Uma «estranha tolerância» da Inquisição Portuguesa
Belchior Vaz de Azevedo e o interesse das potências europeias por Marrocos (segunda metade do século XVI)
Une « étrange tolérance » de l’Inquisition portugaise. Belchior Vaz de Azevedo et les intérêts des puissances européennes au Maroc dans la seconde moitié du XVIe siècle
A «Strange Tolerance» by the Portuguese Inquisition. Belchior Vaz de Azevedo and the Interest of the European Powers in Morocco in the Second Half of the 16th Century
p. 101-123
Résumés
El destino de Belchior Vaz de Azevedo ilustra el recorrido vital de muchos cristianos nuevos portugueses que, iniciando su actividad en territorio portugués (en este caso en Arcila y en Tánger) acabaron por entrar al servido de otros soberanos interesados enutilizar sus vastos conocimientos para sus respectivos fines de política económica o estratégica. Belchior Vaz se colocó al servicio de monarcas protestantes como António de Borbón e Isabel I de Inglaterra que deseaban promover sus intereses en Marruecos en contra de la esfera de influencia hispánica. Él mismo parece haberse convertido al protestantismo, como se deduce de testimonios de portugueses cautivos en el Norte de África. Interrogado por el Santo Ofício de Lisboa en 1562 o en 1563, Belchior se mostró como fiel católico aunque algunos testigos afirmaban que había retornado al judaísmo. No obstante la gravedad –según los criterios de la época– de las acusaciones que se le imputaban, Belchior fue liberado y sirvió de introductor al abad de Brantôme cuando éste visitó a D. Sebastián en 1564. El proceso de Belchior Vaz de Azevedo nos lleva una vez más a interrogarnos sobre el funcionamiento de la Inquisición en términos de las penas a aplicary sobre el significado de la vivencia religiosa de estos hombres que navegaban, durante el siglo XVI, entre varios espacios y varias religiones
Le destin de BelchiorVaz de Azevedo illustre la trajectoire de nombreux nouveaux chrétiens portugais qui ont commencé leur activité en territoire portugais (dans ce cas à Arzila et Tanger) et qui ont fini par entrer au service d’autres souverains intéressés par leurs vastes connaissances pouvant servir leurs desseins en matière de politique économique ou stratégique. Belchior Vaz servit des monarques protestants comme Antoine de Bourbon et Elisabeth Ire d’Angleterre, qui désiraient défendre leurs intérêts au Maroc face à la sphère d’influence hispanique. Il semble s’être converti au protestantisme, comme le montrent les témoignages de Portugais prisonniers en Afrique du Nord. Interrogé par le Saint-Office de Lisbonne en 1562 ou en 1563, Belchior se montra un catholique fidèle même si certains témoins affirmaient qu’il était revenu au judaïsme. En dépit de l’importance – selon les critères de l’époque – des accusations qui étaient portées contre lui, Belchior fut libéré et fut l’introducteur de l’abbé de Brantôme quand, en 1564, celui-ci vint rendre visite au roi Sébastien. Le procès de Belchior Vaz de Azevedo nous conduit une fois de plus à nous interroger sur le fonctionnement de l’Inquisition du point de vue des peines établies et sur la signification de l’expérience religieuse de ces hommes qui naviguaient, pendant le XVIe siècle, entre plusieurs espaces et plusieurs religions
The fate of Belchior Vaz de Azevedo illustrates the life history of many Portuguese New Christians who, while starting their careers in Portuguese territories (in this case in Arcila and Tangiers), eventually entered the service of other rulers who were interested in making use of their vast knowledge for their own political, economic or strategic ends. Belchior Vaz served Protestant monarchs such as António de Borbón and Elizabeth I of England who wanted to further their interests in Morocco to counter the sphere of Hispanic influence. He himself seems to have converted to Protestantism, as can be deduced from the testimony of Portuguese prisoners captured in North Africa. Interrogated by the Holy Office of Lisbon in 1562 or 1563, Belchior showed himself to be a true Catholic although some witnesses affirmed that he had returned to Judaism. Notwithstanding the gravity –according to the criteria of the time– of the accusations against him, Belchior was set free and served as Introductor (Head of Protocol) to the abbot of Brantôme when he visited D. Sebastián in 1564. The trial of Belchior Vaz de Azevedo causes us to ask ourselves once again how the Inquisition functioned in terms of the penalties it applied and about the significance of the religious experience of these men who in the 16th century journeyed from one place to another and from one religion to another
Texte intégral
1Ser judeu. Ser cristão –católico ou protestante– uma realidade a partir da cisão luterana, desde a década de vinte do século XVI1. Qual o significado da adesão a estas identidades religiosas no século XVI, sobretudo nas civilizações peninsulares, marcadas pela repressão do cristianismo crítico de raiz erasmiana, conforme mostram os estudos de Marcel Bataillon2, e pela imposição do modelo inquisitorial?
2Por outro lado, será interessante questionar o julgamento das instituições que tinham a função de vigiar e reprimir os casos de «desvio» religioso e intelectual face à ortodoxia e ao modelo cultural vigente. A instituição que nos interessa neste estudo –a Inquisição Portuguesa– agiu sempre com imparcialidade, segundo os princípios que a orientavam, no que respeita aos casos de desvio da fé?
3No imenso conjunto documental que pertenceu ao acervo do Santo Ofício, detectámos vários casos, quer de estrangeiros oriundos de países em que se impuseram as cisões protestantes, quer de autóctones, que foram acusados por aquela instituição nos séculos XVI e XVII, os primeiros apontados como agentes de proselitismo, os segundos sobretudo como apóstatas3. Estes últimos foram em número muito reduzido e o seu destino quase se apaga perante os casos mais retumbantes de intelectuais como Fernão de Pina, Fernão de Oliveira, Diogo de Teive, Damião de Góis e dos lentes do Colégio das Artes, que de facto nunca se assumiram como protestantes mas como interessados no debate aberto pela Reforma4.
4Na colectânea organizada por António Baião, designada A Inquisição em Portugal e no Brasil. Subsídios para a sua História surge o seguinte resumo:
No día 15 de Dezembro [de 1561] compareceo Domingos Peres, portuguez, cavalleiro de Africa, e denunciou Belchior Vaz por ter dito que se confessava em seu coração todos os días, e ainda outras heresias [...]5.
5Com esta breve pista estávamos longe de adivinhar que encontraríamos um dos mais complexos e surpreendentes percursos humanos, onde as experiencias de fé, inclusivamente de adesão à cisão protestante, estão intrínsecamente relacionadas com o serviço régio. Mas é um destino singular, que nos faz interrogar sobre a idoneidade do poder religioso que o julgou, quantas vezes apuntado como incorruptível –segundo os critérios da época.
6O cristão-novo Belchior Vaz de Azevedo foi alfaiate em Arzila e rendeiro ali e em Tânger, até cerca de 1545-15466, ou seja, antes do abandono da primeira praça mencionada7. Depois colocou-se ao serviço dos reis de França, Francisco I e Henrique II8.
7Em 1556 temos notícias concretas da sua actuação em prol deste último soberano. Nesse ano, o judeu Salomão Benzamerro regressava a Marrocos, após ter pisado o solo português, como enviado do xarife Mawlay Muhammad Shaikh, com o objectivo de obter a aliança de D. João III contra o perigo do avanço turco no seu país9. Inadvertidamente, acabou por ser preso em Cádiz, onde se encontrou na mesma cela com Belchior Vaz de Azevedo. Mesmo assim, conseguiu informar D. João III acerca deste último:
... O qual foy preso pelas justiças da dyta cydade com vymte e oito franceses, por terem sospeitas que andava alevantado.
8Belchior Vaz já fora resgatado ao alcaide de Xexuão (Chechaouèn) pelo próprio Salomão Benzamerro, e transportado a Tânger, Baseado nessa antiga relação, o judeu conseguiu saber de Belchior Vaz que fora enviado ao xarife de Marrocos por parte do rei de França (Henrique II)
... para obrar contra o serviço do Emperador [Carlos V] e para poder ter galees e navyos em seus portos.
9Levava também consigo cartas patentes para que fosse favorecido nos portos de Portugal, de Castela e de Marrocos, sob o pretexto que tentava capturar um corsário. Na verdade tratava-se de uma dissimulação, pois o xarife havia
... de folgar muito de ter liamça com el-rrey de Framça, por o proveyto que d’yso se lhe pode seguyr por seus rregnos serem provydos dos de Framça de mercadorias e armas defesas10.
10D. João III apressou-se a avisar a sua nora –D. Joana de Castela– para que em Espanha revistassem Belchior Vaz e impedissem a sua saída da prisão11. De facto, Bernardo Rodrigues testemunha no processo movido pela Inquisição de Lisboa contra Belchior Vaz, que Carlos V ordenara a sua prisão em Cádiz, durante dois anos12.
11Contudo, passados três anos após aquelas missivas terem sido redigidas, surgem notícias reveladoras.
12Entre 1559 e 1560, António de Bourbon, rei de Navarra (Baixa Navarra ou Navarra francesa) pelo seu casamento com Jeanne d’Albret, tentou obter de Filipe II de Espanha a Navarra transpirenaica, anexada por Fernando de Aragão em 1512 (e que também fazia parte do património da Casa de Albret), pretendendo entregar-lhe em troca Alcácer-Ceguer e o forte do Seinal. Este projecto foi, por motivos tácticos, apoiado pelos reis de França - Henrique II e, depois, Francisco II13.
13Nesse contexto, em 29 de Janeiro de 1559, este último escrevia a António de Bourbon uma carta suspeita. Nela informava seu tio que, segundo o embaixador do rei de Espanha, alguns corsários dos portos da Guienne preparavam um navio para viajarem até «às Índias», «... et piratier [et] endommaiger les subjectz du Roy d’Espaigne, mon bon frère».
14Pedia assim ao rei de Navarra para impedir que esses corsários passassem à acção. Como Francisco II apoiava os projectos de seu tio, inclusivamente para tentar uma aliança com o rei de Marrocos, esta carta devia servir para acautelar a desconfiança do embaixador de Espanha, tanto que, como veremos, esta expedição dirigia-se ao Norte de África e não ao Oriente. O mais interessante é que, entre esses «mariniers», surgia o nome de «Melchio Baiz de Azevedo», que vivia em Altre, próximo de Vidache14 –prova de como Francisco II, ou António de Bourbon, conseguiu obter a libertação de um homem cujos serviços lhe eram necessários, usufruindo de um novo contexto: a subida ao trono de Filipe II de Espanha, precisamente em 1559.
15No fim do Ramadão de 966 (Junho-Julho de 1559), o xarife Mawlay ‘Abd Allah al-Galib bi Allah, sucessor de Mawlay Muhammad Shaikh, escreveu a António de Bourbon, atestando que o seu enviado chegara à corte marroquina, apresentando uma carta sobre o projecto de paz e amizade entre os dois soberanos, e explicando os intentos do seu senhor15. Esse enviado era Belchior Vaz de Azevedo, como está explicitamente indicado no tratado assinado entre António de Bourbon e o xarife Mawlay ‘Abd Allah al-Galib bi Allah, no mesmo período. Aliás, nesse tratado, o xarife não deixa de atestar a importância da missão de «Melchior Vaez d’Azevedo» para que aquele se concretizasse. Segundo o referido tratado, o rei de Navarra forneceria ao xarife quinhentos homens de armas, uma guarnição de trinta alabardeiros e dez cavaleiros, munições e outro material de guerra. O xarife, por sua vez, comprometia-se a entregar a António de Bourbon o porto estratégico de Alcácer-Ceguer, que já fora português16. Desta forma, o xarife precaver-se-ia contra a ameaça dos turcos, que já tinham derrotado o conde de Alcaudete na batalha de Mostaganem (1558)17.
16O embaixador de Filipe II na corte de França –Thomas Perrenot de Chantony– não deixou de avisar o seu soberano sobre estas actividades de Belchior Vaz e dos seus companheiros, em prol do senhor de Navarra. Assim, numa carta dirigida a Filipe II, datada de 17 de Janeiro de 1560, o embaixador transmitia em cifra que «Melchior Vaez» e os seus companheiros se dirigiam a Larache, levando um presente para o xarife, enviado por «Mos. De Vendoma», ou seja, Henrique, duque de Vendôme e filho de António de Bourbon. Chantonay acrescentou ainda que o duque de Vendôme pretendia, daquela forma, entrar em negociações com o xarife, por via de –e assinala de novo em cifra– «Bartolome Rebelo, yerno del dicho Melchior», que já tinha servido de emissário entre os dois senhores. Era mais uma forma de aliciar Mawlay ‘Abd Allah al-Galib bi Allah para que este cedesse ao rei de Navarra, além de Alcácer-Ceguer, o forte do Seinal, erguido em 1549 pelos portugueses num monte próximo daquela praça18.
17Portanto, nem a manobra de diversão de Francisco II, nem o facto de Gaspar de Coligny, almirante de França, ter omitido informação (notícia assinalada na carta), impediram que os soberanos ibéricos estivessem a par destes intentos do rei de Navarra. Na realidade, a fonte de informação fora outro embaixador –precisamente o de Portugal em França, João Pereira Dantas– que já enviara Rabelo a Portugal com todas estas notícias19. Os «portugueses» ainda não tinham transmitido qualquer instrução ao seu embaixador, pensando este que a razão desse atraso era a necessidade de comunicarem com o rei de Espanha.
18Porém, nem todas as informações deviam «correr» directamente para o sector português. Chantony sabia que o duque de Vendôme pretendia oferecer Alcácer-Ceguer e o Seinal a Filipe II, facto que não queria dar a entender ao embaixador português20, pois como já vimos, António de Bourbon reivindicava a Navarra transpirenaica e queria entregar aquele território marroquino ao rei de Espanha, o qual, em troca, devia reconhecer as suas reivindicações21. De salientar que, na carta de Chantony, as palavras «Larache», «Xarife», «Vendoma», «Bartolome Rabelo», «Melchior», «Zaguer» (Ceguer), «Ceynal», «Portugal» e «Portugueses» precisavam de ser decifradas.
19No mesmo ano, D. Álvaro de Carvalho, capitão de Mazagão, informava a rainha D. Catarina sobre o activíssimo Belchior Vaz: era o capitão de dois ou quatro navios que aportaram em Agadir, em que vinham quinhentos homens. Não deixou ainda de elucidar a rainha que este Belchior era um português, o qual «... viveo em Arzila e agora estava em Framça, e dis que todos [os tripulantes] são Framcezes»22. Portanto, nada parece aduzir que os portugueses soubessem do plano de António de Bourbon para entregar a praça de Alcácer-Ceguer e o Seinal a Filipe II de Espanha.
20Ainda em 1560, era o nobre francês Geoffroy de Buade que, estando preso em Cádiz e apelando ao embaixador de França na corte de Toledo, Sébastien de L’Aubespine, oferecia mais informações sobre aquela missão de Belchior Vaz de Azevedo. Relatava o nobre francês que António de Bourbon enviara Belchior Vaz de Azevedo a Marrocos, com o apoio de Francisco II de França e do «partido» dos Guise –do cardeal de Lorraine (Carlos) e do senhor de Guise (o duque Francisco). Belchior Vaz embarcara para Santa Cruz do Cabo de Guer (conforme relatou D. Álvaro de Carvalho) juntamente com alguns nobres, entre os quais Buade. Depois, viajaram até Fez, onde se encontrava o xarife.
21Contudo, as negociações com Mawlay ‘Abd Allah al-Galib bi Allah foram infrutíferas, devido ao facto de Filipe II não aceitar as propostas de António de Bourbon, acima referidas23. E Geoffroy de Buade, que embarcara num navio de Marselha ancorado na costa marroquina, acabou por ser preso em Cádiz, juntamente com a restante tripulação24.
22A carta do embaixador inglês em Paris, Nicholas Throckmorton, dirigida ao Secretário de Estado britânico William Cecil, datada de 29 de Junho de 1561, revela as consequências desta ineficácia da missão de Belchior Vaz. Informava Nicholas Throckmorton que o português «named Capten Melchior», ou seja, Belchior Vaz de Azevedo, homem de sessenta anos, muito experiente nos tratos da Berberia, onde vivera doze anos, e exímio na arte da navegação, estivera ao serviço dos reis de França, «the old King Francis» –Francisco I– e Henrique II e, após a morte deste, também sob a tutela do rei de Navarra. Contudo, descontente com a pensão paga pelo rei de Navarra, insuficiente para manter a sua família, tentou aproximar-se do reino inglês, divulgando ao embaixador Trockmorton, em segredo, as virtualidades do comércio marroquino, arquitectado, segundo ele, em regiões menos afastadas e mais sadias que a Índia, a Guiné ou o Benim, e com a possibilidade de ser exercido durante todo o ano. Belchior Vaz abriu perante o embaixador inglês o «cofre» aliciante dos artigos que podiam ser comprar em Marrocos: ouro, cobre de excelente qualidade para ser utilizado no fabrico de artilharia, açúcar, tâmaras, goma-arábica, cera, peles e cavalos. As «chaves do cofre» eram as mercadorias que os marroquinos pretendiam: estanho, lâminas de sabre, lanças, remos, ferro, grandes panos –enfim, tudo objectos que as Ordenações Manuelinas consideravam «matérias defesas», ou seja, susceptíveis de beneficiar o inimigo religioso25. O valor destas mercadorais em Marrocos era também minuciosamente descrito, revelando a experiência daquele antigo habitante de Arzila: o rei de Marrocos retinha dois terços do estanho importado, que comprava a quinze ducados o cento, vendendo-se o restante a trinta ducados o cento; cada lança e cada remo valiam pelo menos dois ducados e as lâminas de sabre ofereciam ampios lucros. Aliás, Melchior Vaz avançava mesmo que colocaria ao dispor um barco de cem toneladas, que tornaria expelientes os navegadores nessa viagem a Marrocos e que conduziria aí os mercadores ingleses, pretendendo recompensa por todos estes serviços apenas no retorno. Visto que o rei de Navarra, em cujos dominios residia, lhe propunha nova expedição, Belchior reclamava uma resposta rápida. O «homem de Arzila» não deixou também de alertar o embaixador inglês que os reis de Portugal e de Espanha, continuando em guerra com os senhores marroquinos, não conseguiam usufruir plenamente do trato com o Norte de África26. Seria então um período crucial para os ingleses tirarem vantagens da debilidade do trato ibérico.
23Mas uma das razões que presidia ao secretismo desta proposta era o facto do rei de Portugal, conhecendo a proficiência de Belchior Vaz no comércio marroquino, recear que ele emiscuisse outros soberanos europeus nesse negócio, facto que levara aquele senhor a tentar «desfazer-se» dele27. Na realidade, Belchior Vaz de Azevedo não cortara as raízes com Portugal, embora os serviços prestados aos soberanos estrangeiros fossem do conhecimento da Coroa Portuguesa, como vimos através das missivas de e para D. João III, e afectassem a sua imagem na pátria.
24Passado um mês, Nicholas Trockmorton voltava a escrever de Paris a William Cecil. Informava então o Secretário de Estado que tinha aceite os serviços de Belchior Vaz de Azevedo, o qual se preparava para navegar até Inglaterra, juntamente com oito experientes homens do mar, entre os quais se contavam portugueses, espanhóis, franceses e um inglês. Trockmorton, seguindo os conselhos de Belchior Vaz, chegou mesmo a aconselhar William Cecil para mandar transportar o estanho em blocos de quinhentas ou seiscentas libras, e ferro em barras grandes ou pequenas, e a informar que o português se dirigia trinta léguas para além do Estreito, ou seja, ao habitual porto do Cabo de Guer. Aliás, Trockmorton esperava enviá-lo ao «Lord Mayor» e ao «Lord Admyrell» de Inglaterra28.
25Em Agosto de 1561, Belchior Vaz de Azevedo conseguiu pisar solo inglês. Estava em Londres, propondo o controle do porto por excelência que dava acesso às riquezas do Suz –o do Cabo de Guer. Não conseguiu, contudo, ganhar a confiança de três grandes personalidades ligadas ao comércio com o exterior: William Chester, «Master of the Draper’s Company», «Lord Mayr» de Londres e introdutor da refinação do açucar em Inglaterra, cujos negócios se estendiam a África e ao Oriente; William Garrard, conhecido mercador de Londres, conselheiro de William Cecil, que já fora «Lord Mayr» de Londres em 1556 e um dos pioneiros das relações comerciais com Marrocos; e Thomas Lodge, «Master of the Grocer’s Company» e governador da «Russian Company», que detinha um importante papel na dinamização do comércio inglés a partir de Anvers. Todos estes experientes senhores ingleses não deixaram de assinalar, por carta, a William Cecil, que Belchior Vaz de Azevedo se oferecia para os conduzir a um local onde eles próprios, desde há doze ou treze anos, tinham os seus interesses comerciais, e alvitrar que o português não lhes merecia qualquer confiança. No entanto, por respeito pelo embaixador Nicholas Trockmorton, não se escusariam a pagar as suas despesas em Londres e o seu regresso. Era uma negativa muito aguda: Belchior Vaz de Azevedo fora servidor de muitos amos e não valeria a pena arriscar por alguém que nada oferecia de novo29.
26A «memória» do embaixador português na corte francesa João Pereira Dantas –datada de 7 de Junho de 1562– revela, porém, que William Cecil, aliciado por Nicholas Trockmorton e, indirectamente, por Belchior Yaz de Azevedo, não cedeu às críticas dos homens de negócios.
27Aliás, a viagem de João Pereira Dantas a Inglaterra está relacionada com o apoio de Isabel I ao projecto de Belchior Vaz, e desde logo sofreu a oposição de William Cecil e de Nicholas Trockmorton. Em 5 de Maio de 1562, este último escrevia de Paris ao Secretario de Estado britânico, avisando-o que o embaixador português seria enviado, por ordem do seu soberano, à corte inglesa, com um objectivo especial: induzir Isabel I para que interditasse os seus súbditos de navegaran para as costas marroquina e africana, em geral, pois era um negócio de que auferiam sobretudo os particulares.
28Embora Nicholas Trockmorton recomendasse o embaixador português, por carta, a William Cecil, era apenas um acto de ardilosa diplomacia, pois não se escusou a confidenciar quão estava certo que o Secretario de Estado britânico não apoiaria os seus intentos, que eram incompatíveis com a honra e o respeito de «Sua Magestade, a Rainha»30.
29Entre as queixas apresentadas na referida «memória» do embaixador português, surge a acusação que o capitão Melchior, ou seja, Belchior Vaz de Azevedo, e um outro cristão-novo chamado Luís Rodrigues, se tinham deslocado a Larache, no mes de Setembro de 1561, num navio carregado por mercadores ingleses. Eis, portanto, a prova de como Nicholas Trockmorton e William Cecil foram seduzidos pelos serviços do «português de Arzila». O barco ia repleto de «matérias defesas»: remos, lanças, estanho e outros metáis, e também (em segredo) algumas armas ofensivas e defensivas. Há porém uma acusação mais significativa, que toca a identidade de Belchior Vaz de Azevedo: o embaixador portugués acusou-o de levar na embarcação vinte e seis grandes cofres e baús cheios de bíblias e outros livras em hebraico, para os judeus do Norte de África. Este comércio favorável aos judeus era, segundo o embaixador português, um verdadeiro atentado ao bem público da Cristandade31. Mais grave, as acusações de João Pereira Dantas lançavam a insinuação sobre a continuidade da vivência judaica de Belchior Vaz de Azevedo, que não se escusava a providenciar a necessidade sapiencial dos hebreus. Aliás, o comércio dos livros em hebraico era uma prática a que não se escusavam os próprios cristãosvelhos, com o castigo inquisitorial comprovado no que respeita ao Norte de África32. Nesta «memória», a referencia explícita que Belchior Vaz de Azevedo e Luís Rodrigues eram cristãos-novos, tentava alimentar a chama da conspiração judaica.
30Foi a própria rainha Isabel I de Inglaterra que negou energicamente as acusaçôes levantadas contra os seus súbditos, em carta escrita em 15 de Junho do mesmo ano, explicando que os ingleses levavam armas para a costa africana, não para as venderem, mas para se defenderem de um eventual ataque. No que respeita ao negócio das bَíblias, a rainha não entendia como tinham sido enviadas tantas obras de Inglaterra, dada a sua exiguidade nesse reino. Aliás, soube concluir este dilema numa verdadeira demonstração de humor britânico, quando asseverou que não compreendia porque se devia obstar a venda de bíblias aos judeus, aos «sarracenos» e a qualquer outra nação, pois eram essas obras que continham os verdadeiros mandamentos de Deus33.
31Perante esta resposta, o embaixador português regressou à corte francesa, limitando-se, numa última réplica, datada de 19 de Junho, a sublinhar que não quería entrar em litígio com aqueles que se dedicavam ao negócio das mercadorias defesas ou a discutir se era razoável que os cristãos vendessem bíblias aos judeus da Berberia, mas apenas alertar a rainha para estes factos, explicitando igualmente que as bíblias e os outras livros tinham sido impressos na Flandres34.
32Mas este episódio da missão de João Pereira Dantas na corte inglesa leva-nos a outra realidade. A sua «memória», datada de 7 de Junho de 1562, revela que o embaixador português estava minuciosamente informado sobre a actividade «ilícita» coordenada por Belchior Vaz de Azevedo, no ano anterior. Como obtivera João Pereira Dantas os dados que apresentou na corte inglesa? Apenas através das suas funções no reino de França?
33A resposta a estas duas questões leva-nos necessariamente à documentação da Inquisição Portuguesa, em que a principal personagem é, precisamente, Belchior Vaz de Azevedo.
34Já verificámos anteriormente pela carta de Nicholas Trockmorton dirigida a William Cecil, datada de 29 de Junho de 1561, que Belchior Vaz de Azevedo, embora deambulando por outros reinos europeus, não cortara as raízes com Portugal35, e que a corte portuguesa tinha ampios conhecimentos dos seus «atrevimentos», pelo menos desde a denúncia de Salomão Benzamerro, dirigida a D. João III36. Aliás, vimos pela carta do embaixador espanhol em França –Thomas Perrenot de Chantony– que o embaixador português no mesmo reino enviara o genro de Belchior Vaz a Portugal, com o objectivo de alertar as autoridades sobre o interesse do rei de Navarra em realizar um acordo com o xarife37.
35Uma explicação para este jogo de contactos entre Belchior Vaz e a corte portuguesa pode encontrar-se no passado deste «homem de Arzila».
36Em 20 de Setembro de 1529, um «Melchior Vaez» depôs na Inquisição espanhola, em Las Palmas de La Gran Canaria, contra Hernando Xerez, que acusava de não seguir algumas práticas essenciais do cristianismo, e mesmo de serjudeu38.Tratava-se de um simples acto de vingança pessoal? Foi um indicío da actuação de um cristão-novo que, enfrentando a alteridade do seu estatuto, acabou por tentar encontrar-se como cristão, denunciando outros cristãosnovos? Aliás, percurso de vida vislumbrado em outros casos, mesmo de judeus assumidos, como José Cordelha, que fora nomeado rabi-mor dos judeus de Azamor39. Ou estaría já, porventura, a par da cisão luterana, quiçá devido ao contacto, no Norte de Africa, com algum estrangeiro aderente, não se escusando a denunciar aqueles em cujo universo religioso já não se senda integrado? É verdade que ainda estamos nos primórdios da Reforma Protestante, mas também sabemos que foi dos primeiros luteranos denunciados à Inquisição Portuguesa, trinta e dois anos depois40.
37O facto de não existirem outras provas pertinentes que respondam cabalmente às nossa questões, leva-nos às fontes que lançam mais luz sobre a vida deste homem, ou seja, a documentação inquisitorial.
38Data de 15 de Dezembro de 1561 a primeira denúncia contra Belchior Vaz de Azevedo, que é a prova concreta da sua adesão à cisão protestante.
39O denunciante Domingos Pais, cavaleiro de África, que viera a Lisboa arrecadar o dinheiro do seu resgate, referiu que estando cativo em «Fez-o-Novo» –ou seja, na área criada pelo sultão Merínida Abu Yusuf (1258-1286), designada Fez Jdid41– surgiu aí Belchior Vaz, natural de Arzila, português, o qual levava armas do rei de Navarra para o xarife Mawlay ‘Abd Allah al-Galib bi Allah. Tratava-se da missão noticiada na carta de Geoffroy de Buade, dirigida ao embaixador francês na corte toledana, Sébastien de L’Aubespine42. Segundo o denunciante, Belchior Vaz especificou, perante os cativos portugueses de Fez, que se confessava a Deus apenas em seu coração, que os cristãos «eram parvos» em confessarem os seus pecados a outros homens e ao adorarem uma cruz, e que desprezava as imagens existentes nas igrejas porque «[...] se nam avia de crer se não em hum so Deus [...]». Aliás, o moço Cristóváo informara-o mesmo que Belchior Vaz era considerado luterano na cidade de Larache43.
40Também o castelhano Pedro Fernandes denunciou, passados dois dias, que no ano anterior encontrara em Larache Belchior Vaz, o quai vinha de Fez ou de França, e que ia dormir às masmorras, onde propagava a fé luterana, apontando que não deviam existir clérigos nem papas e dinheiro para as bulas44.
41Ainda no mesmo dia foi Belchior, filho de André Pires, morador em Tânger, que não se escusou de informar o Santo Ofício acerca da seguinte atitude do denunciado na cidade de Fez: pretendendo Belchior Vaz falar ao alcaide Bentude e estando o moço próximo deles, logo aquele lhe chamou perro e ordenou que saísse daquele sítio, receando que ouvisse a conversa45.
42A nota anexa à primeira denúncia lembra que Belchior Vaz já fora preso e libertado por ordem da regente D. Catarina e do cardeal D. Henrique, pois alegara que possuía seguro régio para andar no reino de Portugal. Contudo, como o salvo-conduto era válido apenas por quatro meses, foi condenado e novamente preso. Mais uma vez se comprova por esta denúncia que Belchior Vaz de Azevedo, embora tivesse optado por servir os reis de França, Navarra e Inglaterra, conseguira autorização para visitar Portugal.
43No fim do Verão de 1564, o jovem Pierre de Bourdeille, abade de Brantôme, conta que chegando a Lisboa, após ter participado na expedição de D. García de Toledo contra o Peñón de Velez, encontrou naquela cidade o capitão «Melchior». Segundo Pierre de Bourdeille, após a morte do rei de Navarra, em 1562, Belchior –que tinha sido enviado por aquele senhor numa embaixada ao sultão de Fez, para tentar uma aliança contra Espanha (noticia incorrecta, como vimos anteriormente)– acabou por se retirar para Lisboa46. Trata-se de uma prova cabal que Belchior Vaz de Azevedo optou por servir os interesses da corte portuguesa?
44É o seu processo, aberto pela Inquisição de Lisboa, que nos vai oferecer as provas necessárias.
45O processo de Belchior Vaz contem as denúncias apresentadas no Santo Ofício, em Dezembro de 1561, embora nos pareça que o réu foi preso e interrogado por esse tribunal religioso em 1562 e, ou, no ano seguinte.
46As do cavaleiro Domingos Peres eram acutilantes, como vimos anteriormente. Segundo ele, Belchior Vaz também não se escusou de informar os cativos portugueses que estavam em Fez, como impedira a sua esposa de rezar as imagens, quando se deslocaram de Espanha para França, e que não era pecado comer carne às sextas-feiras e sábados. Assim, Domingos Peres considerou que Belchior Vaz era luterano, e logo que o reconheceu, encostado a uns ferros, na rua Nova de Lisboa, dirigiu-se ao Santo Ofício para o denunciar.
47Contudo, nem todos estavam de acordo sobre o percurso religioso de Belchior Vaz. Uns homens de Tânger, que conversaram com Domingos Peres, acentuaram «[...] que também se dizia que elle se tornara judeu [...]».
48No tempo da denúncia, Belchior Vaz vivia por cima da estrebaria de Lopo Vaz Machado, cavaleiro de Tânger que se deslocara a Lisboa apenas por motivo de negócios, o que revela a continua ligação daquele «homem de Arzila» aos meios norte-africanos.
49Domingos Peres acabou a sua denúncia, alertando que os inquisidores também deviam interrogar o moço Pedro, companheiro de prisão de Belchior Vaz, que também o considerava luterano47.
50A primeira testemunha chamada a depor perante o Santo Ofício foi Luís de Azevedo, cura de S. Nicolau, em Lisboa, e apresentou algumas novidades. Era um antigo conhecido de Belchior Vaz, pois nascera em Tânger e fora ai cónego, praça onde o réu também residira, desempenhando a actividade de rendeiro. Estava igualmente a par da posterior ventura de Belchior Vaz. Por isso avançou:
...Não sintia o reo por bom christão por ouuir geralmente em Tanger que o ditto reo andara entre os Luteranos e que dahy leuera [sic] armas ao regno de Fez e fizera dellas servuiço ao Xarife e que isto dizião todos por assy o terem por nouas de Fez...
51Contudo, o cura de S. Nicolau também não se escusou a testemunhar que Belchior Vaz, desde que viera para Lisboa, assistia às missas e pregações, cumpria as obrigações do domingo e das festas religiosas, e que na Quaresma lhe chegara a entregar um «escrito» de confissão e a comungar na sua igreja. Também não deixou de frisar no seu depoimento que
...antes que o Reo andasse fora do regno e em Fez o tinha por christão nouo mas por bom cristaom48...
52Outra testemunha de realce neste processo foi Bernardo Rodrigues, morador em Arzila, muito provavelmente o famoso cronista, autor dos Anais de Arzila49. Bernardo Rodrigues apresentou-se perante a Inquisição como amigo de Belchior Vaz, por ambos viverem muitos anos em Arzila, mas sublinhou que diría a verdade. Tal como o cura de S. Nicolau, Bernardo Rodrigues não deixou de abonar sobre o comportamento do réu:
.. E elle testemunha o tinha por bom Christao pello ver hy nas missas e pregações e fazer os mais autos de bom cristaom...
53O seguimento do testemunho de Bernardo Rodrigues foi clarificante. Sabia que Belchior Vaz era conhecido de grandes senhores, de todos os reis cristãos e do rei de Fez, que o imperador Carlos V o rivera preso em Cádiz durante dois anos, quando era capitão de uma nau do rei de França e que, como embaixador do rei de Navarra ou de França, se dirigira ao xarife. Também não se esqueceu de divulgar que Belchior Vaz fora «chamado d’el-Rey nosso Senhor» –notícia fascinante que revela como a corte portuguesa necessitava da experiência e dos contactos deste homem peregrino, não obstante a sua errância nada propícia aos interesses do reino.
54Portanto, após ter servido os soberanos franceses, o rei de Navarra e a rainha de Inglaterra, em missões que embora prestigiantes não o teriam beneficiado como desejava, foi a vez de tentar a sorte na corte de Lisboa, com certa segurança, visto que fora chamado pelo próprio soberano português.
55E contudo, o Santo Ofício vivia do presente e da memória. Fora preso pela Inquisição e libertado pelos regentes D. Catarina de Áustria e cardeal D. Henrique –disso se recordava Bernardo Rodrigues. Mas não bastava. Bernardo Rodrigues e o cavaleiro-fidalgo Gonçalo Ribeiro, cientes que o Santo Ofício invisriria de novo, em momento oportuno, logo o aconselharam a ir confessarse àquele tribunal. No entanto, Belchior Vaz devia confiar na protecção régia e disse-lhes que falaria com um padre letrado em S. Domingos,
… E que não se temia de nada nem podião dezer delle se não fossem alguuns cativos por ser seu ufficio dizer mal de todos quanto mais delle que andaua fora do serviço d’el-Rey50...
56Era uma posição muito correcta por parte de Bernardo Rodrigues. Mas seria idónea? Se este Bernardo Rodrigues era, de facto, o autor dos Anais de Arzila, embota fosse apresentado como cristão-velho no tribunal da Inquisição, há suspeitas que seria cristão-novo, devido à apologia que deles faz na sua obra51. Nesse caso, sendo amigo de Belchior Vaz e tendo o mesmo estatuto que ele, não o pretendería salvar por todos os meios ao seu dispor?
57No entanto, os testemunhos sobre a heterodoxia de Belchior Vaz de Azevedo eram flagrantes. Segundo o tribunal da Inquisição, Belchior Vaz incorreu em excomunhão e foi condenado a
...carcere pello tempo que pareceraos Inquisidores no qual carcere sera bem doutrinado nas cousas da fee necessarias para a sua salvação.
58Teria também que fazer abjuração «in forma ecclesie». Na sessão em que abjurou, a i de Dezembro de 1563, prometeu apartar de si toda a heresia, e perseguir e descobrir as heresias, relatando estes «crimes» aos inquisidores52.
59Curioso é o facto de, não obstante a gravidade das culpas do réu, segundo os princípios do Santo Ofício, aliás reconhecida por este tribunal através da sentença condenatoria, aquele ter sido libertado do cárcere, por ordem dos inquisidores, logo em 23 de Dezembro de 1563, ou seja, vinte dias apenas após a sessão de abjuração. Não podia, porém, sair de Lisboa e dos seus arrabaldes, e devia evitar a
.. comonicação com pessoas sospeitas especyalmente que tenhão jnteligencya em Terra de Jnfieis53...
60Uma «estranha» tolerancia da Inquisição portuguesa? Adivinha-se, antes de mais, o peso do interesse da Corte, que já fizera soltar anteriormente Belchior Vaz de Azevedo. Não obstante as suas posições religiosas, culpáveis segundo a política religiosa vigente, o saber prático de Belchior Vaz era por demais precioso para que a Corte não o arrancasse dos cárceres do Santo Ofício.
61A prova cabal desta asserção é que, quando Pierre de Bourdeille, abade de Brantôme, visitou Lisboa no fim do Verão de 1564, teve como cicerone o capitão «Melchior», que aquele conhecia como servidor dos interesses de António de Bourbon. A amizade entre os dois homens foi alicerçada pelo facto do português conhecer Anne de Vivonne, mãe do abade de Brantôme e dama de honor de Jeanne d’Albret, esposa de António de Bourbon, o que revela mais uma vez as ligações de Belchior Vaz aos meios reformistas de França. O mais intéressante é verificarmos a inserção de Belchior na corte portuguesa: foi ele que acompanhou Pierre de Bourdeille ao Palacio da Ribeira, para o apresentar ao jovem rei D. Sebastião e a sua avó, D. Catarina de Áustria54, num período em que a regencia fora já assumida pelo cardeal D. Henrique, Inquisidor-Mor do Reino. Eis uma prova de como Belchior Vaz fora ilibado pela Corte e vivia sob o seu apanágio, após um processo «fundamentado», movido pela Inquisição de Lisboa.
62Aliás, embora este seja um caso crucial, devido à projecção internacional do réu, deparámos, nas nossas pesquisas, com situações semelhantes. A título de exemplo, e ainda no que respeita ao Norte de África na primeira metade do século XVI, sabemos que José Cordelha –judeu de Azamor que chegara a ser nomeado rabi-mor nessa praça– após se ter convertido ao cristianismo em Portugal, com o nome de Afonso Vaz Cordelha, foi salvo da fogueira por ordem de D. Catarina de Áustria; e mais tarde, pretendendo ainda fugir para o Norte de África, juntamente com outros cristãos-novos, acabou por ser libertado por ordem de D. João III, pois tal como posteriormente Belchior Vaz de Azevedo, teria muito que divulgar devido à sua multifacetada experiência vivencial55. Também no mesmo período, Leonor Mendes –amante de Abraão Benzamerro, influente judeu de Safim– acabou por ser libertada dos cárceres do Santo Ofício com certa celeridade, após uma tentativa de fuga para o Norte de África juntamente com Afonso Vaz Cordelha, quer devido ao seu passado de estreitas ligações com pessoas poderosas do reino, quer provavelmente devido a um «saber» que seria tão precioso como os do Cordelha e de Belchior Vaz de Azevedo56. Pelo contrario, outros réus que tentaram mostrar maior sinceridade, vindo apresentar-se voluntariamente ao Santo Ofício para relatar o seu passado «iníquo» e mostrar que tinham optado, por consciência e definitivamente, pelo cristianismo, acabaram por ser molestados físicamente durante os interrogatórios e foram sentenciados de forma muito mais rigorosa. É o caso, ainda no século XVI e relativamente ao Norte de África, de Paulo de Aguiar, também chamado Paulo Mendes, Francisco Mendes e Josepe Guedelha, que sendo judeu em Marrocos, optou por reingressar no cristianismo, em Portugal –o reino de onde os seus pais tinham fugido, com o estatuto de cristãos-novos. Nem mesmo os seguintes factores –ter sido influenciado por frei Vicente da Fonseca, ainda em Fez, possuir um testemunho e passaporte do capitâo de Ceuta57, apresentar-se perante o comissário do Santo Ofício, em Gibraltar, e ter sido reconciliado pela Inquisição, em Sevilha, no ano de 1585– fizeram com que fosse alvo da benevolência dos inquisidores portugueses, que o sentenciaram a abjurar publicamente dos seus erros, a fazer penitência e a cárcere e hábito penitencial perpétuo. Em I de Junho de 1568 chegou a sair num auto-dafé, com o referido hábito, mas foi ainda levado ao Colégio da Fé, para ser instruído nas «cousas della». Em 1587, Paulo de Aguiar pediu para acabar a sua penitencia no bairro de Santa Marinha, mas os inquisidores, embora tivessem concordado, nunca lhe tiraram o hábito, e o penitente acabou por falecer no hospital de Lisboa, de doença, em Setembro do mesmo ano58.
63Devemos assim reter que, no século XVI, as sentenças do Santo Ofício não são idóneas, mesmo se tivermos como referência os princípios que orientavam essa instituição. O móbil sentenciador da Inquisição era afectado pela ingerência da Corte, que não se escusava a pressionar a libertação dos réus, mesmo explícitamente incriminados, se estes fossem considerados fundamentáis no âmbito dos interesses régios. Assim, estes actos de «tolerancia» do Santo Ofício em Portugal, no século XVI, revelam, antes de mais, a dependência do tribunal religioso relativamente a certos interesses do Estado. Podemos, quanto muito, apelidá-los de «estranha tolerância» ou de «dependência».
64Que repercussões teve esta «estranha tolerância» nos homens que dela se souberam aproveitar, no século XVI? Antes de mais, a possibilidade de regressarem ao seu país de origem, usufruindo da especificidade do seu estatuto. Para eles, Portugal transformou-se num reino onde a sua vida peregrina podia lançar amarras, como em qualquer país «acolhedor», desde que agissem com a devida prudencia. Até porque, em caso de imprudencia, ai estava o poder régio para os retirar, incólumes, do seio do «Santo Tribunal», onde os menos influentes teriam um destino mais trágico.
65A factologia foi aqui apresentada. Resta-nos abrir a porta à evasão das hipóteses. Quem era Belchior Vaz de Azevedo, em termos de fé?
66Um homem que judaizava –como se infere das acusações dos homens de Tânger59, e conforme sugere a leitura da carta de João Pereira Dantas, de 7 de Junho de 156260 – como tantos outros cristãos-novos, que usufruiram da maior permissividade religiosa existente nas praças portuguesas do Norte de África, ou da plena liberdade quando viajavam em terras do Islão, para se encontrarem ou reencontrarem nos dominios da fé61? Protestante por convicção –conforme os indicios dos denunciantes– e nesse caso, com que convicção? Para encontrar nesse movimento de cisâo no cristianismo, que pugnava pelo regresso «às raízes», uma maior tolerância em termos de «caminhos de fé», ou a eventualidade de uma resposta à alteridade do seu estatuto62? Recordemos que a cisão luterana era vista, mesmo entre os judeus «livres» e cristãos-novos judaizantes do Norte de África, como um augúrio da vinda do Messias63. Protestante apenas para ganhar a confiança de alguns senhores influentes da França que aderiram à Reforma, como o almirante Gaspar de Coligny, citado na carta do embaixador espanhol Chantony, devido ao facto de ter omitido informação sobre Belchior Vaz64 e, sobretudo, da Casa de Navarra, que acabou por servir directamente, e ainda da rainha Isabel I de Inglaterra? Protestante por necessidade, procura na fé e convicção, em simultâneo ou num caminho de gradual aceitação?... Recordemos que, segundo certos denunciantes, Belchior Vaz parecia muito empenhado em divulgar alguns princípios da cisão protestante entre os cativos do Norte de África, mais precisamente quando, de forma oculta, servia em simultâneo os interesses da soberana inglesa e de alguns dos seus mais eminentes súbditos! De forma tão oculta que este percurso da sua vida não era conhecido pelos seus defensores, nem mesmo pelos seus denunciantes, nem foi apurado pelo Santo Ofício. Mas foi conhecido pelo embaixador João Pereira Dantas, como verificámos anteriormente, que o apresentou como culpado junto da rainha Isabel I de Inglaterra65. Como soube o embaixador português destas novas? Através da corte francesa? Do embaixador espanhol? Da corte portuguesa que pretendia sonegar informações ao Santo Ofício e que transformou Belchior Vaz de Azevedo em seu apaniguado? Era por este e outros motivos que a Corte necessitava de pessoas como Belchior Vaz?
67Já vimos também que, regressando a Portugal, por apelo da corte portuguesa, Belchior Vaz de Azevedo não se escusou a assumir o papel ou a posição de católico convicto, assistindo às cerimónias e praticando os preceitos devidos, conforme foi atestado por Bernardo Rodrigues e pelo próprio cura de S. Nicolau. Com que idoneidade? Por convicção? Para esconder o seu íntimo de protestante ou de judeu?
68Parece-nos que, para além do problema da «descrença no século XVI», para utilizar a célebre expressão que se cristalizou no título da obra de Lucien Febvre66, através deste exemplo se deve colocar a questão sobre o que é a «crença» no mesmo século e, neste caso concreto, em Portugal. Quem acredita no qué? Como se repercute o problema da crença nesta sociedade peninsular, estratificada até no plano religioso?
69A vida peregrina de Belchior Vaz de Azevedo coloca novamente o problema do significado da existência destas pessoas que, outrora judeus ou de tradição judaica, acabaram por regressar ao reino da expulsão, como cristãos convictos ou aparentemente convictos. Será que o «judaismo era a essência do seu existir [...]» –conforme afirma Maria José Pimenta Ferro Tavares67?
70Numa época em que o «ser» tinha repercussões imediatas no «poder estar», a passagem de uma religião a outra provocava, além de problemas de identidade, dificuldades ao nível da ordem social. No caso de Belchior Vaz, essas dificuldades repercutiram-se no processo movido pelo Santo Ofício. Resta saber como enfrentou este homem o problema da sua identidade. Facto é que, no conjunto dos dados obtidos, parece ter sido «fielmente» luterano, pelo menos em França, e «firmemente» católico em Portugal. Era esta enrância uma forma de identidade? E se era, quais as suas raízes? Imergirião na angústia daquele que vogava entre as várias «consciências» religiosas –judaísmo e cristianismo (nas suas vertentes de catolicismo e protestantismo)– como se suspeita através das acusações levantadas pelos homens de Tânger e pelo embaixador português?
71Escreve Jorge Luis Borges nas suas Novas Inquirições: «Ser uma coisa é, inexoravelmente, não ser todas as outras»68. Penso que este foi o dilema de muitos cristãos-novos na sua errância material e religiosa: como aparentarem serem o Mesmo, quando na sua essência eram o Outro. Contudo, até que forma esse dilema atingiu em consciência todos os cristãos-novos? Ser ali judeu, aquém protestante assumido e ali católico respeitador dos preceitos, como parece ser o caso de Belchior Vaz de Azevedo –que importância tem não ser inexoravelmente todas as outras coisas, quando é necessário ser ali apenas urna? E então como encarar a fé deste homem? Diz ainda Jorge Luis Borges nas suas Novas Inquirições:
É duvidoso que o mundo tenha sentido; e mais duvidoso ainda é que tenha um duplo e triplo sentido, dirá o incrédulo. Entendo que assim é, de facto69.
72Por estranho que pareça, a erupção do fenómeno da alteridade entre os judeus que foram obligados ao baptismo cristão, em Portugal, e entre os seus descendentes, parece ter levado alguns deles a um ensejo contrário ao de Jorge Luis Borges: foram acreditando que o mundo tivesse um sentido, experimentando uma segunda e até uma terceira via, porque, além dos interesses materiais, eram crédulos.
73Até que num contexto diferente, social e intelectualmente, surgiram os racionalistas e naturalistas de raiz judaica, como Uriel da Costa e Espinosa, aspirando a uma ética panteísta que ultrapassasse as cisões das formalizações religiosas70.
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Notes de bas de page
1 Leia-se o clássico de H. Kamen, O amanhecer da tolerância.
2 M. Bataillon, Erasmo y España,
3 Vejam-se, como indicativos de investigação, os índices dos autos-de-fé publicados por J. L. de Mendonça e A. J. Moreira, História dos principais actos e procedimentos da Inquisição em Portugal; e a colectânea organizada por A. Baião, A Inquisiçao em Portugal e no Brasil –onde se podem encontrar alguns exemplos dessas denuncias, sob a acusação de prática protestante.
4 Leia-se, em termos de síntese, sobre os estrangeiros e portugueses acusados de «Luteranismo», o artigo de F. Montenegro de Sousa Miguel, «Luteranismo em Portugal». Vide sobretudo os estudos de I. da Rosa Pereira, O processo de Guilherme de Mascot, bretão, marceiro, na Inquisição de Lisboa; Id., «Um francês do Languedoque na Inquisiçāo de Lisboa»; Id., «Damiāo de Góis devant le tribunal de l’Inquisition»; Id., Um processo inquisitorial antes de haver Inquisição; Id., «O ecumenismo de Damiāo de Góis»; Id., «O Primeiro Luterano Português Penitenciado pela Inquisição», t. I, p. 261. Leia-se ainda A. Baiâo, Episódios dramáticos da Inquisição portuguesa, t. I; M. Brandão, O processo na Inquisição de Mestre Diogo de Teive; Id., A Inquisição e os professores do colégio das artes, t. I; J. Saraiva, História da cultura em Portugal, t. II, sobretudo o cap. v: «O humanismo em Portugal», ponto 2: «Estrangeirados e humanistas em Portugal», pp. 535-563.
5 A. Baião, A Inquisição em Portugale no Brasil, p. 183.
6 Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Inquisição de Lisboa, processo de Belchior Vaz de Azevedo (Lisboa, 1561), proc. 4356, fos 9, 10v°, 12v°, 33v° e 34v°; publicado por J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, pp, 569-572, É o depoimento de Bernardo Rodrigues, fixado no último fólio indicado, que permite apontar as datas em que Belchior Vaz abandonou Arzila. A testemunha refere que ele saíu daquela praça «avera dezasete anos». Como o depoimento se verificou em 1562, tal significa que Belchior Vaz saíu de Arzila cerca de 1545-1546. Há outro documento que nos fomece mais urna pista para esta saída de Belchior Vaz: é a carta de Nicholas Trockmorton, dirigida a William Cecil, e datada de 29 de Julho de 1561. Nela, Nicholas Trockmorton refere que Belchior Vaz ainda servira o velho rei Francisco, ou seja, Francisco I de França, que faleceu em 1547, vide Letter of Nicholas Trockmorton to William Cecil (Paris, 29 de Julho de 1561), [Letter of Nicholas Trockmorton], Public Record Office, State Papers, Foreigns, Elizabeth (Public Record Office), t. XXVII, n° 266; também em SIHM Angleterre, t. I, p. 28.
7 A população civil saíu de Arzila em 1549, mas a guarnição miliar só abandonou a praça no ano seguinte, vide D. Lopes, História de Arzila durante o domínio português, pp. 411-455; Id., «Os portugueses em Marrocos no tempo de D. Joāo III», cap. ii da IVa Parte: «Domínio Ultramarino», pp. 123-127; O. Rodrigues Fontoura, Portugal em Marrocos na época de D. João III, pp. 210-211; e A. Dias Farinha, História de Mazagão durante o domínio filipino, p. 28.
8 Letter of Nicholas Trockmorton (Paris, 29 de Julho de 1561), Public Record Office, t. XXVII, n° 266, também em SIHM Angleterre, t. I, p. 28.
9 Para mais informações sobre esta actividade diplomática de Salomão Benzamerro e a conjuntura envolvente, vide J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, p. 434. Sobre a família Benzamerro, vide D. Corcos, «Benzamerro»; H. Z. Hirschberg, A History of the Jews in North Africa, t. I, pp. 420-421,423-425 e 432-436; Y. H. Yeushalmi, «Professing Jews in Post-Expulsion Spain and Portugal», t. II, pp. 1028-1032 e 1036-1038; Ma J. Pimenta Ferro Tavares, «Judeus de sinal em Portugal no século XVI», pp. 344-349 e 360; M. Abitbol, «Juifs d’Afrique du Nord et expulsés d’Espagne après 1492»; J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, sobretudo pp. 200-213 e 429-434; Id., «Abraão Benzamerro, “judeu de sinal”, sem sinal».
10 Memorial da carta de Salomão Benzamerro (Lisboa entre 10 e 13 de Outubro de 1556), ANTT, Colecção de S. Vicente, t. V, f° 319 (minuta); também em SIHM Portugal, t. V, pp. 50-51.
11 Carta de D. João III a D. Duarte de Almeida (Lisboa, 13 de Outubro de 1556), ANTT, Colecção de S. Vicente, t. V, fos 315-316; também SIHM Portugal, t. V, pp. 52-54.
12 Processo de Belchior Vaz de Azevedo (Lisboa, 1561), ANTT, Inquisição de Lisboa, proc. 4356, f° 35; também em J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, p. 571.
13 Vide H. Terrasse, Histoire du Maroc. Des origines à l’établissement du protectorat français, t. II, pp. 180-181; SIHM France, t. I, pp. 174-175 e p. 198, nota 2; Ch. de La Veronne, Histoire sommaire des Sa‘ adiens au Maroc, pp. 37-38.
14 Lettre de François II à Antoine de Bourbon (Blois, 29 de Janeiro de 1559), Archives du chapitre d’Angoulême, Cour de Navarre, pp. 213-214; também em SIHM France, t. I, pp. 159-200.
15 Carta de Mawlay ‘Abd Allah al-Galib bi Allah a D. António de Bourbon, fim do Ramadão de 966 (Junho-Julho de 1559, texto original em árabe), Archives du chapitre d’Angoulême, Cour de Navarre, p. 185; também em SIHM France, t. I, pp. 170-173; tradução francesa moderna, em SIHM France, t. I, pp. 174-177.
16 Traité entre Antoine de Bourbon et Mawlay Abd ‘Allah al-Galib bi Allah, s. l., fim do Ramadão de 966 (Junho-Julho de 1559, texto original em árabe), Archives du chapitre d’Angoulême, Cour de Navarre, p. 190; também em SIHM France, t. I, pp. 178-181; tradução francesa moderna, em SIHM France, t. I, pp. 182-187. Na documentação estrangeira, em vez de Belchior surge o nome Melchior.
17 Vide H. Terrasse, Histoire du Maroc. Des origines à l’établissement du protectorat français, pp. 180-181.
18 Sobre a construção do forte do Seinal, vide D. Lopes, História de Arzila durante o domínio português, pp. 411-412; Id., «Os portugueses em Marrocos no tempo de D. João III», p. 142; A. Dias Farinha, «O declínio da política africana», t. I, p. 129.
19 O embaixador português na corte francesa, João Pereira Dantas, empenhou-se desde 1579 no fracassado projecto de casamento de D. Sebastião com a princesa Margarida de Valois, irmã do rei Francisco II de França, vide J. M. de Queiroz Veloso, «Os malogrados casamentos de D. Sebastião», cap. vi da Primeira Parte «História política», pp. 71-72. Ainda em 1556, João Pereira Dantas estava interessado no tratado de casamento com a princesa francesa, pois deslocara-se a Lisboa com esse objectivo. Contudo, logo foi enviado de novo a Paris, para ripostar acerca do assalto dos corsarios franceses, comandados por Montluc, à ilha da Madeira (ibid, p. 74). Vide ainda infra, nota 31.
20 Carta de Thomas Perrenot de Chantony a Filipe II, rei de España, Blois (17 de Janeiro de 1560), Archives Nationales, Colecção Simancas, K. 1493, n° 30; também em SIHM France, t. I, pp. 197-198.
21 Vide supra, nota 13.
22 Carta de Álvaro de Carvalho à rainha D. Catarina, Mazagão (13 de Julho de 1560), ANTT, Corpo Cronológico, P. I, m. 104, doc. 36; e extractos em SIHM Portugal, t. V, pp. 84-85.
23 De facto, a Navarra transpirenaica era bastante necessária à segurança da monarquía espanhola para que Filipe II a entregasse a António de Bourbon, em troca de Alcácer-Ceguer e do Seinal, vude supra, nota 13.
24 Lettre de Geoffray de Buade à Sébastien de L’Aubespine (Cádiz, 3 de Setembro de 1560), Archives du château de Villebon, portefeuille de Sébastien de L’Aubespine, também em SIHM France, t. I, pp. 201-205. Buade chama Montfort a Belchior Vaz de Azevedo.
25 «Das cousa que sam defesas que nom leuem a Terra de Mouros. E bem assi que ninhuu Christão vaa ao reyno de Fez sem Nossa licença e que os Mouros se nom forrem com dinheiro do Reyno» (Ordenações manuelinas, t. V, título lxxxi, pp. 240-241).
26 Mais problemática teria sido a relação entre Mawlay ‘Abd Allah al-Galib bi Allah e a Coroa Portuguesa, pois desde 1559 tinham-se iniciado os preparativos para o cerco de Mazagão. As escaramuças sucederam-se em 1560 e 1561, e em 4 de Março de 1562 verificou-se o infrutífero cerco àquela praça portuguesa, que durou cerca de très meses. Sobre este assunto vide A. Dias Farinha, História deMazagão durante o domínio filipino, pp. 29-32; Id., «O declínio da política africana», p. 131.
27 Letter of Nicholas Trockmorton (Paris, 29 de Julho de 1561), Public Record Office, t. XXVII, n° 226; também em SIHM Angleterre, t. I, pp. 27-32. Na verdade, quem govemaya Portugal como regente, em nome do seu neto menor, D. Sebastião, era a rainha D. Catarina de Áustria. Quanto a Sir William Cecil, vide D. M. Palisser, The Age of Elizabeth, sobretudo pp. 25-27 e 30-31.
28 Letter of Nicholas Trockmorton (Paris, 26 de Julho de 1561), Public Record Office, t. XXVIII, n° 264; também em SIHM Angleterre, t. I, pp. 34-35.
29 Letter of William Chester, William Garrard and Thomas Lodge to William Cecil (Londres, 14 de Agosto de 1561), Public Record Office, t. XIV, n° 21; também em SIHM Angleterre, t. I, pp. 39-40. Quanto a estes personagens que assinaram a carta, vide as notas 1, 2 e 3, na pagina 39 do volume da colectânea acima indicada. Quanto ao dealbar do comércio inglês em Marrocos, cerca de 1551-1552, que aproveitou o vazio deixado pelo abandono das praças meridionais portuguesas (excepto Mazagão), em 1542, após a queda de Santa Cruz do Cabo de Guer, no ano anterior, vide SIHM Angleterre, t. I, p. 40, nota 2. Aliás, como se pode verificar nesta carta, os autores escolheram precisamente Safim e o Cabo de Guer como primeiros pontos de apoio para a sua intromissāo mercantil. Sobre este assunto, vide aínda D. M. Palisse R, The Age of Elizabeth, p. 337. Quanto ao declínio da presença portuguesa em Marrocos, no contexto do avanço dos xarifes Sádidas, vide D. Lopes, «Os portugueses em Marrocos no tempo de D. João III», pp. 468-470; Id., A Expansão em Marrocos, cap. v: «Quebra da política expansionista. D.João III e o despejo dos lugares de África», pp. 67-75; J. Figanier, História de Santa Cruz do Cabo de Guer, sobretudo capítulos III («O sul de Marrocos na primeira metade do século XVI», pp. 47-63); iv («Tempos heróicos de Santa Cruz», pp. 91-103); v («Início da decadência», pp. 105-132); vi («O cêrco de 1533», pp. 133-165); vii («Período de tréguas precárias», pp. 167-182); viii («Conclusão das tréguas», pp. 183-214), e x («Após a conquista», pp. 215-244); Ch.-A. Julien, Histoire de l’Afrique du Nord, pp. 468-470; H. Terrasse, Histoire du Maroc. Des origines à l’établissement du protectorat français, t. II, liv. VI, cap. iv: «L’établissement de la dynastie saadienne et le règne de Mohammed ach-Cheikh al-Mahdi», pp, 158-178; O. Rodrigues Fontoura, Portugal em Marrocos na época de D. João III; A. Dias Farinha, «O declínio da política africana», pp. 125-136.
30 Letter of Nicholas Trockmorton (Paris, 5 de Maio de 1562), Public Record Office, t. XXXVII, n° 17; resumido em SIHM Angleterre, t. I, p. 44.
31 Mémoire de João Pereira Dantas (s. l., 7 de Junho de 1562), Public Record Office, t. XXXVIII, n° 113 (original em francês); e ibid., doc. 112 (resumo em inglês); também no British Museum, Cotton, ms. Nero B. I., fos 94-99, há um resumo em inglés da «Memória» original, escrita em francês. O documento n° 113 acima indicado foi publicado em SIHM Angleterre, t. I, pp. 44-49, com a indicação onomástica errada, de Pedro em vez de Pereira.
32 Sobre o comércio dos livros em hebraico, após a expulsão dos judeus de Portugal, vide Ma J. Pimenta Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no século XV, t. I, pp. 367-370; Id., «Judeus de sinal em Portugal no século XVI», p. 339, nota 2; e Id., Judaísmo e Inquisição, p. 38. Específicamente sobre o negócio dos livros em hebraico, em Marrocos, vide Id., «Judeus de sinal em Portugal no século XVI», p. 361; Id., «Judeus, cristãos novos e os descobrimentos portugueses», p. 300; e J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, pp. 325-329.
33 Repartee of Elizabeth of England, Londres (15 de Junho de 1562), em Public Record Office, t. XXXVIII, nos 136 e 137; também em British Museum, Cotton, ms. Nero, B. I., f° 100; referência em SIHM Angleterre, t. I, pp. 48-49, nota 4.
34 Réplique de João Pereira Dantas (s. l., 19 de Junho de 1562), Public Record Office, t. XXXVIII, n° 153; também em British Museum, Cotton, ms. Nero, B, I, f° 105; referência em SIHM Angleterre, t. I, p. 49, nota 4.
35 Vide supra, nota 27.
36 Vide supra, notas 10 en 11.
37 Vide supra, nota 20.
38 Deposição de Melchior Vaz contra Hernando Xerez (título criado pelo autor do artigo), [Las Palmas de La Gran Canaria, 20 de Setembro de 1592], em L. Wolf, Jews in the Canary Islands, p. 88.
39 Para o caso exemplar de Afonso Vaz Cordelha, leia-se J.A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, pp. 218-224.
40 Não foi pois Manuel Travassos, em 1570, o primeiro luterano português denunciado na Inquisição portuguesa, conforme referiu I, da Rosa Pereira, no seu artigo «O Primeiro Luterano Portugués Penitenciado pela Inquisição», p. 261.
41 Quanto a Fez Jdid, vide em termos de síntese, Ch.-A. Julien, Histoire de l’Afrique du Nord, pp. 443-444; H. Terrasse, Histoire du Maroc. Des origines à l’établissement du protectorat français, pp. 30-31; e J. Brignon et alii, Histoire du Maroc, p. 159.
42 Vide supra, nota 24.
43 ANTT, Inquisição de Lisboa, Livres de Denúncias, n° 5, fos 56v°-58. Vide ainda o resumo de A. Baião, A Inquisição em Portugal e no Brasil, p. 183.
44 ANTT; Inquisição de Lisboa, Livros de Denúncias, n° 5, fos 58v°-59. Vide ainda o resumo de A. Baião, A Inquisição em Portugal e no Brasil, p. 183.
45 ANTT, Inquisição de Lisboa, Livros de Denúncias, n° 5, fos 59-59v°. Vide ainda o resumo de A. Baiâo, A Inquisição em Portugal e no Brasil, p. 183.
46 Vide J. B. Aquarone, «Brantôme à la cour de Portugal», p. 78.
47 Processo de Belchior Vaz de Azevedo, ANTT, Inquisição de Lisboa, fos 9-11; também em J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, pp. 569-570.
48 Processo de Belchior Vaz de Azevedo, ANTT, Inquisição de Lisboa, fos 33-33v°; também em J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, pp. 570-571.
49 Vide B. Rodrigues, Anais de Arzila. Não sabemos se este Belchior Vaz é o «Baltesar Vaz», alfaiate e arcabuzeiro em Arzila nos anos de 1527-1528, que Bernardo Rodrigues diz encontrar-se «oje» (1560), em Lisboa, como rendeiro do «paço da Madeira» (ibid., t. II, pp. 91-93).
50 Processo de Belchior Vaz de Azevedo, ANTT, Inquisição de Lisboa, proc. 4356, fos 34v°-35v°; também em J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, pp. 371-572.
51 Vide Ma J. Pimenta Ferro Tavares, «Judeus de sinal em Portugal no século XVI», p. 341, nota 4.
52 Processo de Belchior Vaz de Azevedo, ANTT, Inquisição de Lisboa, fos 34v°-35v°; também em J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, p. 572, nota 53.
53 Processo de Belchior Vaz de Azevedo, ANTT, Inquisição de Lisboa, f° 83; também em J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansâo portuguesa em Marrocos, p. 572, nota 53.
54 Vide J. B. Aquarone, «Brantôme à la cour de Portugal», pp. 77-79.
55 Vide supra, nota 39.
56 Vide J. A. Rodrigues da Silva Tavim, «Abraão Benzamerro, “judeu de sinal”, sem sinal», pp. 123-125.
57 Trata-se de D. Dionísio Pereira, 49° governador dessa praça; vide A. Dornelas, «Governadores Capitães Generais de Ceuta», t. IV, p. 127.
58 ANTT, Inquisição de Lisboa, proc. 8794. Alguns extractos deste processo foram publicados por J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, pp. 572 576.
59 Vide supra, nota 47.
60 Vide supra, nota 31.
61 Vide Ma J. Pimenta Ferro Tavares, «Judeus de sinal em Portugal no século XVI», pp. 351-360; Id., «Cristãos-Novos. Um “barco con dois lemes”», p. 240; Id., «Judeus, cristãos novos e os descobrimentos portugueses», pp. 293-301; e J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, caps. i e ii.
62 Vide I. S., Révah, «Pour l’histoire des marranes à Anvers»; e Ma J. Pimenta Ferro Tavares, «Cristãos-Novos. Um “barco con dois lemes”», p. 241.
63 Vide J. A. Rodrigues da Silva Tavim, Os judeus na expansão portuguesa em Marrocos, pp. 224-225.
64 Vide supra, nota 20.
65 Vide supra, nota 31.
66 L. Febvre, Le problème de l’incroyance au XVIe siècle.
67 Vide Ma J. Pimenta Ferro Tavares, «Cristãos-Novos. Um “barco con dois lemes”», p. 242.
68 Trad. de G. N. de Carvalho (2a ed.), Lisboa, Querco, 1960, «De Alguém a Ninguém», p. 168.
69 Ibid., «O Espelho do Enigma», p. 141.
70 Vide P. Hazard, A crise da consciência europeia, pp. 114-119 (com referência apenas a Espinosa); J. Pinharanda Gomes, História da filosofia portuguesa, sobretodo t. I, caps. ii e iii; e, sobretudo, Y. Yovel, Espinosa e outros hereges. Não é nosso objectivo, neste artigo, elaborar urna bibliografía sobre Uriel da Costa e Espinosa, As obras apontadas são um ponto de partida, inclusivamente para indicação de bibliografia.
Auteur
Centro de Estudos Africanos e Asiáticos do Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa
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