas que se abrem, cada vez mais numerosas, nos boulevards, na Chaussée d’Antin ou nas galerias da cidade cintilante do mito parisiense.
Conclusão
41A imagem clássica da Paris do século xix é a de uma modernidade resplandecente que se exprime através do espantoso desenvolvimento da margem direita. Primeiro, de novos bairros, como Chaussée d’Antin, St. Georges ou Poissonnière, que florescem como uma auréola em redor dos boulevards, atraindo uma massa crescente de altos funcionários, oficiais do Império, banqueiros, empregados, artesãos, comerciantes, artistas e empresários. De grandes boulevards, sobretudo, que circundam e apertam a cidade antiga com as mil luzes dos seus inumeráveis teatros, cafés, restaurantes, lojas, galerias. Da gente que povoa e vive estes espaços: os artistas, os jornalistas, os dandies, os políticos, os aristocratas e os burgueses, os operários endomingados e as costureirinhas, os passeantes e os boémios. Da incrível soma de testemunhos, narrativas, anedotas, desenhos, canções, romances... produzidos nestes mesmos espaços e sobre estes mesmos espaços por incontáveis actores que os calcorreavam.
42Não se trata de uma imagem nítida, pois ela mistura doravante os objectos, os discursos e os factos de épocas diferentes, condensando-as numa única narrativa, tão hagiográfica quanto imprecisa. Mas é tenaz e impôs-se progressivamente como única expressão da essência e natureza do desenvolvimento conhecido pela cidade ao longo do século xix.
43Claro que não podemos ignorar a importância destes aspectos. Eles marcam inegavelmente a cidade e a sua história. Mas mereceriam ser mais interrogados sobre as diferentes coerências e temporalidades que os compõem, analisando as numerosas rupturas e tensões internas. E, sobretudo, dever-se-ia questionar a sua centralidade e unicidade, nomeadamente à luz de uma análise de outras experiências de modernidade, abertas na cidade nos mesmos momentos.
44Nas páginas precedentes tentei mostrar que uma destas outras experiências se desenrola, paradoxalmente, nos lugares em que a modernidade cintilante e oficialmente reconhecida percebe, no melhor dos casos, como atrasados, mas mais frequentemente, como estranhos, bárbaros... Como já se referiu, abrangidos pelas mesmas forças económicas e sociais que favoreceram o desenvolvimento da Chaussée d’Antin e dos grandes boulevards, os bairros antigos da margem direita duplicam a sua população em pouco tempo, densificando a sua trama arquitectural. E vimos, também, como estas mudanças, importantes, surgem de maneira algo confusa para a maior parte dos observadores da época. Aos olhos de alguns, de acordo com a leitura higienista, elas são sinal da degradação progressiva do tecido urbano tornado o receptáculo das camadas mais marginais da cidade. Para outros, estes bairros constituiriam, sobretudo, o exemplo de uma forma urbana tornada incoerente e não funcional relativamente aos fluxos crescentes das mercadorias e dos homens. Para a larga maioria dos observadores burgueses, cultos ou não, eles apenas são uma terra incognita, um lugar difícil de se acercar, ao mesmo tempo atractivo e repulsivo, mas sempre desconhecido, exótico e inacessível.
45Este ponto mereceria ser melhor desenvolvido. Encontramo-nos precisamente no coração das contradições e tensões que percorrem e distendem a sociedade parisiense durante a primeira metade do século xix. Durante este período, particularmente importante pela sua complexidade e pelo número de perspectivas que parece abrir, forma-se a imagem de uma alteridade interna ao espaço social, que desfigura e torna estrangeira esta parte da população, apesar de activa. Ao mesmo tempo que se desenvolvem as utopias sociais e que vários actores se interrogam sobre a construção de uma República democrática (Riot-Sarcey, 2002) nega-se qualquer protagonismo às práticas económicas e sociais existentes nos bairros do centro.
46No entanto, estas práticas parecem importantes e realmente inéditas. Como acabamos de ver elas consistem no desenvolvimento de formas de actividades profissionais que permitem articular, no espaço de um prédio ou de um quarteirão, toda a cadeia de produção e de comercialização de uma gama importante de produtos, na sua maioria de alta qualidade. Um encadeamento particularmente funcional, pois evita a dispersão de funções e actividades que marcam a produção industrial nos outros bairros de Paris, embora produza também agregação social. Os registos notariais estabelecidos pelos habitantes destes espaços mostram até que ponto numerosas trocas de bens e de dinheiro confirmam e fortalecem os laços criados através da actividade profissional.
47A modernidade que podemos entrever nestes bairros é, pois, da ordem de uma identidade e de uma coesão social que se constrói e se define no universo da rua e do bairro. E é no quadro desta identidade profundamente enraizada no espaço de vizinhança que os habitantes se posicionam no contexto social e político. Assim, se por um lado, nas perspectivas oferecidas por estes laços se tecem as estratégias e as práticas de mobilidade social, por outro lado, encontramos estas mesmas cadeias de laços em todos os momentos de mobilização política. Como bem demonstram os relatos do exército e da magistratura, é nas ruas destes bairros que se desencadeiam os motins e as revoluções do início do século (Hincker, 2002; Clavier, 2006). Por trás de cada barricada parisiense, tanto em 1830 como em 1848, podemos, pois, encontrar as mesmas fisionomias e os mesmos grupos de personagens que tínhamos observado nos anuários comerciais ou nos registos notariais.
48Seria necessário estudar de um modo mais aprofundado estes laços, tentando esclarecer melhor a sua natureza e o seu grau de coesão. Nomeadamente compreender se, e em que medida, eles transportavam também um projecto de democracia local alternativo aos modelos centralizadores avançados pelo conservadorismo republicano. Nenhuma destas dimensões foi retida pelos contemporâneos nem pelas diferentes gerações de historiadores que se debruçaram sobre a história da cidade. Apavorados por uma diferença que interpretavam através das categorias de uma alteridade violenta e perigosa, os primeiros contentavam-se em destruir com os canhões da República, seguidos pelas picaretas haussmanianas, todos os nós mais significativos deste espaço e desta cultura. Deslumbrados pelo brilho do mito de uma modernidade assente numa dimensão única e coerente, os segundos apenas deram o seu aval à violência destes ataques, recambiando a população destes bairros centrais para o espaço opaco e indefinido da marginalidade urbana.
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Notes de bas de page
1 Tradução do francês de Graça índias Cordeiro.
2 “Deve-se dizer, também, que após a grande tensão do reinado grandioso e absoluto do imperador, o tipo de desordem anárquica que se seguiu logo à restauração tinha qualquer coisa de novo que se assemelhava à liberdade (...) sonhava-se com uma espécie de estado político e moral, até então desconhecido em França, o estado constitucional de que ninguém tinha uma ideia certa e que nós só conhecíamos por palavras” (Sand, 1856: 454-455).
3 Até 1860, ano da ampliação de Paris e da reestruturação das suas câmaras municipais, o antigo 4.° arrondissement ocupava o espaço compreendido entre as actuais ruas Des Petis-Champs, Etienne Mareei e Saint-Denis e o rio.
4 É, nomeadamente, o caso dos edifícios construídos na Rua de Rivoli entre o Louvre e a Praça da Concórdia, durante o Primeiro Império, que durante muito tempo encontraram poucos compradores.
5 Nomeadamente o tijolo e não a pedra (Collectif, 1829: 4).
6 Ao longo da sua actividade Rambuteau desenvolve, nomeadamente, um plano de alargamento das ruas que visa evitar grandes alterações nos tecidos dos bairros, tendo cuidado em não tocar no microsistema de ruelas e passagens internas dos quarteirões. Com medo de acordar a cólera popular mas também com um cuidado, quase organicista, relativamente à estrutura da cidade. Se ele provoca também alargamentos das ruas no coração do centro histórico a sua técnica não é a da picareta haussmaniana mas sim a do alinhamento e do alargamento da rua. É o que ele faz, por exemplo, na rua que tem o seu nome (Rambuteau, 1907; Klahr, 2001).
7 Num trabalho em curso sobre estes bairros durante a primeira metade século xix, com Jérôme David, Anne Vitu e Caroline Varlet, estamos a recolher, em diversos arquivos parisienses, uma série de dados exaustivos sobre a história das construções locais, reconstituindo, nomeadamente, não apenas os planos cadastrais e as imagens iconográficas de cada casa, como também os diferentes proprietários, construtores e habitantes. A informação recolhida estrutura-se numa base de dados organizada num Sistema de Informação Geográfica desenvolvida pelo Laboratoire de Démographie Historique de 1’EHESS.
8 H. de Balzac, César Birotteau, Livraria Editora Guimarães, Lisboa, s. d., tradução do dr. Alberto Pimentel (Filho). (N. do T.)
9 Os números da segunda coluna correspondem ao número de registos para cada profissão.
10 A extensão da rua duplicará em 1868 pela integração das antigas ruas do Renard Saint-Sauveur e Beaurepaire.
11 Fabricantes e restauradores de pequenos objectos em material raro. (N. do T.)
12 Fabricantes de objectos em madrepérola. (N. do T.)
13 A profissão declarada por cada pessoa liga-se, por um traço, ao nome da rua habitada e a espessura do traço é função do número de habitantes que declararam a mesma profissão: é, por exemplo, o caso da profissão de proprietário e, também, de vendedor de peles para a Rua Greneta, vendedor de vinho na Rua Aumaire, etc.
Auteur
Historiador, Laboratoire de Démographie Historique – École des Hautes Études en Sciences Sociales.
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